1 semana antes
Victor
Todo o tédio que eu sentia nesses eventos evaporou assim que eu coloquei os meus olhos nela.
O cabelo dela era vermelho e intenso como o fogo, preso em uma tiara preta e caindo em ondas até a cintura e era possível ver muita inteligência naquelas olhos azuis, e mesmo que ela estivesse com uma máscara cobrindo quase todo o rosto, eu sabia que ali havia uma beleza intensa. Provavelmente única.
A boca em formato de coração fez o meu corpo reagir e eu me imaginei mordendo com força aqueles lábios inocentes. Tudo o que eu estava vendo sobre ela resumia a isso, inocência.
- Finalmente. - Eu falei, chamando a atenção do Giovanni, meu braço direito e melhor amigo. Eu mantive os meus olhos nela, mas pelo suspiro dele eu sabia que ele estava admirando aquela linda mulher também. Ou seria uma menina?
- Talvez ela seja nova demais. - Ele me alertou, percebendo o mesmo que eu.
Ela não era como as mulheres que sempre se jogavam em cima de mim em eventos como esse. Na verdade, ele nem me olhou, e eu estava em um local que me trazia evidência, visto o motivo do evento.
Esse era o 17º evento que o meu avô promovia para que eu pudesse escolher uma esposa. Segundo ele, um homem de fibra tinha que ter uma mulher submissa ao lado, para equilibrar a imagem.
“Assim você pode ser letal em paz, enquanto a sociedade se preocupa com o comportamento da mulher.”
Já eu, Victor Romano, com os meus 28 anos, nunca acreditei nisso de verdade.
Cresci com uma mãe forte, que suportou a viuvez com garra, mesmo sendo humilhada pelo meu avô, quando ela se recusou a casar de novo, depois da morte precoce do meu pai.
E esses eventos sempre eram tediosos. Eu me recusava a dançar com qualquer possível pretendente, quase nunca trocava mais de duas frases com elas e normalmente me retirava depois de uma hora, para procurar alívio no meio das pernas da minha governanta.
Não hoje.
Ela entrou observando tudo ao redor, como se fosse a primeira vez que vinha em um evento assim. A cada passo inseguro dela o meu coração falhou uma batida e eu senti o impulso de tirá-la dali, para protegê-la e fazer dela minha.
- Quem é ela? - Eu inclinei o corpo para frente, pronto para ir até lá, tomar ela para mim.
- Nunca vi essa moça. - O Giovanni explicou. - Talvez seja uma visitante que soube do evento e veio de penetra. - O desprezo na voz dele era natural. Fomos criados para identificar uma boa oportunidade quando se tratava de mulheres. A necessidade da carne era suprida com qualquer uma, mas encontrar uma mulher que seria a companheira e servente perfeita era uma arte que éramos ensinados desde novos, assim como puni-las se necessário.
- Ela não parece ser uma qualquer. - Eu rebati, finalmente ficando de pé.
- Onde você vai? - Eu ouvi o alarme na voz dele.
Em nenhum evento eu tinha procurado uma delas, em nenhum dos 17 eventos. Eu era procurado. Só que a visão dela, andando timidamente pelo canto do salão, observando admirada tudo ao redor me fez querer salvá-la. E assim que eu me aproximasse a fofoca correria.
O Herdeiro Romano teria escolhido a sua prometida. - Ok, o pânico dele fazia sentido.
- Vou descobrir quem é ela. - Desci os degraus, mantendo os olhos fixos nela. Agora ela observava o quadro do Monet que eu arrematei em um leilão no final do ano.
- Victor, eu falo com ela primeiro. - O Giovanni ofereceu e eu ignorei.
Ela tinha algo que me atraia, ia além da beleza e do mistério. Era como um imã intenso puxando meus nervos de aço. Os ombros dela subiram e desceram em uma respiração profunda, enquanto ela analisava o quadro, em seguida ela virou levemente o corpo, jogando o cabelo para trás e isso me fez prender a respiração, como um molecote qualquer e não como, bem, quem eu era.
Victor Romano, herdeiro de mais de 3000 hectares de uvas e uma das maiores vinícolas da Itália. O futuro Dom Romano, que herdaria também o império mafios0 construído pelo meu avô e seus ancestrais. E algo me dizia que quem eu era não a faria se jogar aos meus pés. E caralh¢, essa era a última coisa que eu queria que ela fizesse.
Eu estava a cerca de 10 passos dela agora e ela ainda não tinha olhado para mim.
Aquela mulher era de uma safra nobre, com um vestido preto discreto, ela não queria chamar a atenção de ninguém e não buscava por nada em especial.
- Victor… ? - O Giovanni sussurrou, em tom de raiva, enquanto eu começava a ficar ciente dos olhares em mim. Bem, fod¢-se. Eu só conseguia olhar para ela.
Parei ao seu lado e ela manteve os olhos no Monet. Eu senti as minhas mãos úmidas. Eu estava nervoso e isso era inédito. Nem em momentos de vida ou morte, que eu vivia com frequência, eu me sentia ansioso assim. Quem é essa mulher?
Alguns segundos se passaram e eu pude olhar para ela de perto. O rosto dela era branco como porcelana, repleto de sardas que subiam pelas maçãs do rosto e sumiam debaixo da máscara. Ela mantinha uma pose relaxada. As mãos na frente do corpo, os dedos entrelaçados e o ombro firme para trás, com a cabeça erguida.
Alguém no céu gosta muito de mim, para me mandar esse presente dos Deuses.
Depois do que pareceu tempo demais, ela me notou. Os olhos piscaram cheios de surpresa e eu só consegui sorrir.
- Senhor, sinto muito. - A voz dela era doce e calma, assim como a aparência como um todo. Foi inevitável imaginar ela gemend¢. - Fique à vontade, vou te dar espaço para admirar a obra.
Ela fez menção de se afastar e eu me obriguei a reagir.
- Fique a vontade. - A minha voz saiu mais firme do que eu me sentia. - É uma peça intrigante, não acha?
- Impressionista, exatamente como Monet era. - Ela voltou os olhos para a obra e o comentário dela, simples e certeiro me fez prender o ar. - O misto de tons de rosa e roxo é delicado e marcante, como tudo o que ele pintou.
- Concordo. - Consegui responder. - Qual o seu nome? - Eu precisava desesperadamente saber quem ela era.
- Lara. - Ela respondeu sem me olhar. - E o seu?
Aquela atitude dela me fez desejá-la mais. Ela não me deu sobrenome e não sabia quem eu era, mesmo estando em um baile feito para mim, para a escolha de uma pretendente.
- Victor. - Eu respondi, seguindo o seu exemplo. - Você é nova aqui? - Ela negou com a cabeça. - Eu nunca te via antes. - Ela deu de ombros delicadamente, antes de me olhar de novo.
- Nasci e cresci em Bisacquino. - Ela parecia desinteressada. - Mudei para a Corleone com o meu pai tem uns 5 anos. - Não era possível que eu nunca a tivesse visto.
- Devo conhecer a sua família. Qual o seu sobrenome? - E nesse momento os olhos dela se fixaram nos meus e foi como entrar no oceano infinito, banhado por um brilho azul intenso.
- Duvido que conheça. - Ela me deu um sorriso tímido, a boca carnuda e levemente vermelha atraiu completamente a minha atenção. - Obrigada pela conversa, Victor. - Ela fez uma reverência e caminhou para longe de mim e eu continuei ali, congelado no meu próprio corpo com um único pensamento.
Ela é minha!