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1671 Palavras
Hugo Algumas semanas depois. A chegada dos bebês mudou mais uma vez a rotina da nossa casa, nossa mãe está totalmente dedicada as nossas esposas, como todas as outras empregadas, Jorginho acompanha tudo como um espectador dedicado aos sobrinhos e irmãs. Ainda não conheço meu filho, e Gregório não conhece a pequena Rute, decidimos deixá-las se acostumar com a ideia de serem mães primeiro para depois conversamos com elas. Felizmente esse dia chegou, minha mãe conversou com elas explicando sobre nossa intenção de conhecer as crianças, elas aceitaram, mas querem conversar conosco primeiro sobre o assunto, não sabemos ao certo o que querem conversar, mas elas aceitaram nos receber e já é um bom começo. Minha mãe nos recebe na porta nos guiando até elas, Gabrielli e Marcele estão visivelmente cansadas. O início de uma pós gestação pelo que li e estou percebendo é bem cansativo e sem uma boa rede de apoio pode se tornar uma experiência horrível. Por mais que toda a casa tenha se mobilizado para cuidar delas imagino que não seja fácil vivenciar a primeira vez como mãe, ainda mais de dois homens que as machucaram tanto. – Vou deixar vocês conversarem. Se precisarem de mim é só chamar. Não foi só a rotina que mudou por causa das filhas de Gusmão, nossa mãe se tornou uma mulher diferente, não se preocupa com festas ou grandes eventos como antigamente. Enfim entendeu depois da nossa situação recente que não poderia continuar vivendo como antes. Ficamos olhando uns para os outros sem saber como começar a conversa, havia uma mesa com um prato de biscoitos doces e outro com biscoitos salgados além de chá, suco e água, soube que elas comem muito, mas aparentemente não estão ganhando peso já que os bebês consomem seu tempo e energia as fazendo emagrecer. – Bom dia! – Bom dia, como estão? Marcele parecia mais cansada, Gregório de uma forma bem ousada se aproximou dela se sentando ao seu lado, ela não parecia ter medo ou pavor como em outras ocasiões ou talvez esteja cansada demais para dizer algo, depois fiz o mesmo indo para o lado de Gabrielli que também não demonstrou resistência nenhuma. – Estamos bem, agradecemos por perguntar. Acredito que o motivo da conversa seja para falar dos nossos filhos, certo? – Sim Gabrielli, o nosso principal interesse é conviver com os pequenos, estamos abertos a qualquer sugestão, apenas queremos dividir com vocês os anseios e tudo que os bebês trouxeram para suas vidas. Somos os pais e queremos muito fazer parte desse momento com vocês. De repente ouvimos o choro fino e agudo da minha sobrinha, Marcele se levantou indo praticamente correndo até Rute, ela pegou a bebê que mesmo estando nos braços da mãe não parava de chorar. – Acho melhor vocês irem embora, essa conversa pode ser em um outro momento. Marcele começou a chorar tendo atenção total de Gregório que foi até ela preocupado com seu choro e da bebê. – Ela não para de chorar, não sei o que estou fazendo de errado. Rute não gosta de mim, mas eu amo tanto ela, mas é sempre assim quando tento acalmá-la, meu seio está doendo tanto porque ela não gosta de mim, mas mama como se a vida dela dependesse disso. Olhei para Gabrielli como se estivéssemos algum tipo de cumplicidade, Marcele estava olhando diretamente para Gregório quando falou tudo que sentia, não para nós. Saímos deixando ambos sozinhos com Rute, eles precisam dessa privacidade para se conectarem um com o outro. – Devíamos deixá-los sozinhos, o que acha? – É uma boa ideia. Saímos do quarto devagar para não os tirar do momento, Rute parou de chorar com a proximidade de Gregório, talvez curiosa para conhecer o pai. Andamos pelo corredor chegando perto da grande janela com vista para o jardim, um lugar realmente muito bonito. – Gosto da vista daqui, as vezes a noite trago Davi aqui, ele é bem curioso e com certeza mais calmo que Rute. Hugo, conversei com Marcele, e decidimos que podem conviver com as crianças, mas conosco acredito que devemos manter as coisas como estão. Imaginei que seria assim, Gabrielli nunca vai ter um sentimento de amor por mim, minha chance foi perdida após o juízo errado feito por meu pai, não é culpa apenas dele, mas minha, como futuro líder deveria ter questionado mais, me imposto mais, no entanto não fiz isso. – Compreendo. Agradeço por me permitir conviver com meu filho, para mim já é o suficiente. Acredito que nunca tivemos oportunidade de conversar francamente, tudo aconteceu muito rápido mas gostaria que soubesse que me arrependo todos os dias pelo que fiz a você e sua família, espero realmente que possa me perdoar algum dia, não pretendo perturbá-la tentando fazer esse casamento ser real. – Agradeço por finalmente entender. Não somos os primeiros e nem os últimos a ter um casamento por conveniência, seremos bem-sucedidos tenho certeza. Vou até o quarto ver como Davi está, gostaria de ir comigo? É tudo que mais quero, conhecer meu filho e poder pegá-lo no colo. Gabrielli abre o quarto bem devagar indo na direção do berço dele, Davi está acordando, mas diferente da prima esta quieto esperando a mãe, ela pegou meu filho o entregando para mim. – Ele é quietinho e um bom menino. Mas as vezes é difícil, ainda preciso me acostumar com o fato de que agora sou mãe, sempre exerci esse papel bem indiretamente, mas agora é real, Davi veio de mim e durante muito tempo vai depender de mim. Nunca tivemos uma conversa tão profunda, algo nela mudou com o nascimento do nosso filho, consigo sentir isso. – Nunca representei o papel de pai para alguém porque sempre fomos rodeados por homens que ocuparam esse lugar, seu pai por exemplo me treinou em todas as artes marciais conhecidas, além de ser um ótimo professor de tiro, meu pai também foi presente principalmente porque precisava nos ensinar sobre as nossas responsabilidades. Mas entendo que como filha mais velha as responsabilidades são bem maiores, esse fardo da primogenitura também carrego, não como você, mas reconheço que é pesado. – Isso é verdade. Mamãe sempre criou grandes expectativas em mim, suas exigências as vezes me sufocavam, mas agora depois do que houve sei que ela só queria o melhor para nós. Gabrielli parecia emocionada ao falar da mãe, meu filho agora está aconchegado nos meus braços com os olhinhos fechados, mas sei que está somente ouvindo meu coração bater sentindo a emoção de estar com ele tão perto. – Está na hora do pequeno bezerrinho mamar. Posso pegá-lo? – Claro, vou deixá-la a vontade, amanhã venho ver meu filho. Mais uma vez quero agradecer por ter me permitido conviver com Davi. Ela sorriu como a muito tempo não via, é maravilhoso vê-la sorrir depois de tanto tempo, não vou forçar nada, deixarei o tempo dizer se posso ter uma chance com a mulher que amo, minha tática para ficar próximo do meu filho é o melhor, com o tempo posso tentar conquistá-la. Gregório – Ela também ama você Marcele, só precisa ter paciência. Posso pegá-la? Marcele entregou Rute nos meus braços, minha filha tem os olhos da cor dos meus, é curiosa enquanto observa um novo rosto olhando para ela. Marcele se deita na cama parecendo exausta, a rotina com nossa filha é bem mais complicada, já vi pelas câmeras as noites que ela passa com Rute no colo e como chora quando não consegue acalmar nossa filha. – Sua mãe me disse que está dando muito trabalho, filha? Amor do papai, deve ser boazinha com a mamãe, ela te ama muito, precisa ser mais comportada, estamos entendidos? Rute ficou séria, mas não chorou ou reclamou, sabe que não estou falando algo que a ofenda, mas sim defendendo sua mãe. Marcele se levanta indo em nossa direção estendendo suas mãos para pegar Rute. – Marcele, por que não se senta na cadeira de amamentação? Vou ficar ao seu lado enquanto amamenta Rute, tenho uma sugestão também. Ela não discutiu indo até a cadeira e se sentando com Marcele, coloquei nossa filha em seus braços, Rute não chorou, apenas suspirou quando Marcele colocou seu seio na sua boca para amamentá-la. – Poderia cantar para ela, sei que não canta tem muito tempo, mas tente, talvez ela se acalme. Marcele me deixou segurar sua mão sem parecer apavorada e começou a cantar para nossa filha, Rute não chorou ou fez um escândalo como tem feio, ficou quieta observando a mãe cantar, logo seus pequenos olhos se fecharam suspirando enquanto mamava e ouvia sua mãe cantar. – Ela dormiu. Oh meu Deus, muito obrigada, tinha um certo tempo que não cantava para Rute, infelizmente não nos conectamos, ainda acho que me odeia. – Não Marcele, ela não odeia você. Ouça com atenção o que vou dizer. Agacho na frente dela segurando seu rosto, toco seus lábios com os polegares, logo depois beijo sua boca delicadamente, ela não se afasta ou faz algo para me repelir apenas retribui. – É impossível que alguém odeie você Marcele, é tudo muito novo e diferente para você, mas com o tempo vai se acostumar, estou aqui para ajudar, sei que ainda temos muito que conversar, mas estou aqui ao seu lado, sou seu marido e quero ser o pai de Rute. – Conversei com a minha irmã, decidimos que será bom tê-los próximo dos bebês, mas não quero que esse beijo seja interpretado de maneira errada, nosso casamento deve continuar da forma que já está. Entende que é melhor assim? Sei que ela tem razão, por mais doloroso que seja preciso respeitar sua decisão de ficar longe dela, mesmo estando tão perto. – Entendo. Peço desculpas pelo beijo, não vai mais acontecer, fico feliz que vou poder conviver com minha filha, vou deixar você descansar. – Mais uma vez muito obrigada. Apenas acenei saindo do quarto, queria que me aceitasse como marido, mas já estou feliz por ela me querer como pai da nossa filha.
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