Pai e Filha

1111 Words
Quando volto a abrir os meus olhos, a luz do dia já entra pela janela do meu quarto, esqueci de fechar as cortinhas antes de dormir. Fiquei tão inerte na minha conversa com Pedro, assim que nos despedimos eu apaguei, agora são 5:43 da manhã. Eu sempre tive o hábito de acordar cedo como o meu pai, sempre somos os primeiros a levantar, respiro fundo pensando na nossa rotina, sempre tomamos um primeiro café da manhã juntos. Me levanto faço a minha higiene matinal, escolho uma calca social marrom, uma blusa frente única branca com alguns babados. Hoje eu só vou para o escritório depois da faculdade, então escolho uma roupa mais despojada. Desci em busca de um café, meu pai e eu sempre temos essa mania de tomar uma xícara de café, com um pedaço de queijo branco dentro do café, como somos os primeiros a acordar, fazemos isso antes de tomar café com todos juntos, para aguentar esperar. Nunca foi combinado de fato, mas sempre nos encontramos na cozinha, o que acabou virando um hábito nosso. Começou comigo primeiro, começamos a nos encontrar na cozinha com o tempo, ele experimentou a minha loucura de café com queijo, mas após experimentar gostou. Ontem foi o primeiro dia em muito tempo que os dois estavam em casa e não fizemos isso, fora isso só quando um de nós não está em casa, dormindo fora, viajando, coisas do tipo. Mas fora isso, sem exceção tomamos esse café, conversamos sobre vários assuntos. Não faço ideia de como vai ficar a minha relação com o meu pai no momento, só espero que eu consiga recuperar a sua confiança. Ele sempre foi um excelente amigo, companheiro, conselheiro, simplesmente estar com medo de encarar ele me desaponta um pouco, não deveria ter jogado isso fora. Assim que entro na cozinha o meu pai está lá, fico parada sem saber o que fazer. Desde o dia que brigamos que eu não o vejo. Ele estava sentado no balcão com a queijeira, a garrafa de café e duas xícaras, senti o meu coração aquecido pela sua atitude, ele está à minha espera, porque de que outro motivo ele estaria aqui há essa hora com duas xícaras e o queijo. Me sento ao seu lado sem falar nada, com certeza a minha vergonha está em evidência. Ele serve duas fatias generosas de queijo, coloca nas canecas, depois despeja o café nas duas, me entregando uma. Sem dizer nada, ele colocou a caneca na minha frente. - Obrigada. – Foi a única coisa que consegui dizer também. Ficamos em silêncio por longos minutos, apreciando o nosso café doido. É tão gostoso, o café fica levemente salgadinho, e o queijo fica divino com o gostinho do café e levemente derretido. Ele suspira fundo algumas vezes, sinto que quer dizer alguma coisa. Reconheço essa postura dele, quando faz algo que a minha mãe desaprova, ele fica sem jeito para pedir desculpas, o meu pai é um homem orgulhoso, mas aprendeu ao longo dos anos que nem sempre tudo tem que ser literalmente como ele pensa. - Desculpe pela forma que falei com você – a sua voz era baixa e envergonhada. – Fiquei um pouco cego com a possibilidade. E acabei não medindo as minhas palavras. – Sei que ele está certo, em tudo que disse sobre eu estragar o meu futuro, se envolver com um homem casado acabaria com a minha carreira, mas de alguma forma eu precisava ouvir isso. - Pai eu não tenho... - Eu sei. – Antes mesmo de terminar ele diz – Sei que vocês não têm um caso com o João, e que eu me precipitei em julgar você, sei que não mentiria para sua família assim, muito menos destruiria uma família com crianças pequenas. Mas tenta entender que todas as provas estavam contra você. – Dou um pequeno sorriso com a sua referência a minha profissão. – Eu surtei, porque imaginar a minha filha fazendo uma coisa dessas me deixou louco, mas eu deveria ter ouvido, antes de qualquer coisa deveria ter deixado você falar. Mesmo que as provas fossem contra você. - Eu sei. – Digo com tristeza – Não era a minha intenção mentir quando você perguntou sobre nós dois. Mas tive tanta vergonha do meu sentimento, e mais ainda daquele beijo. Nunca foi minha intenção deixar alguém descobrir sobre nenhum dos dois. - Eu sei, eu sempre soube, na verdade, que você não é assim, isso destruiria a sua carreira, e você não faria algo do tipo. É uma, Garcia. – Ele sorriu. – Buscar vencer sempre os seus próprios obstáculos é uma coisa que fazemos bem. - Obrigada pai. Por acreditar em mim. – Dou um pequeno sorriso. - Sempre pequena. Mas tome cuidado com o seu coração. – Ele me olha. – Os sentimentos são traiçoeiros, nos deixam vulneráveis e suscetíveis ao erro. - Está me dizendo que amar é ru1m? – pergunto com cautela. - Não. Estou dizendo que se você precisa mudar a sua essência para isso não é algo valido. Se o seu sentimento de induz ao erro precisa ser revisto já que o amor, principalmente, deve ser onde você pode ser você mesmo. Sem precisar se esconder, inclusive do mundo. - Compreendi. – Aperto os meus lábios em uma linha fina. Respiro fundo. – Não vou me perder pai. Eu prometo. - Que bom pequena. Que bom... - Chegamos ao final do nosso café, e a melhor parte comer o queijo branco saboreando cada mordida. Em seguida ele pega as duas canecas e põe na pia. Está indo em direção à porta. - Como sabia que eu viria? – pergunto antes dele sair. Ele se vira para mim. - Não sabia. Apenas esperei que viesse. Como ontem – ele diz e sai. Então ontem ele ficou me esperando também. Eu pensei que ontem ele ainda estava chateado comigo, mas não ele veio até aqui e ficou me esperando. E eu como uma boba morrendo de vergonha dele. Depois da nossa conversa me sinto aliviada em saber que ele acredita em mim na minha palavra de que não existe um caso, entendi a sua indireta sobre não mudar a minha essência, não precisar me perder para encontrar um amor. A minha família é muito importante na minha vida, não vou desapontar ele novamente. Nunca aconteceu antes e eu espero que não se repita da nossa relação ficar abalada. Farei o meu melhor para esquecer desse sentimento que nutro como uma boba pelo João. O meu foco agora será minha carreira. E quem sabe talvez o Pedro. Sorrio com simples lembrança da nossa conversa de ontem à noite.
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