- O que você está comendo? – ele olha para o meu prato com curiosidade.
- O melhor café da manhã do mundo. – Respondi animada – Café preto e pão de queijo só faltou um pedaço de queijo minas que ele não tem hoje. – As suas sobrancelhas se unem em curiosidade – Nunca comeu pão de queijo? – pergunto.
- Não. – Ele sorriu – Vou querer o mesmo por favor. - Ele pede ao garçom.
- Mas você conhece? – difícil conhecer alguém que nunca comeu. Em que mudo ele vive?
- Sim, conheço, mas nunca comi de fato. – Ele dá de ombros.
– Pães de queijo daqui são quentinhos soltando fumaça, o café da mesma forma. – Tomo um pouco do meu café.
– Está aí, uma combinação um pouco pitoresca. – ele tenta esconder o sorriso.
- Não vai se arrepender. – O garçom chega com o pedido dele.
– A aparência parece boa. – Ele diz olhando para o prato.
- O gosto também, esses são os melhores da região, tirando os que a Roro faz é claro. – Digo sorrindo, ela faz um pão de queijo maravilhoso. Aprendemos com ela a gostar tanto assim. Ela é mineira e faz o melhor do mundo.
- Quem? – ele pergunta com curiosidade.
- Roro, Rosângela, ela ajudou a me criar. Ela sempre fazia para o lanche ou café da manhã na nossa casa, virou um hábito em toda a família. Tinha dias que a gente esperava ansiosos os pães dela.
- Bacana. – Ele dá um meio sorriso, desviando o olhar, por um segundo pareceu um pouco triste. Pedro tem movimentos finos, gestos calculados, talvez um pouco robótico. Parece ter tido uma criação regrada e impecável. Julgo até que foi criado em colégio interno. Será que é isso? Se a minha intuição estiver certa, ele não tem muitas memórias afetivas desse jeito.
- Gostou? – pergunto depois dele experimentar. Ele aperta o lábio em uma linha fina, parecendo pensar um pouco, bebe um gole do café. Logo em seguida abre um sorriso.
- É. – ele diz - É bom, na verdade.
- Eu disse. – Fico animada – Mas em que mundo você vivia que não provou isso antes. – Ele bebe mais um gole do seu café.
- Eu “tecnicamente” não sou brasileiro. Estou há pouco tempo por aqui, não tive a oportunidade de provar de tudo. – Ele dá de ombros.
- É mesmo – olho para ele, incrédula – Como fala tão bem o português? – indago ele.
- os meus pais são brasileiros, se mudaram para lá antes mesmo de eu nascer, e sempre falamos o português ao menos quando eu estava em casa. – Ele come mais um pedaço.
- Quando estava em casa? – estou bem curiosa.
- Cresci em um colégio interno. – Ele diz com naturalidade, dando de ombros.
- Há... – foi só o que consegui dizer. Não consigo me imaginar sendo criada longe da minha família. Deve ser muito difícil crescer sem uma casa cheia de familiares, talvez tenha sido isso os seus olhos tristes ainda pouco.
- Não foi uma coisa ru1m – acho que ele percebeu a minha reação. – Sei que parece estranho mais tive um dos melhores ensinos do mundo, de certo me impulsionou a ser o homem que sou hoje. – Me pareceu que ele fala de uma forma natural, acreditando no que fala.
- Que bom então. Eu não sei se ia gostar muito, eu cresci em uma família grande, cercada de pessoas o tempo todo. Cheia de primos e irmãos, tios. Amo uma casa movimentada. – Dou um sorriso.
- Tem irmãos? – ele pergunta tomando outro gole do seu café.
- Sim, eu sou trigêmea, na verdade. – Ele abre um sorri me olhando com espanto.
- Sério? Quer dizer que tem duas copias a suas por ia? – dou uma gargalhada.
- Na verdade, não, são dois homens, ele são cópias um do outro. Eu sou diferente, a miudinha da ninhada. Quase o patinho feio – Digo fazendo uma careta, ouvi isso diversas vezes na escola. Por ser pequena, e muito magrela, já os meus irmãos altos e fortes. As outras crianças falavam isso. Pedro me olha com curiosidade erguendo uma sobrancelha.
- Duvido muito. Mas também acredito. Outra beleza igual a sua seria difícil de se encontrar – com toda acerte eu fico vermelha porque sinto as minhas bochechas ficarem coradas. – E “o patinho feio” é uma bela história, Nada m*l em se tornar um lindo cisne. – Ele dá uma piscada enquanto fala. Meu coração acelera, as minhas mãos estão soando frio. Como pode alguém que eu acabei de conhecer me deixar assim, como uma adolescente.
- É. – dou um pigarro, tentando voltar à realidade – Eu preciso ir Pedro. Obrigada por devolver a agenda, todos dizem que eu preciso me digitalizar. E apesar de guardar muitas cópias de tudo no notebook, amo papel e caneta. – Digo me levantando e juntando as minhas coisas, coloco logo a agenda na bolsa para não perder novamente. Nos encaramos por mais alguns segundos. – Tchau...
- Quer jantar comigo? – ele pergunta de repente. Segurando o meu braço. Seu toque me causa arrepio.
- Pedro eu... – ia dizer que não. Mas meu cérebro me acusa de que m@l tem em ir jantar com ele. Ao menos é solteiro. Do contraria não estaria me convidado. Assim espero. – Quero. – Balanço a cabeça de forma positiva – Eu adoraria. Podemos marcar. – Ele abre um sorriso encantador. Os seus olhos me olham com luxúria.
- Ótimo. Eu também vou adorar. – Ele me entrega um cartão dele. Pedro Medeiros. Coloco na bolsa, aproveito para pegar um meu e entrego para ele. Eu estava me tremendo, excitada com a ideia de jantar com ele.
- Agora eu preciso realmente ir. Tchau. – o meu coração está tão acelerado demais para continuar aqui olhando para ele. Fora que eu realmente podia me atrasar se demorar mais para sair daqui.
- Tchau – continuo andando indo em direção a saída, mas consigo sentir os seus olhos sobre mim.