Ninguém me ajuda

1514 Words
Lucas começou a trabalhar na loja e Helen era muito solícita em ajudá-lo. Ele ficou encantado pela beleza da jovem e também por seu jeito trabalhador, sempre querendo arrumar a loja e manter tudo em ordem. Helen por sua vez, percebeu de cara que o homem estaria no papo em pouquíssimo tempo. Mas antes precisava ter acesso aos relatórios e balanços da loja, para ter certeza de que o golpe seria viável naquele momento. No quarto dia em que trabalhavam juntos chegaram duas moças na loja. Uma era loira e estava muito bem vestida, e a outra era ligeiramente mais baixa do que a primeira, tendo cabelos bem curtos e castanhos. A castanha estava uniformizada, e Helen reconheceu aquela roupa como sendo da empresa onde sua irmã trabalhava. Mas achou por bem não falar nada sobre aquilo. – Oi, boa tarde. Em que posso ajudá-las? – Olá. Você deve ser a Helen né? Eu sou a Paloma, esposa do Lucas. Helen já a conhecia. Ela viu a mulher junto com Lucas na foto de perfil do f*******: dele. – Boa tarde dona Paloma. É um prazer conhecê-la. O seu Lucas fala muito de você! Mentira. Lucas falou dela apenas uma vez, de tão abobalhado que ficava perto de Helen. – É verdade? – Questionou a loira com brilho nos olhos. – Sim, o seu Lucas te ama muito! – Viu Beth? Meu excelentíssimo me ama muito! Essa daqui é minha irmã Elizabeth. – Disse a loira apontando para a irmã. – Muito prazer Elizabeth. – O prazer é meu. – Disse a outra sem animação nenhuma. Paloma ficou toda feliz com o que Helen lhe disse, e avisou a jovem que queria falar com o marido, mas Helen informou que ele havia saído. – Onde ele foi? – Foi em Campo Bom. – Que foi fazer lá? – Ele diz que foi comprar umas mochilinhas dessas pequenas. – Falou Helen apontando para algumas mini mochilas com símbolos de times. – Ah tá. Vem Beth, vamos ver as coisas. Tá tudo aqui no PC. – Disse Paloma chamando a irmã para trás do balcão. Helen ficou olhando de soslaio para Elizabeth, e viu que a outra lhe fazia o mesmo. “Essa aí não gostou de mim.” Pensou Helen. “Menos m*l, que eu também não gostei dela.” Paloma e a irmã ficaram atrás do caixa observando planilhas, enquanto Helen foi arrumar alguns calçados. Quando chegava algum cliente Paloma chamava a funcionária para atender. Elizabeth analisou bem os balanços mensais da loja – até o momento só haviam os de Dona Regina – que estavam no computador, e viu algumas coisas andavam meio fora dos eixos. Lucas chegou e cumprimentou as duas. – Oi amor, Oi Beth. – Eaê, tô aqui organizando essa bagunça de vocês. – Tem bagunça não. Sou o homem mais organizado dessa terra! – Não é o que eu tô vendo aqui. – Disse Beth num tom de quem falava sério, mas tentava amenizar. – É amor. A gente tava olhando aqui, e tem umas coisas pra consertar. – Loma, desde quando tu entende de organização financeira? – Questionou Lucas. – Não parece, mas minha irmã também fez técnico em contabilidade. – Ah é. Eu tinha esquecido. Tu me falou lá quando a gente se conheceu. E tu Beth fez de auxiliar administrativo também né? – Fiz. E agora trabalho na parte de fechamento e baixa das empresas. Mas vamos fazer assim: tu me leva lá em casa, eu janto e depois tu me leva lá na casa de vocês pra gente conversar? – Tá. Pode ser. – Falou Lucas. Os três saíram, e Lucas pediu para Helen fechar a loja às oito da noite. Quando Elizabeth pediu pra ir conversar depois ele se sentiu fora do ar de tanto nervosismo. Ele deixou Paloma em casa e levou Beth em seguida. Helen ficou ouvindo a conversa o máximo que pôde, e se preocupou, pois não tinha outro emprego em vista. Mas já vira essa situação dessa antes: seu último emprego foi numa lancheria que estava quase falindo. Ela entrou lá, viu a situação, e com a ajuda da irmã que era formada em contabilidade ela ajudou os donos a colocarem tudo em ordem. Depois disso foi mais fácil se aproximar do dono e tirar dele tudo que podia. Helen riu se lembrando desse fato, pois graças a “ajuda” que prestou ao seu Moacir, ela ganhou um apartamento no mesmo condomínio de sua irmã. A residência agora estava vaga, mas tão logo a garota conseguisse arrancar uma grana de Lucas ela se mudaria pra lá. Não aguentava mais a choradeira de sua mãe falando que o dinheiro andava pouco, e de seus filhos toda hora lhe pedindo alguma coisa. Elizabeth chegou em casa, jantou e telefonou para Lucas ir buscá-la. Ele e Paloma estavam muito apreensivos, mas a jovem decidiu acalmar o marido. – Não deve ser nada de mais amorzinho, calma. - Eu tô tentando ficar calmo, mas disso depende o nosso sustento. – Sim, mas ainda tem meu serviço. Qualquer coisa de fome a gente não vai morrer. Se não der certo tu procura outro. – Paloma eu não quero mais trabalhar cinco, dez anos numa firma e ser mandado embora. Pelo menos num negócio meu, assim que as coisas se ajeitar eu não vou mais precisar trabalhar tanto. Eu vou lá buscar a Beth. Paloma preferiu esperar em casa, e enquanto ele saiu ela foi fazer janta. Meia hora depois Lucas retornou com Elizabeth, e seu rosto era de mais preocupação ainda. Os dois desceram e entraram. – E aí? Descansaram muito? – Brincou Beth tentando amenizar o clima. – Ih! Eu só brinquei de fazer janta. – Disse Paloma. – Mas e então? Vamo ficar rico ou vamo falir? – Disse o rapaz. – Sentem aí. – Pediu Beth respirando fundo – Vocês prometem que vão escutar tudo que eu disser? – Sim. – Disseram ambos. – É tudo, tudo mesmo? – Ai Beth, não me assusta! - Paloma, eu trabalho fechando empresas todos os dias. Se vocês não me ouvirem vocês vão quebrar. Se vocês me escutarem ainda dá tempo de recuperar. Os dois se entreolharam, e Lucas disse: – Manda sim, somos todo ouvidos. - Bom, pra começar vocês precisam ter controle de estoque. Mas planilhas de vocês diz que o estoque tem X , mas eu fui lá na porta da salinha e não tem tudo aquilo não. A salinha que Beth se referia era o pequeno depósito da loja. Ele ficava na porta lá do fundão, mas ainda dentro do estabelecimento. – E controle de estoque do que? – De tudo Lucas! Elizabeth se assustou ao ter que falar isso, pois era óbvio. Lucas por sua vez ficou assustado ao saber que tudo era tudo mesmo. Elizabeth afirmou com segurança que o casal deveria ter controle até mesmo das borrachas que comprassem pra vender. – Mas não tem como saber tudo de cabeça. – Lucas, ninguém sabe tudo de cabeça. Pra isso existem planilhas de Excel. Se vocês não fizerem isso não tem como manter a loja. – Tá, mas como faz esse controle? – Questionou Paloma. – Olhem as planilhas que a tua sogra deixou, vejam o que já vendeu, e confiram o que tem lá. Geralmente empresas grandes tem muito roubo, então é quase impossível ter o número exato que vai dar, mas como a lojinha é desse tamaninho vocês tem que ter o número exato que sobrar. – Amanhã mesmo eu vou fazer isso. Paloma tu me ajuda? – Amanhã não dá. Só depois do serviço. Lucas ficou bravo. – Bah Paloma assim não dá! Eu preciso de ajuda, isso é pra nós dois! – Lucas, eu tenho que trabalhar. Imagina se eu tivesse pedido as contas do serviço? Olha aí, a loja já não tá boa. Se eu ficar faltando onde a gente vai parar? Elizabeth viu que os ânimos do casal estavam exaltados. Ambos se levantaram e as vozes começavam a se alterar. – Calma vocês dois! Calma! Lucas bufava. Paloma estava com o rosto vermelho, e conhecendo a irmã, Beth sabia que ela queria chorar. – Sentem. Eu m*l comecei, já são dez da noite, e daqui a pouco eu tenho que ir pra casa dormir. Lucas ficou bravo novamente. Ele esperava um pouco mais de compreensão da cunhada. Custava posar ali e conversarem um pouco mais? Beth percebeu que Lucas não gostou do que ela disse, mas isso não era problema dela. Afinal já era muito ela estar ali, prestando consultoria de graça. – Vamo sentar e vamo ouvir? Eu não tenho a noite toda. Ambos sentaram. – Amanhã vocês vão fazer o controle de estoque. Tu não tem a funcionária Lucas? Ela chega mais cedo, outro dia tu paga ela a mais. Ela fica cuidando da loja e tu vai pro estoque. Não esquece de conferir tudo. – E depois? Nesse momento o telefone da moça tocou. Era dona Soraia pedindo que ela fosse pra casa, pois não estava se sentindo bem.
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