Russo
O bagulho tava todo nos conformes para nossa fuga, eu já tava sentindo o gostinho da liberdade. Já tinha ligado para minha dona preparar o churrasco e tudo, mas deu r**m para mim e agora eu vou voltar para Bangu. Não posso falar que me arrependo, tá ligado, porque eu sei que o Veigh faria o mermo por mim. Mas confesso que estou triste, porque assim que eu botar meus pés em Bangu, eu vou tomar o meu e vai ser sem massagem, ainda mais depois do Veigh ter matado um deles. Já sei que vou pegar mais uns 30 anos nas costas e que esse bagulho deve cair para 15 em regime fechado.
Dei mole quando eu rodei, ramelei legal na pista por causa de bucet@ mesmo tendo a minha dona em casa. Nunca fui o tipo de traficante que bateu na fiel, mas nunca consegui ficar com uma só. A Valesca já tentou me largar várias e várias vezes, mas quem disse que eu deixo ela partir, não consigo. É como se ela fosse a minha droga, quando estou com ela tudo fica melhor.
- Acordou, cuzão. Pensei que tu ia dormir pra sempre, se bem que eu avisei pros caras que você estava fingindo.
- Tá fingindo igual a vagabund@ da tua mulher quando senta nesse teu p@u pequeno.
Se tem uma coisa que eu não aceito é desaforo de bota, ainda mais se for esse de vida fácil que só tomam conta da gente assim, porque se tivesse cara a cara sem eu estar algemado, duvido que ele metia essa bronca toda pra cima de vagabundo.
- Repete o que tu falou.
- Ficou surdo – eu falei, e ele veio pra cima de mim e começou a me dar vários socos na altura do peito, onde eu tomei o tiro. Eu já estava quase apagando quando a médica entrou no quarto e mandou ele sair.
- Você está bem?
- Nada que eu já não tenha visto antes, mina, mas valeu aí. Se tu não chegasse, esse arrombado ia me matar.
- Deixa eu ver o estrago que ele fez – ela fala, olhando o ponto que estourou.
- Vou ter que mandar refazer a sutura.
- Quando eu sair daqui, tu vais ter que mandar refazer a cara daquele zé bund@ covarde. Eles se esquecem que essa porr@ aqui é passageira.
Ela chamou mais um grupo de pessoas e deu o ponto novamente no meu ferimento. Foi só eles saírem que o cuzão voltou se abrindo mais do que put@ quando ganha um malote.
- Sabe o que é isso aqui?
- Um papel.
- Não é um papel comum, é a tua transferência pro presídio federal. Tu nem vai pisar em Bangu, vai direto pro de segurança máxima, longe da tua mulher e da tua mamãe, que iam te visitar toda semana. Mas relaxa, se eu ver aquela vagabund@ gostosa de novo, eu mesmo vou dar um trato nela.
Eu sorri e fechei a cara, olhando pra ele com o meu melhor olhar de assassino, o que fez ele sair do quarto rapidinho.
Respirei fundo, sabendo que o bagulho ia ficar sério de verdade pro meu lado, mas sabe de uma coisa, quem sobreviveu em Bangu 1 sobrevive em qualquer lugar. Eu já vi o inferno de perto mesmo, agora eu só vou dar um alô pro d***o.
Barata
Veigh chegou aqui fodido, os vapores me passaram a visão do que o Russo fez pelo mano e a minha admiração por ele só cresceu. Não tinha como ser diferente, ele quase morreu para ajudar a Lili de um irmão cantar.
Fui várias e várias vezes no hospital desenrolar com o Veigh sobre o resgate do mano, mas o bagulho tinha que ser bem feito. Ninguém podia sair de lá nem morto e muito menos preso. Ficamos procurando a melhor forma até que tivemos a brilhante ideia de colocar a Gigi lá dentro. A mina é p**a, tá ligado, e não gosta de trabalhar, mas pela grana que eu dei pra ela, ela disse que ia até pelada.
Ela passou a semana toda vigiando o quarto em que ele estava, observando cada passo que os caras azuis davam. Ela anotou cada troca que eles faziam, seja para tomar café ou para dormir. Também disse que, quando só ficava um na porta à uma da manhã, eu logo falei para ela dar mole para o cara. Vou fazer igual ao filme "Cidade de Deus", tá ligado? Ela vai seduzir o cara e eu vou tirar o mano de lá sem dar um tiro. Mas se não for assim, eu mato ele. Tem caô também, não é? Um cu azul a mais ou a menos no mundo não faz diferença na vida de ninguém.
Eu estava na boca fumando meu baseado quando meu celular tocou. Eu já sabia que era ela, então atendi na hora.
ligação
- Fala.
- Pô, barata, tão falando que vão transferir ele amanhã cedo. Se for agir, tem que ser hoje de madrugada.
- Tem certeza da visão que tu tá me passando, né?
- Tenho, pô. Eu fiquei na atividade como tu mandou, ouvi os caras conversando na cantina do hospital. O bagulho é certo.
- Ainda vou reunir a tropa e tu fica na atividade. Tenta levar o cara pro outro quarto e dá pra ele, mas se não funcionar, sai de perto, porque eu vou estourar os miolos dele.
- Pode deixar comigo.
- E nós até daqui a pouco.
Ligação encerrada.
Os bagulhos saíram um pouco dos conformes, mas nada que impeça nós de tirar o amigo de lá. Já fui acionando a minha tropa, só os confiança, é claro. Depois do que aconteceu no morro do Veigh, eu que não vou ficar dando sopa pra mosca. Se eu achar que é x-9, eu arrasto logo pra salinha e mato da melhor forma, até porque o seguro morrer de velho, e eu vou ficar igualzinho a ele, velhinho.
rádio
- Fala, Veigh!
- Passa a visão, Barata.
- Vamos ter que tirar o Russo de lá hoje, a transferência dele é amanhã de manhã. Eu só quero saber se tu vai com a gente ou se vai esperar aqui.
- Eu vou mesmo, pô. O irmão tá lá por minha causa, eu quero estar no momento que a Lili dele cantar.
- Então é isso, te encontro na frente da favela daqui a 40 minutos.
- É nós!
Rádio off