Capitulo II- Zaya Oliveira

1978 Words
Todos os dias sempre tem dificuldade, não conheço ninguém que não tenha uma, seja pessoalmente ou na ligação que atende, já falei com pessoas para cobrar a dívida de cartão em atraso, e ela acabou me pedindo dinheiro emprestado pra comer. Não emrpestei porque não tinha, não sobra nada com as contas de casa, família, mas ainda assim ajo naturalmente, não que seja mais fácil pra mim, não é, não sinto as mãos de Robson em meu corpo a mais de três anos, já tentei fazer regime e só engordo mais. O sorriso é imprecíndivel nos lábios, não é porque eu tenho uma vida vazia, que não pensaria em mim atirar duas vezes em frente a uma arma toda vez que fosse apontada, pediria pra morrer, só a ideia de imaginar Robson com outra, mas não, tem duas crianças que precisam de mim, dependem de mim pra tudo. Com o passar dos anos acabei me tornando a mais velha das operadoras na empresa, não sou chefe porque não terminei o ensino médio, para os meus chefes sou anafabeta, mas sobrevivo diariamente no Rio de janeiro, não mereço um diploma de ensino médio, mas sim de sobrevivência. Coloco comida na mesa, p**o a luz, a água, e o aluguel, apesar de não saber ler e escrever como dizem, sei juntar as letras, e ainda usar o computador, que dizem que é complicado. Não sei usar tudo, apenas o que pertence a empresa, coloco o meu nome e senha e já era. O que aprendi da vida foi na lida do dia-a a dia, soletrando os nomes dificeis, lhe dando com o celular, depois o computador que no inicio me assustou me fazendo logo receber uma ameaça que poderia ser demitida. O que estava fora de cogitação. As minhas mãos afinaram, apagando os rastros dos anos de trabalho dificil na roça. O cliente poderia estar estressado como fosse, eu nunca perco a paciência tenho que fazer a cobrança, é o meu trabalho e sem isso o dinheiro não chega em casa, depois de uma manhã de trabalho cheia, coloquei o telefone no gancho. — Ufa! O senhor Antônio ficou de... — Olhei em volta, onde estava todos? Me perguntei até que as luzes apagou de repente. — O que é isso é um apagão? — Me perguntei sentada na cadeira, olhei em volta reunindo forças pra levantar, até que surgiram com uma vela acessa em cima de um bolo pequeno, vinte e cinco funcionários haviam ali comemorando cantando parabéns, continuei parada na cadeira, estava assim e assim esteve. Dezoito de março de dois mil e nove, eu sentada na cadeira acochoada preta, as velinhas de vinte e seis anos em cima do bolo não me faziam muita diferença, mas tanta coisa passou na minha cabeça, cento e trinta e seis quilos em meu corpo, a saudade de casa, da minha familia, o nome Zaya escrito em cima do bolo me fizeram chorar, as lágrimas desceram, eu queria desse buraco em que me coloquei, mas como? Quem se importaria com uma gorda e dois filhos pra criar? Nunca comemorei aniversario na vida. Se pudesse voltar para a minha terra era a primeira opção, mas será que os meus pais ainda vivem? Eu não sei nada sobre eles, parece ingratidão, mas não é, quem tinha celular naquelas redondezas? Se havia ainda não sabia, e se houvesse qual seria o número ou código postal? Os parabéns foi cantado, eu m*l cantei a letra, as velas colocada a minha frente até que me mandando assoprar elas foram apagadas, as pessoas vieram e me felicitaram, pelo que? Estou feliz por fazer vinte e seis anos? Me perguntei, sentada na cadeira, todo mundo parece feliz, me olhando dizendo que eu mereço, que esta feliz por mim, mas porque eu não me sinto assim? Deveria estar, todos sempre pregavam a felicidade, mas ninguém é feliz, basta apenas sentar ao lado de alguém ali para conversar que problemas jorram litros. Me entregaram alguns pequenos presentes, lembranças, todos gostam do meu jeito de ser, doce, mas ninguém sabia exatamente como sou, em casa, na rua, dentro do ônibus. Depois de comer e beber no meu festejo surpresa de anivérsario pensando em tantas coisas. — Obrigado! Obrigado a todos vocês que fizeram esta surpresa pra mim, não sei como agradecer, apenas me esforçar para ser uma melhor colega. — Ah Zaya. — Todos me abraçaram, ninguém aqui exceto os donos chegaram antes de mim, muito entraram e sairam, mas os que ficaram sempre aprenderam muito comigo, ensinei o que aprendi, porque ninguém chega sabendo, por mais que até mesmo esteja na faculdade, e em anos e dias de trabalho acabei sendo adorada por alguns, ao terminar as comemorações, como presente da superiora, sai mais cedo, era pouca coisa pra o meio-dia, era só trocar de farda e ir para o outro, mas hoje resta tempo. Havia tempo pra ir em casa, guardar meus presentes, ver meus presentes sorri satisfeita ao pensar, entrei no ônibus surpreendendo o motorista que só a via a tarde. — Zaya o que faz aqui? Foi demitida? — Neguei com um sorriso frouxo nos lábios, joguei uns fios de cabelo pra trás que me impedia de ver direito. — Não, hoje é meu aniversário, quero aproveitar um pouco. — Eu queria aproveitar que nenhum dos meninos estavam em casa, tirar os atrasos como diz Claúdia, Luiza no trabalho, essa parte não disse, eu pensei comigo. — Ah que bom quantos aninhos? — O motorista velho, cabelos brancos, mas com um ar de paquerador, para me que estou acostumada com a vida aqui, agora sei que é coisa de motorista, todos eles são assim, exceto quando brigam ou tem assalto. — Quantos anos me dá Ronaldo? — Perguntei animada vendo o homem dividir a atenção pra mim e a estrada, carros vindo e indo a todo vapor. — Trinta anos? — Perguntou sorrindo, apenas neguei, nada hoje mudaria a minha felicidade. Se eu lhe dissesse ele jamais acreditaria, a gordura me impedia de dizer a verdade. — Estou perto. — Respondi apenas rimos, o assunto morreu com a chegada de outros passageiros, até o descer do ônibus. — Feliz aniversario Zaya. — Ouvi apenas ri, acenando pra ele, fazer aniversario é uma coisa boa, dá uma sensação diferente por dentro. — Daqui a poucos nos veremos de novo Ronaldo. — Disse pensando na possibilidade de pedir uma folga, mesmo que não tenha pedido com atencedência, passei pela rampa vendo os meninos da esquina me olharem, alguns deles até comentaram baixo, mas não me disseram nada, se não tiver devendo a eles, ou não fazer nada errado, eles até ajuda a levar a sacola pra casa. — Gorda! — Sorri a medida que era cumprimentada pelos conhecidos na rua, sou a gorda aqui, apenas a gorda, a mãe de Dadai, mãe do Dal meu mais novo que alguns dizem que é uma peste, e a gorda a mulher de Caçambinha, eu ainda não sei porque ele tem este apelido, era mais díficil que o seu nome, meu nome fica de dentro do ônibus pra a cidade, no morro ninguém sabia, exceto no posto de saúde, ainda assim se chamasse todos não saberia dizer que a Gorda e a Zaya são a mesma pessoa. Com meus passos limitados para chegar em casa, não previ até chegar que a porta estava aberta, era só passar por ela ao girar a maçaneta quebrada, que Robson meu marido sempre disse que ia consertar, mas nunca fez, e dinheiro nunca sobra pra comprar uma nova, há meses que ele não dá dinheiro em casa, imagino quão díficil é pra ele que sempre foi orgulhoso. Os meus passos pesados na sapatinha preta era macios, sem sons, andar para mim é cada vez mais limitado minhas pernas pesam e não somente pelo peso, ficando sentada o dia todo, a circulação não acontece normal, assim o médico me diz, que eu tenho que andar pelo menos uma hora por dia, mas como andar numa empresa de telemarketing. Ao chegar na sala de casa, perdi o sorriso na boca, o suor veio na testa, ouvir gemidos vindo do quarto. — Aí aí Caçambinha! — A voz da mulher veio, engoli em seco após mastigar a saliva. — Isso isso vai gostosa! — Era a voz de Robson? Coloquei a mão na boca sentindo o meu sangue ferver, os batimentos começou a ficar pesado, assim o coração batia sem parar e forte.. — p***a caçambinha não me morde c*****o! — A voz também conhecida me fez despertar, era a voz de Shelly a filha da vizinha? — Mandei tu ser gostosa p***a, vai vira essa b***a pra cá, vou te bota pra ir pra casa de perna abertas. — Vai é? Quero saber quando tua mulher suber disso. — A fala da menina foi baixa num gemido, em seguida os barulhos de sexo vieram, as minhas pernas ficaram trêmulas, as lagrimas desceram. — Que mulher? p***a nenhuma, minha mulher é tu cachorra. — As lágrimas descendo, eu sempre evitei ver e ouvir qualquer comentário sobre, eu sabia que ia doer se visse, era confuso ouvir tudo aquilo de repente. Mas entre ir e ficar, era a indecisão, caminhei indo e vindo na sala nervosa,meu corpo tremendo,as lágrimas descendo sem parar. — Cachorrona gostosa, isso vai, vou te lascar toda Shelly. — A voz dele veio mais alta, a vizinhança formava-se na porta quando olhei, todo mundo sabia? Até a mãe de Shelly sabia? Aquela garota que quando a gente chegou corria sem blusa pela rua, limpava o catarro com a lingua agora estava em minha cama, fodendo com o meu marido, alguns curiosos se formavam na nossa porta. — Será que vai... — Eles cochichava de mim, da minha vida. Enquanto escutando os gemidos e sussuros dos dois, caminhei até o quarto, fiquei parada de pé na porta vendo a cena, elade quatro na frente dele, e ele por trás empurrando com a b***a mais branca que o corpo, cabeluda, voltei a sala de novo, as mãos tremendo. — Tõ gozando p***a. — A mulher sobre o ele rebolando enquanto Robson de olhos fechados a beijava segurando a sua nuca, a mão do seu quadril ajudando a rebolar, ele nunca fez assim com comigo, sempre foi ele por cima e eu por baixo. A mulher virou ajeitando o cabelo quando ele soltou, me vendo, saltou de cima as pressas, catando as peças de roupa se cobrindo como poderia, até que olhei pra ele na cama, deitado com o p***o mole preto ficou deitado na cama. — Gorda tá... tá fazendo o que aqui? — Perguntou pra mim nervoso. Engoli em seco, as lágrimas pingando dos meus olhos. Continuei de pé olhando de um ao outro, o corpo tremendo como se fosse eu ali sendo um dos dois, a menina que peguei no colo algumas vezes quando a mãe bateu, se esguelava no choro, ou ele, o homem que me beijou na fogueira recém apagada, dois dias depois me pediu pra provar que amava ele, levantou meu vestido e me tocou no meio das pernas, enfiou a mão em minha calcinha, desembolando a mão pelos cabelos conseguiu tocar a minha pele, eu cedi, eu ainda inocente cedi, como prova de que ele seria meu único amor na vida. Só não sabia que não para ele, haveria outras, ela colocou as roupas com o pessoal entrando dentro de casa, privacidade não temos nem na mata tampouco na favela, nem na hora de comemorar, tampouco na hora de morrer, na hora de descobrir que somos traidos então, a mãe dela lhe arrastou pelos cabelos dando de tapa, até que ele levantou mandando o povo sair enrolado no lençol. Era como não ser, e não estar em lugar algum. — Posso saber o que veio fazer em casa? — Me perguntou revoltado.
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