Quero que queime

1223 Words
Victor Foi necessária toda a energia que tinha no meu corpo para não me aproximar mais e examinar as marcas que eu vi na pele dela. Todo o desespero do tes㢠que eu senti, assim que me deparei com aquela obra de arte desenhada pelos anjos, evaporou. E confesso que cheguei bem perto de fod£-la ali mesmo. Sem tirar a renda branca que cobria muito pouco do corpo dela. Imaginei meus dedos puxando os cabelos vermelhos e lembrei do sabor da boca dela na minha. E o ar de provocação, a segurança que ela me encarou e me desafiou, enquanto estava completamente exposta? Isso abalou toda a minha força de vontade de ser minimamente nobre e honrado. A vontade de tê-la se tornou uma necessidade dolorosa. Até ver as marcas vermelhas nas pernas dela, marcas que estavam escondidas pela renda. Marcas tão próximas da pureza dela. Eu perdi o controle dos meus pensamentos e o desejo complexo que senti até ali se esvaiu como fumaça em uma ventania. Eu queria ver de perto, perguntar o motivo de cada marca, perguntar quem machucou a pele dela, que deveria ser imaculada. “Sugiro que você pergunte para alguma mulher próxima a você, caso você nem imagine porque eu deixei isso acontecer comigo.” A imagem dela chorando, enquanto me desafiava na cachoeira preencheu cada canto do meu organismo. Eu sabia das punições, mas aquilo? Aquilo era uma crueldade intensa, que deixava até uma pessoa como eu, um monstro, assombrado. Quem fez aquilo pagaria em vida! Eu me arrependi assim que a deixei, os olhos assustados ao chegar na conclusão que qualquer mulher chegaria. Ela de certo pensou que eu não a queria. E esse era o problema, não tinha nada no mundo que eu não quisesse mais que ela. Precisei de um banho gelado e dois copos de bourbon para me sentir minimamente calmo para jantar com ela. Assombrado e perdido em um desejo que iria esperar, que precisava esperar, eu me limitei a imaginar o quanto o homem que fez aquilo sofreria nas minhas mãos. - Chefe? - A voz da Valéria estava cheia de desejo. - O jantar está servido. Eu não respondi quando levantei e caminhei até a porta do quarto dela. - Espero você aqui? - Era notável que ela estava se insinuando, mas eu não conseguia pensar em mais nada além das marcas no corpo da Lara. - Não é necessário. Não preciso dos seus serviços hoje. - Abri a porta e caminhei os 5 passos que separam as portas, lutando contra o impulso de examinar cada centímetro daquele corpo maravilhoso. - Sabe onde me encontrar. - Eu não me preocupei em responder. A Valéria era nada perto do que eu tinha ali. Bati na porta, como ela pediu. Ou melhor, como ela mandou, e eu já estava sendo dobrado pelas vontades dela. - Entre Victor! - Eu precisei respirar fundo ao ouvir a voz dela. Eu deveria ter tomado o dobro de whisky, para me preparar para a visão daquela mulher, que me esperava com os olhos tristes. Ela não estava só linda, ela estava completamente à vontade, na minha casa, o tecido vermelho deixava as sardas dela quase brilhantes. E foi ali que eu fixei os meus olhos, eu não precisava medir o corpo dela, eu o examinaria em breve, assim que ela tivesse certeza que me queria. A dúvida estava em cada movimento dela. Com certeza ela pensou que eu a rejeitei, mas vamos superar isso. - Venha, vamos comer. - Eu me sentei e ela sentou de frente. Os olhos fixos nos pratos cobertos. Eu esperei, sabendo que depois do dia que teve, ela precisava se alimentar. Ela parecia distante, como se estivesse vivenciando outro momento. - Lara? - Esperei. - Se sirva. - Ela levantou o olhar para mim, um olhar cheio de tristeza. - Eu vou esperar… - A voz dela estava baixa. - Comerei quando você terminar. - Que porr¢? - Não é necessário. - Se ela não ia comer, eu a faria comer então. Destampei e a fome brilhou nos olhos dela. - Coma, agora! - Continuei esperando. - Você não vai me punir? - PUNIR? Eu não queria saber o que aquilo significava. - Coma, você deve estar com fome. - Ela estava se movendo de forma mecânica, apertando com forças os talheres, como se esperasse alguma dor… Ela não parecia estar sentindo o gosto da comida. - Lara? - Ela me olhou de novo, os olhos amedrontados. - Está apreciando o sabor? - Ela assentiu de forma mecânica. - Ótimo. - Eu forcei um sorriso, e deixei que ela comesse em paz. Algo estava muito errado. Aquele comportamento amedrontado, a mudança de postura dela, variando de confiante a indefesa me dizia que as marcas que ela carregava não eram apenas físicas… Quando ela bebeu o vinho, sem de fato beber, o meu limite acabou. - Tenho uma pergunta. - Eu precisava manter a calma, eu não queria assustá-la. - Diga. - A palavra tremeu naqueles lindos lábios. - Quem, exatamente, maculou o seu corpo com punições? - Eu tentei manter a expressão calma. - Por que? - A voz dela estava ainda mais baixa. - Me dê um nome, e vou garantir que essa pessoa nunca mais veja a luz do dia. Os olhos dela acenderam de uma vez, o rubor correu pelas bochechas dela, tornando cada sarda intensa, ela respirou fundo, e eu esperei. E segundos depois, ela estava normal de novo, como se não tivesse tido um impacto com as minhas palavras. - Eu era ensinada a ser uma boa esposa. - Foi a minha vez de respirar fundo. - Eu te contei isso. - Na ocasião eu, honestamente, não me dei conta da extensão das punições, e nem depois… - Ela balançou a cabeça, enquanto limpava a boca com delicadeza. - Não era nada. - Eu precisei virar o vinho de uma vez para acalmar os meus nervos. - Nada não deixa marcas na sua pele… - Ela arregalou os olhos. - Ou te impede de comer quando está obviamente com fome. - Como te expliquei… - Eu não poderia permitir aquilo. - Você era ensinada a ser boa esposa, era punida, e não é nada. - Ela assentiu e abaixou o olhar. O que fizeram com ela? Quem fez isso com ela? Qual a extensão daquilo? - Me diga quem fez! - Eu exigi, perdendo o pouco de calma que ainda restava em mim. - Não. - Ela sustentou o meu olhar. - As coisas são como são, e você não pode se envolver. A coragem brilhava naqueles olhos lindos, mas eu conseguia ver, na verdade, eu tinha certeza que ela estava protegendo alguém. Ela era uma Belladona afinal, e eu, um Romano. Ela não permitiria que eu tirasse a vida de mais alguém daquela família. E isso limita muito os meus alvos. E eu descobriria. - Lara… - Eu me obriguei a falar. - Caso não me dê um nome, vou presumir que foi o seu pai ou o seu avô, e não me importo em acabar com os dois! - Eu a vi tremer com a menção do avô, e tive a minha certeza. - Victor, você não tem o direito de se envolver. Ela terminou a frase e a minha fúria se libertou.
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