Chapter 01 [Prologue]

1638 Words
Aria Bellucci 7 de agosto de 2006 - A noite acendeu as estrelas, porque tinha medo da própria escuridão. Mário Quintana  Amanhã é meu aniversário e estou muito ansiosa, já que papai e mamãe disseram que vão passar o dia inteiro comigo e ainda vão me levar para conhecer a pracinha nova da cidade. Eles quase não têm tempo para mim, mas a vovó sempre fala que eles trabalham muito para que a gente possa ter o que comer e vestir. Vovó deixou de trabalhar quando eu nasci, para poder cuidar de mim, sem que meus pais se preocupassem com o emprego deles. A vovó faz de tudo para me deixar feliz, fazendo os biscoitos de avelã mais gostosos de todos e sempre me levando para passear depois da aula. Eu sempre sinto falta da mamãe e do papai e sempre fico esperando eles chegarem, que é quando o papai fica brincando comigo no quintal, onde ele está fazendo uma casinha na árvore para mim - Vovó, vovó, papai e mamãe vão vir amanhã? - pergunto descendo as escadas correndo e vendo ela fazendo café encostada na pequena pia da cozinha - Que susto minha filha... - diz ela colocando a mão sobre seu peito e respira fundo, mas logo abrindo um sorriso - Desculpa vovó - Não tem nada minha menina, se sente pra comer, seus pais já estão chegando. - Sorrio alegre me sentando na mesa para tomar café. Eu nunca fui ao trabalho do papai e da mamãe, eles me disseram que não é lugar para criança, mas eu sei que um dia eu vou trabalhar lá, assim como a bisa, a vovó, o papai e a mamãe. Termino de tomar meu café, que era o mesmo de todas as manhãs: torradas com manteiga e café com leite. Levanto e ajudo a vovó, e mesmo não tendo tamanho para alcançar a pia e lavar as louças, ajudo secando e guardando elas em um armário que é da minha altura. Vovó utiliza uma caixa de papelão para guardar a comida, porque papai diz que não temos muito dinheiro para comprar um armário novo, e que ele ta fazendo um de madeira. - Aria, vá pegar suas coisas, já está quase na hora de ir à escola – aceno sem hesitar, subindo as escadas para arrumar minhas poucas coisas dentro da mochila, que é a mesma desde quando comecei a estudar, e minha vó sempre fala que a gente deve cuidar bem dos presentes que nos dão, e como a mochila foi um presente da mamãe, eu cuido dela com muito carinho. ※※※ Ouço um barulho vindo do andar de baixo e logo ouço a voz da mamãe e corro pra baixo com minha mochila nas costas - Papai! Mamãe! - grito correndo até eles que falavam algo nervosos com vovó, que chorava - O que foi vovó? - Nada minha querida, vamos está na hora de ir - Eu não quero ir, quero ficar com o papai e a mamãe. - Peço triste escondendo meu rosto no pescoço de papai. - Você vai à escola e quando chegar nós vamos brincar bastante e terminaremos sua casinha na árvore, e quero ver se acha o tesouro dessa vez hein - papai diz e eu aceno com a cabeça rapidamente sorrindo. Eu sempre brincava com o papai de caça ao tesouro, então sempre que ele vem para casa, ele esconde algo para mim e eu tenho que procurar, como um tesouro pirata com presentes legais - Vocês prometem que não vão trabalhar de novo? - pergunto desconfiada - Prometemos meu amor, agora vem aqui pra mamãe te dar um abraço bem apertado. - Mamãe diz e papai me põe no chão e eu corro para os seus braços recebendo um abraço mega apertado. - Você está chorando por que mamãe? - coloco minhas mãos em seu rosto que estavam molhados por suas lágrimas que ela logo seca. - Nada, é que minha princesa faz sete anos amanhã, você cresceu tanto meu amor, está uma mocinha – diz ela acariciando meus cabelos ondulados - Filha, vem aqui - papai chama e eu me viro indo até ele. Estava feliz por estar tendo atenção dos meus pais. - Você também vai chorar por eu estar crescendo papai? - pergunto e ele ri. - Não minha abelhinha, papai tem que te dizer uma coisa. - Eu fico curiosa - Diz papai, diz! - peço alegremente. - Nunca deixe nada tirar esse sorriso lindo de você, você é capaz de superar qualquer coisa e não deixe que o mundo te diga ao contrário - diz passando as mãos no meu rosto - Ouviu filha? - Ouvi papai... - Sem razão papai me pega no colo e me abraça, mamãe se junta e faz o mesmo. Eu nunca tinha tido tanta atenção e carinho deles em um só dia, eu estava feliz demais e ansiosa pra que logo eu chegasse da escola para que papai terminasse de fazer minha casinha e a vovó tinha dito que ia me ajudar arrumar minhas bonecas lá dentro. Ia ser o melhor aniversário. ※※※ A aula já tinha terminado, todos estavam indo, e dessa vez vovó não estava em meio as pessoas no portão da escola me esperando como de costume, estranhei, mas fiquei ali esperando que ela viesse, talvez ela estivesse fazendo uma surpresa para mim e acabou se atrasando. Mas logo ficou escuro e a escola ficou vazia, só tinha eu ali, sentada no canto do banco olhando pro portão esperando que vovó ou até papai e mamãe aparecessem para me buscar e me dissessem que se atrasaram por estarem fazendo algo pra mim, mas não aconteceu. - Aria, sua avó não vem? - minha professora pergunta, e eu n**o segurando as lágrimas para não chorar, daí ela me olha com pena e eu abaixo meu olhar Eu não podia ser uma má menina, eles devem estar ocupados e logo vão vir me buscar e vamos terminar de montar minha casinha todos juntos. Eu repetia isso mentalmente a cada minuto que se passava e a escola ficava escura e sem ninguém. - Vem, irei te levar em casa. - A minha professora diz e eu olho querendo dizer que minha vovó logo ia chegar, mas não era verdade. - Mas e se a vovó brigar por eu não ter esperado? - pergunto receosa. - Ela não vai querida, vamos - eu pego sua mão e saio com ela da escola, ainda pensando porque vovó não veio me buscar. ※※※ Ao entrar em casa após professora Carmem me deixar na porta, eu vejo a pior coisa da minha vida, ficando paralisada, mas logo um grito agudo e escandaloso sai da minha garganta. - Mamãe! Papai! - grito ao vê-los jogados no chão. Tudo estava sujo de sangue, o sofá, o chão, a parede, estava tudo vermelho e tinha uma pequena poça de sangue aonde papai e mamãe estavam jogados. Vovó estava no sofá aonde eu me jogo abraçando a mesma, ela não respirava, seus olhos estavam abertos, mas sem brilho algum. Eu me abaixo perto de papai e mamãe e tento sacudi-los com meus bracinhos que m*l tinham forças e as lágrimas não paravam de cair. Eu não sabia o que tinha acontecido, já tinha visto isso nos filmes e novelas que vovó gostava de ver e papai também, mas não queria acreditar que isso tinha acontecido. Eu gritava sem parar, minha garganta doía mas logo tudo em mim adormeceu e eu só ouvia o meu próprio grito. - Papai, vamos terminar a casinha papai - grito deitada em seu peito. - Mamãe... vovó, eu tô com medo. - Digo quase sem voz de tanto gritar. Eles tinham me deixado, eles não podem, eles não podem, eu sou só uma menina, eles não podem me abandonar, eu sou só uma criança... papai e mamãe não podem me abandonar, não podem. Minha mente gritava repetitivamente cada palavra daquela e eu tinha medo, medo demais, medo de estar sozinha, e eu estava sozinha, papai e mamãe tinham me deixado, eu estava só, eu não tinha mais ninguém, eles me deixaram pra sempre. - Eu tô com medo - sinto minhas vistas ficarem pesadas, eram horas de choro, gritaria, eram horas ali. Eu estava deitada entre mamãe e papai que permaneciam no chão sem se mexer, eu sentia o sangue deles molhando minhas roupinhas, mas não ligava. Eu lembro das vezes em que vovó cantava a cantiga de ninar da abelhinha, e outras que me acalmavam quando eu tinha pesadelos, e começo a cantar pra mim mesma, sozinha ali. ※※※ A porta é aberta com força e logo vejo homens entrar e eu tento levantar correndo com medo e apavorada ao vê-los com armas igual as que eu via nos filmes - NÃO, NÃO, NÃO, ME DEIXA - Grito após um deles me pegar no colo me tirando de perto de papai e mamãe. - Vai ficar tudo bem, se acalma, vamos te ajudar - ele diz com uma voz grossa, mas ao mesmo tempo calma, mas eu não o ouvia Muitos moços armados entram na casa e eu não parava de me debater em seus braços, mas acabo sendo tirada da casa, sentindo algo espetar meu bracinho e o sono vindo, eu sentia dor, mas era dentro do meu corpinho que aos poucos ficou mole nos braços daquele moço enorme. - Eu tô com medo... não quero ficar sozinha... - Falo sentindo meus olhinhos pesarem - Você nunca ficará só pequena abelhinha... - O homem que me segurava diz me fazendo lembrar de papai que ainda estava no chão, só ele me chamava assim. - Quem é você... - Foram minhas últimas palavras antes de adormecer mesmo sem querer.
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