Ana Duccan
Estou sentada em um café super chique (provavelmente um cafezinho aqui seja um dia meu de trabalho ou até mais), com um estranho, um estranho muito gato, estranho esse que eu acabei de quebrar o celular e mesmo assim ele está sendo simpático.
— Escolha o que quer comer — ele me entrega o cardápio.
Por que toda vez que escuto sua voz, os pelos do meu corpo ficam arrepiados?
Olho todo o cardápio e não acho nada, absolutamente nada que esteja dentro do meu orçamento, como esse lugar sobrevive com tudo tão caro?
— Não estou com fome, obrigada! — minto.
Com fome eu estou, o que não tenho é dinheiro para pagar tão caro por um café.
— Por favor, peça alguma coisa para me fazer companhia.
— Não quero, mas estarei aqui te fazendo companhia — abro um sorriso amarelo.
Como vou pagar, meu Deus? Sem condições!
— Você come de tudo?
— Sim.
Ele chama a atendente e pede dois cappuccinos e alguns muffins. Eu amo muffin, como esse homem imaginou?
— Gosta de muffin? — pergunta, parecendo até que estava lendo meus pensamentos.
— Muito.
— Eu também — abre um sorriso capaz de hipnotizar meio mundo — Como é o seu nome?
— Ana, me chamo Ana e você? — já que ele perguntou, tomo a liberdade de perguntar também.
— Elon.
— Elon — digo em voz alta — Eu já ouvi esse nome em algum lugar, só não estou me lembrando — comento.
— Acho difícil, não acredito que seja um nome muito comum.
— Verdade, devo estar confundindo.
A moça volta trazendo o pedido, os cappuccinos estão com um aroma tão maravilhoso e o muffin nem se fala, estou salivando.
— Coma — me oferece o muffin — Por favor.
Sem hesitar pego um de chocolate e como. Está bem mais gostoso do que eu imaginei, o sabor é ainda melhor do que o cheiro.
— Muito gostoso — saboreio o gosto do muffin.
— Um dos melhores que já comi.
— Acredito — mordo mais um pedaço dessa delícia — Você não vai comer? — vejo que ele não pega nenhum.
Fico até envergonhada de estar aqui devorando a comida, enquanto ele todo educado, só fica beliscando.
— Vou sim, mas me fale um pouco de você Ana.
— O que você quer saber?
— O que você tem para me falar?
Abro um sorriso tímido. Elon tem um jeito engraçado e ao mesmo tempo sério de conversar.
— Não tenho muita coisa para falar de mim.
— Começa me contando o que fazia na empresa e porque estava chorando, pode ser?
Pondero, não sei se seria uma boa me abrir com um estranho, mas pensando por um lado, não tenho amigos e nem sei se vou ver esse homem outra vez, agora pensando pelo outro lado, se ele trabalha lá é provável que ele conheça o Nathan, é provável não, certeza que ele conhece, Nathan é sobrinho do dono da empresa e sei disso por conta do sobrenome, não sei como não associei isso antes, sou muito lerda! De qualquer forma, melhor não falar nomes e contar só o que ele pode saber.
— Eu fui entregar um negócio para uma conhecida que trabalha lá — minto.
Não, eu não gosto de mentiras, mas no momento não tenho outra opção.
— E porque estava chorando? — bebe um gole da sua bebida, faço o mesmo.
— Quer mesmo saber? — fico em dúvida se um homem como ele vai ter interesse nas minhas lamentações.
— Claro que sim.
— Eu tinha um namorado, ele sempre me colocava em segundo plano, sabe? — ele balança a cabeça concordando — Ele tinha vergonha de mim.
— Vergonha de você? Por qual motivo? — parece surpreso com a minha fala.
— Ele tem dinheiro e eu não.
— Quanta bobeira, isso é rídiculo, Ana!
— Sim, concordo, porém, isso é mais comum do que imaginamos.
— E você estava chorando por isso? — arqueia uma sobrancelha.
Da forma como Elon fala, até parece um absurdo que eu estava chorando por isso.
— Não exatamente. Eu nunca desconfiei que ele deixava de sair comigo por ter vergonha, eu fui até a casa dele e encontrei ele ficando com a melhor amiga dele, ela que armou para que eu pegasse os dois juntos, mas foi bom, se ela não tivesse armado eu nunca saberia. Terminei com ele e foi aí que ele falou a verdade sobre tudo que pensa de mim.
— Muito moleque ele, não acha? — balanço a cabeça concordando — Julgo que deve ser um desses garotos novos, da sua idade, certo? — mais uma vez concordo.
— Para piorar ele foi o responsável por eu perder meu emprego.
— Que absurdo, Ana! — diz visivelmente nervoso — Esse moleque merece uma surra.
— Eu concordo — Abro um sorriso gentil, gostei da reação dele, foi visível que ele realmente se importou com a minha história.
— Mas tenho certeza que você é uma pessoa boa, as coisas logo vão se ajeitar e você nem vai mais lembrar desse moleque.
— Espero! Mas agora me fale de você.
— De mim? — sorri — Não tenho muito o que falar também.
— Ah, por favor, eu falei sobre mim, queria saber sobre você também. Você trabalha na Atkinson Tecnologia?
— Sim, trabalho.
— Desculpa perguntar, mas o que você faz? Vestido bem desse jeito eu arriscaria até dizer que você é o dono — abro um sorriso brincalhão.
— Não, não sou o dono, mas eu sou um dos administradores, faço o trabalho pesado para o dono.
— Poxa, que legal!
— Mais ou menos, trabalho muito.
— Mas é reconhecido e isso é bom, se você ajuda o dono a administrar é sinal que você é de confiança e competente.
— Obrigado, Ana! — Elon abre um sorriso gentil ao meu elogio — Você estuda?
— Não, eu só trabalho, aliás, trabalhava até hoje cedo.
— Logo você vai encontrar outro emprego, o que você faz?
— Qualquer coisa que seja honesto, estava trabalhando em uma lanchonete, atendia e limpava.
— Tão nova para trabalhar pesado assim, o que seus pais falam sobre isso? Você deveria estar estudando.
— Não tenho contato com meus pais — engulo em seco, falar sobre assunto ainda me dói — Preciso trabalhar para me sustentar.
— Desculpe ser invasivo e tocar nesse assunto — Elon é esperto e logo percebeu meu desconforto.
— Tudo bem — Como mais um pouco do muffin — Ai meu Deus! — Exclamo.
— O que foi? — Pergunta confuso.
— Lembrei que você não pegou o seu telefone no chão.
— Não tem problema, meu segurança pegou.
— Você tem um segurança? — pergunto chocada.
— Quis dizer que o segurança que trabalha na empresa pegou.
— Ah, sim.
Elon olha a hora em seu relógio de pulso, acho que tomei muito do seu tempo.
— Ana, infelizmente terei que ir trabalhar, mas pode anotar meu número?
— Claro, pode falar — ele me passa o contato dele e eu anoto.
Fico até envergonhada de tirar meu humilde aparelho celular na frente dele.
— Vou ver com algum conhecido sobre vagas de emprego, talvez estejam precisando de alguém para trabalhar.
— Está falando sério?
— Claro que sim, me manda uma mensagem, hoje quando pegar um celular novo eu anoto o seu.
— Você faria isso por mim? — pergunto um pouco emocionada, nunca ninguém me ajudou antes, não sem pedir nada em troca.
— Sim, como disse anteriormente, você parece uma pessoa boa, farei o possível para te ajudar, poderemos ser amigos?
— Você quer ser meu amigo?
— Você é um pouco desconfiada, não? — ele ri — Mais sim, eu quero ser seu amigo.
— Desculpa, é que um homem como o senhor querer ser meu amigo é estranho.
— Primeiro, por favor, não me chame de senhor, sou velho, mas não tanto e segundo, qual o problema em eu querer ser seu amigo? Como te falei, trabalho muito e não tenho tempo para fazer amizades.
— Tudo bem então Elon, podemos ser amigos — estendo a mão e ele aperta sorrindo.
— Então vamos nos falando, até mais, Ana, foi um prazer enorme conhecê-la.
— Igualmente Elon — abro um sorriso.
Ele deixa algumas notas sobre a mesa e sai. Fico pensando no que aconteceu aqui e agora, que loucura! Acabei de fazer um amigo, assim, do nada.
A atendente vem e entrego o dinheiro, me levanto para ir embora também, mas a moça me chama e me entrega o "troco", fico em choque com o valor que ela me devolve e ainda mais com o valor que ele deixou, acho que ele não percebeu, de qualquer forma irei guardar para quando encontrá-lo eu entregar.
Espero encontrá-lo outra vez. É estranho se sentir tão bem perto de uma pessoa que você nunca viu na vida, mas eu me senti, me senti estranhamente confortável e bem conversando com ele.
Apesar do dia ter começado extremamente difícil, não foi de todo r**m, pelo menos conheci Elon e ele me parece um homem bom.
Volto para casa com esperança de que ele possa me ajudar a conseguir um emprego, nossa, se ele fizer isso, eu serei eternamente grata.
Preciso muito de um emprego, muito mesmo, o que vou receber da lanchonete referente aos meus dias trabalhados vou pagar meu aluguel, mas no mês que vem eu preciso ter o dinheiro novamente, aluguel é assim, a gente paga um já pensando no próximo.
Tenho fé que as coisas vão melhorar, não é fácil, na verdade nunca foi fácil, mas acredito em dias melhores, sempre!
Olha como Deus é bom? Sai de casa hoje triste, cheguei no meu serviço e perdi o emprego por causa de um i****a* que me envolvi, achei que tudo estava perdido e olha só agora? Voltei para casa com esperança de que as coisas vão melhorar.
Cheguei em casa feliz da vida e o melhor de tudo, de barriga cheia. Os muffins estavam uma delícia. Me deito no colchão e fico mexendo no meu celular, olho as fotos que tenho com minha irmã e meu coração se aperta de saudades, queria poder vê-la. Cheguei a ir na frente da casa que morávamos para ver, mesmo que de longe minha irmã, mas encontrei outra família morando lá, perguntei aos vizinhos e eles me informaram que eles tinham mudado. Agora não faço ideia de onde estão e como minha irmã está.
— Prometo que quando tiver um bom emprego e conseguir um dinheiro legal, vou te buscar, vou ir atrás de você para saber como está — passo o dedo pela foto.
Essa é uma promessa que faço mais para mim do que para ela. É uma coisa que almejo muito e tenho fé que vou conseguir.