Esgotada do serviço Paloma não quis discutir. Apenas pegou o caderno e foi ler o que Lucas já tinha feito.
E lá se foi ela até dez e meia da noite trancada naquele estoque.
Helen viu que Lucas ia saindo e o chamou.
– Onde o senhor vai?
– Vou na padaria! Por que?
Devido ao tom de voz dele a moça recuou e se encolheu.
Paloma escutou o grito do marido mesmo com a porta da salinha trancada, e apenas revirou os olhos.
Lucas percebeu o berro que havia dado e pediu mil desculpas à funcionária.
– Tudo bem. Onde o senhor estava indo mesmo? – Perguntou Helen fazendo a magoada.
– Eu tava indo na padaria comprar um café. Tu compra pra mim?
– Sim, claro.
– Eu quero um cappucino.
– Ok. – Falou ela pegando o dinheiro.
Ela foi até a padaria próxima onde havia uma máquina de café. Quando retornou, Lucas estava na porta da salinha discutindo com Paloma. Ao vê-la entrando ele se assustou, parou os gritos e retornou ao caixa.
Às 21 horas Helen fechou a loja e o caixa, mas os donos ainda ficaram lá.
*
Após a negativa de Lucas em levar Beth pra casa o clima ficou estranho. Dona Soraia não ficou sabendo da história, pois as filhas preferiram não falar nada. Beth se limitou a dizer à mãe que os negócios não iam bem, mas que se o casal se empenhasse logo iriam melhorar.
Onze e quinze da noite, quando chegou em casa, Paloma pediu mil desculpas pra irmã pelo w******p.
– Desculpa mesmo mana.
– Loma eu só vou relevar, por que se tem uma coisa que empresário não tem é bom humor. Ainda mais quando percebe que a empresa não vai bem.
Do outro lado da linha Paloma riu de nervoso.
Uma das marcar registradas de sua irmã era tentar amenizar a situação sorrindo ou brincando. Já Paloma era adepta de um grito e um barraco, usando quando precisava e algumas vezes quando não precisava também.
Ela e a Elizabeth seguiram conversando sobre o andamento da empresa nos dias posteriores. Beth explicou que além do controle de estoque deveriam evitar vender fiado e não aceitar mais cheques. Além de tudo isso deveriam criar um plano de negócio – Paloma não tinha idéia do que era isso – e se formalizarem o mais rápido possível.
Paloma conversou com Lucas sobre isso, e ele disse que se formalizar era só pra pagar mais imposto e não receber nada em troca, e que plano de negócios era pra empresas grandes. Ela retrucou dizendo quem não é registrado não pode emitir nota fiscal, mas Lucas disse que aquilo não tinha importância naquela hora, e que quando a empresa crescesse um pouco mais eles fariam aquilo.
Ela agradeceu o apoio da irmã, mas resolveu deixar tudo na mão do marido e não perguntar mais nada. Sua cabeça já estava cheia demais.
Naquele dia, quando Lucas chegou do serviço ela o estava esperando com a janta pronta.
– Boa noite minha linda. Humm, fez arroz de forno. Tô morrendo de fome.
– Sim fiz. Senta aí amor, eu queria conversar.
– Sobre o que?
– Sobre a gente tá brigando muito nos últimos dias.
– Sim, minha princesa. Só vou tomar um banho e já venho.
Paloma ficou esperando, enquanto Lucas entrou no banheiro com o maior sorriso do mundo.
Ele estava de tão bom humor, que qualquer coisa de que a esposa fosse falar ou reclamar não estragaria sua noite.
Passara um dia maravilhoso com Helen na loja. Tomaram um cappucino juntos, conversaram sobre os problemas da vida, e ela lhe falou que tinha dois filhos. Além de linda – e gostosa – ela era uma companhia muito agradável.
Tirou a roupa e entrou no chuveiro, lembrando dos momentos com ela. Sua imaginação passou a voar, e sua mão – que começou devagar – agora ia e vinha com rapidez. Tudo que ele queria era fodê-la, mordê-la, invadir ela com tanta força que a partisse ao meio. Gozou urrando, e abriu os olhos voltando à realidade.
– Lucas, tu tá bem?
– Tô amor!
Se ensaboou rápido e em seguida saiu do banho. Foi ao quarto se vestir e depois sentou na sala com Paloma. Ela se acomodou entre seus braços e começou a falar.
Lá longe ele ouvia algo sobre não brigarem mais, sobre paciência um com o outro e blá blá blá.....e ele estava sentado com a esposa em seus braços, e pensando na funcionária.
– A gente fica combinado assim? Não quero brigar mais não.
– Sim amor, claro! – Jurou ele sem prestar atenção em uma palavra que Paloma dissera.
*
Dois meses se passaram depois que Helen iniciou na loja. Ainda não havia acontecido nada entre ela e Lucas, mas a moça estava preparando o terreno como ninguém. Já havia observado o rapaz e a esposa: ele sofria de um egocentrismo desgraçado, e só quis aquela loja para aparecer, se sentir grande. Já ela – embora fosse atrapalhada – era mais pé no chão. E se via de longe que ela não gostava da mania de grandeza que Lucas tinha.
Além de tudo Paloma trabalhava em outro serviço, e estava pagando pra não ter responsabilidades dobradas. Um prato cheio para Helen deitar e rolar, mas não sem antes ajeitar as finanças da loja.
Lucas era tão desligado, que passadas umas três semanas ele já lhe deu acesso ao financeiro da loja. Paloma ajudou bastante nos primeiros dias, mas logo cansou, e nem ela nem sua irmã apareceram mais. Lucas mencionou por alto que havia brigado com a cunhada, e Helen não podia estar mais feliz. Quanto mais desunião entre ele e a família da dita cuja, melhor pra ela. Claro, cobraria caro depois, por ter que arrumar as finanças da loja antes de bagunçar tudo de novo.
Helen também se divertia ao ver as desculpas que Lucas inventava para ficar na loja até mais tarde. Seu horário terminava as seis, e ele ficava lá até às oito. Ele dizia para Helen que “Empreendedor trabalha mais do que todos” , ela concordava, fingindo não perceber as intenções do patrão.
Naquele dia específico Paloma estava de folga do serviço, e viria para fazerem o balanço da loja, a única coisa em que ela ainda se metia. Como ela e Lucas tiveram que ir à Porto Alegre fazer compras num atacado, Helen trabalhou o dia todo. Os casacos e tênis haviam terminado, e o Outono estava pegando forte na cidade. Eram 17:30 quando o casal chegou.
– Oi Helen.
– Oi Paloma. E aí? Compraram muita coisa?
– Os tênis tava barato, mas os casacos tão pela hora da morte. Trouxemo pouca coisa.
– Tem que ver outro lugar pra comprar. Já teve um monte de cliente aqui pedindo sobretudo.
– Bom, eu vou te ajudar a conferir as coisas que eu tô exausta. O Lucas fica aí contigo até o fechamento.
Helen observou Lucas passar com algumas caixas e olhar para ela de soslaio. O coitado não tinha mais nem por onde negar.
Ele terminou de largar as caixas na salinha e se virou para a esposa.
– Eu vou lá comprar um salgado que eu tô com fome. Já volto.
– Vai lá amor. Compra um pra mim também. – Disse ela dando um selinho em Lucas.
Antes das duas iniciarem a contagem chegou uma cliente.
– Boa tarde Paloma. Quanto tempo!
– Oi dona Léia!
– Você trabalha aqui?
– Sou a dona.
– Ah! Benza Deus minha filha, benza Deus. Já que tu é a dona, me diga: tem vela?
– Não. Vela não. Pra que?
– Tenho que pagar uma promessa!
– Promessa? Pra que?
– Minha filha ganhou a pensão do nenê na justiça!
Paloma estranhou.
– A senhora tá falando da sua filha mais nova né? Mas esses dias eu vi ela na rua. Ela nem ganhou nenê ainda.
– Sim! Mas agora tem que pagar pensão desda barriga. Cumé o nome mesmo... alimentação...não! Alimentos...alimentos gravídicos! Alimentos gravídicos, é esse o nome.
Paloma arregalou os olhos.
– Que isso dona Léia? Que eu saiba pensão é depois que nasce.
– Não! O juiz determinou. O pai tem que pagar tudo, até se ela quiser fazer pré natal particular! Não é uma benção?!
– É, pois é. – Disse Paloma sem nem saber o que pensar – Mas vela a gente não tem não.
“Vela tinham era que ter tido quando o cara foi fazer essa criança. Daí agora não tava nessa enrascada” – Pensou a moça.
– Ah que pena! Vou lá! Boas vendas pra vocês!
A mulher foi embora, e Paloma encarou a funcionária que não havia participado da conversa.
– Tu viu? Que loucura é essa gente? Pagar pensão na gravidez!
– Mas o que que tem? – Perguntou Helen disfarçando o sorriso.
– Tem que sendo as filhas dela quem são, as chances desse nenê não ser desse aí que vai pagar são grandes. Tá toda feliz por que ganhou e vai ter que devolver tudo, por que depois o cara faz DNA e descobre que não é dele. A mais velha dela estudou comigo. São p**a pra mais de metro.
– E será que tem que devolver mesmo?
– Não sei, mas acho que sim né? Pagar coisa pra uma criança que nem é tua já é o cúmulo.
Helen não disse uma palavra, mas ouviu cada palavra dita pela mulher. E mais planos lhe vieram à cabeça.
Seguiram para o balanço, e Paloma elogiou a habilidade de Helen com números. Pobre coitada, imagine se ela soubesse o furacão que estava vindo por aí.
Enquanto fazia os cálculos e conferia o estoque junto da patroa, Helen decidiu tomar uma atitude. Ouvir a história da pensão que a cliente tinha contado lhe motivou, e não viu mais por que esperar.
No outro dia antes de ir trabalhar almoçou com Karina numa pizzaria próxima. O teor da conversa, claro, foi a idéia que ele Helen teve.
– Quando chegar no escritório vou dar uma olhada nisso. Nunca tinha ouvido falar nesse troço. Como é o nome mesmo? – Falou Karina.
– Alimentos gravídicos. Eu também nunca tinha ouvido falar, mas a mulher chegou lá toda feliz dizendo que tinha ganhado. E eu vi no Google que é isso aí mesmo. – Respondeu Helen.