Luna
Sem muita opção eu caminhei até a árvore onde estava Merlin, com o capuz cobrindo seu rosto e a garrafa de vinho ao seu lado. Se eu dissesse que estava tudo bem estaria mentindo, mais cedo Lancelot estava se insinuando para mim e eu feito uma tonta acreditando, por um fio não me entreguei. Sentei ao lado de Merlin e peguei a garrafa ao seu lado, sorvendo alguns goles do líquido sem pensar duas vezes. Essa era a segunda vez em que eu estava bebendo, a primeira vez ainda foi na presença de minha mãe e foi em comemoração de alguma coisa que aquele velho i****a fez.
— Não deveria estar aqui. Está frio e meu sobrinho não quer perto de mim.
— Você finge muito bem, poderia jurar que estava dormindo. — Suspirei e mirei o nada, sentindo o frio tomar conta do meu corpo e a raiva tomar conta da minha mente. — Lancelot não se importa comigo. A verdade é que eu acho que minha hora aqui já chegou. Eu preciso resolver algumas pendências que deixei para trás e não vejo porque ficar aqui.
— Compreendo e a apoio! — Ele ainda estava com o capuz cobrindo seu rosto e em questão de segundos a mulher que estava ao seu lado mais cedo, surgiu das trevas e se posicionou ao seu lado. — Abnerzy… — A mulher me olhou e com uma voz grave e horrível disse:
— Luna, filha de Léia e a feiticeira mais poderosa de todos os tempos. Os Crowlers estão à sua procura, querem sua cabeça e eu quero apenas sua alma. — Engoli em seco as suas palavras e a respondi:
— Você é a morte, não é? Minha mãe contava histórias sobre como você se tornou Abnerzy. Sei que antes de matá-la era uma feiticeira que procurava a perfeição dentre todos eles. Sua expansão de domínio já chegou a matar o clã Kodo séculos atrás, seria meu sonho matá-los com apenas um golpe. — Suspirei bebendo mais do vinho e sem que percebesse Merlin tirou seu capuz e pegou a garrafa de minha mão.
— Você não se incomoda com isso? Lancelot não a assusta com seus instintos incontroláveis? Você é uma feiticeira, filha de Léia e como pode fingir que está tranquila? — Merlin me fitava com os olhos fixos aos meus, me causando arrepios.
— Como você sabe de tantas coisas sobre mim apenas em me olhar? Abnerzy que lhe conta as coisas? Se eu tivesse a morte ao meu lado teria tudo que eu quisesse. Afinal, o que realmente o traz aqui?
— Você! Merlin quer lhe contar algo que somente você pode saber. — Abnerzy respondeu causando um leve incômodo em meus ouvidos.
Eu já não fazia ideia de como eles sabiam sobre mim, mas não cogitei nada, apenas ouvi atentamente ao que ela dizia e por fim, Merlin se pôs a falar:
— Você me trouxe até aqui. Eu lhe dei a bênção nos 700 anos da família Crowler. Seus pais me proibiram de vê-la enquanto estava sob a proteção deles, mas quando soube que estava aqui eu não pude deixar de vim vê-la e saber como estava. Me sinto feliz. Você é realmente muito parecida com sua mãe, não somente em aparência como em exatamente tudo.
— Eu não sei quem é meu pai. Minha mãe foi morta porque Ulisses a acusou de traição. Eu vi sua cabeça ser disputada pelo velho Crowler e os logos de Pedragon. Espero que algum dia eu consiga a vingança que eu estou planejando com tanto carinho. Então, quer dizer que me conhece a muito tempo? Pode me dizer então porque todo esse ódio de Lancelot por magia?
— Não é por causa da magia em si, é particularmente por mim. Quando Danira estava nas mãos de Abnerzy, eu não pude fazer nada e ela se foi em um momento difícil. — Meus olhos estavam cheios de lágrimas sem que eu percebesse. Sentia os dedos de Merlin tocar meu rosto e as enxugar.
— Você terá a vingança na hora certa, mas para que nada dê errado precisa trilhar caminhos difíceis e em alguns deles sua alma estará comprometida. Conseguir a lealdade do lobo será essencial em sua jornada. — Abnerzy falava olhando para o nada. Não era possível ver seu rosto por conta do véu n***o em que ela usava, assim como sua roupa.
— Posso beber mais um pouco? Preciso aquecer meu corpo ou…
— Shi… amanhã será um longo dia… — Merlin colocou sua capa sobre meu corpo e me entregou a jarra de vinho, que mais parecia uma cumbica.
— E eu quem havia prometido conseguir um lugar pra você passar a noite e os papéis acabaram de invertendo.
…
Lancelot
Um impasse. A presença de Luna sem aviso prévio, fez meus sentidos se aguçarem e eu não conseguia mais pensar em nada a não ser querer provar do seu gosto. Não podia machucá-la e sei que se tentasse acasalar com ela em meu estado natural, seria impossível ser gentil. Não sei o que ela é, mas ela não é humana, aquele cheiro não é humano e eu estou a ponto de enlouquecer porque não consigo matá-la. Não fiquei com os outros para o jantar. Fiquei em em meus aposentos esperando pelo momento em que ela iria surgir e desta vez eu iria estar sozinho novamente, já não mais acompanhado. Ela deveria estar com frio, as velas haviam se apagado todas e restando assim apenas a luz da lua, que era suficiente para enxergar perfeitamente.
Encostada na mesma árvores que Merlin, estava ela também. Porém, ela dormia e ele não.
— Aqui não é abrigo para você, Merlin. Você não bem-vindo aqui.
— Lancelot, por que tantas mágoas? Eu só quero ajudá-lo.
— Ajudar? Como irá ajudar se é um fracassado? Eu não sei o que você fez para que minha mãe morresse, mas não a salvou quando pôde. Você tanto quanto eu sabemos que não pode mais fazer nada. Sua última opção era me procurar e olha só onde você está agora. Em um estado deplorável, onde eu sinto apenas pena de você e mais nada. Se espera meu perdão, saiba que não o terá.
— Não precisa ser assim, meu querido sobrinho. Somos mais parecidos do que você possa imaginar. Além disso, eu apadrinhei esta garota, portanto ela irá comigo se eu partir.
— Ela não irá a lugar nenhum com você, Merlin. — Rosnei de forma involuntária fazendo com que Luna despertasse e se encolhesse ao seu lado.
— O que houve aqui? Já amanheceu? — Ela sorria descontroladamente e nós dois continuavamos sérios.
Segurei em seu braço e a levantei de forma brusca, Merlin se pôs a nossa frente e tentou impedir que eu a levasse para dentro dos meus aposentos mais uma vez, mas antes que eu o fizesse, Luna se debatia em meu braços como se eu estivesse a machucando.
— Me solta. Me põe no chão agora mesmo, estou ordenando. — Seu desespero fez Merlin nos seguir até meus aposentos, mas antes que o mesmo ultrapassasse a porta eu fechei a mesma.
— Você bebeu aquele vinho todo? Porque fugiu quando me viu?
— É uma visão um tanto deplorável te ver… ah… você sabe o que eu quis dizer. Agora me deixa sair daqui, esse lugar está fedendo e eu detesto locais que fedem. Você está cheirando a cachorro molhado e eu não sei se gosto disso. Detesto pressão e por fim, não quero que Merlin vá embora. Ele me abençoou quando nasci, sendo assim, ele é meu guardião.
Quantos argumentos ela ainda tem ao seu favor? Como ela pode passar por cima das minhas ordens como ela ousa fazer isso? Será que não tem medo de mim ou me vê como um lobo qualquer?