Assediad@

1272 Words
A sala de jantar é um espetáculo à parte, com uma mesa impecavelmente posta. O aroma do café recém-passado mistura-se ao frescor das frutas e à doçura dos pães. Eu e Leonardo nos sentamos lado a lado, aproveitando o momento de cumplicidade silenciosa. Nossos olhares se encontram frequentemente, e cada sorriso que trocamos parece carregar mais significados do que qualquer conversa. Há algo mágico na simplicidade desse instante, algo que aquece meu coração. Depois do café, uma empregada nos conduz aos quartos. O primeiro é o de Leonardo. Paramos na porta, e ele se inclina, segurando meu rosto com cuidado, para me dar um beijo. É profundo, lento, e seu toque carrega uma promessa silenciosa. Quando ele se afasta, sinto meu coração ainda pulsando em um ritmo acelerado. Ele me dá um sorriso antes de entrar no quarto, deixando-me ali, tentando recuperar o fôlego. Caminho pelo corredor até o meu quarto, no final, e como já imaginava, estrategicamente próximo ao de Omar. Suspiro, sentindo a irritação crescer em meu peito, mas empurro a porta e entro. O ambiente é luxuoso e acolhedor. Tons pastéis decoram o espaço, com móveis que exalam sofisticação. A luz suave atravessa as cortinas esvoaçantes, criando um contraste harmonioso. Uma porta de vidro aberta deixa a brisa fresca entrar, movimentando as cortinas. Aproximo-me, atraída pela vista: um jardim perfeitamente cuidado e uma piscina reluzente sob o sol. Aquele cenário perfeito não consegue esconder as imperfeições do passado. Pensar em Omar traz lembranças que prefiro apagar. Ele trocou o que tínhamos por ambição, deixando-me como uma sombra de sua antiga vida. Respiro fundo, afastando esses pensamentos, e vou ao banheiro. Deixo que a água quente do chuveiro escorra pelo meu corpo, lavando não apenas o cansaço, mas também qualquer resquício emocional que ainda possa estar ali. Saio do banho renovada, com uma determinação tranquila. Escolho um biquíni amarelo que contrasta com a minha pele, vestindo um short-saia preto e uma blusa tomara que caia cheia de babados rendados. Enquanto ajusto os óculos escuros na blusa, a porta se abre abruptamente, e meu corpo congela. É Omar. Ele entra como uma tempestade, sua presença preenchendo o quarto. Seus olhos estão fixos nos meus, determinados. —Sofia, precisamos conversar. — Sua voz é firme, quase autoritária. Meu coração dispara, mas não recuo. Ergo o queixo e o encaro. —Tudo bem. Vamos enfrentar isso de uma vez. — a minha voz soa firme, mesmo enquanto a tensão no ar cresce. Omar dá um passo à frente, os seus olhos brilhando com algo entre nostalgia e obsessão. —Eu quero voltar, Sofia. Todos esses anos... você nunca saiu dos meus pensamentos. Sinto uma pontada de ironia. Ele realmente acredita que tem o direito de voltar assim, depois de tudo? Cruzo os braços e o encaro com frieza. —Acabou, Omar. — Minhas palavras são claras, definitivas. Ele estreita os olhos, e algo muda em sua expressão. Parece surpreso, como se esperasse outra reação. —Não acredito nisso. — a sua voz torna-se mais áspera. — Éramos almas gêmeas. Você está me dizendo isso para me ferir. —Não seja pretensioso. — a minha voz soa mais fria do que eu esperava. — Achar que, depois de tanto tempo, eu ainda sentiria o mesmo? Omar, não temos mais nada. Ele dá mais um passo à frente, e o meu instinto me faz recuar. Agora estou encurralada entre ele e a cama. A tensão no ar é sufocante. —Pare, Omar! — Exijo, tentando criar uma barreira entre nós, mas ele continua. Quando ele segura meu braço, seus dedos são firmes, como se me mantivessem presa. —Solte-me! — Minha voz sobe, carregada de raiva e medo. —Só depois que me ouvir. — Ele insiste, obstinado. Respiro fundo, tentando manter o controle. —Acabou! — Grito, minha voz carregada de força. — Eu gosto de Leonardo, Omar. De verdade. Ele hesita. Por um breve momento, os seus dedos afrouxam, mas logo ele ri, uma risada seca e descrente. —Você está me punindo. — Sua voz está cheia de convicção. — Ódio e amor são lados da mesma moeda. O meu coração martela no peito. Ele realmente acredita que ainda tem algum controle sobre mim? —Omar, por favor, me solte. — Digo, com uma calma que não sinto. — Então conversaremos. Preciso sair daqui. E rápido. A minha voz sai baixa, quase uma súplica, enquanto me sinto vulnerável, como um animal acuado diante de um predador. Omar hesita por um instante, mas finalmente solta o meu braço. Aproveito o momento para recuar rapidamente, quase correndo em direção à porta. Não olho para trás, mas ouço os seus passos pararem. Ele fica plantado no meio do quarto, provavelmente digerindo o fato de que perdi a paciência e me afastei. "Deus, que homem arrogante!" penso, com o coração ainda martelando no peito. Omar se recusa a me ouvir. Ele vive preso à sua narrativa, acreditando que Leonardo é uma espécie de vingança pessoal a minha. Dialogar com alguém tão obstinado é inútil. Ao entrar na sala, avisto Leonardo. Ele está separado do restante do grupo, sozinho, de costas, com os olhos fixos na janela. Meus pais conversam no canto oposto, ignorando completamente a sua presença, como se ele fosse um estranho. A cena me deixa inquieta. —Leo. — a minha voz sai trêmula, ainda ofegante. Ele se vira lentamente, e nossos olhares se encontram. O alívio que sinto ao vê-lo é imediato. Ele está lindo, vestindo uma camiseta branca e uma bermuda da mesma cor, combinando com chinelos de couro. Mesmo com essa simplicidade, Leonardo exala um charme natural que faz meu coração acelerar ainda mais. Sem pensar, avanço até ele e o abraço com força. É como se seus braços fossem meu escudo contra todo o caos que Omar tenta trazer de volta. Apoiando minha cabeça em seu peito, ouço o som constante de sua respiração, e isso me acalma. Ergo o rosto para olhá-lo. —Vamos para a piscina? — sugiro, com a voz baixa e hesitante. — Tem uma nos fundos da casa. Leonardo se afasta levemente, só o suficiente para me observar com atenção. —Você demorou. — Sua voz é tranquila, mas há um tom de dúvida que não passa despercebido. A lembrança do confronto com Omar ressurge, e um calafrio percorre minha espinha. Não posso contar a verdade, pelo menos não agora. —É... — começo, tentando parecer casual. — Tomei um banho e depois perdi um tempão escolhendo o que vestir. Queria ficar bonita para você. Ele estreita os olhos, estudando minha expressão. O silêncio que segue é denso, e temo que ele tenha percebido a hesitação em minha resposta. —Foi isso mesmo? — Ele pergunta, direto, com a voz firme, mas sem traços de acusação. Assinto, mesmo que esconder a verdade dele me consuma. —Sim. Leonardo suspira e, com sua delicadeza de sempre, inclina-se para depositar um beijo suave na minha testa. O gesto é discreto, quase contido, provavelmente por causa da presença dos meus pais na sala. Quando se afasta, seus olhos encontram os meus novamente, com uma ternura que dissolve, por um momento, qualquer resquício do que vivi no quarto. —Você é linda de qualquer jeito. — Ele sorri, e então acrescenta, com um tom leve: — Não comentei antes, mas esse corte de cabelo ficou incrível em você. Meu rosto se ilumina com o elogio. —Obrigada. — Murmuro, sentindo um calor agradável preencher meu peito. Envolvo-o novamente em um abraço, ainda mais forte, e me permito ficar ali por alguns instantes, sentindo o mundo desacelerar ao nosso redor.

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