A briga

1062 Words
— ÓI BRIIIIIIIIIIIIIIGAAAAAA! — alguém gritou no meio da rua.   Largamos o que estávamos fazendo e corremos pra ver o que estava rolando.   No interior as brigas duram mais tempo do que o normal. Elas vêm sendo alimentadas por boas insultadas que duram dias ou somente por um m*l entendido que o povo tratou de piorar mais ainda e quando o pessoal finalmente se pega no tapa, o ódio já foi alimentado de uma forma que dá até medo de entrar no meio.   Eu não fazia ideia de quem estava brigando, pois eu m*l conhecia meus parentes, muito menos quem morava ali. Mas o bom de briga do interior é que quando você encosta em qualquer um telespectador, ele vai te contar tudo o que se passou ali.   Encostamos numa mulher e ela começou a contar tudo.   — Aí diz que Marilene andou trepando com Elizeu e Marilene anda assim com Rosinete. — ela esfregou um indicador ao lado do outro. — Era comendo no mesmo prato e dando pro marido dela. Aí diz que chegou nos ouvido de Claudiane, que já num é fofoqueira, que contou no chafariz na frente de quem? De quem? Rosilene, irmã de Rosinete. Aí você já sabe. Rosilene contou a Rosinete e desde cedo que ela tá prometendo quebrar o encaixe dela. Aí esperou na janela, esperou... xingou ela de tudo quanto é nome e a rua toda ouviu. Aí cê sabe que Marilene é bicha ousada. A bicha é sem vergonha e ela trabalha na casa de Zé de Fulano, cuidando dos velho e pra ir pra casa de Zé de Fulano tem que passar por aqui. E eu duvido muito que Marilene não sabia que Rosinete tava jurando pegar ela de tapa. Pois quando foi agora ela passou e agora tão aí. — ela ergueu a cabeça na direção das duas, que rolavam pelo chão.   E briga de mulher ninguém entra no meio, né. A fofoqueira não contava isso diretamente a nós, é claro. Ela contava a outra vizinha, mas num tom que todos podiam ouvir e nós chegamos juntos e pegamos a história toda.   — Ói praí que fiura. — uma senhora parou do nosso lado.   As briguentas estavam furiosas de verdade. Prontas para uma matar a outra.   Outra mulher se aproximou da gente. De braços cruzados ela olhava a briga e comentava com a outra senhora. — Agora repare se o c***a aparece pra apartar? Aparecer é b***a. O manhoso deve tá é achando graça.   — Diz que foi pra cidade. — a primeira fofoqueira se juntou enquanto o p*u comia. — Agora diga se tem futuro? Ninguém nem vê trabalhando e como vai a feira?   Todo mundo opinava sobre a briga, mas ninguém fazia nada para parar com aquilo. Uma das mulheres estava ralando a cara da outra no calçamento e ninguém movia um dedo para ajudar.   Do nada, eu e Débora fomos arrastadas pelo braço e paramos longe dali. Era a Tia Sandra. — Que diabos vocês estão fazendo ali no meio?! — nos repreendeu.   — Nada, mainha! Só tava vendo a briga. — Débora respondeu chorosa.   — Pois bora pra casa, que eu não gosto de conversa. E você, Bruna, sua mãe disse pra você ir pra casa da avó.   — Tá bom. — balancei a cabeça e abeirei o beco.   Com a briga ninguém mais me importunou perguntando quem eu era, quem era meu pai ou mãe ou o que eu estava fazendo ali.   Chegando na casa da vovó, parece que a minha mãe já estava a parte da grande fofoca do povoado e veio me dar sermão junto com a vovó.   — Olhe, Bruna, aqui você pode ficar mais solta do que no Maranhão, mas isso não quer dizer que você vai ficar de porta em porta com Débora vendo conversa ou briga dos outros. As regras vão mudar agora que a gente tá na casa da sua avó. E ai de você se eu souber de alguma história...   — Mas mãe, eu não faço nada. — fiquei sem entender a atitude dela. Ela falava como se eu fosse uma criança muito m*l criada e agora ela pretendia me educar, me prender. Eu fiquei igual que nem a Débora quando sua mãe a repreendeu lá na briga.   — Mas eu já tô avisando pra você não fazer. Nossa família é da igreja. Você e Débora tem que ser boas meninas, honrar o nome da família, o seu avô, sua avô... Não é pra fazer coisa errada. Se misturar com fofoca, nem com briga ou coito nenhum.   — Débora tá dando um trabalho pra Sandra... — vovó lamentava na cozinha.   — Falta de uns tapas. — a minha mãe disse.   Eu não tinha me tocado que ela estava agindo desse jeito pra mostrar para a vovó que era uma boa mãe. Só hoje eu entendo.   Eu deveria ter tomado os conselhos da minha mãe para a vida toda. Quando a gente não ouve esses preciosos conselhos, quando somos tão teimosos e inexperientes, a chance de dar tudo errado é grande. É enorme e eu não sabia que 5 anos depois, ouviria os mesmos conselhos e ainda os ignoraria.   O resto da minha infância ali no povoado, morando na casa da minha avó, fez nascer 2 Brunas. A Bruna orgulho da família. Cantora de coral, catequista, coroinha nas horas vagas que passava longe da cordinha do sino para não tocá-lo, que todos os idosos gostava, filantropa, ajudava a todos na comunidade e a Bruna dos desejos reprimidos. A cheia de vontades e com coragem zero.   Eu e Débora crescemos e o nosso jeito continuava o mesmo. Eu só tinha coragem de afrontar os meninos, já a Débora batia de frente com todo mundo.   Mas isso estava prestes a mudar, porque a Bruna cheia de desejos estava prestes a se sobressair com a chegada de um garoto que mexeu comigo de um jeito que o garotinho dos meus 10 anos não conseguiu mexer.   Saudades dos meus 10 anos, quando eu tinha certeza que odiava garotos.   Maldita a hora que eu deixei me levar pela modinha de perder o bv.   Eu só me fodi.   E não se preocupe, que você vai acompanhar cada detalhe de como eu quebrei a minha cara pela primeira vez. Porque não foi só uma vez né, mas é que a primeira vez a gente nunca esquece.
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