RIAN
Você tem razão; talvez o fato de você ser tão semelhante ao nosso pai me incomode. Desde sempre, você recebeu dele mais atenção do que eu. Ele sempre te mimou, enquanto eu precisava chamar sua atenção para tudo. Se eu me machucasse, ele achava que não podia chorar por ser homem, enquanto você, a sua queridinha, não enfrentava esse tipo de cobrança. Por que eu tinha que ser diferente?
Letícia: Nós éramos crianças, Rian. Era natural que nosso pai quisesse moldar você como um herdeiro forte e não como alguém fraco. Entretanto, parece que você nunca compreendeu esse ponto, não é? Você está constantemente achando que eu quero tomar o seu lugar no comando do morro e sempre busca conflitos comigo, que sou sua irmã. Já passou da hora de esquecer isso. Vamos seguir em frente; somos adultos agora, não crianças. Eu tomei a decisão de assumir o controle do morro, com ou sem você ao meu lado. E só espero sinceramente que você respeite minha trajetória, porque quando eu desejo algo, não importa o que eu tenha que fazer para conquistar.
Sempre senti um ressentimento em relação a Letícia. Por sermos gêmeos, deveríamos ser tratados de maneira igual, mas meu pai insistia em mimá-la de forma diferente. Minha mãe, por outro lado, sempre distribuiu amor de maneira equitativa. Desde pequeno, meu pai acreditava que eu seria seu herdeiro, e, como resultado, não queria que eu demonstrasse fragilidade. Isso me levou a ver Letícia como uma ameaça.
Hoje, estava em uma boate com meu primo Marcos, filho do tio Fernando e da Pilar, quando avistei Letícia, que não percebeu minha presença. Embora eu possa ser considerado fraquinho, como ela gosta de dizer, me importo com a marrenta. Recentemente, testemunhei a atitude dela em relação a um homem que tentou abusar de nossa prima. Sei que ela fez aquilo para proteger Lívia.
Quando ela saiu com Lívia, eu e Marcos tomamos uma decisão: pegamos o corpo do agressor e deixamos a boate pelos fundos antes que a polícia chegasse e iniciasse uma investigação. Após isso, colocamos o corpo no meu carro e o levamos a um local abandonado, onde o incineramos.
Infelizmente, Letícia cometeu um erro ao deixar suas impressões digitais na cena do crime, ela tocou no cara, o que tornaria mais fácil rastreá-la. Por isso, decidimos agir e eliminar qualquer evidência que pudesse ligá-la ao incidente.
Ela já estava prestes a sair quando a chamei.
Rian: Letícia.
Letícia: O que foi, Rian?
Rian: Até onde iria sua disposição de assumir o controle do morro? Você mataria seu próprio irmão por isso?
Letícia: Calma, maninho. Você é um i****a, mas jamais mataria um m****o da minha família, a não ser que me traísse.
Rian: Por que você não disse à Lívia que foi você quem defendeu ela do homem que queria abusar dela? Você não fez nada de errado; apenas a protegeu.
LETÍCIA
Quando Rian me questionou sobre o motivo de não ter contado a verdade para Lívia, que havia matado aquela desgraçado, fiquei paralisada.
Letícia: Do que você está falando? Eu não matei ninguém. Você está louco, Rian?
Rian: Não te julgo. Se eu estivesse no seu lugar, provavelmente agiria da mesma forma, ou até de maneira pior. Mas aprenda a ter mais cautela. Da próxima vez que cometer um ato desse tipo, nunca toque em um corpo.
Ele disse isso e passou por mim. Fiquei sem saber o que responder. Não que me importasse, mas meus pais não podem descobrir que estivemos na cidade e ainda corremos riscos. Sou maior de idade e não devo explicações, mas não quero decepcionar minha mãe, que me prometeu que jamais pegaria em uma arma. Embora eu não tenha a intenção de comprir-la, não quero que ela jamais saiba sobre essa adrenalina de ter matado alguém. A experiência de hoje foi intensa demais.
Subi para o meu quarto e, da mesma forma que estava, deitei-me e adormeci.
No dia seguinte, acordei com batidas na porta. Quando autorizei a entrada, era minha mãe. Imediatamente, me cobri, lembrando que ainda estava vestindo a roupa do baile da noite anterior.
Luana:Estava preocupada com você. Já passou da hora do almoço e você não desceu. O que aconteceu? Está dormindo até essa hora? Está tudo bem, filha?
Letícia: Eu assisti a uma série até tarde ontem, mãe. Por isso, acabei me atrasando. Mas já estou descendo. Quero dar uma volta na cidade de moto; preciso sair um pouco deste morro.
Luana: Você realmente precisa arrumar um namorado, isso sim.
Ela saiu e me deixou sozinha no quarto. Aproveitei para fazer a higiene pessoal, tomei banho, vesti uma calça preta justinha e uma jaqueta. Peguei meu capacete e a chave da moto. Desci e fui até a cozinha, onde peguei uma fruta antes de seguir para a garagem. Peguei minha moto, uma Falcon NX 400 preta, e desci o morro. O Daniel ainda estava ali, mas nessa hora ele não me impede, já que sabe que meu pai está andando pelo morro e o medo fala mais alto. Assim que cheguei na parte externa do morro, acelerei tudo na moto; essa adrenalina me vicia. Quando estava prestes a chegar à praia, ouvi o barulho de uma sirene atrás de mim.
Letícia: p***a,agora fudeu!