Ana Duccan
Recebi meus dias trabalhados na lanchonete e paguei o meu aluguel, minha água e minha luz, agora tenho alguns dias de tranquilidade para encontrar outro emprego.
Eu mandei mensagem para o Elon, o homem que conheci naquele dia, mas já se passaram dois dias e ele ainda não me respondeu, estou sem jeito de mandar outra mensagem, fico receosa de aparentar que estou cobrando alguma coisa dele.
Estou com fome, não sobrou dinheiro para fazer compra, comprei um macarrão instantâneo na hora do almoço e agora vou dormir sem jantar, o dinheiro que tenho aqui é para almoçar amanhã, não posso me dá o luxo de gastar, preciso comer amanhã para poder correr atrás de um emprego, tenho que estar bem.
Para espantar a fome eu decido ir tomar um banho. Enquanto lavo meus cabelos penso seriamente em vender meu celular para poder comprar algumas coisas para dentro de casa, ele é velho, mas deve dar um dinheiro e com isso posso comprar comida, mas pensando por outro lado, se eu vender, não terei como saber se serei chamada para alguma entrevista.
Realmente não sei que rumo minha vida vai tomar, quando eu penso que as coisas estão melhorando, tudo piora.
Não gosto de reclamar e chorar por tudo, mas ultimamente não estou tendo outra opção, na minha vida dou um passo para frente e dez para trás, será que não sou merecedora de vencer pelo menos uma vez? Uma única vez?
Espantando esses pensamentos, escuto alguém bater na porta, logo acho estranho pois não estou esperando ninguém.
Abro a porta e me espanto ao ver Elon parado todo encharcado de chuva.
— Boa noite — sorri simpático.
— Boa noite, entra, por favor — dou passagem para ele passar.
— Desculpe aparecer aqui nesse horário, mas não consegui sair antes do serviço, tentei te ligar, mas seu telefone só estava dando fora de área.
— Ah, o lugar aqui é um pouco r**m de pegar sinal.
Reparo que ele olha em todos os cantos da casa, fico um pouco envergonhada.
— Imagino — diz se referindo a casa — Te atrapalhei?
— Não, claro que não. Vou pegar uma toalha para você.
Abro o guarda-roupas velho que tenho e entrego uma toalha para que ele se seque.
— Obrigado Ana! Você fica ótima com essa toalha na cabeça — brinca.
Só então me dei conta de que estou com uma camisa velha e uma toalha enrolada no cabelo.
— Me desculpe, não estava esperando ninguém.
— Pare de pedir desculpas, você está na sua casa.
— E o que você faz aqui? — pergunto curiosa.
— Tem um conhecido que está precisando de uma recepcionista, a princípio é temporário, mas se você tiver interesse.
— Claro! Tenho sim! — respondo animada.
— Que bom. Amanhã ele te espera por volta de onze horas nesse endereço — me entrega um papel com o endereço — Até mais então, Ana.
— Espera, você vai sair com essa chuva toda?
— Estou de carro.
— Ahn sim, então até! — abro a porta.
Claro que ele está de carro, não seja boba, Ana!
Ficamos nos olhando por um tempo até que ele se vai, fecho a porta e respiro fundo. Eu não sei porque, mas toda vez que estou na presença dele parece que estou pisando em ovos, me sinto diferente, não sei explicar.
Alguém bate na porta novamente, abro para ver quem é e Elon está parado na porta novamente, com um sorrisinho tímido.
— Já jantou? — pergunta em um fio de voz.
— Não.
— Quer jantar comigo?
Penso se devo aceitar, ele já está fazendo tanto por mim, mas por outro lado se eu não aceitar vou acabar dormindo com fome.
— Espera eu trocar de roupa?
— Com toda certeza — responde olhando para a roupa velha e rasgada que estou usando.
Começo a rir da careta que ele faz, pego uma calça e uma blusa mais quentinha e corro para o banheiro para trocar de roupa.
Volto e reparo que ele fica me encarando.
— Não está bom?
— Ahn? O que não está bom? — pergunta, parecendo confuso.
— A roupa.
— Está ótima Ana, vamos?
— Vamos.
Descemos as escadas do prédio antigo que eu moro, chegamos em frente ao carro dele e eu fico encantada, lindo demais!
Como um gentleman ele abre a porta do carro para mim, me sento e fico admirada como o carro consegue ser ainda mais lindo por dentro.
— Seu carro é lindo! — elogio.
— Obrigado.
— É um Audi?
— Sim, um Audi A8. Entende de carros?
— Não muito.
— O que você quer comer?
— Tanto faz.
Estou indo comer de graça e ainda vou escolher? Seria muito abuso.
— Teria problema se eu passasse para trocar de roupa?
— Problema nenhum, você está todo molhado.
Ele apenas concorda e continua dirigindo. Chegamos em frente a um hotel bem bonito perto da praia, ele entra na garagem e estaciona o carro.
— Vamos.
— Eu te espero aqui, não tem problema.
— Você vai ficar dentro do carro? — pergunta com um sorriso no rosto — Anda, vem, eu não mordo.
Saio do carro um pouco envergonhada e o acompanho. Entramos no elevador e subimos até o último andar. Quando entro no apartamento tenho a certeza de que Elon é um homem rico, muito rico arriscaria a dizer.
— Uau! — exclamo — Que casa linda!
— Obrigado. Entre e fique à vontade, vou subir para me trocar e já volto.
Ele sobe e eu fico olhando cada cantinho desse lugar lindo. Toda a decoração é luxuosa, tudo aqui remete a luxo, muito luxo. Vou até a porta que dá acesso a varanda, o apartamento fica exatamente de frente a praia e a vista é maravilhosa.
— Gostou?
Tomo um susto ao ouvir a voz dele atrás de mim.
— Ahn, sim...É lindo!
— Está chovendo bastante, o que você acha de pedir alguma coisa para comer?
Me viro para olhá-lo e abro a boca umas duas vezes surpresa com a beleza incrível desse homem.
Ele está com uma camisa polo vermelha e uma bermuda branca, simples e lindo, incrivelmente lindo.
— O que você acha?
Chama minha atenção ao ver que não estou prestando atenção no que ele está falando.
— Por mim tudo bem, podemos comer aqui nesta varanda?
Estou encantada com a vista daqui.
— Claro que sim. Pode sentar, vou pedir uma pizza, pode ser?
— Acho ótimo! — abro um enorme sorriso.
Tem bastante tempo que não como uma pizza, a última vez foi logo quando comecei a namorar com Nathan, mas nem quero lembrar desse energúmeno.
Me sento à mesa e fico apreciando a vista, o som da chuva traz uma sensação gostosa para esse momento.
— Já pedi, daqui a pouco está chegando.
Ele se senta e fica me encarando, começo a sentir meu rosto esquentar.
— Você mora muito tempo naquela casa?
— Sim.
— Você não acha aquele lugar um pouco perigoso?
— Um pouco, mas não tenho muita opção. Sei que a casa não é das melhores, só tem dois cômodos e que está bastante feia, tem mofo, essas coisas, mas é o que eu consigo pagar.
— Esse mofo pode trazer problemas de saúde para você.
— Não tenho opção. Tem trabalhado muito? — mudo o rumo da conversa.
— Bastante, hoje estou tendo uma folguinha agora à noite.
— Você trabalha até de noite? — pergunto chocada.
— Sim.
— Deve ser muito difícil ajudar a administrar uma empresa tão grande.
— Requer muito esforço para ter uma empresa como aquela, mas vale a pena.
— Você fala como se fosse o dono — acho graça da forma como ele fala — Se bem que o tanto que você trabalha, é como se fosse né.
— Sim, acho que trabalho mais que o dono — fala rindo.
— E como são eles?
— Eles quem?
— Os donos?
— Só tem um dono e ele é normal, eu acho.
— Já ouvi falar que o senhor Atkinson é bem carrasco.
— Carrasco? — ele começa a rir — Acho que não, carrasco não se enquadraria para ele.
— Sério? E o sobrinho dele?
— Como você sabe sobre eles? — arqueia uma sobrancelha.
— Ahn — gaguejo — Todo mundo sabe deles.
— O sobrinho dele é um garoto mimado ainda, tem muito o que aprender da vida.
— Concordo!
— Você o conhece? — me olha desconfiado.
Droga, falei demais!
— Quem? O sobrinho? Não, claro que não, já vi alguma coisa sobre ele na mídia e achei que ele tem cara de mimado.
— Essa mania de julgar a capa pelo livro, aiai em Ana — brinca.
— Fazer o que né, mas me fala, você trabalha lá há muito tempo?
Eu gosto de ouvir ele falar sobre o trabalho e me parece que ele gosta de falar sobre o trabalho.
— Bastante tempo.
— Você parece gostar muito do que faz, seus olhos brilham ao falar do seu trabalho.
— O meu trabalho é minha vida, trabalhei muito durante muitos anos para ter o que tenho hoje.
— Tenho certeza que você conquistará muito mais coisas ainda.
— Tem é?
— Sim.
— E porque?
— Porque vejo que você merece e se esforça para isso.
Ele me encara com um sorriso lindo no rosto e eu também abro um enorme sorriso para ele, todas as nossas conversas sempre são leves e gostosas, sinto como se eu o conhecesse a tanto tempo.
A campainha toca e ele trás a pizza, o aroma maravilhoso e o gosto melhor ainda.
— Não sei o que você bebe, suco, refrigerante, vinho?
— Vinho com pizza me parece chique.
— Boa escolha, muito chique.
Começamos a rir.
Comemos pizza, tomamos vinho e conversamos amenidades, a hora passou que eu nem vi, a companhia e a conversa tão agradável que eu até perdi a noção do tempo.
— Seu chefe não gosta muito de aparecer na mídia, não é? — comento.
— Não, andou pesquisando sobre?
— Só queria saber mais sobre a empresa e vi que não tem nenhuma foto do CEO.
— Ele não gosta de se expor, prefere privacidade.
Balanço a cabeça concordando e olho a hora no meu celular.
— Nossa Elon, já está tarde e eu preciso ir.
— Bebemos uma garrafa inteira de vinho e está chovendo bastante, bebida, chuva e carro não combinam muito, não acha?
— Hum, eu não tenho dinheiro para chamar um carro de aplicativo — digo baixinho, um pouco envergonhada.
— Eu jamais deixaria você ir em um carro de aplicativo. Aqui tem quatro quartos, escolha um e passe a noite, amanhã eu te levo para a entrevista, pode ser?
— Dormir aqui? Na sua casa? Não sei se é uma boa ideia.
— É só dormir Ana, não farei nada, fique tranquila.
— Eu não pensei nisso — meu rosto está tão quente que tenho certeza que está da cor de um morango.
— Seu rosto diz outra coisa — responde rindo, me deixando ainda mais envergonhada.
— Deixa de ser chato Elon, vem, vou escolher um quarto.
— Chato não, você me ofende — brinca.
— Vem Elon.
O chamo e subo as escadas com ele.
— Fica com esse — ele abre a porta do enorme quarto — É do lado do meu, tem banheira e é bem espaçoso.
— Uau, só esse quarto é bem maior que minha casa!
— Sem ofender, mas quase qualquer lugar é maior que sua casa.
— Já ofendeu — olho para ele fingindo uma chateação e ele ri.
— Vou buscar uma roupa para você.
Ele sai e eu me jogo na cama, cheirosa, espaçosa e super confortável.
— Gostou? — ri quando me vê jogada na cama.
— Maravilhosa!
— Aqui está uma camisa minha e uma toalha, caso queira tomar um banho e aqui tem uma escova de dentes, no banheiro tem pasta, sabonete e shampoo, fique à vontade.
— Achei que você era apenas um trabalhador, mas estou desconfiando que você é um chefe — brinco.
— Sou apenas um trabalhador, mas talvez eu tenha tido sorte na vida — ele se aproxima e beija minha testa carinhosamente, meu corpo inteiro se arrepia com esse toque — Boa noite, Ana!
Ele se vira para sair do quarto, mas eu o chamo.
— Elon?
— Sim? — me olha.
Me levanto, vou até ele e o abraço forte.
— Obrigada!
— Pelo que exatamente?
— Por tudo, eu estou amando te conhecer.
— Também gostei muito de te conhecer.
Ficamos nos encarando e eu sinto que o clima mudou, acho que ele também percebe, pois logo se afasta.
— Dorme bem, qualquer coisa pode me chamar.
— Quantos anos você tem, Elon? — já estava curiosa para saber sua idade, o vinho só me deu mais coragem para perguntar.
— Trinta — abre um sorriso travesso e eu sei que é mentira — Boa noite, Ana!
— Boa noite, Elon!
Nos encaramos por mais alguns segundos, sorrimos um para o outro e ele se vai.
Corro para pegar a toalha e ir encher a banheira, enfim dias de glória.