Capítulo 9 — Finalmente empregada

1253 Words
Duas semanas depois… Freya Estava me arrumando para começar no meu primeiro dia no trabalho novo, consegui uma vaga de atendente em uma mercearia (que vende de tudo) aqui perto, por enquanto foi o melhor que consegui e assim, minha mãe não vai nem sonhar que eu tô trabalhando aqui. Ísis estava passando uns dias com sua mãe que torceu o pé fazendo faxina, eu não fui visitar ela ainda por um motivo: Jamerson. Não quero dar de cara com ele depois das coisas que fiz ou disse, eu estava bêbada e não era coisas que deveriam acontecer. Peguei minha bolsa, coloquei o avental dentro e fui… O lugar era pequeno, mas bem movimentado e eu vou poder ganhar gorjetas e fazer horas extras aqui, já que estavam precisando urgente de uma pessoa que se encaixasse na vaga. — Bom dia seu Carlos. Eu disse que não era de me atrasar. — Percebi que cheguei cedo demais, nem eram seis horas ainda. Ele pareceu contente por me ver ali mais cedo do que esperava. — Parece que você foi enviada por Deus. Estou mesmo precisando de ajuda para abrir essa porta que trava na hora de subir e eu que já estou velho, não tenho forças o suficiente. — Mas que merda, no primeiro dia e ele já acha que eu sou uma enviada? Só quero garantir meu emprego, nada mais que isso. E como uma assalariada faz de tudo para não passar fome, vamos lá… A porta estava mesmo emperrada, mas com um pouquinho de força ela abriu, subiu de vez e fez um barulho enorme quando encostaram no ferro de cima. — O senhor quer que faça alguma coisa por agora? — Perguntei vendo que tudo estava desorganizado e uma bagunça. Esse chão deve ter uns dias sem ver uma vassoura. — Eu ficarei muito grato se me ajudasse antes de abrir, as pessoas não gostam de trabalhar aqui, não passam muito tempo. A ousadia dos clientes as assustam, já pensei até mesmo em fechar isso aqui, mas não tenho outro meio de viver. — Era tenso, mas eu já me candidatei a vaga sabendo como era o esquema. — Relaxe que comigo o negócio é mais direito. Eu sei como assustar homem, seu Carlos, fique tranquilo. — Assim que fechei a boca repensei no que disse, eu não faço ideia de como assustar um homem, mas eu vou descobrir logo logo… — Vá tomar café, parece que saiu apressada demais de casa. — Realmente, minha barriga está ficando de fome e me fez passar a maior vergonha. — A cozinha fica ao lado do balcão no andar de cima, faça um café e coma alguma coisa, daqui a pouco vamos ter muito trabalho por aqui. A cozinha não era lá essas coisas de chique, mas nada m*l para quem não tinha nada. O pão sovado era o que eu menos gostava, mas que poder tinha eu de escolher? Enquanto a água do café não esquentava, caminhei até a janela e fixei meu olhar nas pessoas que já se movimentavam para um lado e outro, em direção aos seus trabalhos. Jamerson As contas não estão batendo com os malotes, deveria ter entrado mais dinheiro que o mês passado e não é isso que está acontecendo, tem alguém me passando a perna bem nas minhas costas e eu vou descobrir quem é! Ah se vou. — Vai dormir irmão, a noite foi longa e hoje o dia também vai ser. — Sete me ajudava em tudo, mas já não era hora de dormir, já é manhã e eu preciso resolver umas paradas que não posso deixar pra depois. — Não vai rolar. Agora eu tenho certeza que tão me roubando, Sete. Não vou dar essa moral de sossegar agora, preciso achar quem tá metido nisso. — Por mais que eu já desconfiasse de um vapor, não posso chegar nele com uma arma apontada em sua cabeça, até posso, mas isso seria uma p**a s*******m da minha parte. — Teve treta na rua de cima ontem a noite, já sabe o que rolou? — Eu não queria me meter nisso, mas na minha quebrada homem não encosta a mão em mulher, seja a mais vagabunda que for. — É… eu tô ligado no que rolou. Vai subir comigo lá? — Coloquei o fuzil na bandoleira e estava começando meu dia. — Eu vou levar a Ísis no trabalho e depois vou nas casinhas, ontem passei lá e tinha um monte de noiado moiando a quebrada. — Concordei a contragosto, a gente deu nosso aperto de mão e ele foi pegar a Ísis pra levar no trabalho. Na dúvida da ladeira já ouvi os gritos de desespero da mulher do Sequela, um inquilino que só vivia me dando trabalho na quebrada. — Que p0rra tá pegando aqui? A gente já te levou pras ideias uma vez e nem assim você aprendeu? — Cuspi no chão e vi sua cara de medo e pavor quando me viu, mesmo errado ele tentou se explicar. — Essa vagabunda me traiu, Boca. Vai dizer que a lei da favela passa a mão na cabeça de quem bota gaia agora? A caminhada não era uma só? — Exclamou sua indignação, mas todo mundo já sabia que ela não o queria mais e mesmo assim ele se metia dentro da sua casa. — Além de ser cuzão, tu é covarde. Geral sabe que tu enche o saco aqui, que a patroa não te quer mais dentro de casa e mesmo assim tu se mete? Sabe que em mulher aqui não se bate. — Olhei pra Virgínia e ela estava com um olho roxo, a boca estourada e suplicando por misericórdia através do seu olhar, eu conheço bem esse olhar de repudia, minha mãe já viveu isso nas mãos do cara que um dia foi meu pai. Sem paciência, apontei o fuzil na sua cara e disse as últimas palavras, antes que ele escolhesse o seu caminho. — Ou tu some da minha frente agora ou eu vou estourar teus miolos aqui mesmo. E aí? — Perguntei e ele sorriu, duvidando da minha capacidade de fazer tamanha atrocidade. — Qual é, Boca? A gente sempre foi parceiro, vai mesmo me matar por causa de uma mulher que não vale nada? — Seu sorriso se desfez quando ele percebeu que eu não estava brincando. — A ideia é uma só! — Respondi e deu uma coronhada em sua nuca, fazendo seu corpo cair feito merda no sol frio da manhã. — Tira isso daqui e joga bem longe. Se ele aparecer por aqui de novo, é melhor avisar antes que ele te mate. — O Menor saiu arrastando o corpo do Sequela até a moto, jogou o corpo desacordado em cima e saiu sacolejando ladeira abaixo. Precisava me recuperar da noite passada e precisava de um café bem forte, juntei o útil ao agradável e decidi que queria ver Freya, a minha sumiu sem dizer nada e nem mesmo foi ver minha mãe. Entrei no carro e no caminho até onde ela ainda estava morando, vi que a mercearia do seu Carlos estava aberta e para minha surpresa, não era ninguém menos que Freya que estava atendendo. Vários homens estavam sentados, esperando ela servir o café e o pão que comiam todos os dias, não sei o motivo, mas aquela cena né despertou um certo tipo de raiva e sem pensar duas vezes eu desci do carro e fui direto pra lá.
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