Não quero que você se precipite.

1169 Words
—É pra já —digo, inclinando-me para me apoiar em Leo enquanto começo a tirar as sandálias. O calor de suas mãos firmes em meus braços me traz uma sensação de segurança que parece natural demais, como se eu pertencesse ali. Ele me segura com cuidado, seus dedos fortes, porém gentis, garantindo que eu não perca o equilíbrio até terminar. Um sorriso surge em seu rosto, aquele sorriso aberto e genuíno que tanto amo. É o Leo que conheço, o Leo que transforma cada momento simples em algo especial. Ele se abaixa e começa a tirar os próprios sapatos, suas mãos ágeis mas sem pressa. Quando os deixamos juntos num canto da varanda, sinto algo inexplicável ao vê-los lado a lado, como se fossem uma pequena promessa de algo maior. Leo ajeita a barra das calças, dobrando-a com movimentos precisos. Quando ele se ergue, seus músculos nas pernas são revelados, fortes e cobertos por pelos dourados que brilham sob a luz suave da manhã. Meu olhar desliza sobre ele sem que eu consiga evitar, e há algo tão primitivo e irresistível em sua simplicidade que meu coração acelera. Ele é uma força da natureza, bruto e belo, tão autêntico quanto o próprio mar à nossa frente. Quando ele se endireita, olho para ele, sorrio e estendo a mão. —Vamos? Ele assente, entrelaçando os seus dedos aos meus. O seu toque é firme e protetor, mas há uma suavidade nele que quase me desarma. De mãos dadas, seguimos em direção à praia. O som das ondas quebrando nos envolve como uma melodia antiga, transformando o silêncio entre nós em algo sagrado. A areia úmida molda-se sob os nossos pés, e a água gelada, ao tocar as nossas canelas, provoca arrepios que se espalham pelo corpo, mas de um jeito que não incomoda. Pelo contrário, é revigorante. A brisa salgada embaraça os meus cabelos enquanto o cheiro do mar me preenche, trazendo uma sensação de liberdade. É como se estivéssemos em um mundo só nosso, um instante roubado da realidade, perfeito demais para ser verdade. Meu olhar desliza até ele novamente, e o calor no meu peito cresce, expandindo-se como ondas que se chocam contra a praia. — Estou tão feliz que você esteja aqui. Ele respira fundo, o peito largo subindo e descendo devagar, antes de finalmente encontrar o meu olhar. Os seus olhos verdes, brilhantes como esmeraldas banhadas pela luz do sol, refletem algo hesitante, mas intenso. —De verdade? Ou está dizendo isso para me agradar? Paro, ainda segurando a sua mão, e olho diretamente para ele. O meu coração dispara, mas me forço a ser tão verdadeira quanto esse momento exige. —Não. Estou dizendo porque é o que sinto. Na verdade... gostaria que fôssemos mais do que amigos. O rosto de Leo se transforma em uma mistura de surpresa e incerteza, os olhos brilhando com uma emoção que ele parece tentar esconder. É como se cada palavra minha o atingisse com força, desmontando as suas defesas cuidadosamente construídas. —Sofia, não quero que você se precipite. —Me precipitar? Como assim? Ele respira fundo novamente, dessa vez os seus olhos carregados de algo que beira a coragem. —Eu vou ser direto. — a sua voz é firme, mas há uma vulnerabilidade nela que me faz prendê-la em cada palavra. — Eu gosto de você. Muito. Desde o dia em que entrou na oficina, você não sai da minha cabeça. Foi como se a sua presença tivesse preenchido um espaço dentro de mim que eu nem sabia que existia. Mas você... — Ele desvia o olhar, como se procurasse as palavras certas, antes de voltar a me encarar. — Você parecia tão autossuficiente, tão segura de si, que achei que não teria chance. A minha respiração se acelera, e cada palavra dele parece uma chave destrancando algo em mim. —Com Estela foi diferente. Ela nunca significou nada de verdade, e você sabe disso. — Sua voz suaviza, um quase pedido de desculpas. — Mas com você... sempre foi real. A intensidade de sua confissão é como um choque de realidade e emoção. Seguro a sua mão com mais força, como se isso fosse suficiente para assegurar o que estamos compartilhando. —Leo... eu... Ele me interrompe, sua urgência me silenciando. —Quando você me beijou, parecia um sonho. Juro, foi o melhor momento da minha vida. Mas depois... percebi que você estava ali por outro motivo. E tudo desmoronou. — Ele passa a mão pelos cabelos, o gesto desordenado refletindo a confusão que parece tomar conta dele. — Eu me senti como se tivesse caído de uma altura imensa. —Leo... —Eu quis estar ao seu lado, mas não para te pressionar. Só para te mostrar que eu me importo. Quero saber se existe espaço no seu coração para mim, e se houver, quero conquistá-lo, passo a passo. Seus olhos se fixam nos meus, e a intensidade deles faz o mundo ao nosso redor desaparecer. —Só não quero que você diga algo que não sinta de verdade. O meu coração não aguentaria. Sinto uma onda de calor e certeza me invadir, mas também uma ternura quase esmagadora. —Você já foi ferido por alguém? — pergunto baixinho, como se quisesse tocar os lugares mais profundos dele. Ele balança a cabeça. —Não, mas nunca senti nada parecido com o que sinto por você. E isso... me assusta. A confissão, tão simples e sincera, quebra qualquer barreira que ainda reste entre nós. Sem pensar, o puxo para um abraço, envolvendo-o em meus braços como se quisesse protegê-lo de qualquer dúvida. Sinto o calor do seu corpo, os músculos firmes e o cheiro leve que mistura algo amadeirado com a maresia. Ele me abraça de volta, seus braços fortes me envolvendo com uma intensidade que me faz esquecer de tudo, exceto de nós dois. Quando levanto o rosto, os nossos olhos se encontram novamente. O brilho nos olhos verdes de Leo é tão intenso que quase me faz perder o fôlego. Ele desliza os dedos pelos meus cabelos, e seu toque é ao mesmo tempo, possessivo e incrivelmente gentil. O beijo que segue é uma explosão de sentimentos contidos. Começa suave, hesitante, mas logo se aprofunda, tornando-se mais urgente. Os seus lábios trazem a promessa de algo maior, e eu me entrego completamente, como se esse momento fosse tudo que importasse. Quando nos afastamos, ofegantes, ele toca minha testa com um beijo terno, quase reverente. — Você é tão branquinha... melhor voltarmos. Não quero que se queime. — Esse sol da manhã não machuca. Só faz cócegas. — Tento brincar, mas a expressão dele continua séria, embora seus olhos brilhem com um sorriso malicioso. — Melhor não arriscar. —Vamos andar mais um pouco. Afinal, somos namorados agora, e estamos apaixonados. — Minha voz é leve, mas cheia de carinho. Ele me encara, e sua seriedade se dissolve em um sorriso pequeno, mas genuíno. —Tudo bem. Só até aquelas rochas. Depois voltamos.
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