Leo e o beijo...

995 Words
— Por que a demora? Aconteceu alguma coisa? — Ele pergunta, a voz grave, buscando entender o que aconteceu, a preocupação evidente nos seus olhos. Eu forço um sorriso triste, tentando disfarçar a confusão. — Problemas familiares. — Respondo, minha voz falha, mas não posso dizer mais. De repente, a voz de Omar me chama da porta. — Sofia! — Ele grita, e o meu estômago dá um nó tão forte que m@l consigo respirar. Não olho para ele. Não posso. Não quero. Em um impulso desesperado, avanço sobre Leonardo, agarrando-o como se a minha vida dependesse disso. Sinto os seus músculos se enrijecerem sob o meu toque, a hesitação tomando conta dele por um instante antes que os seus braços, firmes e quentes, se fechem ao meu redor. E, meu Deus, o cheiro dele… uma mistura inebriante de algo familiar e perigoso, invade os meus sentidos, apagando tudo ao redor. Sem pensar, as minhas mãos alcançam a sua nuca, puxando-o para mais perto. Os meus lábios encontram os dele com urgência, um choque elétrico que explode no meu peito. O beijo é bruto, intenso, como se fosse a única coisa que nos mantém ancorados à realidade. Sinto o coração de Leonardo martelando contra a minha palma, que descansa sobre seu peito nu e quente. Há tensão nele, dúvida, confusão… mas não por muito tempo. Então, ele cede. Um gemido baixo escapa de seus lábios, e, num gesto que me desarma, ele me puxa ainda mais para perto. Seu beijo é avassalador, um furacão que consome tudo. O mundo desaparece, e eu me perco no calor, no toque, na sensação de ser tomada por algo que não consigo controlar. O meu coração está disparado, o sangue corre como fogo em minhas veias, e me sinto simultaneamente pequena e invencível nos seus braços. Quando os nossos lábios finalmente se separam, estou ofegante, como se tivesse corrido quilômetros. Seus olhos me encontram, intensos, carregados de algo que mistura desejo, choque e uma pergunta silenciosa. Mas antes que eu possa decifrá-lo, a voz de Omar corta o momento como uma lâmina. Leonardo muda. Sua expressão suaviza por um instante, mas logo se transforma em algo duro, calculado. Ele entende o que fiz, e sua mandíbula se tensa. Seu olhar me queima, mas agora carrega algo que não sei nomear. Eu me afasto, o peso de tudo me atingindo como uma onda gelada. Omar está à porta, segurando minha bolsa. Seu rosto é uma máscara de desagrado, e sua voz, cortante como gelo: — Você esqueceu. Seu tom me faz estremecer, mas me forço a não transparecer o impacto. Minhas pernas estão bambas enquanto caminho até ele, pego minha bolsa e respondo, com um fio de voz: — Obrigada. Eu me viro antes que ele possa dizer algo mais, mas não olho para trás. Não quero encarar o abismo que ele representa. Ao me aproximar de Leonardo, percebo seu olhar fixo em Omar, desafiador como nunca. Seu rosto está sério, os traços mais pronunciados, uma masculinidade crua que só aumenta a tensão no ar. Ele está me protegendo, silenciosamente, e isso me faz tremer. Como pode ser tão… selvagem? Eu me forço a afastar a lembrança do beijo, o calor que ainda pulsa em mim. Tento me recompor, mas cada passo parece um esforço monumental. As peças de mim mesma ainda estão espalhadas, e Estela, minha amiga, aparece como uma âncora mental. Foque, Sofia, eu me ordeno. Mas mesmo com sua lembrança, o desejo por Leonardo arde como uma chama indomável. Leonardo se move, abrindo a porta do carro para mim com um gesto natural, mas carregado de significado. Antes de entrar, algo chama minha atenção: o Camaro estacionado à nossa frente. Meu coração se aperta, e um nó sufocante se forma na minha garganta. Há algo errado. Aquele carro… Não deveria estar ali. Ele carrega um peso, um aviso silencioso que faz o ar parecer mais denso. A tensão se torna quase tangível. Tento desviar o olhar, mas é impossível. O carro é uma presença sombria, uma lembrança de que as coisas nunca são tão simples quanto parecem. Leonardo entra ao meu lado, a energia entre nós ainda fervendo, mas agora tingida de algo mais sombrio. Ele lança um olhar para o Camaro e comenta, com um tom que tenta quebrar a pressão sufocante: — Um belo carro. A frase paira no ar, carregada de ironia. Ele sabe, assim como eu, que aquele carro é mais do que parece. E, mesmo sem palavras, algo em seus olhos me diz que a batalha está longe de acabar. Eu o encaro, tentando manter a compostura, mas é impossível. O que acontece entre nós dois transcende palavras. Meu peito aperta, e tudo dentro de mim parece uma tempestade prestes a explodir. — Isso não me impressiona. — Respondo, mas minha voz vacila, traindo o esforço que faço para soar firme. Sinto minha respiração se tornar mais rápida, mais irregular, enquanto uma tensão sufocante cresce entre nós, pesada e impossível de ignorar. Os olhos dele, que antes estavam fixos na estrada, descem lentamente até meus lábios. Ele me observa com uma intensidade que me faz estremecer, como se enxergasse algo em mim que nem eu mesma consigo entender. O mundo para, o tempo congela, mas, num movimento brusco, Leonardo vira o rosto e dá partida no carro. O ronco do motor corta o silêncio, ecoando minha própria inquietação. Sinto o calor subir pelo meu pescoço enquanto encaro seu perfil rígido, a mandíbula cerrada. A vergonha me consome. A culpa, o arrependimento, tudo se mistura em uma confusão caótica. — Eu... não sei o que me deu. Perdoe-me por ter te beijado. — As palavras saem rápidas, quase tropeçando uma na outra. Meu coração bate descompassado, ansioso para que ele entenda, mas ao mesmo tempo consciente de que talvez seja impossível colocar em palavras o que sinto. Não foi só um beijo. Não foi apenas impulso. Foi algo mais, algo que me apavora.
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