Jamerson
— Eu quero um café e uma carteira de cigarro! — Pedi arrogante, vendo que ela ficou surpresa ao me ver ali.
— Com açúcar ou adoçante? E o cigarro é vermelho ou azul?
— Vermelho e o café sem açúcar, minha vida já anda doce demais. — Ela me despachou e voltou ao atendimento.
Os caras que estavam ali reparavam em cada detalhe seu, embora ela não seja lá essas coisas de gostosa, é bonita e tem homem que pega até camarão quem dirá a Freya. Ela não era muito de conversar e deve tá querendo passar boa impressão ao seu Carlos, um homem que é conhecido por recepcionar bem os seus clientes, inclusive, eu sou um deles.
Esperei ela ficar livre, isso demorou um quase meia hora, mas eu queria trocar uma ideia com ela que não podia adiar.
— Ísis me disse o que tá pegando com você e a sua mãe. Ela tá te cercando? — Perguntei na lata, sem rodeios, não fazia meu tipo ficar de indiretas.
— Ísis não deveria ter falado sobre isso, é problema meu e somente meu. — Ela jogou o pano em seu ombro, colocou a mão na cintura e me olhou séria. — O que você tá querendo? Eu já dispensei sua ajuda uma vez, não será dessa vez que eu vou mudar de ideia e vou repetir, esquece que eu existo.
— Pô, Freya, não faz assim. — Segurei sua mão e ela puxou com força, me olhando com ódio e repudia. — Você gostou quando eu enfiei a mão debaixo do seu vestido aquela noite, ou vai negar?
— Você quer o que pra me deixar em paz? Acabei de arrumar esse emprego e já quer que eu seja despejada? Se manca, Jamerson. Aquele dia eu estava bêbada e você também, nem lembro direito o que fiz, mas fico aliviada por não ter dado pra você. Agora com licença, eu preciso voltar ao trabalho.
Freya
Achava que trabalharia somente eu e o seu Carlos, mas me enganei. Uma moça havia acabado de chegar quando eu dei às costas a Jamerson e pasmem, ambos se conhecem e até trocaram algumas palavras, que eu daria tudo para ouvir sobre o que era. Ela estava com um cropped preto, tem um piercing no umbigo e seu short quase sentando no útero, anda fazendo um S e parece que vai se partir ao meio a qualquer momento. Seus cabelos vermelhos, parecendo que foram tingidos com papel crepom, foi o que chamou mesmo atenção, não por ser bonito, mas por ser chamativo…
A conversa dos dois durou até mais que o esperado, seu Carlos chamou sua atenção e só então ela foi se trocar.
Não era diferente do que ele havia dito, os homens parecem que nunca viram uma mulher e estão ao ponto de me comecem com olhos, situação intimidadora e constrangedora, que me deixa completamente sem ação alguma e me sentindo um peixe fora d’água.
— Aí ruivinha, se quiser ganhar um extra, minha cama pode te acolher e eu também. — Um certinho disse, enquanto os outros riram e eu me senti indefesa e com o choro na garganta me sufocando, até que Jamerson passou em minha frente e me olhou firme.
— A ruiva é minha mina. — Ele me puxou pela cintura e me beijou no pescoço. Sem dúvidas, os homens sabiam da sua índole e pela primeira vez eu agradeci a ele por isso. Mesmo que, mentalmente. — E tá ligado, mexer com o que é meu é pedir pra conhecer o Inferno.
Sorri sem graça, colocando uma mecha de cabelo atrás da orelha. Percebi que a garota que estava vestida com o uniforme da mercearia me olhou torto, com cara de poucos amigos e com os braços cruzando, mascando um chiclete com a boca aberta e fazendo um barulho horrível, eu detesto isso!
Puxei Jamerson para o canto e não tinha palavras para lhe agradecer pelo que ele fez.
— Eu vou te agradecer por isso, mas não pode vir onde eu trabalho. Qual é, cara, eu comecei a trabalhar hoje, preciso desse emprego. — Disse já desanimada, imaginando que o pior poderia acontecer se houvesse violência.
— Relaxa, gata. Seu Carlos é meu parceiro, eu sou cliente antigo daqui e agora você também não vai ficar sendo assediada por aí. Pelo menos até fingir que é minha namorada, mas só pode fazer isso aqui.
— Eu agradeço, mas não vou fingir que sou nada sua. Se for preciso eu peço demissão e procurar outro emprego, por mais difícil que seja.
— Deixa de ser orgulhosa, isso não vai te levar a lugar nenhum. Ninguém vai saber disso, eu te pego aqui quando estiver de saída, te deixo em casa e vou embora, até Ísis voltar pra cá. — Eu tinha mesmo que arranjar outra coisa, além da minha mãe, Jamerson estava se tornando um problema em minha vida. — Que horas você sai? — Ele acendeu um cigarro e jogou fumaça para o alto, enquanto a garota nos olhava com desdém e deboche.
— Às duas, mas vou ficar até às quatro, seu Carlos disse que vai me ensaiar algumas coisas hoje. Ainda vai ser dia, então não precisa se preocupar, ninguém vai me roubar, eu acho…
— A noite eu vou te pegar lá no barraco, minha mãe tá fazendo aniversário e a galera tá planejando fazer alguma coisa hoje. Pode ser? — Como eu não lembrava? Ísis havia me dito sobre, mas eu também não tenho dinheiro para comprar nada, é humilhante!
— Eu acho que vou estar doente hoje a noite, diz a sua mãe que amanhã eu vou lá. — Respondi voltando ao trabalho, passando o pano na mesa e derrubando as migalhas de pão no chão.
— Para de caô, vai ser sossegado, só a família. Eu te pego a noite, não vai dá pra trás comigo ou eu te acho até no inferno. — Como pode alguém tão incomum ser tão atraente e… p***a, Freya, coloca na cabeça o que a Ísis te disse, isso não é homem para você. — Te pego a noite. — Ele sussurrou em meu ouvido, beijou minha boca e foi embora.
A garota continuava me olhando, até que seu Carlos nos apresentou e ela não era desconhecida, eu já tinha a visto algumas vezes pelo bairro, só não imaginei que ela seria minha colega de trabalho.
— Não sabia que o Boca tinha namorada, acho que ninguém sabia… — Ela me olhou de cima a baixo, colocamos um pedaço de pão na boca e esperando uma resposta.
— Até onde eu sei ele não tem, por quê? Quer se candidatar a vaga? Eu posso te ajudar com isso. — Estava sem paciência para encheção de saco, queria apenas trabalhar sossegada e rezar para que as horas se passassem logo…