Luna
Os dias estavam passando cada vez mais rápido, o tempo parecia estar sendo controlado por algo que não estava dentro dos meus conhecimentos, mas a única sensação que eu sentia era de medo. Medo de não conseguir realizar meus objetivos, medo da solidão e o principal: o medo de que tudo fique de cabeça para baixo, como já vivenciei um certo momento ao lado da minha mãe. Meu avô driblou o tempo, fazendo com que as horas se tornassem minutos e assim ele corrompeu-se e levou vários consigo, nunca me aprofundei nos assuntos familiares, mas de muitas coisas eu soube sem nem precisar ir em busca de informações.
Lancelot estava há dois dias fora, estava sentindo sua falta, mas nada passava de sentimentos por causa do vínculo e nada mais que isso. Meei estava me auxiliando nas tarefas, não queria ser uma desocupada, mas isso parecia não agradar as demais, principalmente a Dalila, mas ela não era problema meu, e sim do Lancelot!
— Vejo que hoje não está tão disposta assim, posso fazer o restante do trabalho e você poderá descansar. — Meei adentrou o cômodo sem que eu visse e logo estava segurando a tigela que estava quase caindo das minhas mãos.
— Obrigada, Meei, mas eu acho que só precisa sentar um pouco e ficará tudo bem. — Me acomodei no chão fofo, havia penas por baixo e em cima estava coberto com um pano de seda, deixando o assento macio.
— Luna, desculpe a minha desagradável intromissão, mas suas regras vieram na lua passada?
Minhas regras, como eu pude esquecer de algo tão importante? Eu não lembro de muitas coisas que aconteceram ultimamente, acabo me esquecendo delas rapidamente e não sei dizer como isso poderá afetar futuramente em minha vida.
— Irei até a cachoeira, se precisar de algo estarei lá. Não hesite em me chamar, tudo bem?
— Luna, tome cuidado, os ventos fortes estão se fazendo presentes em quase todas as noites. Estou com um m*l pressentimento, cuide-se!
— Eu sei exatamente a sensação que você está sentindo. Pedragon está mais perto do que você imagina, Lancelot não pode demorar muito, ou ficaremos sem tempo e sem chances contra as teorias de Pedragon e Malvim.
Caminhei até às pedras, apreciando a bela paisagem que estava à minha frente. Fechei os olhos e me permiti sentir o coração de Lancelot pulsando em mim.
"Meu amor, se possível sentir o pulsar da minha dor em seu ser, imploro que retorne ao teu lar e cuide dos teus. Eu preciso de você. Sua Feiticeira necessita do seu lobo". — Uma lágrima caiu e eu me vi na beira do precipício, literalmente.
Lancelot
A caçada foi boa, voltamos com alguns servos fartos que serão o suficiente para alguns dias.
Eu preciso de você… — Uma voz sussurrou em meu ouvido e logo foi se afastando aos poucos…
— Voltaremos ao pôr do sol, aproveitem para descansar alguns minutos. — Todos os homens estavam exaustos, assim como eu também estava, mas estava ansioso para ver Luna, sinto que ela precisa de mim, assim como eu preciso dela também.
…
Na beira do penhasco estava ela, de pé e de costas para qualquer coisa que estivesse atrás de si. O vento estava soprando forte, bagunçando seus cabelos, impregnando meu nariz com seu cheiro bom. Passei meus braços em volta dos seus que estavam cruzados, como se ela estivesse se auto consolando.
— Ainda precisa de mim? — Sussurrei ao pé do seu ouvido, tendo como resposta um sorriso e o silêncio.
— Sim, precisamos de comida e você como o senhor maioral é quem tem este dever. — Ela saiu do meu abraço e deu um passo à frente, se ela desse mais um cairia dali.
— Trouxemos tudo que vocês precisam, mas você sabe do que eu estou falando, Luna.
— Sei? Porque sequer nós tivemos tempo para conversar, ou melhor, você não quis isso! Estive aqui o tempo todo e você nem…
— Eu não sabia como fazer isso, por favor, me entenda. Vamos sair daqui! — Estendi a mão para que ela segurasse, mas ela não o fez e continuou ali, imóvel e sem nada a dizer, não tinha outra sensação a não ser tristeza, estava me consumindo em tristeza por ser rejeitado desta forma por essa mulher.
— Não se esforce, Lancelot, eu quero apenas cumprir minhas promessas e depois partir… — Sua voz trêmula indicava que ela estava chorando calada, o que me deixava de alguma forma vulnerável a ela.
Antes que ela pudesse dizer mais alguma coisa, segurei sua mão e a puxei de forma rápida. Seu corpo sentiu o impacto ao bater contra o meu, mas não me importei com isso, apenas abracei aquela coisa miúda que estava em meus braços.
— Pensei que pudéssemos passar um tempo a sós com você. Podemos sair por algumas horas, ou por toda a noite se assim for de sua vontade. Prometo que irá gostar.
— E se eu não gostar? — Seu olhar avermelhado miraram os meus, de forma penetrante que me fez sorrir espontaneamente.
— Poderemos mudar os planos, fazer com que esteja do seu agrado é minha prioridade. — Busquei meu melhor sorriso e confessei o que já não cabia dentro de mim. — Tenho medo de perdê-la. Por favor, não se vá, eu dou-te o que tu quiseres.
— Não se esforce para me agradar, Lancelot. Sou um ser que você odeia, não sei nem mesmo porquê me entreguei a ti, mas não estou arrependida do que fiz. — Havia tantas coisas que eu queria falar pra ela, mas este não era o momento e eu me limitei apenas a beijá-la.
Sua boca macia me trazia uma sensação de paz, embora o caos estivesse mais próximo do que pensávamos, eu estava feliz e só precisava dela para sobreviver e enfrentar tudo que tem de vir. Odin estava nos abençoando, isso era o suficiente para saber que o destino estava nos unindo mais que tudo.
De forma grosseira ela saiu do meu abraço novamente, mas desta vez foi de encontro ao vilarejo, me ignorando completamente. Após perdê-la de vista fui até Klaus, ele sabia mais sobre o amor que eu e estava designado a me ajudar caso fosse preciso, e agora estaria sendo.
— Sua fêmea já está lhe causando problemas?
— Ela não é minha… — Antes que pudesse completar a frase, pensei melhor e voltei a falar bobagens, afinal, qualquer palavras ditas de forma errada será também interpretada de forma errada. — Não estou sabendo lidar com isso, antes as coisas eram tão mais fáceis.
— Antes tínhamos Danira, antes você não era o Alpha e eu também concordo que as coisas mudaram drasticamente, mas para que tudo não saia do lugar vocês dois precisam estar juntos, sabe disso!
— Eu sei, Klaus. Mas não posso forçá-la a nada, veja, ela não me quer nem mesmo por perto e se continuar assim eu não terei outra opção a não ser deixá-la ir, como é do seu agrado!
— Tem a plena certeza de que é isso mesmo que ela quer? Luna já não tem mais família, uma casa ou qualquer outra coisa a qual possa se agarrar e lhe dar segurança. Perderam suas mães no mesmo dia, por tragédias diferentes, mas ainda sim, vocês dois são pessoas vazias e mais que nunca deveriam se unir. Luna viu a mãe dela implorar por socorro e não poder fazer nada, matou o próprio pai e ainda se mantém de pé. Ela está em um momento de vulnerabilidade, onde qualquer ajuda seria bem-vinda, mas o problema é que ela não aceita. Deveria sentar um pouco ok ela e tentar conhecê-la que o melhor é ao seu lado, se não houver persistência não vão a lugar algum.
Klaus tinha razão em suas palavras, mas como eu poderia me aproximar de forma delicada? Isso não era coisa para mim, jamais tive que cortejar algo antes de ter, e Luna já se entregou a mim, então porquê tanta resistência de sua parte?
Resguardei meu orgulho, busquei coragem e determinação e fui ao seu encontro, disposto a ter uma conversa definitiva com ela, seja o que os deuses quiserem!