Capítulo 7

1225 Words
Não sei se esse negócio de coincidência é verdade. Mas acontecem coisas bem doidas para que outras possam vir a acontecer também. Por isso o nome desse capítulo é O acaso tá brincando comigo.  Mamãe e papai não deixaram de ser os mesmos pais preocupados comigo. Apesar de que eles sempre souberam que na nossa família eu era a mais responsável. Além do Thomas eu tenho outro irmão. Não costumo dar muita atenção a ele, porque esse se perdeu no mundo. Saiu da nossa religião e foi experimentar coisas profanas. Mike é a perdição em pessoa. E a gente nem sabia por onde ele andava. Até eu ter que fazer algo que julgo um ato de caridade. — Sim, sim, fica tranquila. Eu já passei tudo pro pendrive. A festa tá prontinha. Chego lá as 22h. — Katrina falava ao telefone enquanto eu terminava de me vestir para ir pra faculdade. Ela continua a mesma. E eu nem ligo pra isso. Katrina não é uma pessoa boa. Ela vive presa ao seu mundo musical e e*****o, algo que eu não quero fazer parte. Não faço questão da sua amizade. Já a do Said, (que aliás eu também não deveria querer, já que ele é um homem) eu gosto muito. Ele não olha pra como eu me visto, não questiona minha religião e me trata como uma pessoa importante. Seu único defeito é ter os olhos vidrados na Katrina. Coitado, vai quebrar a cara se for atrás dessa. Ao jogar minha mochila no ombro, saí do meu quarto e encontro o Said me esperava encostado na parede. — Finalmente Madame. Estava fazendo o que nessa demora? — Ele se afasta da parede e me olha curioso. — Me maquiando que não era. — Brinco e nós rimos andando pelo corredor. — Advinha pra onde vou hoje? — Pergunta animado. Said sempre vive em festas. Ele tem vários amigos e amigas e é um tanto popular. Eu ainda não entendo o porquê da amizade dele. Será que ele fez alguma aposta? — Pra uma festa? — Chuto. — Sim, e especificamente a festa da Megan James. — Deu um pequeno salto de comemoração. — Óh, nossa. — Falo desanimada — O que tem de especial nessas festas? — Garotas loucas pra dar. — Conta animado. — Ah, desculpa Hannah. As vezes eu esqueço que você não é assim. — Assim como? — Como as outras garotas. — E isso é r**m? — Não. Não é se pra você não faz diferença. — Saímos dos alojamentos e seguimos pra a Universidade. — Said. Você fez alguma aposta pra ser meu amigo? — Tiro minha dúvida. Ele me olha um pouco ofendido. — Não acredito que você pensa isso de mim. Agora você me magoou. — Cruzou os braços com uma cara de triste. Eu sei que ele está de brincadeira. Mas minha pergunta foi séria. — Desculpa Said. É que eu pareço um patinho f**o no meio de um lago cheio de cisnes, e você é um deles. Mas está andando comigo! Se você não estivesse perto de mim aposto que a Katrina te queria. Ela não quer ficar com alguém que anda com uma fracassada. — Hannah! O que aconteceu com aquela garota cheia de alta estima?! Eu não te reconheço mais! — Me encara assustado. — Três semanas aqui e eu já aprendi como o mundo funciona. Pelas coisas efêmeras. As pessoas se importam com a imagem e não com a essência. Algo que pra mim é mais importante. — Explico decepcionada. Entrar na Universidade abriu não só assuntos relacionados ao meu curso, também mostrou como é a verdadeira sociedade. — Hannah, se você é feliz do jeito que é, não importa o que os outros pensam ou falam. — Said, semana passada um garoto mandou eu limpar o vomito da menina grávida no corredor, dizendo que eu era a faxineira, e um outro garoto perguntou se eu vim pra cá de camelo e se eu morava no deserto ou era nômade por causa da minha roupa! — Conto um pouco aborrecida. — As pessoas se assustam com o que é diferente. Quando eu cheguei aqui era um garoto com a maior cara de indiano. Sofri um bocado pra ganhar respeito. — E como eu ganho esse respeito? — Se tornando um deles. — Responde não muito contente. Eu não vou sair da minha religião, deixar os meus princípios pra ser enxergada e respeitada num lugar. Essa vontade de ser alguém aqui é em função da minha outra vida na escola evangélica. Lá eu era a mais popular. Eu era a que se vestia melhor e a que todos admiravam. Eu sei que não é bom ter um grande ego, mas é bom se sentir amada, especial, sentir que as pessoas gostam da gente. Longe do amor dos meus pais e num lugar onde todos me abominam eu me sinto triste. As pessoas acham que eu sou burra e que não sei fazer coisas simples como apertar um botão do secador de mãos. Será que eles acham que eu sou uma garota das cavernas? Lembrei do Neandertal. Ele me chamou de garota das cavernas pelas minhas roupas. Mas até que ele era legal. Legal do jeito dele é claro. Talvez se eu não tivesse mudado pra outro quarto essas coisas não passavam pela minha cabeça. Por mais que o Henry me apelidasse e não parasse de olhar pra minhas sobrancelhas grossas, eu não me importava com o que ele dizia. Ele parece tão burro. Tão i****a que as palavras dele entram por um ouvido e saem pelo outro, não me ferem nem causam espanto. São simplesmente palavras jogadas ao vento. *   — Tchauzinho i****a!!! —  Katrina saiu do nosso quarto incendiando com o perfume. Parece até o Henry naquele dia que eu dormi no quarto dele. — Boa festa. — Disse baixinho. O dia foi mais chato do que todos os outros. E sinceramente a Universidade não é bem o que eu esperava. É tudo tão entediante. Não entendo como as pessoas ainda sorriem nesse lugar. Porque eu tô ficando na maior deprê. Chegou uma mensagem do Said dizendo "partiu festa". Será que ele pensa que vai me fazer inveja mandando isso? Porque eu não ligo de ficar a noite toda sozinha enquanto todo mundo se diverte.  Mandei "Boa festa Don Juan". Ele mandou um dedo do meio. Não consegui me segurar e ri apesar do quão f**o é esse símbolo. Ri tanto que caí da cama. —  Hannah! Sua tonta! —  Permaneço no chão rindo de mim mesma quando me viro e vejo um pequeno objeto caído no chão. Engatinho até lá e pego. É um pendrive. E provavelmente é da Katrina. Porque meu que não é. "Sim, sim, fica tranquila. Eu já passei tudo pro pendrive. A festa tá prontinha. Chego lá as 22h." —  Não! É o pendrive das músicas da Katrina! —  Levanto assustada. Ela deve estar louca atrás dele. Então terei que correr pra acompanhá—la e entregar. Saí do quarto ainda vestindo meu casaco e tranquei a porta. Sorte que ainda não tinha vestido meu pijama. Corri pelo corredor e nada de avistar a estressadinha. Em frente ao alojamento ela também não estava e nenhum sinal de carro. Acho que terei que ir nessa festa levar o pendrive.
Free reading for new users
Scan code to download app
Facebookexpand_more
  • author-avatar
    Writer
  • chap_listContents
  • likeADD