Merlin
— Seu miserável, eu disse que quando colocasse minhas mãos em você não iria ter piedade. — Crowler falava enquanto afrouxava a corda em meu pescoço, após algumas horas de torturas eu estava conseguindo respirar melhor.
— Você pode me matar, mas jamais irá ter o que você quer, velho maldito.
Abnerzy sumiu, mas eu estava preso no Clã de Kodo e não fazia a mínima ideia de como irei sair daqui. Não consigo mais conjurar nada, não invocar nenhum demônio para que me ajudasse a pelo menos me livrar dessas correntes e sair daqui.
— Você apadrinhou a maldita, tem que saber um jeito de encontrá-la e chamá-la até aqui. Se fizer isto, sua liberdade será concedida. Eu só preciso daquela maldita Feiticeira em minhas mãos. — Meu humor não me permitia ficar triste, e nessas horas eu ria da minha própria desgraça.
— Você daria seu filho nas mãos de qualquer um? Estamos falando da mesma situação, quase… — Agora que eu não tenho mais o que perder, irei até o fim para conquistar a confiança de minha filha e trazê-la para o meu lado. — Se me matar sabe bem das consequências que terá em sua vida. Mas, pode seguir em frente, sinta-se à vontade.
— Está se divertindo, Merlin? — Antes de responder senti o impacto do seu cajado atingir minha nuca e cair de joelhos em seus pés. Ao ver seu sorriso maldito brotando em seus lábios, cuspi todo o sangue que havia acumulado em minha boca em seus pés e em troca disso recebi um chute em meu rosto, me fazendo cair.
— Não imagina o quanto isso é divertido, vovô. — Respondi sentindo meu corpo enfraquecer aos poucos, mas antes que meus olhos se fechassem, Abnerzy surgiu ultrapassando pelo corpo de Crowler, mas como um feiticeiro isso não lhe atingia o suficiente para que lhe causasse uma dor semelhante, mas foi o suficiente para despertar ainda mais sua fúria.
Abnerzy tinha o poder de absorver as almas de forma instantânea, mas para que isso acontecesse a pessoa tinha que se encontrar em um momento de vulnerabilidade e era difícil atingir Crowler, mesmo que com ela, ele ainda se mantinha de pé e forte.
Luna
O calor de Lancelot me aqueceu a noite inteira, posso dizer que estava gostando de senti-lo, mas ainda senti meu corpo muito fraco e meu estômago implorando por comida. Alguma coisa estava errada, sentia pontadas em meu peito e um rosto sem face invadia meus pensamentos como se estivesse implorando por ajuda, até que me faltou ar nos pulmões. Meu corpo levantou de forma assustada, enquanto Lancelot correu até mim, colocando sua mão em cima da minha, causando sensações estranhas em seu toque, como se aquilo estivesse me machucando.
— Eu disse que iria sobreviver sozinha, por que não foi embora? — Levantei sem olhar em seu rosto e quando percebi que estava despida, puxei o lençol até a altura dos meus s***s e os cobri. — Não lhe permito que me olhe. Não temos i********e alguma.
Como se não sentisse frio, Lancelot estava vestindo um couro que cobria suas partes, mas ainda deixava suas pernas e todo o resto à mostra.
— Vamos voltar para casa quando o sol estiver se pondo. Vou preparar alguma coisa pra você comer, precisa ter forças para caminhar.
Estava sentindo algumas pontadas em meu peito e isso estava me deixando fraca. Cair de joelhos no chão e tendo meu corpo puxado para frente, minhas forças estavam indo embora e Abnerzy estava ao meu lado, ao olhar em meus olhos ela disse:
— Eu não me importo com a sua vida inútil. Preciso dela para Merlin. — Ela sugava minha alma de um jeito doloroso. Consegui olhar para Lancelot que ao perceber que eu estava tentando falar e não conseguia, correu e me pegou nos braços.
Lancelot
Por mais que eu tivesse uma ótima visão, não conseguia ver o que diante dos olhos de Luna, mas o demônio estava sugando f**a suas forças, parecia que sua alma estava saindo do corpo. Ela gritava sem perceber, enquanto se espremia em meus braços. Meu instinto protetor me fez agir sem pensar, em questão de segundos meu monstro estava solto e Luna ao meu lado. Mas como eu iria conseguir segurar ela? E se essa coisa matar minha Feiticeira? O que será de mim? Eu morrerei também.
— Lancelot, não arrisque sua vida por minha causa. Eu irei ficar bem, por favor… — Eu a ouvia mas não conseguia responder. De repente senti uma dor insuportável tomar conta do meu corpo, comecei a me contorcer, sem conseguir reagir.
— Abnerzy, há quanto tempo não nos vemos? Não me faça exorcizar você novamente, aberração. Volte para o inferno, antes que eu a leve pessoalmente. — Como se o ser temesse a mulher que estava ali, lhe dando ordens, a dor foi sendo inibida do meu corpo que em seguida caiu no chão. Ali eu era somente um humano fraco e derrotado.
— Eu sou Danúbia, tia da Luna e Feiticeira do clã de Dimitriz, o qual vocês já tentaram derrubar uma vez. — Ela estendeu a mão e me ajudou a levantar, em seguida sentou ao lado de Luna a segurando em seus braços, com o corpo nu e sangrando muito.
Luna
Eu lembrava do seu rosto, mas como? Da última vez que a vi foi no dia em que perdi minha mãe, mas nem reparei em seu rosto e olhando agora, ela não mudou nada de anos atrás para hoje. Eu não faço ideia do porquê Abnerzy fez isso, mas ela iria me matar e disso eu não tenho dúvidas, minha tia mais uma vez me salvou, e agora a Lancelot também.
— Quando sua mãe me disse que você era corajosa, eu não pensei que seria tanto ao ponto de se envolver com um lobisomem, um ser desprezível que não respeita nem mesmo quem está ao seu lado. — Lancelot tentou se aproximar, mas teve o corpo lançado longe e ao nosso redor minha tia desceu uma cortina de proteção. — Não ouse tocar nela, seu imprestável.
— Luna é minha, eu a marquei, e agora somos um só corpo, uma só alma. — Então havia regras para se relacionar? Não eram como os humanos?
— Eu não entendo, eu… — Tenho quase certeza que em minha testa estava um ponto de interrogação enorme. Ela me olhou e sorriu, enquanto Lancelot tentava ultrapassar a cortina que não cobria.
— Quando um lobisomem marca uma humana, ou até mesmo uma de sua raça, suas vidas a partir de então se tornam uma só. Resumindo: se um morrer, o outro morre também. — Seu olhar foi diretamente direcionado às marcas em meus s***s, que estavam bem expostas e doloridas. — Ele a marcou de forma forçada? — Lancelot a olhava com fúria em seus olhos, assim como Danúbia olhava para ele com fúria.
— Ele me salvou no dia em que minha mãe foi morta, a mãe dele também foi morta. Eu estava sem forças e ele me ajudou, mas não foi nada a força.
Lancelot rosnava pra ela, enquanto ela me devolvia a energia necessária para ficar de pé. A cortina foi abaixada e finalmente ela se aproximou dele, mas ele recuava para trás a cada passo que ela dava para mais próximo dele.
— Você é filho de Danira, pela consideração que eu tinha a sua mãe irei te deixar em paz, mas se machucar Luna não terá perdão. — Ele não respondeu e ela sumiu, nos deixando mais uma vez a sós.