Colégio Católico Padre Andersen, Terra
Amarwen saiu em uma floresta desconhecida. Assim que seus pés tocaram as folhas secas, ele sentiu algo no ar que tentava comprimi-lo, como se milhares de mãos ao mesmo tempo apertassem sua pele simultaneamente. Ele tinha a impressão de que o feitiço servia para imobilizar qualquer intruso daquele lugar. Respirou fundo, procurando manter a calma – não era seu primeiro contato com magia.
Antes de jurar lealdade a Kifo, Amarwen trabalhou desde o início da Guerra Celestial com Abigail, em Paris. Entretanto, não o fazia por que ela era poderosa ou tinha potencial ou muito menos por que havia jurado lealdade durante a Primeira Guerra – de fato, naquela época, ele fora selado antes mesmo dos Shi, Tod e Kifo –, mas por causa de uma entidade que ele havia conhecido no Dia de Liberdade.
Quando Aquele que Está Entre o Bem e o m*l os libertou de seu sono de milhares de anos, Amarwen foi um dos primeiros a disparar contra o céu. Mesmo sendo nada além de uma bola de fogo abismal, ele sentia alegria por ter uma segunda chance para m***r os anjos. Ele voou e encontrou abrigo na alma uma-vez-chamada-Luke-Lucas, exatamente aquele quem estava possuindo no momento. Amarwen foi capaz de observar as memórias da alma, e descobriu sobre a existência de outro mundo.
Todavia, sua alegria não durou muito tempo. A entidade conhecida como Supremo encontrou-o logo que havia dominado sua forma humana. Antes que o Filho pudesse resistir ou lutar contra, a mão do Supremo estava sobre sua testa. Palavras desconhecidas saíram de sua boca e, quando Amarwen se deu conta, ele havia sido expulso da alma; Luke estava livre.
Amarwen fugiu, correu e se escondeu por um tempo ele não tinha certeza. Abigail resgatou-o, trazendo uma alma que ele podia possuir. Desde então, ele vêm trabalhando para Abigail; sua única missão – que se alinhava perfeitamente com sua própria vingança – era encontrar o Supremo e capturá-lo. Porém, tudo mudou quando um g***o de batedores, milagrosamente, conseguiu capturar Leonard Ross, a alma mais caçada de todo o Paraíso.
Caminhou entre todos os Filhos que tentavam ver o recente prisioneiro. A Praça do Trocadero, em frente a Torre Eiffel, estava amarrotada dos seres abismais. Ao atingir a frente, ele viu Leonard machucado e sangrando – o que era estranho, pois as almas não tinham sangue e, portanto, não podiam coagular; aquela era realmente diferente das outras. Abigail sinalizou para que eu me aproximasse; ordenou que eu acompanhasse os guardas para prendê-lo no topo da torre.
A princípio, jogamo-lo com outras almas que estavam presas no primeiro andar. Havia ali algumas centenas, todos com o semblante cansado. Amarwen foi pego de surpresa quando uma alma correu em sua direção; não tinha ideia de como ele havia escapado das amarras. Ele se colocou no caminho; assim que as mãos dele tocaram seus ombros, o Filho apagou.
Quando despertou, ele não estava na torre; de fato, não estava em qualquer lugar conhecido. O teto era de madeira e a cama macia. Sentou-se e olhou em volta; havia mais alguém no quarto. Amarrado em uma cadeira, a alma que ele possuía desde o dia em que Abigail ofereceu-o. Amarwen cairia para trás; havia uma penteadeira em um dos cantos, na qual havia um espelho. O rosto que viu era o mesmo da alma que havia corrido em sua direção na torre.
Por causa do que o Supremo havia feito, Amarwen havia conseguido a habilidade de trocar de alma apenas com um toque. Ou pelo menos, era o que ele deduziu, afinal, os outros Filhos não tinha essa facilidade e a única diferença entre Amarwen e os outros Filhos fora seu encontro com o Supremo. Ao mesmo tempo, ele tinha que testar sua teoria. Fitou sua antiga alma.
Desamarrou uma de suas mãos tomando cuidado para não tocar diretamente em sua pele. Uma vez livre, tocou-o. Ao despertar, estava sentado na cadeira com três de seus membros amarrados; satisfeito com sua nova habilidade, voltou para o corpo do prisioneiro.
Os dias seguintes foram de treinamento. Ele contou quanto tempo levava para despertar em um novo corpo e diminuir esse tempo; gravou-se no processo para descobrir como acontecia: uma fumaça n***a e laranja, brilhante em alguns pontos, como se queimasse, saia dos olhos da alma atual e possuía outra alma. Contudo, seus avanços foram interrompidos por uma mensagem na memória coletiva: o Supremo havia sido visto na América. Foi para onde Amarwen foi em seguida.
– O feitiço foi feito para impedir que qualquer magia desconhecida entre em minha escola. – A voz feminina tirou Amarwen de seu devaneio ao passado; algo assim nunca havia acontecido, parecia até que tinha se esquecido do presente. Talvez ir até aquele novo mundo o tinha afetado, o Filho apenas não podia prever como. – Mas nunca vi uma magia como a sua. – Seus olhos se encontraram por um momento. – Esse rosto não pertence a você. E esses olhos... O que é você?
– Um Filho do Abismo. – Ao ver que a mulher não havia entendido, acrescentou: – Sua limitada mente humana jamais compreenderia o que sou.
– Seja lá o que você seja, a magia em você não permitirá que entre na escola sem minha permissão. O que quer?
– Primeiro, eu não tenho magia em mim. Eu sou um ser feito puramente do Abismo! Algo tão rebaixado quanto magia nunca estaria em mim. – Todavia, ele pensava no Supremo e em sua peculiar habilidade. Ele não viu outra maneira de escapar e cumprir sua missão, por isso, acrescentou: – Estou procurando alguém. O Libertador. Aquele que Está Entre o Bem e o m*l.
– Sephiroth. – Escapou da boca da mulher em um sussurro.
– Você o conhece.
– Não exatamente. Ouvi histórias, rumores. – Ela fitava o vazio, lendo seus próprios pensamentos. – Seja lá o que você queira com ele, n******e ser bom. Deixe minha escola, e não ouse voltar.
De repente, o aperto parou. O feitiço estava desfeito. Uma bola de lava surgiu em sua mão em segundos, formada do Abismo. Lançou-a contra a mulher, mas nunca chegou a atingi-la. Uma espécie de vórtex muito parecida com o feitiço que Miguel havia feito para fugir depois que os Filhos venceram a Batalha de Roma; seu ataque foi absorvido e desapareceu.
Ele precisava forçá-la a contar o que sabia, pois ela escondia algo. Como um golpe do destino, ele ouviu vozes na floresta. Dois humanos surgiram na floreta, um menino e uma menina – alunos como as memórias de Luke os chamou – vinham caminhando rindo. Amarwen correu na direção deles, muito mais rápido do que um humano, o que pegou a mulher de surpresa. No momento exato em que seus dedos enrolaram-se nos pescoços dos alunos, ele sentiu os apertos novamente. Ele sentia que, se se esforçasse, poderia matá-los com um movimento de pulso.
– Você ama essa escola. Também deve amar os que nela estudam, não? Me ajude e eu não matarei nenhum deles. – Lágrimas escorriam de ambas as suas vítimas, que tentavam desesperadamente se libertar.
– Meu feitiço irá te impedir. – Ela retrucou, mas ele conseguiu apertar mais; os jovens gritaram de dor. – Tudo bem! Eu não sei onde Sephiroth está ou como encontrá-lo. Ele é uma lenda. Nenhuma magia que eu possa conjurar irá localizá-lo, mas sei onde ele esteve alguns meses atrás. É a única pista que tenho. Faz três anos que eu fico de olho em uma mulher para garantir que ela não irá causar mais problemas. Sephiroth visitou-a em um bordel na Espanha, apesar de ela não estar mais lá. Atualmente ela vai pelo nome de Jhanvi Bhatia, mas você vai chamar a atenção dela se usar seu verdadeiro nome: Nepherety.
– Me leve até ela. – Amarwen não soltou os dois alunos; seu tom de ameaça era claro.
– Posso fazer isso, mas você tem que largar meus alunos.
A mulher desviou o olhar por um segundo, como se tivesse visto algo na floresta. Ela estava esperando por algo, ou melhor, alguém. Num movimento de pulso, ele quebrou o pescoço do rapaz; continuou segurando o corpo do aluno, exibindo-o para a mulher. Ela estava visivelmente abalada, como se Amarwen tivesse matado seu próprio filho.
Um soco atingiu seu rosto. O Filho do Abismo não viu o que o atingiu; e quando bateu contra uma árvore, ele ficou desnorteado por alguns segundos. Ao levantar os olhos, viu a aluna correr pelo caminho que tinha vindo e a mulher levando o corpo do rapaz que ele tinha acabado de mandar para o Paraíso – ou Inferno, dependendo do próprio garoto. E por fim, a pessoa que o tinha atacado: um humano de cabelos brancos e pele preta fosca.
A memória da alma-uma-vez-Luke não tinha qualquer coisa parecida em suas memórias.
– Meu nome é Phillip Jones. Identifique-se. – Ele disse com raiva em seus olhos.
Amarwen simplesmente não conseguia compreender os sentimentos humanos. Aquele era um totalmente desconhecido que, supostamente, não tinha qualquer conexão com o aluno que o Filho havia matado, mas ali estava aquele olhar irado, o mesmo que a mulher tinha alguns segundos antes.
– Sou o Filho do Abismo, Amarwen in’he Luke Lucas.
– Você pagará pela vida que tirou.
Phillip saltou contra o Filho, com o punho fechado em um soco. Amarwen, que já estava de pé, saltou por cima dele. Entretanto, algum tipo de magia agarrou o calcanhar do Filho, que foi jogado com força contra o chão; uma dor diferente de tudo que ele já havia sentido correu por seu corpo. Era algo forte e profundo em sua caixa torácica. Nas memórias de Luke, procurou por uma explicação, chegando à conclusão de que ele tinha machucado as costelas; mas não quebrado. Não tinha batido com tanta força assim.
Levantou-se e imediatamente passou a desviar de diversos ataques de Phillip, que havia tirado uma espada de algum lugar. Felizmente, seu cérebro continuou trabalhando, buscando uma saída. Lembrou-se da reação da mulher, que não sabia o que ele era – mesmo tendo olhos característicos de sua espécie. Os humanos não conheciam os Filhos do Abismo, e essa era sua principal vantagem. Talvez pudesse pegar seu adversário de surpresa.
Num salto mais longo, ele conseguiu posicionar-se longe da lâmina. Virou-se e correu na direção de Phillip, que, pego de surpresa, teve tempo apenas de levantar a espada e deixar que transpassasse Amarwen. Seu sangue alaranjado fluiu pelo corte; o Filho molhou no líquido e, em seguida, agarrou Phillip pelo pescoço. O humano urrou de dor enquanto o sangue – quase tão quente quando o próprio Abismo – queimou-o.
Sua pele aos poucos perdeu o tom preto e voltou a ser um branco quase pálido. Seus olhos se fecharam e o corpo ficou mais pesado. Estava vivo, sem dúvida; Amarwen só não tinha certeza se a mulher trocaria a vida desse homem por uma passagem para o lugar onde Jhanvi Bhatia estava.
Quase como se tivesse lido os pensamentos do Filho, a mulher surgiu em seguida, correndo na direção dele com suas manoplas calçadas; ela esperava entrar em uma luta. Amarwen não daria esse gosto para ela, ainda mais depois de ter vencido o outro com tanta facilidade.
– Uma troca simples. – Gritou, o que a forçou a parar.
– A vida de Phillip Jones por uma passagem para o lugar onde está Jhanvi Bhatia está. – Ela acrescentou, percebendo a vitória de Amarwen; e o Filho nem tinha suado. Phillip era um dos Artistas mais poderosos dos sete mundos, mas havia sido derrotado por aquele estranho forasteiro, mesmo que este estivesse com o peito transpassado pela espada.
Ela levantou uma das mãos e, enquanto o fazia, as manoplas desapareceram em fumaças roxas, que as circundaram por um instante antes de desaparecer. Palavras completamente estranhas aos ouvidos do Filho saíram de sua boca; ele imaginou serem palavras de magia. Ao lado de Amarwen surgiu um círculo que projetava uma imagem; não era de uma floresta, mas sim de uma rua densa, repleta de pessoas passando de um lado para outro.
– Este lugar é Delhi, na Índia. É nesta cidade que você irá encontrá-la. E este é o mais perto que posso te mandar. – A mulher explicou, ainda um tanto perplexa e amedrontada. – Pergunte a qualquer homem que ele saberá te apontar o caminho da mulher que busca.
Amarwen não hesitou, apenas deixou Phillip bater secamente no chão e cruzou o portal. A última coisa que passou por sua mente foi a reação que os humanos teriam ao ver seus horríveis olhos laranja. Mancou pelo mercado com os olhos de dezenas de pessoa sobre ele. Podia sentir seu sangue escorrendo e a dor do corte, mas não se importava; em questão de minutos estaria como novo outra vez.
As pessoas abriram passagem para ele, enquanto ele não tirava os olhos de cima de um vendedor paralisado atrás de uma barraca. Agarrou-a por baixo e, com um movimento bruto, tirou-a de seu caminho, lançando todos os objetos – em sua maioria, réplicas de artefatos indianos – no chão. Ele agarrou o homem pelo pescoço; um resto de sangue queimou-o, mas não era o bastante para além de uma insolação.
Perguntou pela mulher, Jhanvi Bhatia. As memórias de Luke eram claras quanto às barreiras de língua que existiam naquele mundo, diferente do Paraíso. Por isso, o que Amarwen repetiu o nome algumas vezes, até que ele apontou algo no final da rua: um prédio sujo, antigo e com a arquitetura que ressaltava todos os anos que havia se passado desde sua construção; o Filho não tinha como ter certeza, afinal, não tinha visto o lugar equivalente no Paraíso, mas imaginou que por lá, aquele prédio seria novinho em folha.
Largou o homem com brutalidade no chão. Pelo grito do indiano, seu braço havia quebrado quando ele tentou se proteger da queda. Ele não poderia se importar menos. As pessoas abriram caminho para ele, enquanto ele trocava passos agora mais firmes na direção apontada; seu ferimento já não sangrava e, além, estava quase fechado por completo.
Fingiu não notar as crianças, tão sujas quanto a rua, correrem à frente dele para o prédio. Ele deduziu corretamente que eles estavam indo avisar a mulher sobre a estranha visita do homem de olhos laranja. Não se importou.
A mulher surgiu a porta enrolada em uma fronha que, surpreendentemente, estava limpa. Os s***s fartos de Jhanvi estavam a mostra, não que isso fosse fazer qualquer diferença para ele – diferente dos humanos, os Filhos não tinham qualquer impulso s****l; apenas a sensação da lâmina atravessando a carne de seus inimigos trazia prazer a eles.
– Nepherety in’he Jhanvi Bhatia. – Ele disse. – Foi-me dito que você pode me levar Àquele-que-está-entre-o-Bem-e-o-m*l. Aquele que chamam de Sephiroth.
– Seja lá quem te deu essa ideia ridícula, Filho do Abismo, não poderia estar mais enganado. – Pego de surpresa pela mulher que conhecia sua espécie, ele falhou em expressar-se. – Entre. Vamos conversar.
Ele o fez, mas por que era a sua v*****e. Ela apontou para uma cadeira em uma sala, onde um homem de pele morena e nu estava. Ao ver os olhos do Filho, ele levantou-se num pulo, pegou algumas peças de roupa que estavam no chão e, assustado, deixou-os sozinho.
– Sephiroth aparece de vez em quando, mas nunca sei para onde vai ou o que está fazendo. – Nepherety informou, enquanto vestia o que Luke chamava de s***ã. – Mas sei como você pode chamar a atenção dele. Em troca, porém, quero um favor. – Ela acrescentou, antes que Amarwen pudesse exigir a informação dela.
– Que seria? – Seu belo rosto estava distorcido em um sorriso perverso.
– Você vai me trazer Magia.