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Entrei no quarto e a Thais estava sentada na cama virada para direção da janela tomando seu chocolate quente enquanto observava a chuva cair.
Hesitei por um segundo em contar a verdade, sei que irei perde-la. Mas não posso fazer isso com ela, contarei tudo.
- Você é àquele garoto que eu via algumas vezes na naquela janela?
- Sim, sou eu. Ela rapidamente se virou para mim. Os vultos que você via naquela janela era eu.
- Como pode dizer que me ama há muito anos se você é mais velhos que eu? Quando eu comecei a estudar naquela escola tinha apenas sete anos, Alisson.
- Eu sei, Thais. E não é como você esta pensando. Um dia estava na janela do meu quarto olhando às gotas forte de chuva que caíam em Cantville, quando um carro parou ao lado da escola e, você saiu de dentro vestida com uma capa de chuva em formato de joaninha, achei tão fofo e me fez rir. Aquela era primeira vez que eu estava rindo depois da suposta morte do meu pai. Desse dia em diante passei a observa-la pela janela, eu me sentia estranhamente feliz ao vê-la. Quando você sorria, era como se o seu sorriso iluminasse todo o meu dia, mesmo que tivesse sido o mais fodido possível. A minha maior tristeza era quando chegava os finais de semana ou tinha feriados, ficava contando os dias para vê-la. Eu nunca desejei você, era apenas uma menina, mas eu tinha um sentimento de proteção, seu cheiro me acalmava, era um alívio para minha alma aflita e o seu sorriso me trazia paz, iluminava a escuridão que queria habitar em mim. Só que conforme você ia crescendo algo dentro de mim também mudava, não foi fácil desconstruir a sua imagem de menina e reconstruir como de uma mulher... Olhei para o homem parado a minha frente e não sei o que dizer, nem mesmo o que pensar. Ele senta na poltrona e continua....- Só que o homem que se diz meu avô descobriu e começou a usar o que sinto por você contra mim para conseguir coisas me chantageando. Ele queria que eu me casasse por conveniências, mas eu não amava Catrina, não queria me casar não suportava quando ela tentava se aproximar de mim. Leôncio pagou a uma prostitua para abusar de mim, tirar minha inocência da pior forma por mim. Arregalei meus olhos sem saber o que dizer, que velho desgraçado imundo. Ele dá uma risada sem humor e continua...-No início eu tentei resistir a toda àquela nojeira, mas ele me ameaçou dizendo que iria sequestrar você, não podia permitir que ele te machucasse, odiava Leôncio com todas as minhas forças e, odiava ainda mais a minha mãe que permitia tudo aquilo. O tempo ia passando eu vivia sob ameaças de Leôncio. O velho maldito sabia que você era o meu ponto fraco, através disso ele conseguia tudo o que queria de mim. Leôncio odiava o fato de não ser dono de nada, que meus avôs deixaram tudo para o meu pai e consequentemente passou para mim. Um dia, já chato dessa situação e da Catrina dizendo que eu era dela o tempo todo. Gritei que não ia me casar com ela, odiava ter que vir pra fazendo por causa dela. Como uma garota mimada que era, contou tudo para o pai e o avô, que foram fazer queixa a Leôncio. Ele me chamou para perguntar o porque de falar aquilo para a v***a da Catrina. Eu reafirmei o que já havia dito, nenhum deles iria me forçar a casar com Catrina. O avô dela me deu uma bofetada e até ai tudo bem... mas o ódio tomou todo o meu corpo quando ele ofendeu você e disse que iria estupra-la, dei um soco na cara do infeliz quebrando o seu nariz. Ele pediu ao meu avô que me afastasse de você ou teria problemas comigo e aquilo não era paixãozinha de criança. Eles foram embora e Leôncio mandou que eu arrumasse as malas porquê ia terminar a faculdade na Rússia. Ele não iria me afastar de você, não iria tira-la de mim, era a única coisa boa que eu tinha na merda que era a minha vida.
Ele levantou, caminhou em minha direção e parou diante de mim.
Nos fitamos em silêncio pelo que me pareceu séculos, até ele me puxar até a beirada da cama, assim que o fez, ele se ajoelhou no chão, abriu minhas pernas o suficiente para se colocar entre elas. Suas mãos seguravam-me pela cintura e o seu olhar se fixou no meu.
Eu sei que vou perde-la, mas tenho que continuar...- Eu disse a ele que não ia a lugar algum, ofereci resistência. Leôncio não falou mais sobre o assunto, só que aquele velho maldito não do tipo que esquece ou deixa nada passar, seu silêncio era muito suspeito.
Ele parou de falar e o seu olhar se entristeceu. Pela primeira vez desde que começou a conta a sua história não conseguiu continuar me encarando, abaixou o rosto com pesar.
- O que aconteceu? Perguntei temendo o resto dessa história.
- Ele mandou matar os seus pais, foi ele quem mandou causar aquele acidente no ônibus em que seus pais estavam. Quando eu vi o noticiário meu sangue gelou, eu queria matar Leôncio, odiava ele. Fiquei tentando processar o que ele havia dito.
Suas mãos ainda prendiam minha cintura e apertaram minha pele com força. Vi o exato momento em que um lágrima pingou no chão e logo depois ele voltou a me encarar, sem vergonha de que eu visse em prantos. Alisson Nogueira não é o tipo de homem que gosta de demonstrar fraqueza, mas estava demonstrando para mim o quanto ele se sentia culpado pelo o que o avô havia feito. Eu não conseguia dizer nada...- Acabei indo para Rússia, porque ele ameaçou matar também o seu irmão e a sua amiga. Sei que ele não faria nada contra você, ainda que a ameaçasse, porque você era o trunfo que o maldito tinha para usar contra mim.
Meu corpo tremia, não sabia o que dizer, comecei a chorar descontroladamente.
- Não me toque, me solta. Eu quero ir embora, ME SOLTA.
Ele me soltou e se afastou de mim levando uma mão ao peito e a outra ao cabelo.
Saí correndo do quarto, passei por Naiara que começou a gritar feito um doida, logo em seguida ele.
Naiara- O que você tem Thais? O que aconteceu? Você não pode sair assim, ficou maluca.
- Eu não quero ficar nessa casa com esse homem, Naiara. Eu só quero ir embora.
- Por favor, corazón, esta chovendo. Eu saio e você fica. Só não saia nessa chuva, pode pegar um resfriado e se perder por ai.
- Não me chame mas assim.
Saí andando pela fazenda desnorteado e sem rumo. Eu sabia que iria perdê-la, Leôncio conseguiu acabar com a minha vida.