Uma noite mágica

2015 Words
A primeira taça desceu devagar, mas antes que eu pudesse terminar, o garçom completou novamente com vinho. A segunda desceu muito mais rápido, enquanto eu conversava com Andréa. De alguma forma, a terceira e a quarta vieram tão rapidamente que perdi a conta, mas foi depois delas que parei de contar. Já tínhamos terminado de comer, e eu sentia minha mente mais leve e meu corpo mais quente. Estava com vontade de andar por aí, desbravar a Itália. Andréa passou horas falando sobre o lugar, suas belezas e curiosidades, contando histórias maravilhosas que eu queria conhecer uma a uma. — Paguei a conta. Pedi para trazerem o meu carro. Deve estar chegando, mas acabei perdendo a hora, entretido com a nossa conversa. Já está anoitecendo. Você quer ir mesmo assim ao endereço? — Andréa perguntou, estendendo a mão para me ajudar a levantar. Se havia algo que eu percebi, era como aquele homem parecia um verdadeiro cavalheiro. Pensei que homens assim não existiam mais. — Uhn... — Olhei para o céu; já podia ver o sol se pondo. Não parecia bom aparecer na casa de desconhecidos essa hora. — Acredito que deixarei para outro dia. Passarei um bom tempo por aqui, não fará m*l deixar para amanhã, mas... será que pode me mostrar um pouco da cidade no lugar de me levar ao endereço? Você me falou de tantos lugares que fiquei curiosa para conhecer. Não sei de onde tirei a coragem para fazer esse pedido, mas me senti tão confortável na presença de Andréa, como se já o conhecesse de outras vidas. Tenho a sensação de que ele se sentia da mesma forma ou apenas era muito bom com as mulheres. Vou ficar com a primeira opção; gosto de me iludir. — Eu vou amar. — Andréa sorriu, segurando minha mão e me conduzindo para fora do restaurante. Assim que pisamos do lado de fora, um homem apareceu ao lado de Andréa, entregando uma chave e cochichando algo em seu ouvido. Os dois conversaram um pouco antes de nos afastarmos, indo em direção a um conversível preto. Parecia caro demais para um guia turístico normal. Será que ele era o dono da pousada? — Você primeiro, ragazza. — Andréa disse, abrindo a porta do carro para mim. — Se for sonho, não quero acordar tão cedo. — Pensei, sussurrando para mim mesma enquanto me sentava no banco do passageiro. — Vamos nos divertir um pouco hoje. Farei com que o seu primeiro dia na Itália seja completamente inesquecível. — Andréa sussurrou no meu ouvido, me fazendo arrepiar da cabeça aos pés. O sotaque dele era um golpe baixo. Logo Andréa entrou no carro, colocou o cinto de segurança e mexeu um pouco no celular antes que a música começasse a tocar. Eu reconheci: amava aquela música, "Alive", do Alok. Quando dei por mim, já estávamos em uma estrada linda, cheia de árvores ao nosso redor, assistindo ao pôr do sol no horizonte, embalados por aquela música. — Nunca me senti tão viva! — Gritei por cima da música alta, abrindo os braços e sentindo o vento batendo nos meus cabelos. — Você parece um passarinho que ganhou liberdade, fugindo de uma gaiola. — Andréa sorriu, olhando para mim pelo retrovisor. O orfanato me limitava bastante; havia muitas regras e pouca liberdade. Era necessário, com tantas crianças. Mesmo com as limitações, ainda enfrentava problemas todos os dias. O gostinho de liberdade que estou sentindo agora nunca passou pela minha cabeça que iria sentir. Levando-me pelo ritmo da música, a leveza do vinho e a sensação gostosa de liberdade, levantei do banco, dançando conforme o ritmo. Senti o carro diminuir um pouco a velocidade, o que me deu ainda mais segurança para cantar. — Dum, dum, dum, da, da, da, da! — Cantei aos berros, em um ritmo totalmente desconectado da música. — Acho que acabei de ver algo que ninguém mais verá. Me sinto privilegiado. Acho que vi uma borboleta saindo do casulo ou um pássaro cantando sua liberdade. De toda forma, me sinto em dívida agora. O que a minha bela ragazza deseja fazer agora? Qualquer pedido seu será atendido. — Andréa perguntou quando a música terminou. — Me leva para dançar? Quero ir na melhor boate que você conhece. Quero dançar e cantar a noite toda. Podemos? — Perguntei, sentando-me na cadeira do motorista. — Hoje à noite, eu serei seu gênio. Realizarei todos os seus desejos. Tudo que quiser hoje, te darei, mas antes de ir para a boate, precisamos passar em um lugar. — Andréa respondeu, brincando com o fio do meu cabelo. — Aproveite. O encanto acaba à meia-noite. — É o gênio ou a fada madrinha da Cinderela? — Brinquei ao notar que ele misturou as histórias. — O horário não é negociável? A noite é uma criança. Meia-noite é apenas o início. Que tal o feitiço acabar quando eu acordar? — Combinado. Farei da sua noite tudo que você quiser, mas quando abrir os olhos pela manhã... Bem... Talvez eu deixe de ser gênio e me torne o vilão da história. Mas por hoje, vamos aproveitar e fazer dessa noite algo mágico. — Andréa concordou, sua voz baixa, mas a última parte eu não consegui entender direito por conta do vento. Andréa aumentou o som do carro mais uma vez antes de acelerar. Em questão de segundos, estávamos estacionando em uma loja de grife. — Vamos transformar a gata borralheira em princesa. — Andréa explicou, abrindo a porta e estendendo a mão para me ajudar a levantar. — Vamos te vestir adequadamente para aproveitar sua noite mágica. — Sabe que eu só tenho vinte reais, não é? E isso não deve pagar nem uma água aqui dentro. — O lugar parecia feito de ouro e cristais, de tanto que brilhava. — Hoje tudo é por minha conta. Não há nada que eu não possa te dar. — Andréa passou o braço pelo meu, me levando para dentro da loja. Assim que entramos, os funcionários nos olharam tensos e conversaram rapidamente antes que um deles se aproximasse. — Porta tutto dell'ultima collezione, voglio vestiti, accessori, scarpe e borse. Questa ragazza deve andarsene da qui come una vera principessa. Spero tu capisca quello che intendo. — O que você disse? — Perguntei, observando o vendedor pálido correr para o outro lado da loja. — Eu? Nada demais. Apenas que você deve ser bem atendida. Você pode ir até aquele provador — Andréa apontou para uma área do outro lado. — Vista tudo que ele entregar e venha me mostrar. Vamos fazer um belo desfile de moda e escolher o que te valoriza mais. Lembrei de ter visto algo assim nos filmes; parecia divertido e empolgante. Sem questionar muito, fui em direção ao provador, onde havia várias roupas e acessórios organizados. Me senti uma princesa naquele momento. Cada look que eu vestia, desfilava na frente de Andréa como se estivesse em uma passarela. Ele batia palmas, elogiava, falava alto em italiano que eu não entendia e fotografava. Era uma sensação maravilhosa; eu me sentia completamente adorada. — Esse! O vestido é esse. Você está deslumbrante. Perfeita. — Andréa disse, levantando da poltrona onde estava confortavelmente tomando champanhe. — Só troquei o salto. Coloque o vermelho que você usou anteriormente. Foi o único que você se sentiu confortável. Fui pega de surpresa com aquele comentário; achei que ele sequer estava prestando atenção em mim de verdade, apenas se divertindo com a bagunça. Segui o conselho dele e coloquei o salto vermelho; o preto combinava melhor, mas não era confortável. De mãos dadas, saímos da loja direto para uma boate próxima. Eu já tinha perdido a noção da hora, mas quando chegamos, o lugar estava completamente lotado. Havia uma fila imensa do lado de fora tentando entrar, mas Andréa falou com um dos seguranças e entramos por uma porta na lateral. O som estava tão alto que eu não podia ouvir nada do que Andréa dizia, mas subimos direto para um camarote. Assim que pisamos lá, um garçom serviu algumas bebidas e uma comida que eu nunca tinha visto. — Venha. Vamos beber e nos divertir essa noite. — Andréa disse, me entregando a taça de vinho e colocando na minha boca um petisco que havia servido. — Você precisa comer se quiser continuar bebendo. Minhas músicas favoritas começaram a tocar e, entre uma taça e outra, eu dançava ali enquanto cantava aos gritos e fora do tom, como se o mundo fosse apenas meu. Mas Andréa sempre estava me olhando. Com a taça vazia, me aproximei dele, que estava sentado, para pegar um pouco mais, e acabei desequilibrando, caindo em seu colo. — Você está bem? — Andréa perguntou, preocupado. Eu tive uma crise de riso enorme. — Acho que nunca estive tão bem. — Não sei se era o efeito de todo o vinho que eu havia tomado, mas me sentia maravilhosa. — Afinal, não é sempre que encontramos um gênio gato na Itália. — Qual o seu último desejo? — Andréa perguntou, acariciando meu rosto. Cada lugar que ele tocava parecia esquentar. — Quero você. — Respondi, ajeitando-me em seu colo. Acho que toda a ousadia que eu tinha estava transbordando naquela noite. Eu não podia me reconhecer, mas estava me divertindo com essa versão de mim que eu desconhecia. — Isso eu não posso te dar. Não sou o tipo de homem de uma mulher só. Elas não me têm; eu que tenho elas. Você quer ser minha? Eu adoraria colocar uma borboleta na minha coleção. — Andréa respondeu sem hesitar. m*l sabia ele que, no ritmo que minha vida estava indo, eu também não poderia ser de ninguém. — Sempre fui uma criança egoísta. Nunca gostei de dividir nada meu. Se não pode ser meu, não faço questão de ter. — Falei, levantando do seu colo. Por morar em um orfanato, tudo era compartilhado; não havia nada que fosse realmente meu. — O que é de todos, não é de ninguém. Ninguém realmente valoriza. No final, alguém vai acabar quebrado, e você não pode ficar triste porque nunca foi seu. Prefiro não ter nada comunitário. Sempre gostei de itens de luxo; são caros porque poucas pessoas podem ter. — E se eu for totalmente seu por essa noite? Prometo que você não vai se arrepender do que posso te proporcionar, ragazza. — Andréa disse, passando a mão na minha cintura e me puxando para seu colo novamente. — Se for tão bom assim, te jogarei um feitiço, ou melhor, uma maldição. — Brinquei. Era óbvio que Andréa só queria algo casual; ao menos ele deixava claras suas intenções. Talvez não fosse r**m para mim; afinal, na teoria, eu sou uma noviça. Nem que eu quisesse, poderia me envolver com alguém. — Qual seria sua maldição, ragazza? — Andréa perguntou, sussurrando em meu ouvido. — Você vai me desejar todos os dias. Mesmo que queira nunca mais lembrar de mim, haverá algo que te impedirá. Mesmo que a gente nunca mais se veja, nosso encontro será impossível de ser esquecido. — Ao menos para mim, eu tinha certeza que seria assim. Expliquei enquanto passava meu dedo de leve pelos lábios dele. — Acho que estou disposto a passar a vida amaldiçoado por você. Sinto que não posso resistir. — Andréa respondeu, passando a mão por minha cintura e me puxando para ainda mais perto do seu corpo. — Então me leva para seu quarto. Se for para ser amaldiçoada por toda a vida, quero que seja da melhor forma possível, com tudo que tem direito. — Sussurrei no ouvido de Andréa. Naquele momento, meu coração batia acelerado. Se não fosse pela música alta da boate, tenho certeza de que Andréa poderia facilmente ouvir. Nunca havia tido um namorado ou qualquer relação mais profunda, e estava prestes a me envolver com um desconhecido. Só se vive uma vez. Não sabia o que o dia de amanhã traria, ainda mais com o plano que eu tinha em mente. Talvez fosse melhor aproveitar cada momento, mesmo que fosse com um italiano safado.

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