Capítulo III

1532 Words
— Finalmente livres! — Esbravejou Val ao entrar. A porta dupla bateu na parede e ricocheteou de volta, fazendo um estrondo devido a força aplicada por Val ao passar por ela. Ele, por uma vez, se virou confuso para a porta, em seguida olhou para a mão que havia usado para abri-la. Fazendo uma espécie de "beicinho" em admiração, ele deu de ombros e seguiu até a cama de Eduardo com um enorme sorriso estampado no rosto. Eduardo ergueu uma das sobrancelhas olhando para o amigo, fazendo Val abrir ainda mais o sorriso. — Precisava dessa violência toda? — As vezes esqueço da minha força. — Respondeu Val com uma risada, balançando os papéis que tinha na mão. — Liberdade ainda que tardia! Já podemos voltar para casa, não vejo a hora de dormir na minha caminha! Essa cadeira estava acabando com minha coluna, do jeito que estou agora, não aguentaria nem duas na Margarete... — Me poupe de ouvir tuas aventuras com essa baranga. — Qual, é, Edu?! Ela não é baranga, só um pouco... estranha? Mas sabe pagar um bo- — Pensei que não sairia mais com ela?— Eduardo interrompeu o amigo, apressado, se poupando de ouvir mais detalhes. — E não saio mesmo! Essa é a razão pelo qual eu não aguentaria duas, com outra garota não teria problema algum... — Val, às vezes você não faz o menor sentido! — Engraçado vindo de um mané que acordou de um coma pensando que tinha namorada. — Riu-se Val, mas logo se arrependeu da brincadeira ao ver o rosto de Eduardo perder toda a cor. — Ainda está muito cedo para te zoar? Eduardo reconheceu nos olhos arregalados pela culpa de Val o menino que o ajudou tantos anos antes na escola. Val agora mais parecia um imenso Hulk, mas continuava o mesmo menino travesso e com tendências de herói de quando se conheceram. Era impossível se zangar com aquele urso...Mas Eduardo não acreditava que tudo tinha sido um sonho, Bianca era real, o amor que ele sentia por ela era real, e o universo de alguma maneira decidiu castigá-lo por tê-la considerado garantida em sua vida. Ele encontraria um jeito de reverter aquela situação. Na noite anterior, enquanto Val dormia, Eduardo pegou o celular do amigo e digitou os números que já tinha tatuados em sua mente. Ele tremia ao ouvir a chamada, com medo de estar louco, ou de o médico estar com a razão e o cérebro dele ter inventado aquelas lembranças, mas quando a voz dela atendeu a chamada, o coração dele quase saltou de dentro do peito. " Alô?" " Bi-Bianca?" " Sou eu mesma, quem está falando?" " Graças a Deus! Sou eu. princesa, Eduardo..." Ele fechou os olhos, aliviado "Desculpa, não entendi... quem está falando?" Um dor aguda no peito fez com que a voz dele soasse mais fraca e insegura. "Sou eu, Eduardo, seu namorado" " Eu não conheço nenhum Eduardo... é alguma brincadeira de mau gosto? Foi o Fábio que te mandou ligar para mim, não foi!? Pois fique sabendo que eu vou ligar para a polícia, trote é crime!" Eduardo terminou a chamada e colocou o celular do amigo de volta na mesinha. Por mais dolorosa que aquela conversa tenha sido, ela trouxera também esperança. Bianca não era invenção de seu cérebro, existia de verdade e tudo o que ele tinha que fazer era começar do zero e conquistá-la mais uma vez! E dessa vez ele seria perfeito para ela, nada do b****a i****a que demorou tanto para tomar uma atitude! — Estou chegando para buscar o dodói!— Rafael entrou empurrando uma cadeira de rodas, acompanhado por uma belíssima jovem estagiária que o olhava mordendo o lábio inferior. Tão logo ela se virou para os demais ocupantes do quarto, os olhos arregalaram. Ela sabia que enfermagem era o curso certo para ela! O primeiro dia de estágio estava se provando excepcional. Val olhou para a jovem com interesse e Eduardo não se conteve. — Eu não quero essa m***a de cadeira, dá para o Val que está com a coluna tão avariada, que acha que o p*u não vai subir mais! — Disse Eduardo com um sorriso cínico no rosto. Ele não tinha como manter sentimentos ruins pelo amigo, mas a vingança não tinha nada a ver com isso, tinha? — Hey, hey!!! O júnior aqui nunca me deixou na mão, eu juro! — Disse Val olhando para a jovem que estava se esforçando para conter o riso. — Parem de falar besteira na frente da gatinha, rapazes! Qual seu nome mesmo? — Débora, Rafael, você já me perguntou meu nome umas cinco vezes, hein! Estou achando que tem problemas de memória! — E tenho mesmo, minha linda, — Disse Rafael afastando uma mecha solta de cabelo da jovem, olhando-a nos olhos como se estivesse apaixonado. — mas só quando estou diante de garotas que me deixam louco, como você! — Chega! — Disse agoniado Eduardo ao ouvir a jovem suspirar. — Pensando bem, eu quero a cadeira, me tire logo do hospital antes que suspendam minha alta por vomitar meu fígado! ********* Eduardo já estava a ponto de arrancar o gesso da perna de tanta coceira que sentia. O destino queria mesmo castigá-lo. Se não bastasse o universo voltar no tempo e apagar o passado, ainda lhe quebrou o fêmur em um acidente que ele nem sequer se lembrava de ter sofrido! Nessa hora ele considerava a bola que recebeu de Alex na cabeça uma opção mais agradável.  Chegando na pensão, Val o ajudou a voltar para a cadeira e o empurrou para dentro, enquanto Rafael falava pelos cotovelos sobre os dias que cobriu Eduardo no trabalho. Eduardo estava feliz por ver o amigo tão bem humorado e contente. Ele até pensou em provocar o amigo dizendo que desde o beijo triplo no ginásio, Rafael não se mostrava tão e******o. Val lembrou Eduardo que Rafael estava tão preocupado com Eduardo que chorou na frente de todos, e que haviam combinado de não trazer esse fato à tona devido ao trauma de Rafael com acidentes de trânsito. De todo modo, tão logo atravessaram o saguão, Eduardo se perdeu em pensamentos. De frente para a escada, ele se lembrou do primeiro encontro com Bianca. Como ela estava linda descendo aqueles mesmos degraus, sorrindo com as covinhas à mostra, bochechas avermelhadas pela timidez, enquanto ele a aguardava para levá-la para o Clube. A primeira noite do relacionamento deles. Uma noite que ele faria de tudo para que acontecesse mais uma vez, sem mudar nada! O coração dele batia acelerado. Ele queria poder levantar daquela cadeira horrenda, subir correndo as escadas e encontrá-la no quarto. Já tinha imaginado várias situações diferentes, várias maneiras que ele acreditava que fariam com que ela se apaixonasse por ele novamente. E poderia marcar o primeiro encontro deles do mesmo jeito que antes, cantar a mesma música que a encantou, mas com certeza, a beijaria com muito mais paixão... — Me ajuda, Ogro! Me leva logo para o meu quarto! — OK, ok! Pensei que depois de todo esse tempo trancado em um quarto de hospital, iria preferir o salão de jogos com os parças, mas se quer voltar para a caminha, o que você me pede sorrindo, que eu não faço chorando? Eduardo esperava que Val o ajudasse a levantar para que se apoiasse no ombro do amigo, mas o grande urso o surpreendeu carregando-o nos braços. — Olha que coisa mais romântica, mano! — Gritou Alex para o irmão que vinha logo atrás dele. — O casalzinho em lua de mel! — Esposa f**a da p***a, Val! —Zombou Renato. — A aparência não importa, Eduzinha aqui tem uma garganta de veludo! Né, amore? — Val tentava afinar a voz e piscava para Eduardo com o rosto quase explodindo pelo riso contido. Sem responder nada, Eduardo apenas ergueu o braço por trás de Val e mostrou o dedo do meio para os amigos. Ele estava ansioso demais para se preocupar com a zoeira deles. Em poucos minutos, ele a veria, seu anjo, e então tudo voltaria ao normal! Rafael abriu bem a porta para que Val passasse com Eduardo e a perna esticada pelo gesso. Val o deitou na cama, e Eduardo olhou em volta com o coração apertado. Bianca não estava no quarto. Ele passou os olhos aflitos pelo cômodo, à procura de qualquer indício da presença dela, mas estava tudo exatamente como antes de dividir o quarto com ela. Até mesmo uma toalha que ele havia jogado ainda molhada sobre a cama permanecia intocada. Bianca detestava quando ele fazia tal coisa e recolhia a toalha para lavar imediatamente.... — Val — Eduardo limpou a garganta tentando conter a emoção. — Val... tem algum hóspede novo aqui na pensão desde que eu.... Sofri o acidente. — Não, só a gente e os que você já conhece... Tinha um velhinho, mas ele ficou só uma noite, por quê? Eduardo passou a mão pelo rosto aflito, se lembrando das últimas palavras que havia dito a mulher que amava. " E eu queria que você nunca tivesse entrado na porcaria do meu quarto naquele dia!"
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