Eu estava animada. Rindo sozinha enquanto tomava banho e sentia a ardência em partes muito sensíveis que ele explorou sem nenhum pudor. E aquelas sensações ainda ocupavam os meus pensamentos depois de colocar uma roupa confortável, como ele pediu.
O dia prometia ser quente, então vesti um conjunto leve, de tom oliva e levei o tênis na mão, quando atravessei o corredor a caminho do quarto dele, para o café da manhã.
Eu não precisei bater na porta, ele a deixou aberta e eu dei uma boa olhada agora.
O quarto dele tinha o dobro de tamanho do meu, mas tinha muito menos móveis. A simplicidade era uma definição fraca perto do que eu via. Ele tinha apenas o necessário. Uma cama, um armário e uma mesa de escritório, com apenas um notebook em cima. Nenhum quadro ou foto em lugar nenhum.
Ele estava na varanda, completamente à vontade, vestido com uma bermuda preta, camiseta branca e chinelos. Até aquele momento eu poderia dizer que a beleza dele também era ressaltada pelas vestes finas, mas assim que ele se virou e sorriu eu soube que ele ficaria lindo mesmo vestindo um saco de lixo.
A varanda era o local mais luxuoso do cômodo. Uma rede e duas poltronas nas esquerda e uma mesa que caberia com tranquilidade 4 pessoas, posta com diversas delícias.
Ele estendeu a mão para mim e me conduziu até uma cadeira, sem falar nada. Puxou a cadeira e eu sentei, enquanto ele servia café na xícara na minha frente.
- Espero que tenhamos superado aquela coisa de você comer junto comigo, e não depois de mim. - Eu assenti, mas não consegui sorrir, mesmo que o tom dele tenha sido animado.
Ele se sentou na minha frente e levou a própria xícara aos lábios, enquanto eu colocava leite na minha xícara. Eu não conseguia tomar café puro, mais um trauma de infância para catalogar na longa lista de coisas que me marcaram.
- Então… - Eu olhei para ele e levei o café até a boca, jogando uma descarga de adrenalina no meu corpo. - Você vai me explicar essa coisa da comida ou … ? - Ele não completou a frase, mas eu sabia que seria algum tipo de ameaça a minha família.
- Você ficará com raiva. - Eu falei por fim. - Não quero te deixar bravo.
- Ruivinha, eu já estou bravo. Com uma raiva que confesso que nunca senti, prefiro saber da realidade ao invés de só imaginar. - O sorriso dele pareceu triste enquanto ele falava. - E eu sei que uma mulher criada para ser uma princesa da máfia nunca tem uma vida fácil, mas a sua parece ter sido bem pior que isso. - Foi a minha vez de sorrir com tristeza.
Aquele interesse intenso dele resultaria em uma guerra, e era exatamente o que eu queria evitar.
- Você consegue me garantir que não buscará nenhum tipo de retaliação? - O sorriso dele vacilou.
- Eu não posso prometer. - Eu dei mais um gole no café, e ele me serviu um pedaço de pão quente.
- É exatamente por isso que temo te contar. - Ele estendeu a mão e segurou a minha, uma delicadeza que quem o via nunca imaginava que ele teria.
- Lara, você pode me contar e me dar tempo para lidar com o que quer que tenha acontecido ou eu posso falar com a sua governanta, que está muito empenhada em cuidar de você ainda. - Eu senti cada nervo do meu corpo travar.
- A Teresa nunca fez nada contra mim! - Eu pisquei rápido para afastar as lágrimas que apareceram subitamente nos meus olhos.
- Eu não vou machucar a Teresa. - Ele circulou as costas da minha mão com o dedo. - Pelo que soube ela foi a única a realmente cuidar de você. - O alívio foi imediato, e mesmo que eu soubesse que ele era confiável até certo ponto, eu sabia que ele estava falando a verdade.
- Você tem notícias dela? - Ele assentiu. - Alguém a culpou? - Ele deitou a cabeça, avaliando a minha pergunta.
- Ela está bem. - Ele fez uma pausa e perguntou. - Ela sabia sobre mim? - Abaixei o olhar, sentindo a vergonha subir pelo meu pescoço e assenti.
- Eu contei, ela é… - Eu não conseguia resumir muito bem o que a Teresa era para mim, mas me esforcei a encontrar palavras. - Ela é mais que uma amiga e sempre foi gentil, me abraçou quando eu precisava e me ouviu sem me julgar… Aquele dia na cachoeira, eu fui com o carro dela. - Ele parecia surpreso. - Eu soube do noivado naquela tarde e quase perdi a cabeça, quando a opção do convento se perdeu. - Eu ouvi ele trincar os dentes. - Ela me pediu para sair, tomar um ar, antes que eu fizesse uma besteira, como confrontar o meu avô. - E mesmo assim ele me puniu. Afastei o pensamento quando terminei de falar. - Ela é muito importante!
- Então continuará sendo. Se quiser, posso mandar buscá-la. - Foi a minha vez de ficar surpresa.
- Você faria isso? - Ele puxou a minha mão e beijou a dobra dos meus dedos.
- A essa altura, são poucas as coisas que eu não faria por você. - Ele estava sério ao dizer aquilo, como se fosse uma confissão que ele não tivesse feito nem para ele mesmo.
- Porque me tirou de lá? - Eu puxei a minha mão com calma, e ele não me impediu. Desde que ele entrou naquela igreja, as minhas emoções variaram muito, e o comportamento dele ficou cada vez mais devoto. E mesmo que ele tivesse alguma vantagem no que fez, evitando que a minha família se fortalecesse, me tratar bem, me dar praz£r ou mesmo fazer refeições comigo não deveria estar dentro dos planos de um sequestro. E ele também dizia coisas… fofas. Bem, para um mafioso.
- Você me intriga desde que coloquei os olhos em você. - Ele admitiu. - Depois que eu decidi não te matar, porque seria um verdadeiro desperdício para o mundo, eu soube da sua punição e do seu noivado e talvez tenha perdido o controle das coisas.
- Você invadiu a casa do seu maior inimigo, para me acusar… - Ele estalou a lingua.
- Sim, fiz isso, mas deveria ter aproveitado a minha visita de outras formas... Você estava linda naquela noite. - O olhar dele correu para o meu decote, mas eu lutei contra o calor que envolveu o meu corpo. Eu queria entender o que levou ele a me roubar no altar. Se não era vingança, era o que? Eu não ia me distrair pelos olhares charmosos dele.
- Depois que você saiu de lá, o que mudou? - A atenção dele voltou para os meus olhos.
- Eu investiguei o seu noivo. - Ele cuspiu a palavra. - E, diferente do seu avô ou mesmo do seu pai, eu não o considerei digno de você. - Eu não consegui controlar o choque daquela afirmação.
- Calma. Você me sequestrou no altar por causa daquele velho? - Ele deu uma risada gostosa.
- Eu te tirei de lá, porque ele é um assassino Ruivinha. - Apertei o guardanapo nas mãos ao ouvir aquilo. - Ele é um Vitale perdido, que está viúvo pela terceira vez. - Deixei o meu corpo se jogar para trás no assento. - E com as mortes das esposas ele herdou tudo. Dinheiro, poder e as relações das famílias. Devo admitir que é genial, se não fosse assustador.
- Ele matou as esposas? - Eu consegui perguntar, com a voz escapando. Um pânico diferente tomando os meus nervos.
- Nada comprovado, mas é no mínimo estranho não? - Eu assenti. - Enfim, eu simplesmente não consegui pensar que você estaria nas mãos dele, viva ou não. - Eu não tinha palavras para aquilo.
Não tinha relação com a minha família; o que ele fez foi apenas para me proteger, apenas por mim.
- Obrigada. - Ele sorriu de novo.
- Disponha. Agora vamos comer, antes que as coisas esfriem.
Eu quase não senti mais sabor depois de ouvir aquilo.