Copyright © 2019 de Aline F. de Mello
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O Natal traz consigo um espírito mágico, uma energia ardente e poderosa, que nós, meros humanos, m*l conseguimos expressar. As emoções ficam à flor-da-pele, e a sensação de que estamos mais próximos dos anjos se intensifica.
Sentimos como se tivéssemos meios de tornar tudo melhor, uma esperança no futuro explode em nosso peito.
Na noite de Natal nossos desejos, aqueles verdadeiros nascidos no fundo de nossos corações, podem se tornar realidade...
Mas todo mundo já deve ter ouvido a frase:
" Cuidado com o que deseja, os anjos podem dizer amém."
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O Jovem g***o de amigos estava espremido entre si para que todos conseguissem olhar pela janela. Val, o maior de todos, era o que também ocupava mais espaço no meio do g***o. Bianca tentava apertar Val para o lado, para ter uma melhor visão do lado de fora, enquanto Luíza empurrava ele com força e com cara de brava. Mas era como se o grande Hulk nem ao menos sentisse a presença das duas de tão concentrado que estava. Rafael e Alex estavam em pé sobre os braços do sofá, torcendo para que Tia Glória e Tia Vera não os visse naquela posição, mas o risco valia a pena já que eles conseguiram ter uma boa visão, evitando o cabeção do Val, que estava imponente encobrindo a janela.
Um conhecido carro de passeio estacionou na calçada e todos levaram a mão à boca para conter o entusiasmo.
De dentro do carro saiu o jovem tão esperado pelo g***o. Ao bater a porta do carro, o recém-chegado olhou em volta com a testa franzida, parecendo estar decepcionado.
Será que ninguém esperava por ele?
Dando de ombros, o jovem seguiu na direção da pensão Universitária, onde o g***o de jovens o aguardava ansiosamente. m*l o recém-chegado abriu a porta e adentrou a pensão, a gritaria começou. Val correu e agarrou o amigo em um dos seus abraços de urso, o espremeu e rodopiou pela sala como se ele fosse uma boneca de pano.
Bianca sorria, ansiosa, aguardando a sua vez de finalmente recebê-lo. Um mês, três dias e seis horas era o tempo que Bianca estava sem ver o namorado. Eles apenas se falavam por telefone e por mensagem de texto, obviamente ela estava com saudades. Tão logo Eduardo conseguiu se livrar do abraço de urso de Val, correu para ela, e assim, na frente de todos, a beijou.
Ele não conseguia conter no coração a imensa saudade que tinha de Bianca. Ele tinha certeza que ela não fazia ideia do quanto ele tinha sentido falta dela. e uma apontada egoísta do coração dele desejava que ela também tenha sofrido a mesma Saudade.
Depois de muitos beijos, um abraço apertado e um delicioso cheiro no pescoço de Bianca, Eduardo teve tempo para cumprimentar os demais amigos sem soltar a mão da namorada. Era como se ele temesse ser tudo apenas mais um sonho, como aconteceu enquanto estava no hotel em outro estado.
Os jovens amigos comemoraram ainda um pouco mais a chegada do "Filho Pródigo". Alex perguntava detalhes da viagem, de como Eduardo havia se apresentado em alguns clubes em outras cidades e estados. Rafael contou histórias do que tinha acontecido com g***o durante sua ausência.
Bianca beijou o rosto de Eduardo e se levantou para buscar refrescos para o g***o, ela mesma estava com a garganta seca pela emoção e ansiedade.
Ao vê-la se afastar, Renato a seguiu discretamente, e quando estavam a sós na cozinha, ele perguntou:
— Quando vai contar pra ele? Não vejo a hora de ver a cara dele quando souber que você es-
— Sh!!!— Bianca pôs a mão sobre a boca de Renato para o interromper e instintivamente olhou em volta, com medo de alguém estar ouvindo. — Eu não vou contar agora... Eu tive uma ideia mais cedo, embrulhei e deixei sob a árvore de natal, então amanhã, véspera de Natal, ele vai abrir e...
Bianca interrompeu a fala ao ver o crescente sorriso nos lábios do amigo. Os olhos de Renato brilhavam.
— Vai ser incrível! E a melhor parte é que todo mundo vai estar reunido para testemunhar! Ideia sensacional, Bianca!
Ela sorriu para ele, e ambos voltaram para junto dos amigos carregando um jarro de limonada e copos.
*****
— Enfim, sós!
Eduardo fechou a porta do quarto com o pé, pois as mãos estavam ocupadas demais em torno da cintura de Bianca. Seus lábios passeavam pelo pescoço dela, enquanto ela respirava o perfume dele de olhos fechados. Finalmente estavam juntos, e ela não tinha a menor intenção de deixá-lo partir tão cedo! Tinham muito tempo perdido para recuperar, e depois das festas de fim de ano, ela pretendia passar alguns dias com ele em uma belíssima casa de praia da família dela que o pai já tinha emprestado as chaves.
— Viu como sua mãe ficou feliz ao te ver?
— Sim.. — Eduardo sorriu. — Maldade de vocês não terem contado à ela que eu voltaria hoje...
— A gente quis fazer uma surpresa, por isso Dona Glória a levou para o salão. Ela ficou lindona ruiva! Disse que é uma homenagem a alguém muito especial que adorava os cabelos vermelhos dela.
— Ela disse isso, é? — Eduardo sorriu quando uma lembrança do passado lhe veio a mente. — Eu ainda lembro da primeira vez que ela pintou o cabelo de ruivo, na minha cabeça de menino ela parecia uma Valquíria. Ainda lembro da carinha triste dela quando meu pai reclamou, mas de como ela parecia orgulhosa no meu aniversário...
Eduardo voltou a atacar o pescoço de Bianca com a boca, pressionando o corpo dela contra o dele.
Bianca suspirou contente.
— Esse suspiro me faz acreditar que sentiu a minha falta quase tanto quanto eu senti a tua, princesa!
— Pois eu acho que senti muito mais a sua falta! O jornal local mencionou seu nome como promessa no mundo da música e tinha uma foto de um bando de garotas segurando cartazes! Poucos meses depois de lançado pela gravadora e o fã clube está gigante!
Eduardo deu uma pequena mordida no ombro de Bianca, como se a estivesse repreendendo, mas ela pôde nitidamente sentir o sorriso cínico nos lábios dele.
— Está com ciúmes, hm?
— Claro que estou! Tinha um monte de garotas doidas para agarrar meu namorado enquanto ele estava longe de mim! Para piorar, o que era para ser duas semanas virou uma eternidade...
— Eu sinto muito! Eles falaram que duas semanas seriam suficientes para me apresentar em lugares que eles consideram primordiais, mas apareceram vários convites que eles disseram que não poderíamos rejeitar.
— Eu sei, e estou feliz por você, mas esse quarto é tão frio e vazio sem você!
— O importante é que estou aqui agora e doido de v*****e de você!
Bianca soltou um gritinho com o susto que levou quando Eduardo a pegou nos braços e atirou na cama. Ele a olhou dos pés a cabeça mordendo o lábio inferior, em seguida tirou a camisa e jogou em um canto qualquer.
— Hora de te mostrar o quanto senti tua falta, princesa.
*****
Vera e Glória entraram no salão de jogos, cada uma carregando uma travessa para a ceia da véspera de Natal. Por maioria de votos, foi decidido que a ceia seria servida no salão de jogos. Glória não gostou muito da ideia de mudarem móveis de lugar, mas os rapazes a convenceram com muito paparico e olhinhos de cão abandonado.
A enorme mesa da sala de jantar ocupava o centro do salão, as mesas de jogos estavam nos cantos ou guardadas na sala de jantar. Para Glória todo aquele trabalho não fazia muito sentido, até ver a decoração feita pelos jovens. O espírito de natal estava evidente, mas a geladeira de bebidas, a mesa de sinuca e a máquina de karaokê faziam parte da decoração. No fim ela admitiu que o jeito dos jovens deixaria a noite bem mais alegre.
A enorme árvore decorada com bolas coloridas era a estrela da decoração e estava rodeada de presentes dos mais diversos tamanhos e formas. Alguns com embrulhos bem feitos, quase artísticos, e outros pareciam ter mais fita adesiva do que papel. Glória saberia perfeitamente apontar quem havia embrulhado cada um deles, tamanho era o carinho que tinha por aqueles jovens.
Eram a família dela, e preenchiam o coração dela desde a morte do pai...
— Hum.. que cheiro maravilhoso é esse, tia Glória? — Perguntou Rafael salivando.
— É a farofa de miúdos que Vera acabou de fazer!
— Parece bom, hein! O cheiro está maltratando! — Comentou Val que tinha acabado de entrar com uma sacola contendo mais presentes.
— Tira essa mão cheia de dedos daí, Alex! — Glória afastou a mão de Alex que tentava surrupiar uma rabanada. — Vai ter que esperar a ceia como todo mundo!
— Mas a senhora faz a melhor rabanada do mundo, tia! Como vou aguentar até meia noite?
— Verdade, ela tem um gostinho de coco bem levinho, melhor que de nossa abuela, né não mano?— Disse Renato ao irmão, mais afirmando do que perguntando.
— De fato! Mas é melhor nunca deixá-la saber disso!
— Estou muito feliz que vocês dois estão passando o natal aqui conosco, ano passado não foi a mesma coisa sem vocês! — Comentou Glória.
— É verdade, sobrou mais comida! — Disse Val antes de jogar na boca uma cereja que havia roubado da cesta de frutas, o que o fez levar da mãe um t**a na mão.
— Nossos pais foram viajar para a França, eu só precisei mentir que tinha que terminar o TCC para eles nos liberarem. Não poderia passar o natal longe da minha loira! — Alex comentou enquanto abraçava Vanessa por trás.
— Não sei como caíram nessa, vocês ainda estão na metade do curso.
— Talento, meu caro, puro talento na arte do convencimento de minha parte! — Disse Alex.
— E meu falso testemunho! — Completou Rafael com uma piscadela. — Me perguntaram se era verdade e eu confirmei. eles ainda acham que eu sou uma boa influência para os irmãos encrenca!
Minutos depois os pratos já estavam todos sobre a mesa. Vera preparou vinho temperado e gemada para que se servissem. Renato colocou músicas natalinas para tocar enquanto conversavam alegremente e aguardavam a chegada de Bianca e Eduardo, que passaram dia e noite trancados no quarto...
— Teus pais vêm mesmo? — Perguntou Val baixinho no ouvido de Luíza.
— Popi aceitou o convite na hora, separou até duas garrafas do melhor saquê para trazer, mamãe só concordou depois que eu disse que teremos uma notícia bombástica. Ela deve estar até agora pensando que fiz alguma m***a!— Respondeu Luíza com um sorriso mefistofélico no rosto, recebendo um sorriso orgulhoso de Val em resposta.
— Hey, Renato, topa uma sinuquinha para esperar a comilança?— Perguntou Rafael, mastigando alguma coisa que provavelmente tinha "roubado" da mesa.
— Só se for agora! Vale uma caixa?— Alex se juntou a eles.
— Isso aí!
Glória entrou no salão carregando a última travessa que continha bolinhos de bacalhau para que degustassem enquanto conversavam e aguardavam a hora da ceia.
— Amiga, o "coiso" ligou, disse que não sabe se vai poder vir, parece que o bebê está com cólicas e a namorada dele não está se sentindo bem para sair de casa hoje..
— Surpreendendo um total de zero pessoas, né amiga?! Melhor assim, não suportaria ter que aguentar aquela criatura que ele chama de "namorada" em uma noite especial como essa. Meu filho m*l voltou da primeira turnê dele e nós sabemos como eles são quando estão perto um do outro! A última coisa de que precisamos é de uma briga!
Como se as palavras de Vera tivessem tentado o destino, vozes alteradas se fizeram ouvir.
— Eu sei que sua carreira é importante, Edu! Você fala como se eu não te apoiasse!
— Me perdoe, princesa, se está difícil identificar o seu "apoio" agora!
— Tudo o que eu disse é que sua família é mais importante! É véspera de Natal, Eduardo!!!!
— Eu eu nem deveria estar aqui! Por que está tão difícil entrar nessa tua cabeça que eu praticamente fugi dos meus empresários para vir te ver!??
— Mas você m*l chegou ontem e está me dizendo que tem que ir embora amanhã de novo!
— Amanhã?— Perguntou Vera, não conseguindo se manter de fora da discussão.
Eduardo olhou para a mãe e fechou os olhos suspirando. Todos ficaram em silêncio olhando para Eduardo, esperando o que ele tinha para dizer. Até mesmo Alex parou no meio de uma jogada.
— Eu já ia te contar, mãe... eu só queria aproveitar a noite com vocês sem esse drama todo! Bianca está fazendo uma tempestade em copo d'água!
— Desculpa se querer passar um tempo com meu namorado é fazer tempestade em copo d'água!
— E eu não estou aqui agora, tentando passar um tempo com você? Tempo esse que você decidiu desperdiçar para brigar comigo?
Bianca mordia o lado de dentro da bochecha, gesto que fazia sempre que estava nervosa. Ela olhou em volta, para os amigos com os olhos marejados, como se pedisse ajuda. Val apontou para um pequeno embrulho debaixo da árvore de natal, mas Bianca fez que não com a cabeça.
— Quanto tempo você vai ficar fora?
— Eu não sei, eles não disseram!
— Mas seu pai disse que a gravadora não poderia fazer esse tipo de coisa, filho, como seu advogado ele deixou claro que-
— " Papai" não está aqui agora, está, mãe? Como acha que posso confiar nele?
— Vai voltar a tempo do baile da chegada do ano novo?
— Não sei, acho que não. — Eduardo respondeu de cabeça baixa, contrariado.
Ele se perguntava como Bianca não entendia que ele queria estar ali com ela e os amigos, mas que ele ainda era desconhecido e precisava trabalhar a carreira dele? No futuro, já estável, ele poderá passar com ela quantos bailes ela quiser! Custava estar ao lado dele e simplesmente apoiar?
— Mano, a gente passou meses organizando esse baile, você estava super animado. Aliás foi ideia tua! — Disse Val colocando a mão sobre o ombro do amigo.
— Joga logo, Alex! — Disse Rafael na tentativa de se manter alheio a discussão. Ele detestava estar presente durante discussões de casais, nunca sabia como agir.
— Eu sei disso, mas vai ter que esperar, algo mais importante apareceu!
— Mais importante do que a gente? — Perguntou Bianca em voz baixa.
— Bianca, não faz drama, tá? Não é hora para isso! A gente conversa sobre isso mais tarde!
— Eu tinha planos para nós dois... meu pai emprestou as chaves da casa de praia e...
— Adia teus planos um pouco, a gente pode fazer outro dia, que diferença faz?
— Se você não entende que diferença faz, não tenho mais nada a dizer!
Bianca se virou em direção a saída do salão, com intenção de voltar para o quarto. Para ela a noite tinha perdido toda a graça.
— Isso, dá as costas e sai andando mesmo, depois diz que eu que faço isso!
— Boa noite a todos!
— Dá para ver o apoio, Bianca!!! A noite que a gente tem para ficar juntos, você faz pirraça!
— Pirraça? Você acha mesmo que estou de pirraça?
Ouviram a campainha da porta principal, Glória e Vera se levantaram juntas para atender.
— Pirraça sim! Nessas horas dá para sentir a diferença de idade entre nós!
— Nessas horas, Eduardo, dá para ver a diferença de prioridades entre nós! Não vou passar migalhas de tempo com você!
— Então não vai passar tempo nenhum, pois é o que tenho a oferecer! Sinto muito se é pouco para a princesa!
— Continua o mesmo a*******e do dia em que te conheci como colega de quarto! Eu queria nunca ter permitido que me chamasse assim naquele dia!
— E eu queria que você nunca tivesse entrado na porcaria do meu quarto naquele dia!
"Eita p***a! Foi m*l, eu só queria acertar a bola, mas aí ele falou-"
Eduardo levou a mão a nuca, onde sentia uma dor aguda. Fechou os olhos lentamente, ignorando o som de vozes ao redor dele. A última coisa que ele viu foi o rosto de Bianca encharcado pelas lágrimas.