Capítulo 5

1943 Words
Ana Duccan Gasto uns dez minutos para fazer o trajeto do restaurante até a casa de Elon, é muito rapidinho e com esses saltos confortáveis, meus pés nem estão doendo. Quando chego na portaria, o porteiro diz que minha entrada já está liberada, Elon deixou avisado que posso entrar a qualquer momento, ele é um fofo. Como Elon me enviou uma mensagem falando a senha de segurança para entrar no apartamento, entro sem dificuldades e percebo que ele ainda não está em casa, abro a geladeira e me espanto ao ver que está bem abastecida — aqui tem comida para alimentar um batalhão —, decido fazer uma panqueca, acho que ele vai gostar. Ao terminar, deixo a panqueca no forno e subo para tomar um banho, entro no quarto e não encontro as roupas que pedi para entregar aqui, Elon disse que eu não precisava me preocupar pois eles entregariam tudo aqui, deve chegar amanhã. Dou uma olhada na roupa que estou usando, não está suja, vou ter que usá-la amanhã, não tenho outra roupa desse tipo para usar, as minhas ainda não chegaram e o uniforme vou pegar amanhã. Procuro minha roupa que deixei ontem aqui e não a encontro, olho no banheiro e vejo que tem mais produtos, entro no closet e todas as roupas que comprei estão arrumadas. Tomo um banho rápido e coloco uma roupa confortável, além das roupas de trabalho que comprei, Kai disse que ainda tinha dinheiro no cartão para usar, então comprei algumas outras roupas para mim. Desço as escadas e encontro Elon entrando, preciso conversar com ele e saber porque minhas roupas estão arrumadas no closet daquele quarto. — Boa noite Ana, como foi o seu dia? — pergunta educado. — Boa noite! Foi tudo bem e o seu? — Elon já sabe que fui contratada, pois tive que ligar para pedir que deixasse as roupas aqui. — Cansativo, mas tudo certo — aproxima-se e beija a minha testa — Que cheiro gostoso é esse? — Fiz uma panqueca, espero que não se importe, acabei mexendo na sua cozinha. — Ótimo, vou tomar um banho e desço para jantar. Ele sobe eu fico o encarando, o que aconteceu aqui? Até parece que isso é rotineiro, senti como se fosse um costume eu chegar em casa e esperar Elon chegar. Balanço a cabeça para reorganizar meus pensamentos. Não se iluda Ana, ele é só um homem gentil que teve compaixão de você e está te ajudando. Arrumo a mesa da varanda, apesar de que nesse apartamento tem uma enorme sala de jantar, gosto da varanda, a vista daqui é muito bonita e o barulho do mar é gostoso de se ouvir, uma calmaria. — Vinho? — pergunta ao retornar apenas com uma camisa de um tecido leve e uma bermuda, bem casual. — Vinho — confirmo com um sorriso. Ele se senta e nos serve o vinho, sirvo a panqueca para nós dois. Elon é tão bonito que chega ser inevitável não cobiçá-lo. Um rosto másculo, com a barba grande — mas bem aparada —, olhos escuros na mesma tonalidade do seus cabelos lisos, as sobrancelhas bem marcada. Sem contar no corpo, alto — arrisco 1,90 ou mais — não sei ao certo. Forte, mas um forte todo por igual, nada de braços fortes e pernas finas, muito pelo contrário, a b***a de Elon — uma coisa que já observei muito, devo confessar — é redondinha e grande. — Isso está maravilhoso — diz após comer uma boa garfada. — Que bom que você gostou. — Poderia cozinhar para mim sempre, não me importaria nem um pouco. — Abusado — brinco e ele ri. — Fale-me sobre seu novo emprego — pede todo gentil, querendo saber do meu dia. Conto para ele sobre salário e os benefícios e como fiquei maravilhada com o restaurante. Elon ouve tudo atentamente e só me interrompe quando informo sobre os horários: — Tem certeza que Kai disse que precisaria de você no período da noite? — Sim, mas ele disse que não era sempre, só quando fosse necessário. — Entendo, conversarei com ele. — Sobre? — agora sou eu quem fico confusa. — A vaga era para o período da manhã/tarde. — Não tem problema Elon, preciso do emprego e o horário não importa. Gostaria de pedir para não interferir nisso, por favor, não quero que as pessoas pensem que sou sua protegida só porque é próximo do dono do lugar. — Ninguém vai pensar isso. Respiro fundo, m*l* sabe ele que já pensam que sou a protegida do senhor Atkinson. — Elon... — Sim? — Porque minhas coisas estão arrumadas no closet? — Ah, claro, vamos conversar — limpa a boca, coloca o pano sobre o colo e me encara — Então Ana... Eu sou um cara um pouco solitário, trabalho muito e quase não fico dentro de casa, por exemplo, amanhã terei que fazer uma viagem e vou ficar alguns dias fora... — Você vai viajar? — pergunto triste. Por que você está triste, Ana? Você nem conhece ele direito — Sinto como se o conhecesse uma vida inteira. — Sim, infelizmente acabo tendo que viajar bastante por conta do meu trabalho, estamos fechando um negócio com um alemão e preciso ir para acertar todos os detalhes. — Meu pai era alemão — lembro-me das raras vezes que minha mãe falou dele. — Era? — É, não sei ao certo. — Não tem contato com seu pai? — Eu não o conheço. — Sinto muito, Ana. — Tudo bem. — Enfim... Sua casa não está em boas condições, você mora sozinha, assim como eu, agora você vai trabalhar aqui pertinho de casa, somos amigos, o que você acha de morar aqui? Engasgo com o vinho. — Morar aqui? Claro que não! — começo a tossir, feito uma desvairada. — E por que não? — Não posso aceitar morar aqui. — Diga-me ao menos um porquê. — Por muitos motivos. — Diga-me um, por favor. — Elon, a gente se conhece há poucos dias, você mora em um apartamento super luxuoso, eu não teria nem como pagar a conta de água, isso não faz sentido. — Você não me deu nenhuma justificativa plausível para não morar aqui comigo, tente novamente. — Elon... — tento argumentar. — Ana, me escute, isso vai ser tão bom para você, quanto para mim. Você vai estar mais perto do seu serviço, não vai correr perigo morando naquele lugar e nem risco de ficar doente por conta do mofo. Elon realmente despreza o lugar onde moro. — E qual a vantagem para você? — Você cozinha, não vou morrer de fome — responde rindo e eu dou um tapa no seu braço — Brincadeira. Bom Ana, eu fico mais fora de casa, tem uma moça que fica responsável pela limpeza, ela vem três vezes na semana e faz a compra, a limpeza eu poderia continuar com ela, mas a compra poderia deixar você encarregada, até porque não sei exatamente o que você gosta de comer, se você não se importasse. — Não me importo. Então eu tomaria conta da casa? — Sim. — Entendi. — E então, o que você me diz? — Seria muito louca de aceitar morar com um homem que acabei de conhecer — explico. — Dormiu aqui na noite passada — fala como se justificasse tudo — O apê vai ser mais seu, fique tranquila, Ana, quase não fico em casa, hoje cheguei cedo para poder conversar com você, mas isso não acontece com frequência, geralmente trabalho até tarde, muito tarde mesmo. — Eu aceito, mas tem uma condição. — Qual? — Me deixe pagar alguma coisa ou pelo menos fazer a compra da casa. O salário lá na rede de restaurantes da Atkinson é muito bom. — Ana, isso não é necessário. — Faço questão, Elon. — Tudo bem, se deseja dessa forma. — Só preciso buscar algumas coisas na minha casa. — Não se preocupe, amanhã eu vou pedir para alguém buscar lá, só me fale o que precisa trazer. — Rico — faço língua e ele ri. — Chata. — Quantos anos você tem, Elon? — Vinte e cinco e você? — Eu tenho dezenove e ontem você me disse que tinha trinta. — Disse? — sorri. — Sim, disse! — Devo ter me confundido. — Por que não fala sua idade? — Vai fazer diferença? Dou de ombros. — Não, mas não custa nada falar. — Me conte mais sobre você, sua mãe? — muda de assunto com tanta facilidade. — Me expulsou de casa quando tinha dezessete anos. — Por que sua mãe fez isso, Ana? — Longa história. — Estou com tempo — ajeita-se na cadeira e sorri. Retribuo o sorriso, é muito abusado mesmo esse homem. Conto tudo para ele, não tenho vergonha da minha história, tudo que passei me tornou a mulher forte que sou hoje. Quando eu tiver meus filhos eu farei tudo, mas tudo diferente do que minha mãe fez comigo. — Que droga, Ana! — levanta-se visivelmente irritado e soca a mesa com força — Esse infeliz tem que ser preso, pagar por tudo que te fez. — Tudo bem, já passou — levanto-me e passo a mão de leve por seus braços. Uma corrente elétrica atinge meu corpo e afasto minha mão da sua pele. — Não, não passou e nem nunca vai passar, você sempre vai carregar essas malditas lembranças, enquanto isso aquele desgraçado* vive solto por aí, fazendo isso com mais sabe lá quantas meninas. — Não adianta fazer nada, quem acreditaria em mim? Minha mãe mesmo disse que ninguém vai acreditar no que eu estou falando. — Eu acredito — ele segura meu rosto com as mãos — Eu acredito e isso que importa. — Obrigada — meus olhos se enchem de água — Agora vamos esquecer isso? — Elon balança a cabeça concordando. Me lembro de quando contei para o Nathan e ele nem deu importância quanto a isso, apenas me dizia para esquecer e superar meus traumas, pois dessa forma nenhum homem ia me aguentar. Olho para o Elon agora, diante do que eu contei e fico até emocionada em saber que ele realmente se importa, eu percebi, estava visível em seus olhos a dor que ele sentiu quando contei o que aconteceu. — O que acha da gente assistir um filme? — oferece e eu agradeço por isso. — Acho ótimo, mas eu escolho. — Você vai escolher romance. — E você filme de ação, aposto. — Não quero romance! — faz birra. — Chato. — Chata. Começamos a rir. — Nossa primeira DR morando juntos. — DR? o que é isso? — pergunta, visivelmente confuso. — DR, discussão de relacionamento. — Não conheço essas gírias dos jovens. — Velho. — Agora você me ofendeu sua chata. Ele me joga no sofá e começa a fazer cosquinha, eu começo a gritar e rir sem parar, tento sair do seu aperto, mas não consigo, Elon é muito forte. — Para por favor, vou fazer xixi nas calças — grito desesperada e ele para. Me levanto e o encaro, fingindo estar brava. — Seu velhote — implico. Saio correndo e ele corre atrás de mim, começamos a gargalhar. Realmente, fazia muito tempo que eu não me sentia tão bem, tão viva! Brincamos, assistimos filme, comemos chocolate e Elon reclamou que estou tirando ele da dieta, depois nos despedimos e cada um foi para o seu quarto, já está tarde e eu tenho que trabalhar e ele vai viajar cedo. Confesso que ele ainda nem foi e eu já estou sentindo sua falta.
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