Freya
Minha cabeça está girando, estou me sentindo cansada e tonta, já estava ficando bêbada e queria deitar. Estou cansada, com o corpo dolorido e precisando de um banho e dormir. Ísis não voltou, já se passou mais de meia hora e nada dela aparecer, não quero pedir que Jamerson me leve, se ao menos eu conseguisse descer até lá embaixo pra pegar um mototáxi seria ótimo.
— Você parece que já tá bem chapada. — Bernardo se encostou ao meu lado e me deu uma garrafinha d’água.
— Eu tô bêbada, eu acho! Tô bem cansada também, daria tudo por uma cama agora.
— Dar tudo é muita coisa, qualquer um poderia te oferecer uma cama em troca de alguma coisa. — Estou mais sem graça do que já fiquei em toda minha vida.
Iria responder, mas Ísis chegou na hora e olhou pra ele de uma forma que parecia que iria me arrancar daqui a força.
— E aí, Ben. Já tá de papinho pra cima dela? Não se engana, ela não é pra tu, se manda. — Como eu disse, ela me tirou a força, segurando minha mão e autoritária.
— Que droga! A gente só tava conversando, nada demais. Além disso, eu já sou adulta, esqueceu?
— Você tá parecendo uma bêbada idi0ta, sabia? Agora vem pra cá, fica bem pertinho de mim, não te quero com essa gente. — Ambos se entreolharam de uma forma estranha, mas não disse nada, apenas segui Ísis até a mesa onde estavam Sete e sua mãe. — O babaca do Bernardo já tava querendo se chegar, idi0ta!
A conversa fluiu entre nós que estávamos na mesa, a noite seguiu com a ausência de Jamerson, não o vi mais até o momento em que tudo acabou.
— Me ajuda a arrumar as mesas? Tá com cara de que vai chover e muito. — Estávamos bêbadas, mas não seria capaz de deixá-la arrumar tudo sozinha.
— Olha, fazia um tempão que eu não aproveitava tanto assim. Achei que nunca mais iria viver isso de novo. — Comentei e sorrimos.
Começou a chover e meus pensamentos foram direcionados para um romance que nunca existiu entre mim e o cara que me beija desprevenida ultimamente. Eu sei que não deveria, mas me sinto atraída por ele, quando ele me toca e principalmente, quando ele me olha parecendo que vai me encostar na parede e fazer coisas obscenas ali, aquilo me deixa louca. Acho que devo saber com quem estou me metendo, não é mesmo? Afinal de contas, é irmão da minha melhor amiga, como se fosse minha irmã.
— Ísis, eu acho que estou apaixonada. — No calor da bebida, disso sem pensar nas consequências, imaginando que ela entraria na brincadeira comigo, mas foi completamente o contrário.
— Freya, senta aqui. — Debaixo da chuva sentamos na laje, no cimento que estava se formando uma poça. — Não pode gostar do Jamerson, ele não é esse cara bonitinho e romântico que demonstra ser quando quer. Ele não era assim, na verdade, ele nunca quis ser assim.
— Assim como? E eu não tô apaixonada, estava te sacaneando, só isso.
— Ele não é esse cara bom, ele não é gentil e mesmo sendo meu irmão, ele não é um cara pra você. Você merece ser feliz e eu sei que um romance entre vocês dois não vai ser boa coisa. — Me olhando sério ela perguntou: — Se eu te vi até uma coisa você jura nunca dizer a ninguém? Preciso saber que você esteja ciente no que tá se metendo, ok?
— Ok… — Prestei bem atenção no que ela iria dizer e por um momento prendi até a respiração.
— Jamerson não era nada disso que ele é hoje. Quando ele terminou o ensino médio, ele descobriu que a sua namorada também estava grávida e o irmão dela era o antigo dono daqui, ele quem mandava e desmandava em tudo aqui, até que os dois se desentenderam quando o irmão dela descobriu. Daí já sabe, né? Rolou umas ameaças, mas passou algum tempo de boa, depois eles dois voltaram a se desentender novamente e como eles não se gostavam, Jamerson com a ajuda do Sete, deu um fim no cara e assumiu o morro. Fazem quase 10 anos que isso aconteceu…
— Tá, mas… e a namorada do seu irmão, o que aconteceu com ela? — Curiosa eu estava, também não era pra menos.
— O filho não era dele, a criança nasceu a cara do pai verdadeiro e Jamerson resolveu deixar pra lá, depois que minha mãe muito pediu. Eka meteu o pé assim que viu o irmão caído no chão, a desculpa foi que não aguentava aquilo, mas depois acabou falando a verdade.
— Mas se eles se amavam não tinha porquê ela trair ele, sei lá, certas vezes não consigo entender as pessoas. — Ísis parecia compadecida com a minha tristeza, mas permaneceu calada. — Acha que ele nunca esqueceu ela?
— Se tivesse esquecido, já estaria em outra a muito tempo. Por isso estou te dizendo isso, não se deixa levar pelas conversas dele não, ele pode até ser bonitinho, mas não vale nada.
Ísis
Freya era como se fosse uma irmã pra mim e, eu não quero que nossa amizade acabei por causa do Boca. Acabamos de arrumar as mesas, debaixo da chuva quando Sete chegou com o Boca. Ambos estavam segurando uma sombrinha, com roupas de frio e fumando cigarro.
— A coroa mandou vim banhar vocês. — Sete falou em alto tom, como se a gente estivesse surda.
— A gente não tá surda. Já que vocês vieram, terminem o restante, a gente tá morrendo de frio. — Realmente, Freya estava com o queixo batendo e eu com as mãos trêmulas.
— Depois a gente vê isso aqui, vamos pra casa. — Boca colocou o casaco dele nos ombros de Freya e pouco ela para perto do seu corpo. Sete me deu seu casaco e me abraçou também. — Vocês beberam demais hoje, deveriam ter pegado leve hoje.
Eu posso estar bêbada, mas não estou doida e sinto as coisas estranhas. Parece que tudo está bem demais para ser verdade. Eu nunca vi meu irmão tão carinhoso assim com alguém, oferecendo ajuda e agindo como se fosse dono, que p0rra é essa?