Capítulo VII

1866 Words
Eduardo estava sentado no sofá do salão de jogos enquanto Alex, Renato e Rafael jogavam sinuca. Como sempre, os rapazes estavam animados, rindo e brincando uns com os outros, mas não ele. Ele estava com a mente barulhenta, buscando soluções cada vez mais impossíveis para a situação em que se encontrava. A esperança, que antes inundava a sua alma, se esvaía com o passar dos dias. Diversas tentativas de entrar em contato com Bianca, e até mesmo sua irmã, se provaram infrutíferas. Acreditou que a veria na faculdade, pelos corredores ou cantina, mas ela não deu o ar da graça. Ele chegou até mesmo, sem pensar, a se inscrever em uma disciplina que nada tinha a ver com música, mas que ele sabia que ela estaria. Era a mesma em que ela conhecera Ricardo, mas ela não compareceu. Eduardo sentia que todo o universo estava conspirando para que não se encontrassem, e quem era ele para lutar contra o universo? E por mais que o d****o dele tenha sido real no momento, era também fruto de sua incapacidade de controlar as ações quando estava irritado. Como Vera costumava dizer a ele: " Cuidado com a emoção que você permite controlar tua boca, filho; palavras têm poder e energia suficientes para mudar o mundo!" Eduardo estava tão concentrado que não se deu conta de que os amigos pararam de jogar para observá-lo. " Tô achando que ele bateu a cabeça no acidente e está mais estranho que o normal..." "Que nada, gente, ele deve estar preocupado com tia Vera, souberam que o pai dele marcou a cirurgia?" " Sim, ele falou, mas parecia mais um zumbi, até deu de ombros dizendo que sabia que ficaria tudo bem!" " Como ele pode saber? " " Vai ver teve uma visão, por isso está assim abobalhado! Viu a luz quando estava em coma, falou com o pessoal do lado de lá... "  — Fala aí zumbi Edu, serão os anjos... ETs... X-Men? — Eu quase rio ouvindo os três patetas falando de mim como se eu não estivesse aqui, pena que vocês são feios demais para eu rir! — f**a é tua alma, com essa cara de ornitorrinco gripado!— Ripostou Alex com indignação expressa no rosto. — Esse rostinho aqui foi esculpido por Afrodite! — Pronto! Pegou a doença do Rafa, que acha que é encarnação de Eros. — Disse Renato rindo. — Hey! Não sou eu quem diz isso, você sabe muito bem! Foi uma mina que eu fiquei, e desde então, vocês é que passaram me zoar! Ainda não sei que culpa tenho disso! O trio estava tão empolgado entre a discussão e zombarias, que nem se deu conta de que Eduardo não estava mais no salão de jogos. Ele havia se retirado logo após revirar os olhos na direção dos amigos. Eduardo os tinha como irmãos caçulas, aqueles que amamos, mas de vez em quando queremos grudar na parede com fita adesiva para que fiquem quietos... Ao entrar no saguão, ouviu a voz de Val chamar do balcão da recepção. — Fala, irmão, está trampando aqui hoje? — Eduardo se debruçou no balcão de frente para o amigo. — Mamãe foi para a casa de uma amiga, não sabe se volta hoje, então a pensão está por minha conta. — Você às vezes não desconfia dessas saídas? Não se pergunta se tia Glória tem algum galã por aí pa- — Não sei, não quero saber e espero que ela não conte!— Val desviou os olhos da tela do computador para Eduardo. — O que meus olhos não veem, meus ouvidos não escutam e minha mente não imagina; meu coração não sente! — Ela ainda está inteirona... Quem sabe qualquer dia não aparece um.. — Tua perna ainda está doendo, Edu? — Val perguntou interrompendo a provocação de Eduardo. — Na verdade não, — Eduardo dobrou e esticou a perna como se quisesse comprovar que estava bem. — Está de boas... — Quer que ela continue assim, inteira e "de boas"? — Claro, ué, por- Ah..— Eduardo sorriu ao ver a sobrancelha erguida de Val, compreendendo a ameaça. — Ok, não falemos mais da vida amorosa da tia Glória. Por que me chamou, está solitário? — Não costumo ficar solitário, seu frutinha! Gosto da minha própria companhia, melhor do que ouvir você falando m***a! Mas eu ia ter que subir para te entregar esse embrulho, e como está aqui de bobeira, pega logo! Eduardo aceitou o pacote de cerca de vinte centímetros envolto em papel pardo. Com as sobrancelhas franzidas ele revirou o embrulho, encontrando o remetente. Era do hospital onde tinha ficado internado. Aparentemente o hospital havia retornado via correio o que os socorristas haviam encontrado em seus bolsos. Intrigado, ele rasgou o um extremidade do pacote e derramou o conteúdo no balcão: Um molho de chaves, um documento de identidade e ... Val notou quando toda a cor do rosto do amigo desapareceu. Eduardo ficou pálido, e com a mão trêmula alcançou um corrente prateada que havia caído por último sobre o balcão. Antes que seus dedos tocassem tal corrente, Eduardo levou a mão trêmula a boca, olhando o objeto como se não acreditasse que estava ali. — Está tudo bem, Edu? Perguntou Val preocupado ao notar os olhos do amigo se encherem de lágrimas. — Não, Val, está tudo tão fodidamente errado! Eu não sei mais o que eu faço! Parece que está tudo de cabeça para baixo, e por mais que eu tente consertar, a m***a toda dá errado e... — Hey, mano. — Val deu a volta no balcão em direção o amigo, o modo mamãe urso ativado.— Fala o que está acontecendo? Tem algo a ver com o acidente? —Tudo! Nada! Quer dizer.. Esse acidente nunca tinha acontecido, entende? Não aconteceu desse jeito! Ela vinha para cá, e então eu agiria como um "b****a i****a" — Um sorriso triste se formou nos lábios dele enquanto falava. — Então, não faço ideia do porquê, ela ia cair na minha... Minha garota! Tão perfeita, Val, você até disse que ela era como uma irmã para você, uma de nós, saca? Mas aí eu estraguei tudo e agora está tudo diferente e eu não consigo falar com ela, e ... — Eu falei o que, de quem? Do que você está falando, quem é essa ela? — Val olhava para Eduardo se sentindo totalmente confuso. — Ela, Val, minha namorada...— Eduardo beijou o pingente de asas de anjo da corrente e a prendeu em volta do pescoço. — Edu.. se você está falando da tua EX, — Val reforçou a menção de "ex" antes de falar o nome de quem imaginava ser objeto das reminiscências de Eduardo. — Priscila é uma vaca e eu nunca fui com a cara dela! — Que Priscila o quê, Val, tá de s*******m? — De quem diabos você está falando então? — Da Bianca, Val... — Ignorando a confusão estampada no rosto de Val, Eduardo prosseguiu. — Lembra quando acordei no hospital? Quando falei da Bianca, pedi até seu celular para ligar para ela? Então, ela é real, Val , não é minha mente pregando peças! — Mas, Edu, o médico disse que- — Que se dane o que o médico disse! Escuta, vou te contar tudo e então me diz se ainda vai pensar que é tudo fruto da minha imaginação, ok? Eu não aguento mais lidar com isso sozinho, talvez você encontre uma saída! Estou ficando desesperado! E assim Eduardo contou toda a história para Val, mencionando nomes, datas, a festa e o resultado do concurso. Val ouviu com atenção as palavras do amigo, sem interromper nenhuma vez. Eduardo estava ansioso, com medo do amigo pensar que ele estava ficando louco. Ele sabia que suas lembranças eram verdadeiras , ainda que não fossem reais naquele universo, ou realidade paralela. Ele olhou para o rosto sério de Val com pouca esperança. — Então, Val, ainda acha que imaginei tudo isso? — Mano, se você imaginou tudo isso, você é f**a! Dá para escrever e mandar para uma editora, um livro e tanto! Poderia chamá-lo de Asas de Anjo, que tal? — Não estou para brincadeira, Val! — Nem eu, estou falando sério! Está cheio de detalhes e coincidências estranhas... por exemplo, o cara estranho no trem! Eu não comentei nada que sentei a viagem toda de volta para cá ao lado de um nerd fã de Harry Potter! E o cara era realmente afeminado, ele me deu um papel com o número dele e tudo antes de descer! Eu disse a ele que sou hétero, fiz até cara de assassino, sabe qual é? Ele só suspirou! c***u e andou para minha carranca de m*l, pelo visto não tenho teu talento ou ele é mais macho que muito marmanjo que- — p***a, Val! Eu queria saber o que isso tem a ver com o que acabei de te contar!? — Tudo, seu i****a! Primeiro eu estava pensando em ligar para o seu médico... Desculpa aê, irmão, mas sua história parecia maluca! Mas daí algo em encasquetou, como você poderia saber do nerd, se eu não contei? Ou o número do telefone da mina? E a irmã dela...bem... eu conheci, gostosinha inclusive! Aliás, vou me fantasiar de mafioso na próxima festa à fantasia da faculdade... Já imaginou? Se eu pego aquela baixinha de jeito, ela não vai nem conseguir andar no di- — VAL! — Eduardo interrompeu os devaneios do amigo . — Foco, ok? — Ah, tá, foi m*l!— Val passou a mão pelo queixo sentindo os pelos que teimavam em crescer. — Então você demorou um tempão para dar uns pegas na mina por minha causa? — Val balançou as sobrancelhas com um enorme sorriso no rosto. — Sim... Eu disse para você que jamais daria em cima dela se ela fosse sua garota. — f**a, mano, A antes de B sempre! — Val aprisionou Eduardo em um de seus abraços de urso. — Mas confesso que isso foi antes de eu me apaix- — Hey, caras! Que momento melação é esse? — Perguntou Rafael à poucos passos da dupla abraçada. Eduardo empurrou Val, que o soltou sorrindo, aliviado por finalmente poder respirar. Ele olhou para o recém chegado com as sobrancelhas franzidas, pois não havia escutado o amigo se aproximar. — Está aqui há muito tempo? — Perguntou Eduardo se sentindo um pouco desconfortável com a natureza da conversa que teve com Val e a possibilidade de Rafael a ter escutado. — Ãh.. Não.. eu acabei de vir pra cá, a partida acabou e eu perdi. — Rafael olhou para Eduardo e então para Val mordendo o lado de dentro da bochecha. — Eu queria falar com vocês para irmos a praia amanhã. Eu convidei Bianca e a irmã dela, assim vocês conhecerão as duas e algumas amigas que pedi que levassem... — Ele voltou os olhos para Eduardo. — Mas se tua perna ainda estiver r**m, não tem problema, posso te apresentar a elas outro dia sem que- — Não, Rafa, minha perna está ótima e acho que ir a praia é uma ideia maravilhosa! Estou dentro!
Free reading for new users
Scan code to download app
Facebookexpand_more
  • author-avatar
    Writer
  • chap_listContents
  • likeADD