Capítulo 6

1521 Words
Eu nunca tinha convivido com outras garotas a não ser as da minha igreja. Onde a beleza não é algo tão importante. A mesma coisa é com os meninos. Isso eu não domino. Não sei dizer se um cara é lindo ou se é f**o. Não sabia até entrar na Universidade. Por isso o nome desse capítulo é SEPARANDO OS PATINHOS FEIOS DOS CISNES. Antes de entrar na Universidade, eu pensava que como era difícil entrar as pessoas eram muito estudiosas e focadas. Eu errei f**o. A única coisa que ouço desde que cheguei são conversas sobre festas e pegação. Principalmente da minha colega de quarto. Katrina. Uma semana com ela e eu já entendi que ela me ignora totalmente, não sei porque, mas ela vive o tempo todo com um Headphone na cabeça e mexendo no notebook. Eu não me preocupo muito com isso. Ela nem é da minha religião. E tem tatuagens. Quase todos os dias ela sai para algum lugar e só volta quando eu estou dormindo. Porque eu nunca a vejo chegar. Seu lado do quarto é todo revestido de um papel preto com rosas brancas. Super... não sei explicar. Deve ser chique. Se a arrumação fala sobre a pessoa posso me definir como uma parede branca. Às vezes ela fala comigo. Me chama de muçulmana dos infernos. Sinceramente, prefiro ser chamada de Leoazinha ou garota das cavernas. Eu nem sou muçulmana! Normalmente ela me chama assim de manhã cedo, quando estou fazendo minhas orações. Enquanto eu estava deitada na cama lendo um livro chatíssimo sobre língua inglesa, alguém bate na porta do nosso quarto e passa uma folha de papel por baixo dela. Katrina não ouviu, pois, a música eletrônica está muito alta, até pra mim que não estou muito perto dela. Fechei meu livro e levantei até a porta para pegar o papel. Era um panfleto. Um panfleto sobre uma festa na casa de uma tal de Megan James. Será nesse fim de semana e convida a todos para ir. Todo mundo de roupas brancas. Será que vão rezar pela paz? — Me dá isso! — Katrina toma o panfleto da minha mão. — Gente como você não vai pra festa assim! — Me olha indiferente. — Como se eu me importasse. Minha religião não permite festas. — Volto a deitar na minha cama e abro meu livro, dando pouca crença pra o que ela fala. A gente se bate muito de frente. A pior colega de quarto que eu poderia ter. Eu não me importo com o total desprezo que ela me dá. Mas poderia ser mais educada, já que vamos morar juntas o ano todo! — E mesmo se pudesse. Você é f**a, se veste m*l e não tem classe. — Me olha por cima do ombro desprezando minha imagem. Feia eu? — Não me importo com a sua opinião. Eu não me acho f**a. — Retruco com minha grande autoestima e ela ri. Poxa, essa garota me odeia! — Não querida. Megan James não é f**a, Bibi não é f**a, Christine Folder não é f**a, Alyssa não é f**a, eu não sou f**a. Você é sim. — Vira o espelho pra mim. Eu não sou tão f**a assim! Qual o problema que ela vê em mim? — Meninas bonitas não se misturam com meninas feias. Garotos bonitos não se misturam com garotos feios nem ficam com garotas feias. São as regras. — Explica com toda certeza que há em sua voz. Eu não sou f**a! — Por isso você me trata como muçulmana dos infernos? — Pergunto curiosa. Que o ódio não tome meu coração. — Sim, sim e sim! — Responde como se fosse óbvio e coloca os fones de ouvido novamente. Eu não me acho f**a. Eu sou do jeito que Deus me fez. Não acho que preciso mudar pra agradar a ninguém. Aliás, eu nem preciso agradar ao meu futuro marido, já que meu casamento vai ser arranjado. Essa história de f**o e bonito me deixou tão pensativa que nem consegui mais ler o livro chato de inglês, se eu já não estava entendendo nada com a cabeça limpa, agora com as palavras da Katrina na minha cabeça é que não consigo mesmo. Fechei o livro e resolvi ir devolvê—lo na biblioteca. Ao passear pelos corredores eu comecei a observar algo que nunca me importei. A beleza das pessoas. Como definir beleza se tem tanta gente diferente? Depois de devolver o livro, me sentei em frente ao computador e pesquisei: o que torna uma pessoa bonita. Entre aspectos físicos e comportamentais entendi que existem algumas coisas que prevalecem a depender da cultura. E culturalmente aqui eu não sou nenhum pouco bonita nos aspectos físicos. Era pra ficar preocupada? Não, não era. Mas eu comecei a andar pela Universidade e encontrar muitas pessoas bonitas e feias também. E agora eu estava separando os patinhos feios dos cisnes. Os garotos que sentam no fundo do restaurante são os garotos feios. Os garotos que sentam na mesa principal são os mais bonitos. As garotas da torcida são as mais lindas e as do time de química são as mais feias. E eu sou f**a também. Isso me excluí de ter qualquer relação com essas garotas bonitas. E com os garotos também (embora eu não tenha nenhum interesse). O que me lembrou do Neandertal com quem dividi o quarto há uma semana atrás. Olhos verdes, rosto simétrico, olhar marcantes, sorriso simpático, corpo bem definido, engraçado (tirando seus apelidos referentes a mim). Eu dividi um quarto com um garoto extremamente lindo segundo a minha pesquisa. E pela explicação da Katrina isso deveria ser impossível. Ok. Eu fui uma exceção. Mas isso de beleza não me importa. Eu não saio pra lugar nenhum mesmo! — Hannah? — Said me cutuca e eu olho por cima do meu ombro durante a fila do almoço. — Oi Said. — Dou um leve sorriso. Said foi a única pessoa que falou comigo sem ser forçado por alguém ou pra me xingar. Said é bonito. Por que ele falou comigo? — Onde estava o dia todo? — Pergunta curioso enquanto eu termino de colocar meu almoço na bandeja e me dirijo a uma mesa vazia no final no restaurante. Até o lugar que sentamos é das pessoas feias! — Eu estava estudando no meu quarto — Respondo enquanto ele me acompanha. — Ah é, esqueci que você é uma Gekie. — Sorriu já sentado na mesa dando uma garfada na alface. — O que é Gekie? — Perguntei confusa e comecei a comer. Esse garoto tem um dicionário de palavras que eu nunca vi. — Uma nerd. Uma garota estudiosa... — Explica enquanto eu me encho de frango. — Uma garota f**a? — Tento adivinhar. — Não necessariamente Hannah. — Volta a comer sem se aprofundar no assunto. — Você é bonito. Porquê falou comigo? Sentou comigo? Ele me encara como se eu não tivesse falando algo com muito sentido. — Hannah! Isso não tem nada haver! Você é legal. Eu não sentei com você pra te paquerar. Gosto da sua companhia. Só isso. — Mas continuo sendo f**a. — Dou uma mordida no meu frango. — A garota que divide quarto comigo falou que gente bonita não anda com gente f**a. — Quem é essa i****a? — Ele me olha rindo indignado. — A garota por quem você vive babando. Katrina. Ele desmancha o sorriso e volta a comer. — Sério?  Será por isso que ela nunca me nota? — Questiona pensativo. Nossa, olha aí! — Você tá confirmando o que eu tento te dizer. — Henry não é só popular por causa da sua beleza. Ele também é o Quarterback e um i****a. Não precisa ser necessariamente bonito pra ser popular. — Tenta contornar a verdade. — Que Henry? — Henry B.! Você ainda não o conhece? — Parece surpreso, mas não muito empolgado. — Se não, pode ficar tranquila. Não tá perdendo nada. Eu sei quem é. — Não. Só conheço um Neandertal chamado Henry, mas acho que ele não deve ser popular não. — Tento não o deixar desanimado. — Hannah, esquece isso de beleza. Acredite, as pessoas sempre buscam mais do que isso em outras. — Segura minha mão como se eu tivesse a ponto de pular do precipício por causa disso. — Fica tranquilo, não vou encucar nada. Só que eu nunca tinha dado importância a isso. Mas é bobagem mesmo. Somos todos perfeitos aos olhos de Deus. E cada um tem algo de interessante a oferecer, não é Said Malek? — Sorrio. — Senti firmeza agora! — Dá um toque na minha mão. Não acredito que ele me ensinou a dar esses toques. Que coisa estranha! No fim eu percebi que apesar dos cisnes ficarem separados dos patinhos feios, em algum momento eles se misturam, pois sempre o oposto se atrai. Quem sabe alguém não me ache bonita do jeito que eu sou? O Said é um péssimo ótimo conselheiro. Só que eu ainda não tinha sofrido os efeitos que as pessoas bonitas causam. Ainda não. 
Free reading for new users
Scan code to download app
Facebookexpand_more
  • author-avatar
    Writer
  • chap_listContents
  • likeADD