[ Livro do Personagem Henrico Rossi de "A escolhida"]
Henrico Rossi - 1 Ano antes...
Entrei dentro da minha casa e dei passagem para as duas mulheres entrarem. Acho que, mais do que ninguém, npos precisamos no apoiar nesse momento. Não que qualquer um de nós no importemos com Carlo Lombardi, mas eu me importo em ter tido o meu coração dilacerado por Nina e a Yelena se importa em ter uma filha foragida e criminosa.
Não é como se eu tivesse tido qualquer opção nessa história e eu e Isabela fomos os mais atingidos. Vicent também, mas saber que ela só esteve comigo esse tempo todo para chegar nela, me deixa completamente perdido. Entrentanto, eu não sinto raiva de Vicent, ele também foi uma vítima dessa história toda.
Eu sei que eu deveria deixar Yelena e Beatrice na responsabilidade de Vicent, mas eu sinto que não conseguiria. Ambas foram largadas por Carlos e Nina e ambas devem estar sentindo a rejeição e o abandono, assim como eu estou. Sendo sincero, a decepção por amar tanto uma mulher como Nina foi tanta, que eu sinto como se tudo de mim tivesse sido arrancado.
É um peso enorme para se carregar e eu não tenho certeza se iria conseguir carregar esse fardo sozinho. Agora que tudo acabou, ou ao menos, deu um suspiro, eu espero que nossas vidas possam voltar ao normal. Eu sei que ela levou a minha filha e eu vou lutar para encontrar ela, mas sinto que preciso levar a minha vida a diante.
O legal é que eu não vou estar junto. Eu estou sentindo, estou sentindo muito, mas eu também não posso e nem tenho tempo para me entregar e sofrer por muito tempo. Amanhã é dia de eu estar de cabeça erguida e fingir que nada disso me abalou. A máfia não nos permite ser fracos e um homem fraco é um homem sem honra.
— Obrigada por nos deixar ficar. — Yelena comentou. — Depois de tudo que aconteceu, eu acho que eles precisam de um pouco de privacidade.
— Eu fico feliz que vocês estejam aqui, essa casa ia ficar muito vazia. — Comentei. — Além do mais, não é como se eu não quisesse alguma companhia.
Observei Beatrice se sentar no sofá e encarar a parede. Yelena abraçou o próprio corpo e virou o rosto para a filha.
— Ela vai demorar para superar tudo isso. — Comentou. — o pai dela conseguiu entrar na cabeça dela e ele e Nina criaram um monstro sobre Isabela.
— Deve ser difícil para uma adolescente passar por toda a lavagem cerebral que Carlos fez com ela. — Eu cruzei meus braços na frente do meu peito. — Eu vou ficar livre por algumas semanas e eu acho que ela vai querer ficar longe da Isabela por um tempo.
— Não, ela está arrependida e superou isso. — Yelena passou a mão na testa. — Ela é minha responsabilidade agora e eu preciso me impor na vida.
— Não é isso, ela parece um pouco retraída. — Expliquei. — Espero que ela não esteja envergonhada, é entendível tudo que ela fez, por tudo que ela passou.
— Isabela é uma boa garota, espero que elas se reaproximem. — A mulher disse, cansada.
— Eu vou cuidar disso. — Passei a língua nos lábios, observando a ruiva. — Espero que ela queira ajuda.
— O que você pretende fazer? — Perguntou. 7
— Eu vou treinar a sua filha, se ela queria poder, ela vai conquistar sozinha. — Falei, a encarando.
— Você acha que ela vai aceitar? — Ela perguntou. Aposto que tinha a imagem de que a garota era uma princesa intocável, mas eu enxergava uma força enorme nela e em tudo que ela fazia.
Seu olhar duro entregava isso. Ela não era r**m, apenas teve atitudes ruins, mas isso podia ser mudado. Ela era muito jovem para ser baseada em uma atitude assim.
•★•
Acordei, e o sol entrou pelas persianas, batendo no meu rosto. Era a primeira vez que eu tinha acordado sozinho desde o meu casamento e chegava a ser estranho. Eu estava solteiro com quase trinta anos, e não fazia idéia de se eu ia querer um casamento ou não. Eu não sei se estou disposto a abrir a minha vida e o meu coração para alguém novamente.
Foi muito dolorido da primeira vez, além de muito intenso e eu não sei se vale a pena passar por isso novamente. Eu sei que nem todas as mulheres são iguais a Nina, mas eu sinto que eu nunca vou conhecer uma pessoa totalmente e isso me faz repensar se vale a pena mesmo colocar alguém na minha vida de novo.
Eu sei também que eu não deveria me fechar pela minha primeira decepção amorosa, mas acabei fazendo. A primeira mulher que eu amei, a primeira que me destruiu. Antes eu tivesse me casado com qualquer outra que queria estar no seu lugar. Ela nunca valorizou nada e sim, eu sinto raiva dele, guardo rancor. Eu dei tudo por ela e como ela me retribuiu?
Com a p***a de um coração partido. Eu sinto que eu estou na m***a.
Hoje era meu primeiro dia de folga, e eu tinha decidido isso agora. Eu não trabalharia e ficaria em casa, assim como Vicent. Não tem nada de tão importante que não possa esperar até amanhã ou até a próxima semana. Eu estou tranquilo sobre isso e confio no meu pessoal. Eles sabem que não tolero erros.
Me levantei e após me vestir de uma roupa fresca — bermudas e uma camisa de mangas curtas —, desci até o andar debaixo, com os cabelos bagunçados. A casa não estava silênciosa como sempre foi e era incrível que eu gostava dessa bagunça.
Um cheiro inconfundível de pipoca pairou no ar, e assim que eu apareci na ponta da escada, encontrei Beatrice sentada no sofá, com as pernas para o alto e um edredom sobre o corpo. Ao seu lado, na mesinha que fica o abajur, uma das minhas garrafas transparentes de academia cheia de um líquido laranja — que imaginei ser suco.
— Isso não é muito suco para uma garota de dezesseis anos tomar de manhã? — Ela se virou para mim, um pouco assustada.
Abri um sorriso brincalhão para ela e a percebi relaxar os ombros. Na televisão, a Netflix estava aberta em algum filme ou série adolescente.
— Eu tenho dezessete. — Foi a única coisa que ela disse, antes de se sentar de frente para a televisão novamente.
Ela ainda estava tímida. Eu queria que ela confiasse e se soltasse comigo. Eu sabia que nenhuma delas costumava ter muitos amigos por causa do pai e eu queria ser alguém com quem ela pudessse contar. Eu queria ser mais que o ex cunhado Henrico.
Me aproximei e me sentei ao seu lado, me estiquei um pouco e peguei a sua garrafa, levando aos lábios e sugando. Ela me encarou com a testa franzida. Coloquei meus pés sobre as suas pernas e relaxei no sofá. Encarei a televisão e fiz uma careta para as duas garotas discutindo na tela.
— Que tipo de porcaria é essa? — Perguntei.
— Gossip Girl. — Ela tomou a garrafa de mim. — E não é uma besteira, é até bem legal, tá bom?
— Não.. — franzi o nariz. — Sabe o que é mais legal?
— Hum? — Ela perguntou, pouco interessada.
— Você treinar comigo. — Eu falei. — Podemos fazer auto defesa e eu te ensino a atirar.
Ela me encarou e sorriu abertamente.
— Sério? Sério mesmo? — Gritei. — Eu sempre quis aprender a fazer essas coisas, mas o meu pai não deixava,
— Você e seu pai não têm mais nada haver. — Eu murmurei. — agora é Yelena e Vicent, e bom, seu cunhado deixou tudo nas mãos da sua mãe, então.. — dei de ombros. — Você topa?
— Mas é óbvio, quando começamos? — Ela perguntou, animada.
— Agora mesmo, vai se trocar. — Eu mandei e ela pulou do sofá animada, deu a volta móvel e subiu as escadas correndo.
— ME ESPERA, EU TENHO QUE PROCURAR UMA ROUPA. — Ela gritou lá de cima. E eu ri.
Era bom ter vida nessa casa, uma vida que eu tinha em raros momentos. Nina não curtia bagunça e eu fazia tudo por ela.
Mas, agora seria diferente. Seria do jeito que eu sempre sonhei!