Luna
A sensação era de que meu corpo estava enfraquecendo cada vez mais e mais… O corpo alto e forte ao meu lado logo foi ficando distante demais, dando espaço para que meus pensamentos tomassem posse de mim por alguns minutos.
— Eu já não tenho tanto tempo, minha filha! — O rosto da minha mãe estava ensanguentado, como da última vez em que a vi. — Escute bem tudo que eu irei falar agora, não sei se será possível te ver outra vez. Eu não quero que busque vingança, Luna. Prevejo sangue, morte e destruição se continuar com este pensamento de vingar minha morte. Aceite isto como se fosse o meu destino, assim foi e assim seria, não havia outra escolha, não para mim. Toma cuidado com o que irá escolher, uma escolha feita uma vez jamais poderá ser desfeita futuramente e você sabe.
— Mãe… — Estiquei a mão na esperança de tocá-la, mas foi tudo em vão… minha mão ultrapassou seu rosto, levando consigo o único fio de esperança que em mim ainda habitava.
— Não se force, terá que juntar forças para encarar o seu futuro. Ouça o que Merlin lhe diz, dê atenção às suas palavras e saberá o caminho certo a seguir. Não confie em nenhum mestiço ou Lobisomem, eles são traiçoeiros, nos mataram na primeira oportunidade que tiveram, não será diferente com a geração futura, Luna. Proteja-se e os mate se preciso for, mas não lhes dê confiança em nenhuma circunstância. — Sua imagem evaporou tão rápido quanto o sacolejo que recebi de Lancelot.
— Ouçam todos! — Lancelot saiu do quarto e em questão de segundos todos estavam lhe dando a atenção que ele queria. — Não partiremos esta noite, pois minha fêmea não se encontra em condições para caminhar durante uma noite. Klaus, reúna alguns homens para fazer a segurança do local, sabemos que não estamos seguros, não podemos permitir que nada aconteça com nossa família.
Sob a luz da lua, as mulheres banhavam seus filhotes nas águas cristalinas da cachoeira, recebendo a benção da deusa lunar.
Observava tudo de longe, pois estava frio e eu ainda estava um pouco fraca.
— Deveria agradecer aos deuses por ser uma mulher de sorte. — Meei cochichava se aproximando e, após chegar mais perto, me entregou uma manta e um vasto com frutas e alguns legumes. — Venha me ajudar, a cozinha é quente e eu farei um chá para você.
Lancelot
A sensação de impotência que sinto quando ela está longe. A dor que sinto quando ela me despreza é indescritível. Ao ouvir de sua boca que ela daria sua vida por mim, feriu minha alma e eu senti meu corpo paralisar por alguns segundos. Como uma humana poderia mexer desta forma comigo? Porque justamente uma feiticeira havia de ser minha alma gêmea? Por quê? Eu sinceramente não entendo porque o destino me castigou desta forma.
Após colocar a lenha dentro do armazém, para que durem alguns dias e que não estrague com a chuva. Avistei Luna de longe, observando as crianças se banharem, mas se manteve longe, como se estivesse com medo de alguma coisa, até que Meei a tirou de lá e ela parecia feliz em vê-la.
— Parece que hoje será mais uma noite daquelas. O céu está se movendo mais rápido que antes, como sinal de algum aviso e temos que estar prontos para o que vier. — Klaus se mantinha firme ao meu lado, observando sua fêmea banhando seu filhote nas águas cristalinas.
— Você poderia ter um filhote também, não sabe como é satisfatório ver quem nós amamos, em dose dupla é melhor ainda. — Olhei novamente e Dalila estava vindo em minha direção, com roupas de banho e um olhar malicioso. — Vou aproveitar e limpar esse sangue. Abra o olho, Lancelot, estou te falando isso como amigo.
Dalila era uma bela mulher, já encheram meus olhos, mas hoje eu não conseguia mais vê-la com desejo. Queria seu bem, mas longe de mim, pois agora eu já não tenho olhos para mais ninguém além de Luna, que está me desprezando.
— Eu sei que não encho mais os seus olhos, mas não podes me desprezar assim. Sabes que não pode fazer isso.
— Não tens direito de opinar em nada, mas desde então, não tens direito de me dirigir à palavra.
— Perdão, Sr. eu apenas pensei que…
— Não pense, Dalila, será perda de tempo. Mantenha-se calada e faça apenas o que eu mandar. — Ela pensou em contestar, mas o vento começou a soprar forte e ela foi ajudar as demais a banhar suas crias.
O sol estava se pondo, o céu começou a escurecer de repente e o vento soprava forte, indicando que hoje a noite seria fria, dando espaço para uma vasta e demorada tempestade. Luna tem que estar bem, preciso garantir que ela esteja segura e forte.
Luna e Meei estavam cuidando do jantar. Suas mãos maestrosas coartavam os legumes de forma delicada, fazendo-me parar para lhe observar por alguns segundos até que ela virou-se e me viu.
— Estão precisando de algo mais? — Pergunto ao vê-la me olhando com desdém.
— Obrigada Sr. mas já temos o suficiente aqui. — Respondeu Meei com um largo sorriso no rosto, após isso a mesma se retirou e foi acender o fogo a lenha, deixando Luna a sós em minha presença.
— Luna, eu não quero que me veja como uma ameaça, jamais a tocarei sem o seu consentimento.
— Esse é o problema, Lancelot! Estamos ligados pelo fio do destino e eu o quero como se minha vida dependesse disso, mas não posso colocá-lo em risco até que eu tenha o que eu quero e você sabe o que é!
— Ainda está pensando em vingar-se dos Crowler's?
— Jamais disse o contrário. — Ela parecia decidida em suas escolhas, mas se isso lhe custasse a vida, então eu tomaria a frente sem pensar duas vezes. — Isso é problema meu, Lancelot, na verdade eu nem mesmo sei porque estou aqui já que não sou uma pessoa confiável a você.
Em sua voz havia melancolia, ela estava sozinha e eu também. Afinal, o que o destino preparou para nós dois? Ou será que a marquei apenas por pura luxúria e para satisfazer o meu monstro? Que seja!
Caminhei para mais perto do seu corpo, senti o medo lhe tomar e a abracei por trás, sentindo o cheiro dos seus cabelos invadir minhas narinas.
— Por favor, não faça as coisas serem mais difíceis para mim. Sabemos que não… — Ela não parava de falar, como se isso fosse fazer com que eu desistisse dela.
— Quando iremos ter um filhote, Luna?