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1640 Palavras
Dois meses depois. Gabrielli Acordo sentindo novamente as pontadas no ventre que me acompanham desde que entrei nas semanas que antecedem meu parto, Marcele por uma precaução médica está em repouso, o sangramento foi pequeno, mas fez a casa Assis inteira entrar em alerta com a possibilidade de algo r**m acontecer. Sabia que poderia acontecer, mamãe teve sangramento na gravidez de Jorginho, mas pensei que eu seria a escolhida pela genética, porém foi Marcele. Pedi para colocar minha cama no quarto dela, ficar apenas ao lado do seu quarto estando no meu não era suficiente, queria cuidar dela. Jorginho ainda demanda muito de nós, mas com a ajuda de Naná e da senhora Assis está mais fácil cuidar dele, me levanto indo até Marcele, minha irmã dormi como um anjo segurando sua barriga, Jorginho também está dormindo calmamente. Esses últimos meses foram tranquilos, Hugo e Gregório não nos procuraram mais, como se realmente entendessem o que nosso casamento significa, depois do sangramento de Marcele, Gregório ficou mais preocupado, mas não veio visitá-la, apenas ouvi uma conversa dele com os pais sobre o estado de saúde da minha irmã. – Mãe, o que posso fazer para cuidar da minha esposa? Podemos colocar um médico de plantão ou até trazer uma equipe inteira de profissionais da saúde para cuidar de Marcele, quero que ela e minha filha fiquem bem, não quero ter que escolher entre uma e outra. Lembro como parecia desesperado com a possibilidade de algo de r**m acontecer com ela. As palavras da minha sogra foram como uma sentença não só para ele, mas também para Hugo. – Filho, tudo que está em nosso alcance foi feito, ela está em repouso total e não pode ter estresse ou passar por grandes emoções. Portanto, deve continuar afastado, nossa família cumpriu com a obrigação com os Gusmão agora nos resta apenas viver com as consequências do nosso erro. Hugo também deve se manter longe, Gabrielli precisa de paz para ter um final de gestação calmo. Desde então nenhum deles veio nos procurar, não temos nenhum tipo de convivência, nossas refeições são feitas no quarto e eles passam o dia inteiro trabalhando bem diferente de antigamente. Mudamos a rotina da casa mesmo sem querer, saio para buscar o café dos meus irmãos como todos os dias, mas hoje foi diferente já que encontrei Hugo vestido com sua roupa de exercício. Não olhei muito em sua direção seguindo meu caminho sem contato visual, mas o cheiro de álcool que exalava dele me trouxe um enjoo de imediato, mas disfarcei continuando meu destino até a cozinha, foi quando encontrei Gregório bebendo diretamente de uma garrafa de uísque, seu olhar veio na minha direção como se quisesse perguntar algo, mas sem coragem. – Ela está bem, comendo e dormindo com mais tranquilidade. No começo ela ficou com muito medo, mas agora com os cuidados que estamos tendo Marcele está calma e serena apenas esperando nossa Rute nascer. Os olhos de Gregório estão cheios de lágrimas, eles tiraram tudo de nós mas durante esses últimos meses senti que tiramos algo deles também. Escuto as conversas entre as empregadas de como estão tentando provar que são realmente de confiança, de que não vão mais errar e de que como isso está minando a família Assis de dentro para fora. – A primeira vez que ouvi Marcele cantar fiquei hipnotizado, pensei em como seria maravilhoso tê-la cantando para mim por toda vida. Eu ia pedi-la em casamento, naquela noite que comemorou 15 anos, mas tinha que cumprir minha responsabilidade como filho mais novo de um Assis, tudo poderia ter sido diferente. Agora era para estarmos juntos como sonhei, estaria cuidando dela e da nossa filha, estou bêbado demais nem sei mais o que estou falando, estuprei a mulher que amo e nada vai mudar isso, não há como voltar e modificar o que foi feito. Ele se levantou com muita dificuldade indo na direção da academia, Naná apareceu logo em seguida me ajudando com o café como todas as manhãs, quando subi para o quarto Marcele já estava acordada andando pelo lugar como o médico pediu, ela deveria se movimentar para não ficar o tempo todo deitada. – Venha tomar café Marcele, vou pegar Jorginho para ele tomar também. Minha irmã olhou em minha direção depois percebi como seu vestido de dormir estava molhado. Seu rosto mudou rapidamente de expressão, é evidente que está sentindo dor, fui até ela segurando sua mão a colocando sentada na calma. – Está doendo Gabi, por favor quero ir para o hospital. – Vou chamar por ajuda irmã, fica tranquila. Comecei a gritar sendo logo ouvida por Margarida e as outras empregadas, Naná é parteira e foi correndo ver como estava a dilatação de Marcele, de repente uma dor aguda me faz parar no meio do quarto, minha bolsa também estourou, a senhora Assis me ajudou a ir para a cama. – Senhora, Marcele já está pronta para trazer a pequena, mas não teremos tempo para ir ao hospital. Teremos que fazer o parto aqui. Olhei na direção dela sentindo uma gota de suor escorrer pelo meu rosto, Jorginho também nasceu em casa, Marcele está passando pelo mesmo que mamãe, e eu não posso ampará-la como fiz com nossa mãe pois também estou na mesma situação que ela. Naná foi até mim pedindo para me deitar do lado de Marcele, ela conseguiu fazer a mesma verificação que fez com minha irmã. – Querida, você também está bem dilatada para trazer seu filho ao mundo. Senhora Margarida prepare tudo, vamos trazer seus netinhos ao mundo juntas. Segurei a mão da minha irmã para encorajá-la, mas com certeza estou muito assustada como ela também. Finalmente vou poder ver meu menino e conhecer minha sobrinha. Hugo – Está bebendo desde que horas? – Desde ontem, posso confidenciar algo? Acenei para o meu irmão confirmando que poderia se confidenciar comigo, esses últimos meses foram infernais como se o próprio d***o estivesse nos cobrando por todos os nossos pecados, meu pai está cada dia mais cansado de tentar provar que somos dignos de permanecer no comando, minha mãe está mais afastada cuidando das nossas esposas, Marcele quase perdeu minha sobrinha deixando todos nós em pânico, além do afastamento total delas. – Coloquei uma câmera no quarto de Marcele. – Porque, irmão? – Porque gosto de acompanhar a rotina dela, se está sendo bem tratada, dormindo bem e até a vejo se cuidar. Ela conversa com nossa filha o tempo todo, canta baixinho, sabe? Marcele é tão jovem, mas ao mesmo tempo tão dedicada, Gabrielli também é. Meu irmão tomou mais um gole de bebida da sua garrafa e sorriu, a bebida tem sido nosso refúgio durante todos esses meses. A situação com as famílias e com tudo o que está acontecendo aqui em casa nos fez beber com mais frequência e até mesmo frequentamos o bordel. Confesso que tentei ficar com outras mulheres, mas não consegui, algum tipo de maldição que não permiti sentir desejo nenhum por outras, sempre fui um homem que apreciava mulheres de todos os jeitos e formas, nunca neguei fogo, mas agora não consigo ter uma simples ereção. Não acredito em maldições, mas começo a duvidar que o está acontecendo conosco não possa ser algum tipo de maldição terrível, Gregório está se acabando de tanto beber e o pior é que não posso fazer nada a respeito já que estou pior que ele. – Gregório, não deveria ter feito isso, é invasão de privacidade. – Não, não é! Estou cuidando da minha família, sei que não se importa com Gabrielli, tem passado muito tempo naquele puteiro conversando com aquela prostituta, está traindo sua esposa, sendo igual ao nosso pai. Passo um tempo com Tina, mas desejo e t***o não consigo sentir por ela nem por nenhuma outra, já tivemos um caso no passado, mas agora apenas conversamos. p**o mais caro apenas para que ela me ouça, é deprimente a minha situação, mas não tenho ninguém para compartilhar o que sinto. – Na verdade Marcele é tudo menos sua esposa, não importa se estou fodendo com Tina, é problema meu e não seu. Gregório jogou a garrafa no chão pronto para ir em minha direção, mas foi impedido pelo meu pai entrando na frente dele. – Parem agora. Seus filhos estão nascendo, não é hora de brigar como dois moleques. – Em qual hospital levaram elas? – Não tem hospital, Naná fará o parto aqui, seus filhos depois de anos serão os primeiros a nascer na terra dos Assis, venham. Seguimos nosso pai até a sala onde percebemos o movimento de mulheres subindo e descendo as escadas com bacias e toalhas, Gabrielli e Marcele gritavam como se estivessem sendo rasgadas por dentro, Jorginho estava no colo de uma das empregadas observando tudo como nós. É estranho estar aqui e não ao lado dela, a cada grito ou barulho de choro, mais assustador parecia a situação. – Pai, isso é normal? Já tem mais de duas horas que estamos aqui, minha filha precisa de um médico, Marcele também. – Naná sabe o que está fazendo, conheço ela a anos e já vi trazer muitos bebês saudáveis ao mundo, fique calmo, vai dar tudo certo. Ouvimos o choro mais forte seguido por outro choro mais fino, naquele momento algo dentro de mim sabia que meu filho tinha nascido, Gregório olhou para mim sorrindo depois veio em minha direção e me abraçou, foi bem-vindo aquele gesto depois de tanto tempo distantes um do outro. Queria subir até o quarto, dizer para Gabrielli como ela me fez o homem mais feliz do mundo por me dar um filho, minha continuação na terra, mas não tenho direito de estar perto dela, devo deixá-la em paz, a maior prova de que a amo é deixar que seja feliz longe de mim.
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