— Meu carro não quer funcionar. — Ele fala apontando para o carro dele.
— Peça um táxi!
— Perdi minha carteira.
Uma parte de mim quer dar carona e a outra não ! Posso deixá-lo aí, será que a minha consciência vai pesar ?!
— Senhorita Navarro ! — Ele estala os dedos na minha frente, só aí saio do meu transe.
— Com uma condição.
— Qual ?
— Não iremos conversar.
— Nossa ! Tudo bem.
— Entre !
Ele dá a volta e entra.
Saio do estacionamento.
— Lindo carro !
Faço uma careta para ele.
— Ok! Já entendi. — Ele ergue as mãos em forma de rendição.
— Coloca no GPS o seu endereço.
— Eu poderia ir te guiando. — Lanço um olhar mortal para ele. — Faz pouco tempo que me mudei, aí não sei os nomes das ruas aqui. — O silêncio invade por alguns segundos. — Você é sempre assim ?
— Assim como ?
— Estressada ! Pavio curto ! — Ele fala olhando para estrada.
— Se continuar falando, vou te largar em qualquer lugar aqui ! — Respiro fundo.
— Ficarei feliz se responder a minha pergunta !
— Não sou obrigada a te responder ! A não ser que seja em uma das suas aulas, pelo que vejo, não estamos em uma sala de aula.
— Tenho certeza que se estivéssemos em uma sala de aula, você já teria sido castigada ! — Sinto o meu rosto esquentar quando ele usa essas palavras. — Não precisa ficar toda vermelha ! — Ele sorri. Que debochado.
— Falta muito ?
— Mais umas duas quadras.
Muitas coisas estão passando pela minha cabeça, ele não se dá ao respeito de um homem casado. Ok ! Vou entrar no seu jogo. Vou usar isso contra ele. Quero só ver se ele não vai assinar aquele divórcio.
— O próximo condômino. — Ele aponta mais à frente. — Aqui!
— Você não vai descer ? — Paro o carro, e ele continua sentado.
— Pode entrar se quiser.
— Não ! Obrigada.
— Tenho certeza que você não vai se arrepender. — Vejo malícia naquele olhar.
— Sou casada ! — Sua expressão volta a ficar séria.
— Você não é muito jovem para isso ? — Ele fala descendo do carro, e se apoia na janela.
— A vida me obrigou.
— E como o seu marido deixa você sair assim, sozinha ?
— Isso não é da sua conta ! — Ele fica pensativo.
— Até amanhã.
Para variar, eu não o respondo, apenas arranco o carro com tudo. Olho pelo retrovisor e ele está lá, parado me olhando.