Fale-me mais sobre você. Quero conhecer cada parte de quem você é.

1354 Words
—Ótimo —digo feliz, enquanto entrelaço os dedos aos de Leo. Ele me envolve pela cintura, e seguimos com passos calmos, nossas sombras projetadas pela luz suave da manhã sobre a areia. A mão dele, firme e quente em minha cintura, transmite uma sensação de segurança que só ele parece ser capaz de oferecer. É como se o toque dele fosse uma âncora, mantendo-me firme enquanto o mundo ao nosso redor parece se dissolver na tranquilidade do momento. Caminhamos assim, próximos, como se o universo tivesse nos criado para ocupar aquele espaço juntos. A conversa flui naturalmente, e nossos assuntos variam de filmes que marcaram nossas vidas a músicas que nos fazem sorrir. É leve, mas cada palavra, cada risada, parece construir uma base sólida para algo muito maior do que qualquer um de nós ousaria admitir em voz alta. No fundo, sabemos que estamos escrevendo os primeiros capítulos de uma história. Olho para ele enquanto caminhamos, observando seu perfil iluminado pelo sol. Os olhos verdes de Leo brilham com uma luz intensa, misturando-se ao reflexo das ondas. Sua expressão é serena, mas carrega uma profundidade que me faz querer conhecê-lo ainda mais. —Leo, sei tão pouco da sua história. — Minha voz sai suave, carregada de uma curiosidade genuína. — Fale-me mais sobre você. Quero conhecer cada parte de quem você é. Ele mantém o olhar no horizonte, os pés afundando levemente na areia úmida a cada passo. Suas mãos encontram os bolsos, e a forma como seus ombros caem levemente indica que está prestes a compartilhar algo importante. —A história de meus pais você já conhece. — Sua voz é firme, mas há um tom melancólico que não passa despercebido. —Sim, conheço. — Mordo de leve meu lábio, ponderando como tocar em algo tão delicado. — Sua mãe... ela nunca teve curiosidade de saber como você está? Ele solta uma risada baixa, sem alegria, e o som carrega um peso de mágoas antigas. —De vez em quando, ela aparece, especialmente em festas, com presentes caros, como se isso fosse suficiente para apagar todos os anos de ausência. — Ele balança a cabeça, desviando o olhar para o chão. — Mas a verdade, sabe, é que somos dois estranhos. Não há laços, só um vazio que nunca foi preenchido. Meu peito aperta ao ouvi-lo, e uma onda de ternura me invade. Quero envolvê-lo e mostrar que ele não precisa carregar essa dor sozinho, mas escolho não interromper. —Entendo. — Minha voz sai quase como um sussurro. — Outro dia vi uma foto sua com seu pai. Ele ergue uma sobrancelha, curioso. —Aquela no i********:? —Sim, essa mesma. Vocês pareciam tão felizes. Um pequeno sorriso surge em seus lábios, trazendo à tona um reflexo de um passado mais leve. —A oficina estava começando na época. Meu pai e eu demos um duro danado para que ela crescesse. Cada máquina, cada reforma... tudo foi conquistado com muito suor e noites sem dormir. — Ele para por um momento, o olhar brilhando com orgulho. — Aquilo não foi só trabalho. Foi o sonho do meu pai que eu abracei e que agora também é meu. Toco suavemente sua mão, sentindo a aspereza das marcas que ela carrega. É como se cada cicatriz contasse uma história de resiliência, e meu toque é uma tentativa silenciosa de dizer que ele não precisa mais enfrentar tudo sozinho. —Você fala com tanto orgulho... — murmuro, minha voz cheia de admiração. — É inspirador, sabia? Ele dá de ombros, mas seus olhos verdes brilham com uma mistura de humildade e gratidão. —Eu e meu velho lutamos por cada conquista. Não é fácil, mas saber que conseguimos é a melhor recompensa. Uma pena que ele partiu... Caminhamos em direção às rochas, e a conversa eventualmente volta para amenidades. Rimos ao descobrir que ambos temos uma queda inexplicável por trilhas sonoras de filmes antigos. Discutimos livros, cada um revelando gostos que, de alguma forma, parecem complementar o do outro. É como construir uma ponte, tijolo por tijolo, entre duas almas que se encontraram. Na volta, o tom é leve. Nem ele nem eu tocamos no assunto de ex-namorados. É como se ambos soubéssemos que o passado, por mais presente que tenha sido um dia, não importa mais. O que importa é o que estamos criando agora, juntos. Enquanto seguramos as mãos, meu peito se enche de uma certeza que quase me transborda. Gosto de Leonardo. Mas o que sinto vai além de uma paixão passageira. É algo sólido, profundo, um sentimento que cresce com raízes firmes, alimentado pelo respeito e pela conexão que construímos. Ele me escolheu. Com palavras, gestos e olhares, me mostrou que está disposto a lutar por nós. E eu, sem dúvida alguma, o escolho de volta. A cada passo, sinto que estamos caminhando não apenas pela areia, mas em direção a algo que nenhum de nós consegue ainda nomear, mas que já sabemos ser real. Olho para o relógio. Passa um pouco das oito horas. Eu e Leo entramos de mãos dadas na casa, e nossos passos ecoam levemente pelo espaço amplo. A sala, iluminada por uma luz suave, emoldura meus pais sentados no sofá, conversando com Omar. Há uma rigidez na postura deles que me coloca imediatamente em alerta. Os rostos tensos, os olhares fixos. Tento captar mais detalhes do diálogo e, então, ouço meu pai pronunciar a palavra "dívida". O som da palavra, isolado e carregado de peso, reverbera como um alarme silencioso. Assim que me nota, ele interrompe a frase abruptamente, como se minha presença exigisse segredo. Omar, sentado em uma poltrona próxima, ergue o olhar para nós. Seus olhos, escuros e profundos, carregam algo difícil de decifrar, um peso que ele tenta mascarar atrás de uma fachada de formalidade. Mas é impossível não perceber. Por um instante, o silêncio toma conta da sala, tenso e carregado de significados não ditos. Omar nos observa, como se calculasse suas próximas palavras. Por fim, sua voz preenche o vazio: —Estão com fome? Seu tom parece ensaiado, uma tentativa falha de quebrar o clima denso que paira no ar. —Um café seria bom agora. É só nos dizer onde fica a cozinha que eu e Leonardo nos viramos. — Minha voz sai firme, carregando uma leveza proposital, tentando dissipar a tensão sufocante. Omar força um sorriso, mas é algo distante, quase mecânico, um reflexo de sua formalidade. —Pedi para não tirarem a mesa. — Ele faz um gesto com a mão, apontando para a direção oposta. — Seguindo por aqui, vocês encontrarão a sala de jantar. Fiquem à vontade. Depois do café, peça a uma das empregadas para levá-los ao quarto. A bagagem de vocês já está lá. Suas palavras soam educadas, mas há algo na última frase que me incomoda, como um lembrete do poder que o dinheiro proporciona. Olho em volta, para a grandiosidade da casa: os tetos altos, os detalhes luxuosos e a engrenagem invisível que mantém tudo impecavelmente organizado. É impressionante, sim, mas não ressoa comigo. Esse tipo de ostentação nunca foi o que considero essencial. Aceno um breve “sim” para Omar, sem me demorar na interação, e me viro para Leo. Seus olhos encontram os meus, aqueles verdes profundos que sempre parecem ver além. Ele não diz nada, mas sua expressão serena, ainda que atenta, é o suficiente para me reconfortar. —Vamos? — pergunto, estendendo minha mão para ele. Sem hesitar, Leo entrelaça seus dedos aos meus. Há algo na simplicidade desse gesto que me tranquiliza, como se sua presença pudesse equilibrar qualquer incerteza. Seguimos pelo corredor que Omar indicou, e, enquanto caminhamos, sinto o calor reconfortante da mão de Leo na minha. O contraste entre ele e tudo ao nosso redor não passa despercebido. A imponência da casa, com seus corredores amplos e decoração impecável, é fria. Já Leo, com seu jeito simples e verdadeiro, carrega uma riqueza que nada nesse ambiente consegue rivalizar. No fim, é isso que importa. Não o luxo, não as formalidades, mas a conexão entre nós dois. Isso, sim, é essencial.
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