Capítulo II

1307 Words
— Acho que ele está acordando de novo! — Graças a Deus! Vou lá fora chamar alguém, essa porcaria aqui não está funcionando! Eduardo tentou abrir os olhos, mas a claridade piorou a dor intensa que ele sentia na cabeça. Aliás todo seu corpo doía muito e ele estava com dificuldade para respirar. Ainda de olhos fechados ele levou a mão a perna esquerda, que doía tanto quanto a nuca. Ao apertar o músculo da coxa, ele gemeu de dor. — Eita, mano! Está tendo um sonho do bom, é? — i****a!— Resmungou Eduardo, com dificuldades para falar devido dor que sentia do lado esquerdo do corpo. Ele se perguntava como diabos uma bola de sinuca, atirada pelo amigo ( ele fez questão de frisar mentalmente) poderia estar fazendo ele sentir tanta dor. — Só para deixar claro: Alex, eu te odeio ! — Aww... também te amo! (...) Não faz isso de novo com a gente, mano, deu um baita susto! — Pois é, já está bem velhinho para beber e dirigir! Aquele caminhão que acabou com teu carro poderia ter acabado contigo, seu zé ruela! (...)Quando te vi aqui depois da cirurgia, mano... Pensei que você... só não faz isso de novo, valeu?! As palavras e o tom de voz triste de Val fizeram Eduardo abrir os olhos. Do que diabos ele estava falando? Val estava sentado em uma cadeira de ferro, que parecia pequena demais para o tamanho dele, com os braços cruzados sobre o peito. Escuras olheiras indicavam que não havia dormido, barba crescendo no rosto de pelo menos dois dias, o que era absurdo, Val detestava barba! As roupas de Val também indicavam descuido, estavam amarrotadas e desconjuntadas, combinando com o cabelo desgrenhado. Teria Val passado a noite naquela cadeira? Alex estava mais apresentável, mas também tinha enormes olheiras. — Que p***a é essa? Que quarto é esse? Eduardo tentou se levantar, assustado, mas a dor o fez deitar-se novamente. Ele estava cansado, com sede, dor e confuso. A voz estava rouca e ele teve uma crise de tosse. — Vou lá fora buscar água para você, mano, já volto. — Estamos no Hospital central de Constanza, uma cidade vizinha à nossa. A estrada aonde você sofreu o acidente é aqui perto, daí te mandaram para cá... Aliás o que você estava fazendo aqui nesse fim de mundo? — Calma ai, Val, de que acidente você estão falando? E cadê a Bianca? Ela sabe que estou aqui? Val franziu as sobrancelhas, olhando para o amigo. Será que Eduardo havia perdido a memória? Ele torceu para que Renato encontrasse logo o médico... — Tudo o que sei é que no dia que eu voltei da casa do meu pai o trem atrasou por causa de um problema lá qualquer, daí os garotos me ligaram para saber se você estava comigo. Me disseram que do nada você decidiu me buscar na estação. Eu te procurei e não achei, obviamente. Tentei te ligar e só dava fora de área, então recebi uma ligação do hospital e vim correndo para cá... — Peraí, Val, eu estou meio confuso! A última coisa que eu me lembro é de levar uma bolada do filho da mãe do Alex na véspera de natal, estávamos todos lá juntos, nossas mães fizeram uma baita ceia, e eu acabei discutindo com a Bianca, perdi a cabeça feito um ogro como sempre, e acabei falando um monte de m***a para ela. Aliás, como ela está? Val olhava o amigo atentamente, seu rosto mostrava óbvia preocupação. — Edu... Eu passei natal com meu irmão, Alex e Renato passaram com os pais deles, só você e o Rafa ficaram na pensão com minha mãe... Eu acho que talvez você tenha levado uma pancada forte na cabeça, ou tenha sonhado e ...tua mãe está na clínica, mano...ela não sabe de nada, ninguém teve coragem de contar que você tinha se acidentado, já que ela não poderia vir te ver... — Do que você está falando, Val? Para com essa p***a, não tem graça! Minha mãe está bem há meses e cadê a Bianca, por- — Ah! Muito bem, então o paciente já acordou! — Disse o plantonista que havia acabado de entrar no quarto, seguido por Renato e Alex, que entregou um copo com água ao amigo. Eduardo aceitou o copo com as mãos trêmulas. Ele podia sentir que algo estava muito errado. — Ele parece estar um pouco confuso, doutor... — Não se preocupe...eh.. Val, não é? — Val fez que sim com a cabeça e o médico continuou.— Depois de traumas como o que ele passou, é normal que os pacientes se sintam um pouco confusos. — O médico então se virou para Eduardo e prosseguiu: — Ok, Eduardo, no dia oito de janeiro você deu entrada aqui no hospital depois de um acidente de trânsito, estava dirigindo , os exames indicam que tinha consumido álcool, o motorista do caminhão disse que você ultrapassou o sinal vermelho e ele não teve tempo de frear... — Oito de Janeiro? — Eduardo interrompeu o relato do médico. — Como assim? Para com isso gente, já deu, ok?! Era véspera de natal e eu discuti com minha namorada quando- — Eita p***a, o cara endoidou de vez, agora ele tem "namorada"????? — Cala a boca, Alex! Você é culpado! Você me acertou uma bola na cabeça na véspera do natal! — Mano do céu, eu nem estava na cidade! Vocês colocam a culpa de tudo em mim, até quando estão delirando! Isso não é justo! Eu já faço bastante m***a, não preciso levar a culpa do que não fiz! Val notou o desespero crescente nos olhos do amigo e engoliu seco. Ele não entendia o que estava acontecendo, mas queria poder ajudar. — Doutor, ele não está sem memória, ele está falando coisas nada a ver! — Seu amigo sofreu um forte trauma, é normal que o cérebro reponha memórias perdidas, existem muitos casos em que o cérebro entende memórias, situações e até pessoas que não existem. — Parem de falar de mim como se eu não estivesse presente! Val, me empresta o celular para eu ligar para ela, essa piadinha de vocês nããão... aaawww Uma dor aguda interrompeu a fala de Eduardo, ele sentiu como se a cabeça fosse explodir. "Nessas horas, Eduardo, dá para ver a diferença de prioridades entre nós! Não vou passar migalhas de tempo com você!" " Então não vai passar tempo nenhum, pois é o que tenho a oferecer! Sinto muito se é pouco para a princesa!" — O que está havendo com ele, doutor? — Faz alguma coisa, ele está com dor! — Acalmem-se rapazes! Enfermeira, ele precisa de um calmante e um analgésico! Eduardo apertava as têmporas com a ponta dos dedos, tentando acalmar a intensidade da dor, as palavras de um passado que parecia não ter existido se repetiam em sua mente em volume tão alto, que ele pensou que os tímpanos explodiriam, mas nenhum dos outros presentes parecia ouvir. Ele sentiu uma picada no braço, as batidas de seu coração começaram a se normalizar e ele negava o absurdo. Aquilo não podia estar acontecendo, só podia ser uma brincadeira de mau gosto dos amigos, coisas assim não acontecem, certo?  De tantos desejos, porque uma porcaria de d****o baseado apenas no descontrole dele se realizaria? Isso só acontece nos livros "melacueca" que Bianca adora ler no w*****d, cheio de amorzinho e frescurinha...  Aquilo era a vida real, e ele não estava ficando maluco nem fantasiando...  Ou ...? "... Eu queria nunca ter permitido que me chamasse assim naquele dia!" " E eu queria que você nunca tivesse entrado na porcaria do meu quarto naquele dia!" As pálpebras de Eduardo se tornaram cada vez mais pesadas, e o sono profundo tomou o lugar da dor...
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