Henrico Rossi - 1 Ano Depois...
— Isso não valeu, Henrico. — Beatrice resmungou.
Ela se sentou no chão e tomou um gole da sua água na garrafa transparente. O suor escorria pela sua testa, e ela passou a toalha no rosto, se encostando na parede.
— Claro que valeu, vale tudo em uma luta. — Me sentei ao seu lado. — Ou você acha mesmo que alguém vai ter pena de você em uma briga?
— Não é como se eu fosse brigar com alguém, de qualquer jeito. — Ela deu de ombros e bebeu a sua água novamente.
— Nunca se sabe quando um sequestro pode acontecer, sua irmã é um ótimo exemplo. — Fechei os olhos, sentindo a brisa fresca bater contra o meu rosto.
— Ninguém vai me s********r, Henrico. — Ela se levantou e passou a mão nos shorts. — Não viaja, eu não sou ninguém importante.
Mas, ela era importante.. para mim e para a p***a da minha cabeça fodida que tinha permitido que eu me apaixonasse pela garota.
Eu sei que isso é errado em muito níveis, mas eu tento, a todo custo, me manter distante dela e de tudo que ela me faz sentir. Me sinto culpado por sentir o que sinto. Ela é a irmã mais nova da mulher que eu fui casado por cinco fodidos anos. Uma das coisas que eu mais tinha certeza, era que certamente, eu não ficaria com Beatrice, e tinha motivos bem plausíveis para isso.
Beatrice era jovem demais, imatura e merecia alguém que pudesse acompanha-la. Eu iria fazer trinta anos em alguns meses e ela ainda completaria dezoito. Eu não acho justo prende-la a mim, quando ela ainda têm muito a aprender. Me levantei calmamente do chão e andei a passos vagorosos até a porta de entrada da parte de trás da casa.
Parei na cozinha para beber um copo de água gelada, e aproveitei para comer uma fatia generosa de torta de limão. Eu amava esse tipo de doce, mesmo que não fosse muito comum serem feitos dentro de casa por culpa das inúmeras dietas que Nina passava o ano fazendo.
Subi para o meu quarto, tranquei a porta e tomei um banho gelado e relaxante. Fechei a porta da sacada e liguei o ar condicionado, deixando a cortina aberta para a entrada de alguns raios de sol. Liguei a Tv e deixei um filme qualquer passando, enquanto aproveitava para responder a algumas mensagens no celular.
Abri uma conversa de Vicent — com uma mensagem que ele tinha mandado hoje de manhã, era meu dia de folga e ele costumava respeitar isso, por esse motivo estranhei a sua mensagem. Ele estava pedindo para que eu fosse até a sua casa para conversarmos. Além disso, pedia para eu levar Yelena e Beatrice também, para um churrasco e piscina.
Me levantei e coloquei roupas leves para sair, me aproximei da porta de vidro para fechar as cortinas e franzi o cenho. Beatrice estava debruçada sobre a mesa de madeira do jardim, com um vestido minúsculo que quase mostrava a sua b***a, conversando com a p***a do jardineiro.
Senti a raiva tomar conta de mim e sai apressado do quarto, batendo a porta com força e andando a passos largos até a entrada da casa. O sol bateu contra o meu rosto e eu resmunguei, andei rapidamente até eles e o encontrei dando uma rosa para a garota, que sorriu. Que p***a é essa?
A segurei pelo braço e sem dizer uma palavra, comecei a arrastar para dentro de casa. Ela não deu um pio até entrarmos, acho que não tinha entendido nada, mas me encarou por alguns segundos, atônita.
— Que p***a foi essa, Henrico? — Ela perguntou, se levantando.
— Eu quem pergunto que p***a foi aquela. — Perguntei de volta, me aproximando do seu corpo.
— De que m***a você tá' falando? Eu não estava fazendo nada e você não têm o direito de me puxar assim não é o m***a do meu pai, Henrico.
— Não é porque eu não sou seu pai, que eu vou deixar você se engraçar com qualquer moleque que aparece. — Gritei para ela, que se encolheu um pouco.
— Você é um i*****l, Henrico, você não têm poder nenhum sobre mim, entendeu? — ela se levantou. — E se eu quiser me engraçar para qualquer um, eu vou. Eu sou solteira.
Dei dois passos para trás e assenti. Passei a mão no rosto nervosamente e olhei para ela.
— Faça o que quiser, mas quando você estiver chorando, com a p***a de um coração partido e arrependida, não ligue para mim. — Murmurei, e sai da sala, voltando para o andar de cima. — Se arrume, nós vamos para a sua irmã.
— Eu não quero. — Ela disse lá de baixo.
— Não é uma opção, você escolhe se vai por querer ou arrastada. — Eu falei e entrei no corredor.
A casa era grande demais, entretanto, nesse último ano nós conseguimos nos entender bem e eu agora sei onde é o lugar preferido de Yelena dentro da nossa casa. Eu gostava de saber que ela estava confortável aqui e que não se sentia entediada. Entrei na biblioteca devagar. Ela estava sentada sobre o sofá com as pernas em cima do mesmo e uma manta quente cobrindo-a. Ela estava lendo um livro grosso, a mitologia grega.
— Oi. — Falei calmamente. — Interrompo?
— Você nunca interrompe, meu filho. — Eu sorri. Ela era um amor de pessoa, e eu adorava me sentir acolhido por ela, como se eu fosse seu próprio filho. — Posso ajudar em algo?
— Eu vim chama-la para irmos na casa de Isabela e Vicent. — Expliquei. — Ele precisa conversar algo comigo e a sua filha exige a nossa presença.
— Ah, mas é claro. — Ela sorriu e se levantou. — Vamos, eu só preciso me ajeitar, tudo bem?
— Claro, estarei esperando lá embaixo, sua filha também está se arrumando.
Ela assentiu e saiu da biblioteca, deixando o livro sobre o sofá. Eu achava fofo' o jeito que Yelena era sempre extremamente prestativa com todo mundo. Além de muito gentil sempre era prestativa e sempre deixava de lado seus afazeres para servir as outras pessoas, mesmo que eu deixasse bem claro que isso aqui, ela e Beatrice, não era um favor, era uma escolha minha, eu não queria ficar sozinho.
Eu gostava de ter elas por perto, mesmo que a Beatrice tivesse um gênio um pouco difícil. Diferente, da sua irmã e de sua mãe, que eram completamente doces. Acho que foi isso que fez com que eu me apaixonasse por ela, o jeito que ela sempre se impôs. Eu gosto do jeito que ela me enfrenta, que ela briga e que age, mesmo que me tire do sério, as vezes.
Acho que o que me impressionou, foi o fato de ela se mostrar exatamente quem é, e não fingir que alguém que não era. Me sinto um tanto quanto culpado por gostar dela, de qualquer maneira, ela ainda é a minha ex-cunhada e só tem dezessete anos. Eu não ficaria confortável em me envolver com ela ainda, mesmo que eu quisesse muito.
E, eu não acho que ela mereça ter que conviver com alguém quebrado como eu. Eu nunca vou saber amar alguém dessa maneira, não de novo. Eu nunca mais vou conseguir voltar a me entregar novamente. Eu não vou conseguir, ser quebrado é uma m***a, deixa você dolorido e te faz repensar em tudo que você já tinha feito até ali.
Eu não me arrependo de ter amado da maneira que amei, mas serviu como um dos maiores aprendizados da minha vida. Confiar nas pessoas é doloroso, mesmo que seja algo natural. É com a dor que vêm o aprendizado.
E bom, é muita dor para se repetir mais de uma vez, é muita dor para ser revivida. Eu não quero ter que colar meus cacos novamente, é como se a cola ainda estivesse muito molhada e que qualquer sopro abalaria a estrutura e a quebraria novamente. Eu sei que elas — não são iguais, mas eu não quero testar para ver se a sensação vai ser a mesma de antes.
Sai do cômodo e desci as escadas, indo para o lado de fora. Eu ainda precisava retirar o carro da garagem. O quintal estava vazio, andei calmamente até a garagem — que ficava na frente do jardim — e apertei o botão — que só abria com o código —, fazendo o portão se abrir rapidamente.
Entrei dentro dela, deixando o portão pesado aberto e passei pelo painel com todas as chaves dos carros. Eu era um apreciador de carros, então tinha muitos na garagem e costumava protege-los mais do que a mim, por isso toda essa segurança sobre eles. Eram carros muito caros para caírem nas mãos de qualquer um. Eles estão muito bem aqui, quietinhos.
Peguei a chave do meu porsche 911 Turbo S Cabriolet, era um dos melhores, ainda que um pouco perigoso de andar. Não era como se eu me importasse, já que eu estava na minha área e a casa de Vicent não era muito longe da minha. Entrei dentro do carro, girei a chave da ignição e sai de dentro da garagem, apertei o pequeno botão que ficava embutido na chave e fechei o portão novamente. Encarei o jardineiro por alguns segundos, que não percebeu a minha presença. Ia me resolver com ele depois.
Parei na entrada da casa e fiquei esperando que as duas saíssem de casa e assim que elas embarcaram dentro do carro, dei partida.
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