Se arrumando pra festa

2967 Words
Cinco anos depois... BRUNA Esse era o primeiro dia que eu estava fazendo uma coisa que não costumava fazer, pelo menos não esse tipo de pedido. Porque implorar era algo que eu fazia sempre já que a minha mãe era cheia de regras e para quase tudo que eu queria, precisava implorar muito para conseguir, dessa vez está pedindo uma coisa nova. — Mainha, por favor, pelo amor de Deus, me deixa ir nessa festa. Eu vou com a Débora. — pedia batendo o pé direito no chão. Eu não sei porque, mas acho que meu subconsciente achava que iria chamar mais atenção da minha mãe desse jeito. — Mas é justamente por isso, minha filha. Eu confio em você, mas não confio na Débora e vocês com a Débora... — ela explicava cansada enquanto varria a casa. — Aquela menina é mais desorientada do que tudo nessa vida. Nunca vi uma menina desorientada dessas... Não quero que você fique andando que com ela. — Mas eu já ando com ela desde os meus 10 anos. A senhora tem essa besteira de não deixar ir para uma festa uma festa aqui no povoado. Não é em outro canto nenhum, não é lugar distância. — comecei a secar os pratos para ver se tem percebia que eu fazendo alguma boa ação e para gratificar ela não me dava um "sim". — Mas é diferente. Vocês vão na igreja, na escola juntas, agora para uma festa?! Não quero nem saber se a festa é aqui, Bruna, você tem que entender que você é uma boa menina. Ir pra esses forró véio, cheio de homem r**m. Vai saber o que pode acontecer com esse povo valente. Ninguém sabe se vai ter segurança, ninguém sabe de nada direito. Só de pensar já me preocupo com você. Pegaria uma briga e aconteceu uma coisa com você, eu não me perdoaria. — Ah, mas só vai ter gente do nosso povoado. Não vai acontecer nada. Tem segurança, o dono do bar já tava falando. Todo mundo da festa vai ser revistado. — eu arrumei os copos no armário. Se ela ver arrumação vai me deixar ir. — Que coisas que a senhora quer que eu faça? — já abri as opções de troca de serviço. — As roupas? eu lavo, quer que eu arrume a casa no domingo? eu arrumo. Só o almoço que eu não posso fazer, porque eu não cozinho do jeito que a senhora gosta. Ela parou de varrer e ficou me encarando. — Porque você quer tanto ir nessa festa? Você nunca foi querer ir para o forró. — Ah mainha, mas é porque me deu vontade. Todo mundo vai da escola, eu já tenho 15 anos, sou a única menina daqui que não sai pra canto nenhum. Só vou pra igreja. Que m*l tem? Eu já tenho idade pra me divertir e nem dançar eu sei... — fiquei chateada. — A senhora não quer que eu viva? É pra sempre ser desse jeito? Eu nunca vou deixar de ser bicho do mato. — Que bicho do mato oque? Quem foi que falou isso?! — ela ficou irritada, com uma mão no quadril. — E que horas é que começa essa festa? A minha cara de choro tava começando a surtir efeito, porque ela tava começando a ficar tocada. É aquela velha chantagem emocional que as pessoas costumam usar. Eu não costumo fazer isso, porque às vezes eu consigo as coisas só uma choramingada, mas o apelo emocional sempre funciona. — 9:30 e termina 2 horas da manhã. — eu comecei a guardar as outras coisas. Ela tava varrendo a casa e depois fala de novo. — Não quero saber de você chegar mais tarde do que 11h. Se você aparecer aqui bêbada eu lhe quebro de tapa. — ela não tava brincando. — Cuidado com droga na bebida. não aceite bebida de ninguém e também não fique dançando e não dê fora em rapaz para depois dançar com outro. — ela voltou a varrer a casa e continuou falando. — Eu quero saber de você de conversinha com algum macho... E se passar da hora que eu falei, se passar das 11 horas eu vou lhe buscar debaixo do cinto. É um sim? — eu me perguntei. Então é um sim! Já que ela tá passando todas as ordens, deve ser um sim. Demorou uns 10 segundos para cair a ficha que a minha mãe realmente tinha me deixado ir pra festa. Eu saí pulando pela cozinha e larguei o que estava fazendo. — Oxe! Vai para onde?! — ela exclamou quando eu saí da cozinha. Eu estava secando os pratos. — Volta aqui, Bruna, termina de arrumar essa pia, antes que eu mude de ideia! Eu já ia atrás da Débora, par contar que tinha conseguido convencer a minha mãe a me deixar ir pra festa, mas como preciso fazer de tudo para agradar, eu voltei para trás e deixei para contar a novidade depois de terminar de lavar os pratos, debaixo de um milhão de regras que a minha mãe me passava sobre como devo me comportar na festa. Eu fui lá na casa da Débora, para contar novidade. A festa era nesse mesmo dia, eu resolvi pedir de última hora porque se fosse com antecedência dava tempo da minha mãe pensar e mudar de ideia. Débora estava fazendo as unhas com a Mirelle. Que era uma amiga do nosso círculo de amizades e também era tirada a manicure. Ela não era uma manicure profissional, mas ela era que conseguiu fazer melhor. Sempre conseguia deixar as nossas unhas arrumadinhas. As minhas unhas eu arrumava somente quando era época de festa na igreja, ou missa de mês, que era uma vez por mês, então um dia antes da missa eu fazia as unhas e fora isso na época da festa da padroeira, das novenas. Eu realmente só saía para eventos da igreja. A minha mãe me criou esse 5 anos bem presa e somente com esse tipo de liberdade. — Vocês não sabem da novidade! Adivinha quem vai poder ir para festa hoje?! — Eu fiquei lá no meio da sala da casa da tia Sandra e quase que eu derrubava aquele jarro de lírios do Paraguai que fica no meio do das quatro cadeiras de ferro que ela nunca trocou nesses 5 anos. — Não creio que a tia mocinha deixou você ir para festa! Sabia que iria demorar para as pessoas acreditarem. Acho que todo mundo vai ficar admirado. Todo mundo sabe eu sou presa. Todo mundo sempre fala que a minha mãe é uma pessoa muito protetora. Só sei que já estava na hora dela me dar um pouco de liberdade. Eu já tenho 15 anos. Preciso começar a ser adolescente, se não vou ficar para trás, todo mundo vai crescer e somente eu vou ficar para trás, sem saber o que é curtir um pouco. — Sim, ela deixou. Depois de tanto choraminhar. — eu sentei no sofá contente. — Mas que milagre, heim! A sua mãe tá bem? Tem certeza que ela não tá doente? Acho melhor você levar ela no postinho, amiga. — Mirelle aconselhou. É que realmente a situação era única. Acho que nem tia Sandra vai acreditar quando ouvir que minha mãe me deixou ir para festa. Felizmente ela não tava na hora que eu pedi, porque se ela tivesse com certeza minha mãe não ia deixar. Parece que quando a minha mãe vê a minha avó ou o meu avô, ela dá uma mania de querer ser a mãe melhor que tem. E a mãe mais protetora. Então ela sempre me dando bronca na frente da vovó ou então fala alguma coisa para vovó ter orgulho de ter uma filha que sabe criar outra filha. A minha mãe é muito puxa-saco. Ela e a tia Sandra estão sempre competindo. Elas sempre brigam por causa disso. Da criação das filhas. Minha mãe acha a tia Sandra irresponsável. Elas brigam porque uma quer ser melhor do que a outra. — E aí, como é que você vai? Tem que arrumar a unha, arrumar cabelo e a roupa? Vai usar qual? Não vai de calça, pelo amor de Deus. Ninguém usa mais calça jeans em festa hoje em dia, todo mundo vai de shortinho jeans. Não é, Mirele? — É sim. Eu mesma comprei o shortinho na loja de 14 reais. Lindo, lindo. Ele tem uns strazzer assim na beirada do bolso e um cinto vermelho com fivela grande. Se eu me lembro bem, não tenho nem um short novo, porque os que eu comprei já estão todos batidos, uso aos domingos quando eu saio para tomar um sorvete. — Tudo que eu penso que eu tenho são as calças do coral, calças jeans e alguns vestidos, mas eu não vou de vestido para uma festa de forró. — Não mesmo, né? Não vai me matar de vergonha. — Débora saltou no banquinho e quase que borrou a unha, por isso, a Milena lhe deu um tapa no dorso da mão dela. — Você quer que eu faço a unha sem borrar ou não?! — Desculpa aí. — A gente tem que arrumar uma roupa para você, Bruna, porque você não vai andar desleixada perto da gente, né? Eu mesmo vou toda chique, com short da Sawary. — Débora estava toda garantida. — Eu também comprei um cropped vermelho e uma sandália gladiadora bege. Vou ficar toda bonita. E esse seu cabelo? — ela ficou em mim, mudando rapidamente de assunto. — Não vai lavar logo não? Adiante logo, minha filha, tá pensando o quê? Daqui que seque esse cabelo seu, grande desse jeito, pra depois passar prancha, vai ser bem em cima da hora da festa e se der prancha em cima da hora, do jeito que seu cabelo não tem produto,vai subir a arapuca no meio do salão. — Só se for lavar aqui, porque lá em casa se eu for minha mãe vai ficar reclamando. Já vai voltar a fala todas as coisas que ela já passou para eu fazer na festa. Do jeito que eu tenho que agir na festa. — Ô! tem que dizer né? — Débora apoiava a atitude de mainha. — Já que você nunca foi pra nenhuma festa, vai ficar lá que não toda broca. Depois não se mete em nenhuma confusão. A sua mãe tem que se preocupar mesmo com você. — Débora contou um pouquinho arrogante. Ela sempre é assim. E piora nos dias de festa, porque ela quer ser a mais bonita que tem lá no evento. Mirelle olhou pra mim contando. — A minha mãe sempre me diz para não dar fora em um cara e depois dançar com outro. Porque ela disse que pode dar briga e é verdade, eu mesma nunca faço isso, mas eu já vi uma fulaninha lá para festa fazendo isso e não de bom não, viu? O cara ficou puto da vida com ela e eu vi a hora dele pegar ela de tava. Porque esse caras são loucos da vida. Não tão nem aí pra nada. São tudo ousado. — A minha mãe disse isso. — eu fiquei até com medo depois de saber que a mãe dela também avisou o mesmo. Parece que é uma regra suprema fazer desse jeito. — Vai lá então, no banheiro para lavar o cabelo. Meu shampoo é bom, mas não gasta muito não, viu? Porque foi caro. — Tá bom. Eu vou lembrar. — Fui no banheiro, peguei o shampoo e condicionador e fui lá no fundo. A tia Sandra estava lavando roupas e quando me viu ficou surpresa. É que eu não costumo ficar no quintal da casa dos outros, muito menos da casa dela. Ela é uma pessoa bem organizada, que gosta de bagunça. E eu só chego até a sala, às vezes na cozinha, para comer alguma coisa com a Débora. Eu pretendia lavar os cabelos na lavanderia, porque assim não molharia o banheiro da casa dela, que estava todo lavado e limpinho. — E para onde é que vai com esse shampoo? Acabou o da sua casa foi? — Ah não. É que eu vou arrumar o cabelo para ir para festa. — eu contei toda animada. Acho que todo mundo que perguntar qualquer coisa, eu vou falar que eu vou para essa festa. Ah minha tia, só deixou o queixo cair. — A sua mãe deixou você ir para festa? Que milagre é esse? ela tá doente? Todo mundo vem com essa conversar da minha mãe estar doente. Ela só podia estar m*l da cabeça porque ela não deixaria isso em sã consciência. Acho que vou mandar ela para a casa verde. — Depois de muito choraminga... — eu contei orgulhosa e peguei um espacinho ali na pia para lavar meu cabelo. — Apois... — ela ainda continuava incrédula. Depois de lavar o cabelo, fiquei na porta da casa da minha tia e graças àqueles portões, consegui secar o cabelo rápido, porque o vento entrava em toda a sala e ainda consegui bater um papo com as meninas sobre a expectativa do que vai acontecer naquela festa de noite. Débora ainda continua apaixonada por aquele garoto. Ele não melhorou da feiura e da chatice pior ainda, mas ela gosta dele. Porque mulher gosta de gente r**m, eu já percebi isso. — Se prepare, você que dorme cedo.... — a Mirele falou. — Porque a festa vai acabar lá para as 3 horas. Eu fiquei confusa com essa notícia. — E no cartaz não dizia que só vai até as 2 da manhã? — No cartaz diz, mas a festa começa 1 hora atrasada e sempre tem um Popurri que demora 30 minutos, então com certeza vai acabar três ou quatro da manhã. — ela contava toda garantida, enquanto limpava a unha da Débora e a minha prima completou. — Isso se não ligarem nenhum paredão, né? Porque quando eu ligam, minha irmã, todo mundo fica dançando até o dia amanhecer. Eu mesma já vou com sapato aberto, que dá para dançar a noite toda sem fazer calo. Que eu já tô de saco cheio de andar de salto, cansada. E Deus me livre ficar de pé descalço que nem aquelas menina que moram ali embaixo, que vão para festa com salto 15 e quando chega no meio do salão, ficam de pé descalço, com as unhas pretas... — Afs. — Mirelle e ela ficaram fazendo careta de nojo. Eu tava rindo da minha prima, porque ela era muito engraçada falando m*l dos outros, mas realmente tudo era verdade. — Apois minha mãe disse que eu tenho que voltar para casa 11 horas da noite. — eu avisei a elas.— Então nem adianta ficar até o outro dia, porque eu só vou ficar até às 11 horas. Não vai fazer diferença para mim. — Duvido você só ficar até às 11 horas. Depois das 11 horas que a festa fica boa, né não, Mirele? — Débora contou toda garantida. — Ah minha filha, depois das 11 horas que começa a ficar bom. Começa a melhor banda, porque é a banda menos famosa, mas é a que toca lambada, que toca forrozão, aí todo mundo vai querer dançar até umas hora e você não sabe dançar, mas vai que aprende... vai querer ficar até o final. — Eu não posso ficar até o final. Mainha disse que se eu ficar até o final ela vai aparecer com cinturão e vai me pegar para casa debaixo de tapa. — já deixei avisado. — Eu vou para casa depois que das 11. Eu vou até levar meu relógio. — É melhor levar o relógio mesmo, porque se você levar o celular, faz medo de ser roubada. Aqueles meninos que vem da cidade sempre estão roubando celular, roubando as coisas. Tem que ficar esperta. Botar o dinheiro no bolso da frente do short ou nos p****s. — ela aconselhou. Minha mãe também já tinha me falado disso, mas eu não imaginava que os meninos da cidade viriam para uma festa no povoado. — E os meninos da cidade vem para essas bandas, as... de baixo orçamento? — Eu tentei encontrar uma palavra que não ofendesse tanto, mas não encontrei. — Vem sim. Você vai ver o tanto de gatinho. — Débora estava empolgada. — Olhe, se o bonito lá não aparecer para ficar comigo, eu vou ficar vou ficar com os meninos da cidade, porque são tudo mais bonito, tem mais coisas. Ah, você vai ver.... Você vai ver, vou deixar ele doidinho. — Quando os meninos da cidade verem a Bruna, vão ficar tudo atrás. — Mirelle me olhou com certa inveja. — Porque é bonita, do cabelo grande, da bundona. Todo mundo vai ficar querendo namorar com você. Eu fiquei toda encabulada com essa história, porque eu não tenho costume de ficar com ninguém, na verdade nunca fiquei com ninguém. — Se você se arrumasse melhor... — Débora deu uma alfinetada em mim, porque eu não sou uma pessoa que se arruma muito bem. Pelo menos não para uma festa. — Pensar que não, vai perder o bv hoje, né? — Mirelle deu um sorrisinho m*l intencionado. Perder o bv? Eu fiquei nervosa de verdade. Fiquei com dor de barriga na hora que ela me falou isso. Eu não quero nem saber. Se algum garoto chegar perto de mim eu não sei o que eu faço, porque eu mudei um pouquinho. Eu brigo com os meninos, mas nunca olhei para ninguém com a intenção de ficar. Seria esquisito se isso acontecesse. Mas vai que... [autora: será que a Bruna vai perder o bv? Será que teremos finalmente alguém para shippar com ela?]
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