Capítulo VIII

1722 Words
— A minha prancha já está em cima do meu carro, vamos levar mais três para quem quiser pegar uma sondas — Vou prender essas aqui sobre ela no hack então. — Já é, mas usa a correia nova, é maior e tem presilha de ajuste, assim elas não vão ficar batendo, nem cairão pelo caminho. — Sem problemas, da última vez que fez a barulhada no carro do Eduardo não fui eu quem amarrou, foi meu irmão! —Vou pegar o gelo para por no isopor, tia Glória disse que fez uns sanduíches para levarmos, vou buscar também. — Faz isso enquanto eu pego umas bebida lá na despensa da pensão, já avisei a mamãe. Sai mais barato do que comprar no mercado, já que ela compra direto da fábrica. Eduardo reapareceu minutos depois com uma bolsa cheia de garrafas pet cheias de água congelada. Dona Glória estava acostumada á economia doméstica, especialmente depois de ter que administrar sozinha a pensão sem ajuda do pai, e gastar dinheiro comprando gelo era algo que ela não admitia. Especialmente porque o gelo que fazia em casa era feito de água fervida e filtrada, podendo inclusive ser consumido sem problema algum, diferente dos gelos comprados, que além de serem caros, tinham origem duvidosa... Alex já tinha terminado de amarrar as pranchas e se juntou a Eduardo rasgando as garrafas e quebrando o gelo em pedaços não tão grande para serem espalhados por dentro da caixa de isopor, por cima das latas e garrafas trazidas por Val. — Deixa umas garrafas intactas para que tenhamos água quando derreterem. Água mineral na praia custa uma nota e a gente nem sabe se é água mineral mesmo! — Está falando como tua mãe... — Brincou Alex. — E a coroa tem razão, não tem? — Sempre! A mão que me alimenta está sempre correta. — Ripostou Alex rindo. — Já colocou o rango no carro? — Val se dirigiu a Eduardo. — Que nada, ela deixou um cooler quase tão grande quanto esse isopor cheio de comida na mesa da cozinha, não tinha como trazer junto com o gelo, deixei lá para buscar depois. Val sorriu do exagero da mãe que sempre empurrava tudo o que tinha na geladeira para eles quando iam a praia, e funcionava, de alguma forma a praia os deixava ainda mais famintos, e acabavam por devorar tudo que ela fazia, e todas as sobras da pensão, achando uma delícia! — Deixa comigo! Depois de tudo armado, entraram no carro. Val dirigindo, Eduardo no carona e Alex se jogando no banco de trás do Dodge Durango de Val. — Hey, Edu, e teu carro? — Perguntou Alex deitado com a cabeça sobre os braços. — Perda total, bateu motor sai mais barato vender a carcaça e comprar um carro novo! — Que m***a hein! — Nem me fala... — Hey Val, — Alex quebrou o silêncio mais uma vez depois de alguns minutos. — você bem que podia colocar uma cortina, ou sei lá, algo que esconda essa parte do carro. Um monte de espaço disponível aqui atrás precisa de privacidade... — Nem pense em ficar de melação com tua mina ai atrás, pois jogarei os dois para fora do carro em movimento! — Pode ficar tranquilo que eu jamais iria expor minha garota para vocês dois zoiudões! Eduardo exibiu um meio sorriso ao se lembrar de uma conversa semelhante em algum lugar no passado, em outro universo... Para se distrair decidiu ligar o rádio do carro de Val e ao apertar o botão de ligar a música que estava tocando na rádio se espalhou pelo ambiente: My life would suck without you, One Direction O rosto dele empalideceu no mesmo instante e ele teve um calafrio. — Hey, mano, o que houve? Parece que viu um fantasma! — Disse Alex erguendo o corpo, sentando entre os bancos de Val e Eduardo. — Nada, eu só... acho que tive um déjà vu. — Eduardo olhou de relance para Val e os olhos deles se encontraram, mas Val voltou a atenção para a estrada em silêncio. — Mano, minha avó adora esses lances de Dèjá vu, ela tem várias teorias boladas sobre o assunto! Sempre fala em como as pessoas confundem déjà vu com jamais vu. — Peraí, tem "jamévus" além dos dèjá vus? Qual a diferença deles? — Perguntou Val, intrigado, olhando mais uma vez para Eduardo de soslaio. — Parece complicado, mas é simples, minha avó explicou um monte de vezes já para mim que eu até decorei. Déjà vu é uma sensação estranha de que algo já aconteceu, mas a parada na verdade nunca aconteceu! È como estar mais uma vez em uma situação, mas que na verdade é a primeira vez. Minha avó diz que é o destino te dando a chance de voltar no tempo e consertar algo que fez ou falou que mudou ou pode mudar teu destino. A situação, o momento todo muda, porque você mudou e pode mudá-lo... se é que me entende.. — E o Jamais Vu? — Perguntou Eduardo cada vez mais interessado no assunto. — Aí é diferente, porque na verdade a pessoa está passando de novo por algo que já aconteceu, mas é como se fosse a primeira vez. — Como assim? — Vou explicar melhor : você toca a tua música nova todo dia no teu violão ensaiando para o concurso, certo?— Eduardo concordou com a cabeça. — Imagine como se sentiria se a tua música, já tão íntima dos teus ouvidos, parecesse inédita! Você sabe a letra, sabe a poesia, mas de repente, tudo parece novo, não é mais como era antes, ou com deveria ser. Ela é novidade para você! Algo mudou, mas você não... Minha avó diz que isso pode ser o resultado de um déjà vu em que a pessoa escolheu m*l a mudança que fez, daí ao invés de ter uma nova chance para mudar, tem que engolir as mudanças das quais ela não participou...  — Não tenho certeza se entendi. Déjà vu é saber algo que ninguém sabe porque você já viveu aquilo, e Jamais vu é viver algo que você deveria saber mas não sabe porque tudo está diferente, ou igual, isso não ficou muito claro, mas você não está onde deveria estar? — p***a, Val, eu até agora tinha pensado que tinha entendido, mas agora você me deixou confuso. Vou ter que ligar para minha "abuela" mais tarde e perguntar de novo... Eduardo olhou para o lado de fora do carro, pela janela, as pessoas e coisa passando rapidamente sem serem reconhecidas nem mesmo percebidas pelos olhos dele. De repente um enorme desânimo o abateu, como uma garra fria em seu coração. Teria ele feito tão má escolha que o destino se virou contra ele, não deixando ao menos uma alternativa, uma solução? O carro parou na frente da casa de Vanessa, Alex desceu avisando que já retornaria, e Eduardo continuou a olhar do lado de fora. — Edu, essa coisa de jamais e dejas que o Alex estava falando, parece bem essa coisa toda que você me contou sobre essa Bianca... Será que não tem uma macumba braba que você possa fazer para resolver tudo isso? Sei lá... — Não sei Val... Eu tenho uma teoria, e vou tentar fazer as engrenagens trabalharem hoje... Acho que se tiver uma oportunidade de ficar a sós com ela, talvez ela lembre... não é possível que o que aconteceu fique perdido, o universo tem que achar uma maneira... — Hum.. e o que pretende fazer quando estiver com ela? — Ainda não sei... Talvez ela me veja e lembre? Talvez eu possa explicar tudo a ela e ... sei lá... ou quem sabe eu não começo tudo de novo, do zero? Posso chamar ela para sair, como se fosse a primeira vez e então, se ela gostou de mim uma vez, vai gostar de novo, certo? Val encarou o amigo em silêncio sem saber o que dizer. Tudo aquilo parecia tão surreal, tão louco... Mas era exatamente por parecer louco que ele tinha decidido acreditar no amigo, Eduardo era a pessoa mais pé no chão que Val conhecia, chegava ser pessimista e obscuro às vezes. Além disso Ele não era dado a mentiras nem fantasias, o que o deixava um tanto monótono na opinião de Val, o que levou Bruno a apelida-lo de Casmurro. Ao mesmo tempo Val temia que o amigo estivesse prestes a se deparar com uma enorme decepção... se ele pelo menos tivesse uma bola de cristal para ver o presente, muito mais do que o futuro, ele poderia interferir, mas no momento estava de mãos atadas... Alex abriu a porta do carro para Vanessa entrar e entrou em seguida, tascando um intenso e demorado beijo na boca da namorada. Val esperou até que o casal parasse para respirar antes de ligar o carro. — Já posso seguir caminho para a praia ou preferem que os deixe em um motel? — Hm... não deixa de ser uma ideia, hein Va- — Cala a boca, Alex! Vamos para a praia Val, desculpa te fazer esperar, é que Alex está um pouco animado demais... — Mulher, você não faz ideia, tem certeza que não prefere duas horinhas no mo- — Não, Alex! Fala sério! Quase nunca seu g***o de badboys se reúne para praia levando garotas, eu quero aproveitar! Minhas amigas estarão lá e eu preciso pegar uma corzinha! — Pois eu adoro tua cor desse jeitinho, o contraste quando estamos na ca- — Cala a boca, homem! — E o que eu falei de errado, mulher? Estou mentindo por acaso? Vai dizer que não gosta de ver- — Alex, mano do céu, você namorando está um pela saco! — E quanto a vocês dois? — Alex perguntou cruzando os braços sobre o peito. — Quando vão desencalhar? — Se for para ficar como você, vou morrer solteiro! — Disse Val zombeteiro. — Onde está teu irmão e o Rafael? — Renato e Rafa foram buscar as amigas deles, uma delas tem carro, não sei o nome dela não, só me lembro da baixinha arretada, Luíza, que também vai. Eduardo viu um sorriso sutil querendo se formar nos lábios de Val, que logo o escondeu sob o rosto sério.
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