O silêncio tomou a sala, um silêncio torturante. Luna ainda tentava assimilar quando Antônio deu continuidade.
_ Minha mulher gostou muito de você, fazia muito tempo que não via Lúcia tão empolgada com uma visita inesperada como a sua. Quero que você permaneça aqui conosco, quero que trabalhe ajudando minha mulher nas funções que ela faz, vou lhe pagar uma boa quantia, mas deve morar aqui conosco, temos uma área reservada para os empregados, é totalmente segura, e também deve manter sigilo para os de fora as coisas que você ver acontecer aqui dentro. Como eu já disse, não toleramos traições e nem mentiras. Vamos lhe poupar desta vez, pois sei que o motivo para sua fuga deve ter sido bem pesado, mas na próxima você vai arcar com as consequências como qualquer outra pessoa. Você aceita ?
Desacreditada, esta era a palavra que definia Luna naquele momento. Nas últimas 48 horas ela havia fugido do tio, desmaiado na estrada, sido arrastada para uma casa luxuosa e agora uma proposta inesperada de emprego. Ok né. Podia ser pior.. ou não.
Realmente um emprego seria um bom recomeço para ela, poderia até mesmo ajudar a tia a se livrar daquele homem c***l que chamava de tio. Poderia até mesmo cursar uma faculdade, coisa que sempre foi seu sonho. Luna respirou fundo, já sabia oque fazer. Finalmente sua vida tomaria jeito. Talvez pudesse ao menos tentar ser feliz, e talvez dona Lúcia não fosse aquelas patroas chatas e cruéis que humilham os funcionários.
_ Eu aceito, é tudo meio estranho pra mim, mas eu aceito sim senhor. Porém preciso ir ver minha tia, dar notícias a ela. - Disse Luna, um pouco em choque ainda.
_ Tudo bem, vou pedir para um motorista e um segurança levar você até sua casa logo que amanhecer, por hoje é só. Vá descansar que amanhã quando você chegar será encarregada das suas devidas funções e trataremos de valores. - Disse Antônio, demonstrando satisfação com a afirmativa de Luna.
Enquanto isso no canto da sala estava Matteo, com os olhos grudados em Luna, notando todas as suas feições e respiração acelerada devido ao choque e surpresa do desenrolar da conversa. Ele sabia que tinha seus deveres com a mafia italiana a cumprir, logo deveria se casar com alguma mulher pura e com sobrenome importante, mas vendo aquele pequeno corpo rígido sentado em uma cadeira que caberia duas dela, ele se questionou se deveria mesmo cumprir cegamente todos as regras, até porque neste momento ele era o atual capo, o poder era dele. Embora tivesse nascido e sido criado boa parte da vida na Itália, ele carregava muito do brasil em suas veias, e aquele corpo moreno estava fazendo um rebuliço em suas calças desde que a viu somente de toalha em seu quarto.
Ele a viu se retirar, encolhida do frio e do medo, ele sabia que tinha algo de errado com ela, o desespero que as feições dela demonstravam naquele momento que a viu caída na estrada eram agonizantes. A menina estava fugindo, fugindo de algum monstro, e não era algum monstro que saiu do armário ou de baixo da cama para lhe pregar uma peça, esse monstro tinha nome e sobrenome, ele sabia que esse tio, Raul, certamente tentou algo e que provavelmente Luna havia fugido a tempo de algo r**m lhe acontecer.