Crowler
— Há quanto tempo, Crowler! — Malvim tinha em seus lábios um terrível sorriso, mas jamais abandonaria sua espada, nem mesmo que fosse para entrar em meu clã.
— Lhe digo o mesmo, Malvim! — Estendi a mão e ele sentou-se em um dos bancos feitos de madeiras, que o acomodou muito bem enquanto uma das domésticas lhe serviram uma caneca de cerveja. — Espero que tenham lhe recebido bem.
— Melhor impossível. — Ele levou a caneca até os lábios e sorveu um gole do líquido que estava gelado por conta do inverno. — Somos homens muito ocupados, suponho que não me chamou até aqui para perguntar se fui bem recebido pelos seus. Vamos ao que nos interessa?
— A maldita Feiticeira ainda está viva, isso é um grande problema… — Suspirei com certa raiva, pois a dor da perda me corroía a cada dia mais e mais… — Eu quero que meu filho seja vingado, mas não que seja por suas mãos nojentas. Quero que a traga para mim, em troca poderá pedir qualquer coisa.
Conhecíamos bem quais eram os interesses de Malvim. Um homem escroto que se esconde atrás daqueles cães desgraçados, cujo eu matarei todos pessoalmente algum dia, mas, até lá, Malvim terá que ser útil para alguma coisa. Ele pode me trazer a maldita Feiticeira mais rápido do que qualquer outra pessoa, ou seja apenas coisa da minha cabeça.
— Qualquer coisa? — Seu sorriso de uma forma absurda. — Tem noção do que está me propondo, Crowler? Você joga palavras ao vento como se elas fossem nada! Eu posso pedir a sua cabeça, ou até mesmo a sua Feiticeira.
— Propomos um acordo, então? — Ele não parecia muito confiante em minhas palavras, mas não discordou e calou-se. — Ótimo! Eu sei que você é um homem de negócios, não irá me decepcionar!
— Não estou aqui para decepcionar ninguém, até porque o que me convém é o meu bem-estar e nada mais que isso. Mas, diga-me, o que você me propõe em troca da Feiticeira?
— Muito ouro, terras e alguns homens para o seu exército. — Sua mão foi até o queixo e ele tinha uma expressão pensativa, como se estivesse tentado.
— Eu aceito, mas com uma condição: a cabeça dela terá que ser entregue a mim, assim eu terei certeza que não fiz um trabalho a toa. Meus homens custam caro, a gente não trabalha para perder!
— Malvim… — O encarei, tomando sua atenção o vendo respirar devagar. — Nós fizemos um acordo, você não tem direitos aqui. Agora vá, lhe pagarei metade do ouro agora e após o serviço entregue que pagarei o restante.
Fomos até meus aposentos mais reservados enquanto Malvim passava os olhos por todos os meus pertences. Lhe entreguei o p*******o adiantado e uma capa que Luna sempre usava quando saía, isso facilitará seus lobos a achá-la pelo cheiro mais rápido.
Luna
Despertei com Lancelot fungando em meu pescoço, ele buscava meu cheiro e eu sabia disso, porém tinha medo. Sentei rápido sem lhe dar muito tempo e o olhei, mas ele estava sério e parecia não muito amigável. Não estava mesmo parecendo o Lancelot da noite passada.
Olhei rápido para minhas mãos e vi sangue, minhas pernas estavam sujas de sangue e todo o resto do meu corpo.
— Lancelot… — Sussurrei ao ver que meus cabelos estavam brancos e sua íris em um tom dourado, mas a cara estava de poucos amigos.
— Você é uma traidora, Luna. — Suas palavras me fizeram paralisar. Eu queria correr, mas não tinha forças e nem mesmo sabia de onde era aquele sangue. — Você veio até aqui a mandado do Crowler, não foi? — Seus gritos estavam altos demais e ele começou a expor suas presas, me acuando cada vez mais para o canto.
— Eu… — Procurei por um cobertor para cobrir meus s***s e o restante do meu corpo que ainda estava exposto, quando ele avançou em meu pescoço e começou a me enforcar.
— Eu odeio Feiticeiras. Odeio magia e qualquer ser que possa conjurar tal. — Sua respiração estava ofegante e ele apertava meu pescoço cada vez mais e mais… me deixando sem fôlego a cada segundo.
Após todo o contato carnal que tivemos, eu senti como se estivéssemos conectados por completo. Eu sentia seu medo, sua respiração e até mesmo o medo de morrer, o qual nunca temi. Supliquei em pensamentos por ajuda, pois eu não queria machucá-lo. Tentei me soltar de suas mãos, mas ele cada vez sentia mais ódio e mesmo após o vínculo de ontem ele ainda seria capaz de matar? Não deveria ser assim. Um Alpha quando se vincula com sua fêmea, ele dá sua vida por ela.
— Lancelot… — Tentei argumentar, mas só saía sussurros muito baixos, impossível até mesmo dele ouvir. — Eu te amo. — Senti meu corpo fraquejar, minha respiração falhar e minha vista escurecer. — Eu te am…
Suas mãos continuaram apertando meu pescoço, mas quando ele percebeu que eu já estava ficando sem ar, suas mãos se afrouxaram e eu senti uma pontada em meu peito, uma dor infernal, m*l estava conseguindo respirar. Após ter meu corpo lançado ao chão com toda sua força, ele saiu e eu chorei por muitos motivos. Me entreguei por amor a um homem que quer me matar?
Minutos se passaram e ele não voltou, vi o fogaréu subir, ele deveria estar fazendo o que disse ontem. Juntei forças e virei meu corpo, ficando de barriga para cima, na posição em que os deuses pudessem ver minha dor.
Fechei os olhos e confiei em minhas preces. Elas têm de serem ouvidas.
— Ôh, mãe. Eu peço que me proteja de onde estiver. Não a esqueci em momento algum. Mas, não sinto meu corpo. Estou muito fraca e não sei se sobreviverei. — Os deuses me diziam que minha mãe me via, ouvia e poderia me proteger de alguma forma, não entendo como isso é possível, pois os feiticeiros que são órfãs, na maioria das vezes estão sozinhos.
Uma sensação de paz tomou meu corpo, vi a claridade encadear meus olhos e a imagem da minha mãe estava ali, quase imperceptível, mas ainda sim estava ali.
— Filha, você salvou meu corpo. Não posso deixar que seja seu fim. A morte não é o seu destino, filha. — Suas mãos me ergueram, fazendo meu corpo levitar, sentindo uma paz absurda.
Em um piscar de olhos eu estava deitada sob uma cama coberta de flores, cheirava bem. Meu corpo não se suportava mais em pé, quando deitei sob a cama e adormeci no mesmo instante.
Lancelot
Ela revelou-se ser uma Feiticeira quando adormeceu e chorou por algo antes de dormir. Suas lágrimas não eram água, era sangue. E de novo isso estava acontecendo. Quando ela chorou, suas lágrimas molharam minhas mãos de sangue, antes de desmaiar. Eu estava fora de mim, eu abomino qualquer ser que conjure magia, e Luna não me parecia ser fraca. Ela tinha muitas características dos anciões. Seus cabelos estavam brancos, como se fossem raios. Seu corpo rapidamente ficou mais pálido e, naquele momento, senti uma pontada em meu coração, como se eu estivesse perdendo minha vida. Eu marquei Luna, não posso viver sem ela. Ela é a minha vida, se um morrer o outro também se vai.
— Filha, seu destino foi traçado nesta madrugada. Você quis, você a marcou. Não pode machucá-la, um Alpha não machucaria sua parceira em circunstâncias alguma. Seu dever é protegê-la. Sua fêmea está em perigo, salve-a. — Não a vi, apenas ouvi sua voz. Minha mãe desde que se foi não me abandonou. Nas horas mais precisas ela surge e me guia, como sempre foi.
A cada segundo que se passava eu sentia meu peito doer cada vez mais. Atravessei as cortinas na esperança de dizer que eu a amo, pedir perdão por machucá-la, mas ela já não estava mais ali. Onde ela estava quando eu saí, agora era uma poça de sangue vermelho, quase preto. Meu peito ardeu.
Gritei, urrei e por fim, meus uivos eram de dor, desespero e medo. Tenho medo de não encontrá-la mais e acabar morrendo por isso.