(Esther)
Quando eu soube que meu avô não tinha ido embora de Itapecerica, já imaginei que ele queria alguma coisa. Me questionei se devia aceitar o seu convite de almoço, no hotel em que estava hospedado.
Puxei o braço de Miguel quando ele se fez de desentendido sobre quem pagou os custos do enterro de papai. E enfim ele abriu o jogo.
- Miguel Ângelo, tem alguma coisa muito estranha acontecendo e é melhor você ir abrindo essa sua boquinha... Falei ameaçadora.
- E você sempre gentil! Ele revirou os olhos com uma expressão de tédio. - Tá! Quando você me deu o telefone eu liguei para o vovô e pedi ajuda!
- Como você foi capaz? Estava exasperada.
- Papai pediu que você ligasse, você jamais faria isso. E eu já estou cansado da p***a do seu orgulho! Ele disse sério. - Estamos todos órfãos e ferrados! Você tem duas crianças no ventre de um cara que nem sabe que é pai! Matheus trabalha para pagar o aluguel e a faculdade... Lorenzo trabalha de dia numa mecânica, e a noite pro estado em troca da sua bolsa de estudos! Agora o André nem se fala! Ganha medalhas e dificilmente consegue um patrocinador... Então olha pra mim!! Ele disse apontando pra si. - Esther precisamos ser realistas! Eu não tenho nem emprego!! Não temos mais ninguém, exceto esse velho egoísta que abandonou a nossa mãe! E se você me odeia porquê eu engoli todo o nosso orgulho. E talvez tenha pisado na minha dignidade, para pedir apoio para esse ser, que nem faz parte das nossas vidas... Pois me odeie por isso! Mas eu jurei para o papai antes de morrer, que ia cuidar de você! E se isso incluí pedir ajuda para o Abelardo, sim eu farei isso quantas vezes for preciso!
Miguel me olhou com a sua respiração ofegante, como se tudo aquilo tivesse entalado na sua garganta.
- Tudo bem! Faremos o que você quiser! Falei compreendendo seu ponto de vista.
- Ótimo! Vamos nesse almoço hoje! E você coloque o seu melhor vestido. Não vamos chegar maltrapilhos perante o velho!
Ele saiu e eu abri minha mala procurando o que vestir. Talvez Miguel tivesse razão e eu estava sendo radical demais, com todo esse meu orgulho e amor próprio. Mas ele não ouviu a palavra " Interesseira" sair da boca do Pither, no último dia em que eu estive em sua casa.
Saber que Pither me achava uma aproveitadora me matava por dentro. Isso porquê ele não sabia dos meus filhos, com certeza diria que foi tudo de propósito, tudo bem arquitetado para poder prende-lo pra sempre.
Eu jamais fiquei com ele por interesse... Eu olhei para a sua beleza, seu charme, seu sorriso lindo. Me encantei pelas suas piadas em horas erradas! Seu jeitinho sarcástico de ver a vida, e sua seriedade em algumas situações... Eu amava o jeito como ele me protegia, de como ele trincava o maxilar quando estava tenso e de como me olhava depois que fazíamos amor! Tudo isso ficará guardado na minha memória... Sua gentileza, seus cenho franzido, sua teimosia, seus dramas e a sua coleção de carrinhos miniaturas! Nunca foi pelo dinheiro! Sempre olhei pra ele é só pra ele! Pither é muito além do que qualquer conta bancária que ele possuí... Eu vi muito mais dentro ele! Mas infelizmente ele não percebeu!
(Pither)
- Eu vou ser pai! c*****o eu não podia acreditar no que estava lendo. Saí do quarto feito um foguete colocando o papel no bolso e desci as escadas vibrando de felicidade, eu gritava e cantava fazendo passinhos e dançando feito um louco pela sala.
- Tá tudo bem Doutorzinho? Valdete apareceu meio assustada com o meu comportamento. Fui até ela e a trouxe para dançar também, ela ficou um pouco constrangida.
- Eu vou ser pai Valdete! Eu vou ser pai! Sua boca abriu numa total surpresa com a minha confissão. E de repente começou a dançar e a requebrar feito uma doida pela sala.
- O que está acontecendo aqui? Papai apareceu franzindo a testa intrigado.
Ela parou de dançar e eu fui até ele pulando de alegria.
- Estamos comemorando! Falei entusiasmado.
- Percebo! E qual o motivo de toda essa felicidade? Ele levantou sua sobrancelha dando um meio sorriso.
- Eu vou ser pai! Você já imaginou isso? Eu vou ter um filho, Um bebê!
- Pither, mais você mesmo me disse que aquela história da Déborah era tudo mentiras! E que o filho que ela esperava não era seu...
- Não estou falando da Déborah Pai! Estou falando da mulher que eu amo! Esther! Ela vai me dar um filho, um filho que sem sombra de dúvidas é meu!
Eu estava muito agitado e eufórico! Mas Val percebeu papai se sentando no sofá como se tivesse levado um choque.
- Com licença! Ela pediu e saiu nos deixando a sós. Respirei fundo e me sentei de frente a ele observando sua reação intrigante.
- Eu não sei se te parabenizo por finalmente me dar um neto e criar juízo... Ou se te estrangulo por acabar de saber, que você estava transando com uma garota oito anos mais nova, na minha própria casa!
Levei um susto com o jeito que papai fez parecer aquilo ficar tão sério. Como se eu tivesse cometido um crime.
- Se me permite? Eu prefiro a primeira opção... Independente de onde foi concebido um filho, é um filho!
Me levantei e peguei as chaves do carro na mesinha do telefone.
- Onde você vai? Ele perguntou arqueando suas sobrancelhas.
- Procura-la! Onde mais eu iria? Quero enche-la de beijos e ficar com ela pra sempre!
- Esther ainda está no interior? Papai perguntou curioso.
- Não sei! Vou até o apartamento do Matheus. Ele não deve ter ido ainda para faculdade, preciso saber de algumas coisas!
Acenei para papai e saí muito radiante até o apartamento dos meninos. Acelerei tudo o que podia para chegar mais rápido, eu nao quero perder tempo. Já perdi muito sem saber que a minha garota esperava um bebê.
Senhor Donsom liberou a minha entrada e eu mexia a perna inquieto no elevador. Quando a porta do apartamento se abriu eu me joguei sobre Matheus altamente emocionado, o abraçando.
- Eiii! Ele gritou. - Está tão preocupado com a gente assim? Que precisava se certificar de perto?
Saí de cima dele e segui para dentro vendo Lorenzo e André sentados no sofá da sala.
- Que bom que está todo mundo aqui! Cadê o Miguel? Esta faltando ele!
- Ele não veio com a gente! Disse que precisava ficar com a Esther! Matheus explicou.
- Humm... Apertei os olhos. - E o filho da mãe sabia!! Respondi.
- Pither do que você está falando? Matheus perguntou.
- Ele está mais louco do que de costume! André me provocou.
- Calma pessoal! Eu apaziguei com as mãos. - Eu vim aqui porque quero que vocês saibam de uma coisa! Todos eles se olharam altamente preocupados. - Eu vou ser Pai! A Esther está grávida!
A notícia caiu feito uma bomba na sala. Matheus arregalou seus olhos absurdamente azuis, enquanto Lorenzo se empalideceu. André começou a rir como se não acreditasse no que eu acabava de ouvir.
- Eu não acredito que você é tão i*****l a ponto de não usar preservativo! Debochou jogando sua cabeça para atrás gargalhando.
- Um filho? Você disse um filho? Lorenzo perguntou desacreditado.
- Ele está zuando com a nossa cara! André continuou. - O Pither jamais sairia com duas mulheres ao mesmo tempo! Ele não tem pique pra isso!
Todos falavam ao mesmo tempo e eu não conseguia dizer nada. Matheus era o que tinha a conversa mais sensata.
- Como você soube? Perguntou.
- Naná me deixou uma pista! Respondi. - E com certeza Miguel sabe! Por isso não saía de perto dela no velório! Ele está muito protetor!
- E eu achando que você era o mais esperto de todos nós! André espalmou sua testa. - Nessa idade e ainda não sabe fazer um sexo com segurança...
- Cala a p***a da boca André! E esqueça a camisinha do cara! Matheus respondeu visivelmente irritado.
- Esther e eu sempre nos cuidamos, mas teve uma vez em que aconteceu da gente não usar. Mas eu comprei a pílula do dia seguinte... Todos se viraram para mim. - Bom! Pensando bem acho que eu não comprei não! Devo ter esquecido... Mas o caso é que eu não vim aqui para reclamar ou me lamentar! Pelo contrário eu estou muito feliz! Finalmente terei uma família!
- Ele, ela e o menininho! André gritou, encenando a fala do " Timão em o Rei leão."
- E o que você pensa em fazer? Matheus perguntou me encarando.
- Ir atrás dela! Vou pedir perdão quantas vezes for preciso até que ela me aceite!
- Pither! Um pouco antes de você chegar Miguel me ligou. Matheus começou. - Esther não está morando mais no interior...
- O quê? Falei sentindo meu peito afundar.
- Ela foi embora... Se mudou para o Mato Grosso com o vovô!
Me senti m*l por ela ter ido embora, mas algo me dizia que não era para mim desistir. Isso era um obstáculo não uma derrota!
(Esther)
A proposta do meu Avô me surpreendeu muito. Eu não esperava que ele me chamasse para viver com ele sem nem ao menos me conhecer. Miguel apertou fortemente a minha mão enquanto ele continuava.
Pelo que pude perceber ele era um homem importante. Seus trajes, o jeito como falava e um segurança particular não nos restava dúvidas.
Ele não mencionou em nenhum momento meus pais, não era um homem sensível e muito menos afetuoso. Me senti m*l em relembrar como meu pai foi amável comigo pelo pouco que passamos juntos. Isso só me fez ver que ele não precisava de dinheiro para ser feliz.
Abelardo disse várias coisas importantes, como por exemplo que gostaria muito de se aproximar dos netos e recuperar o tempo perdido. Ele mencionou o nome dos meus irmãos em algumas conversas, e deixou bem claro que gostaria de nos conhecer melhor, pois éramos sua única família.
Notei pelo meu ponto de vista que era um homem triste e vazio. Pra ser bem sincera eu não gostava dele, mas tinha algo dentro de mim que gritava mais forte implorando que eu lhe desse uma chance.
- Tudo bem! Eu vou mais com uma condição! Respondi.
- Diga filha! Ele respondeu me olhando atentamente.
- Eu vou apenas se puder levar as pessoas que eu gosto comigo! Miguel, Naná e é claro a minha Tia Helena!
Ele assentiu como se não se importasse com a minha exigência.
- Pra mim tá perfeito! Iremos ao amanhecer...
Ele seguiu para o hotel com a sua bengala. E Miguel e eu fomos embora com o carro de Naná.
- Você sabe que é uma decisão definitiva né? Miguel começou mexendo com a minha insegurança. - Se irmos para o Mato Grosso, Pither estará mais longe da sua vida e talvez vocês demorem para se encontrar!
- Esse é o principal motivo de deixarmos Itapecerica Miguel! Quero ir embora para sempre, num lugar onde Pither nunca me encontre!
- Olha Esther! Eu sou homem e por muito tempo Pither foi o meu melhor amigo... Não quero te deixar m*l, mas ele parece ter um ímã para mulheres bonitas! Você não se preocupa?
- Me preocupar com o que? Respondi entre os dentes.
- Em perde-lo Esther! Ele se virou pra mim. - Você pode se arrepender! Agora está magoada e ressentida... Mas como eu te disse Pither é um cara bacana! Virão mulheres querendo consola-lo...
- Miguel Para! Revirei os olhos.- Se Pither aparecer com outra garota só prova uma coisa... Que ele nunca me amou!
(...)
Tive pena de Naná ter que arrumar as suas malas outra vez, ela não reclamava. Estava tão feliz com a vinda dos bebês que aceitava minhas escolhas sem questionar. Era uma mãezona!
Infelizmente minha Tia Helena não quiz vir com a gente. Ela pouco falava e por mais que eu tentasse a convencê-la tinha sua escolha. Como papai Tia Helena jamais deixaria o campo, preferia ficar sozinha do que deixar a terra que tanto amava. E eu respeitei a sua opinião.
Miguel não sabia mais eu fiquei altamente mexida com a sua concepção sobre Pither. Só de pensar nele com outra mulher mexia com todos os meus nervos. Eu sinceramente morreria se ele desistisse de mim.
- Oi meus amores! Falei tocando minha barriga, eu sabia que eles eram pequeninhos mais queria que eles me sentissem. - A mamãe não vê a hora de conhecer vocês! Minha barriga deu uma leve tremidinha. - Vocês me ouviram?! Meus olhos marejaram. - A mamãe está triste sabiam? Porque eu estou com saudades do pai de vocês! Só que eu sou teimosa demais para admitir isso...