Chapter 02

1244 Words
Aria Belluci 7 de agosto de 2017 Are you looking from above? I didn't want to lose you, lose you  Zoe Wees Aquelas lembranças vinham toda noite me visitar, eram nítidas e eu parecia estar vivendo aquilo novamente, e a cada vez que eu fechava meus olhos, acordava gritando e chorando toda noite naquela cama desconfortável do internado. Acho que as lembranças daquela noite estão marcadas em mim para sempre, eu jamais irei ter minha alma pura e sem dor novamente, e isso me apavora. A dor, o sofrimento me assombra por onze anos seguidos... - Aria, você está bem? - Valentine pergunta entrando no meu quarto, mesmo sem poder e me arrastando pra fora dos meus pensamentos. Valentine é minha única amiga nesse internado, sim! Internato, após a morte de meus pais eu fui deixada nesse orfanato pelo mesmo homem que dissera que eu não iria ficar sozinha, irônico não? Não lembro de muita coisa após aquilo, só que acordei e estava aqui. Valentine também perdeu os pais, mas foi assim que nasceu, sua mãe morreu no parto e seu pai foi morto em combate em uma missão na Síria, ela não chegou a conhecê-lo. Valentine era minha única e melhor amiga, ela era mais nova, um ano, mas tem a mente muito mais velha. Eu a considero minha irmã mais nova que eu nunca tive, ela esteve comigo desde que cheguei nesse internato, perdida e transtornada por ver os pais mortos, ela me ajudou e disse que tudo iria ficar bem e que aqui iria ser minha nova casa, mas se ela não estivesse aqui isso aqui iria ser o meu segundo pesadelo. - O que está fazendo aqui? se a Magdalena pega você fora de sua cama depois do horário, vai te mandar pro corredor do medo. - Digo me levantando rapidamente e fechando a porta atrás de mim, após olhar o corredor vazio. Corredor do medo é o lugar aonde Magdalena (A conselheira chefe do internato) mandava a gente se fizéssemos algo que ela não gostava, era um lugar no subsolo aonde tinham pequenos cubículos que ela dizia ser quartos, muitos contavam histórias de que outras crianças e adolescentes já haviam morrido ali, se ouviam vozes e choros pela madrugada naquele local, eu nunca fui mandada pra lá, mas morro de medo de ir, aquilo é assustador só de ouvir falar, imagine vendo. - Magdalena está em um jantar com o senhor Lewis, quem está em seu lugar é a magnólia, e eu vim ver se você estava bem, já que amanhã é o grande dia - Diz ao se jogar em minha cama dura e desconfortável, me olha e bate com a palma da mão no lugar ao lado dela no colchão. Magnólia é a irmã de Magdalena, ela é uma versão bem doce e amável e era difícil vê-la brigar conosco. Todos aqui a amam, mas infelizmente ela é conselheira chefe de outro internato e dificilmente vem aqui. - Será que se Magdalena se apaixonar, deixa de ser tão amarga? - me deito ao seu lado e falo rindo. - Acho que nem se ela renascer irá deixar de ser tão amarga - rimos juntas - E dá pra você parar de tentar me enrolar, faz uma semana que você recebeu a notícia que poderá sair daqui finalmente e até agora não disse nada. - diz voltando ao assunto que eu estava tentando evitar. Faz exatamente sete dias que os conselheiros tutelares do internato vieram me dar a notícia que eu finalmente poderei ir embora do internato pois completei meus dezoito anos, foi exatamente no dia do meu aniversário que tive essa notícia. Eu deveria estar feliz, como muitos disseram, eu estou "me livrando" desse inferno, porém quem estaria feliz de ter que abandonar sua melhor e única amiga e ir embora sem rumo e direção sem ter lugar pra ficar? Eu não tenho mais família e não tenho lugar para morar, Valentine é a única pessoa que eu tenho e terei que deixa-la aqui, isso não é justo e não é bom também. Eu não sei o que fazer nem para onde ir, tenho medo do que me espera lá fora, eu não quero ir. - Eu não comentei sobre, porque eu não vou. - disse por fim e respiro fundo e pesado. - Você é doida? - Levanta da cama e altera sua voz - Fala baixo sua retardada! - digo a ela, que põe a mão sobre a boca. - Você é doida? - sussurra - Doida porquê? eu não tenho porque sair daqui, mesmo que aqui não seja um lar, é o único lugar que eu posso chamar de casa. - Me sento na cama e me agarro ao travesseiro. - Casa? isso aqui não é uma casa Aria, você está tendo a chance que muitos aqui ainda não tiveram, você pode sair desse inferno e quer ficar? - Eu vou sair daqui e abandonar você? - vejo seu olhar entristecer - E tem mais, eu não tenho pra onde ir, eu não sei nem o que fazer depois que sair daqui. - Não deixe de seguir sua vida por minha causa, eu logo irei sair daqui e nós vamos ficar juntas. - Me abraça de lado. Eu realmente não queria abandona-la, mas o verdadeiro motivo é que eu tenho medo, do que vou encontrar lá fora. - Você não quer ir, mas não é por minha causa né? - eu a olho quando a mesma diz o que eu estava pensando - Você tem medo de ficar sozinha lá fora, não é mesmo? - Sim... eu ainda não tô preparada pra enfrentar tudo lá fora, não sozinha... - Você não vai está sozinha, eu estou com você sempre e eu sei que você vai conseguir. - Tenta ser confiante por mim, mas eu via o medo em seu olhar também. - Por que sempre tão insistente? - digo evitando que a mesma chore, e vejo um sorriso brotar em seus lábios. - Aprendi com você, e por favor, não fuja do assunto. - Diz me olhando séria e eu reviro meus olhos - Promete que amanhã você vai? Sem ter medo, você é forte, não deixe um simples mundo abalar você, e se ele tentar, mostre a ele quem você é Aria Bellucci. - Sorrio com seu incentivo e não digo nada sobre, apenas lhe dou um abraço apertado segurando as lágrimas e o nó na garganta que se formaram. - Eu prometo. - Respondo com a voz embargada, e ela me aperta mais em seus braços. - Você superou tantas coisas, eu acredito que o mundo lá fora mereça te conhecer - beija minha testa e sinto uma lagrima escorrer, mas seguro as outras, não quero que ela me veja fraca. "Nunca deixe nada tirar esse sorriso de você, você é capaz de superar qualquer dor e não permita que o mundo te faça pensar ao contrário" Lembro da frase que papai me disse na manhã anterior ao meu aniversário, no dia de sua morte, e sinto meu coração apertar, mas não choro. Amanhã será o dia, em que tudo vai novamente mudar pra mim, após onze anos eu vou sair desse lugar, vou ter que enfrentar o mundo, dessa vez sem meus pais, e minha vovó para cuidar de mim, dizendo o que fazer, dessa vez não sou mais uma criança, eu cresci e sei que sou capaz de recomeçar sozinha. 
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