*** Henry ***
*** Três anos atrás ***
— Você vai ter que assumir o império da sua família. — Meu pai dizia.
— Eu não posso, tenho só 15 anos. — Estávamos na Sede da máfia.
— Você tem que começar desde agora — Ele respirou fundo. — Esse é o seu tutor.
Um homem careca, magro e bem alto.
— Ele vai te ensinar tudo o que precisa para continuar honrando o nome da nossa família.
Meu pai sempre foi muito rude, não me deu amor. Minha mãe faleceu quando eu tinha doze anos, ela tinha um tumor no fígado, quando descobriu, já era tarde.
Ainda bem que eu tinha a Sandra, ela sempre foi a minha babá, quando me mudei para NY, ela veio junto. Sempre cuidava de mim.
Minha família era da máfia italiana.
Eu nunca quis ser o Capo, mas isso era de geração. Obriguei-me a aceitar. Com o tempo, treinei o meu irmão mais novo. Ele cuida da máfia para mim. Ele me deixa a par de tudo.
— Olha Henry, eu cuido de tudo para você, mas com uma condição.
— Qual Hendrick?
— Você terá que assumir tudo isso quando eu me casar. — Ele apontava para a sala do prédio em que estávamos.
— Até lá, terei que treinar outro.
— Por que você nunca falou isso para o papai ?
— Sabe como é, quando é de geração, você só aceita !
Meu passado era um pouco sombrio. Eu não matava ninguém, apenas dava as ordens. Tudo tinha que ser do jeito e na hora em que eu queria. Principalmente as mulheres em minha vida, eu tinha as que eu queria e quando queria. Se elas eram casadas, meus capangas sempre davam um jeito. Compravam seus maridos com dinheiro, ou faziam eles assinarem um termo. Nele dizia que se alguém soubesse sobre o contrato, eles seriam expulsos do seu país de origem ou as famílias deles seriam aniquiladas.
É claro que isso sempre funcionou.
Meu tutor tinha um filho que era mais velho que eu, fomos treinados juntos. Eu o chamava de tio, ele ficava louco com isso, com o tempo ele aceitou. Eric sempre amou essa vida na máfia e gostava de viajar. Ele trabalhava em um escritório de advocacia em NY, ele comandava tudo lá, era o braço direito do dono. Em umas de suas viagens, ele foi morto. Tenho certeza que foi a máfia alemã que quis nos mandar um recado.
Decidi voltar para NY, e ter a vida de um “homem” normal, só assim eu iria descobrir o que tinha realmente acontecido com o Erik.
Assim que cheguei em NY, recebi uma correspondência. Que dizia que o avião que a família Andrade estava, tinha explodido no ar. Fiquei meio receoso com essa história, eles morreram e logo em seguida o Eric também.
Será que eles tinham alguma coisa com a máfia alemã ? Eric nunca tinha entrado em detalhes de como a família Navarro era, mas enfim, irei descobrir o que está acontecendo.
— Que bom que você voltou meu menino. — Sandra me esperava na porta da mansão que eu morava em NY.
— Também estava com saudades, Sandra ! — Falei abraçando-a.
— Me fala que você vai ficar aqui por muitos e muitos dias ?
— Não sei. — Suspirei fundo. — Apenas quero saber o que aconteceu com o Eric.
— Ainda não consigo acreditar no que aconteceu, meu menino. — Sandra me acompanhava até o escritório. — Você acha que foram os alemães ?
— Não sei Sandra, não sei. — Primeiro de tudo, eu tinha que saber no que o Eric estava envolvido.
— Chegou uma correspondência para o Eric. — Levantei uma das sobrancelhas, fiquei meio receoso.
— Essa aqui. — Ela me entregou a correspondência.
— Estranho. — O envelope não tinha nenhum remetente.
Abri o envelope com agilidade, tinha dois papéis.
Assim que terminei, comecei a ler.
“ Sim, Eric. Se essa carta chegou até você, é porque fomos embora antes do esperado. O destino foi c***l conosco, não tivemos a oportunidade de ver nossa pequena se tornando uma mulher. Mas, como a vida e os negócios não foram generosos. Espero que siga com o nosso contrato. Cuide de minha filha, caso você não consiga, espero que esse tal de McNigth, seja tão bom quanto você. ”
— Que p***a é essa ?!
— O que aconteceu meu menino ?
Não respondi, apenas abri o outro papel que tinha no envelope.
“No contrato dizia que se acontecesse alguma coisa com a família Andrade, Eric teria que casar com a filha deles, só poderiam se divorciar, assim que ela terminasse a faculdade, ou quando completasse 25 anos. Se acontecesse algo a ele, teria que designar alguém de sua confiança. Caso contrário, seu segredo seria vazado para toda a empresa.”
Será que era sobre a máfia ? No que Eric estava envolvido ? A família Andrade estava no meio de tudo isso ?
E dizia que a pessoa de confiança seria eu. Não acredito que ele me colocou nesse rolo.
Não posso arriscar, não sei qual é o segredo do Eric, e não posso deixar que a máfia corra perigo.
— Sandra ?
— Pois não meu menino !
— Você conhece a família Andrade ?
— O Senhor Andrade vinha aqui às vezes, ele e o seu Eric se davam super bem !
Não fazia sentido aquela carta de ameaça se eles eram amigos.
— Sabe se eles têm filhos ?
— Sempre ouvia o senhor Navarro dizendo que era para o senhor Eric se casar com a filha dele.
— Ok.
— Vai jantar ?
— Não, vou para o meu quarto, tenho várias coisas para resolver. — Dei um beijo na testa da Sandra e subi.
Meu quarto estava todo arrumado, sempre avisava um dia antes para Sandra da minha chegada. Às vezes eu vinha para cá e ficava em outra casa. Mas sempre preferia ficar com ela, só ela sabia dos meus gostos e me tratava como filho.
*** Call On ***
Eu: Alô, Guilherme ?
Gui: Henry, o que me deve a honra ?
Eu: Vou me casar !
Gui: Como assim ? Encontrou o amor da sua vida ?
Eu: Não, são apenas negócios.
Gui: Pode falar.
Eu: Aconteceu alguma coisa com o Eric, ainda não sei bem o que é. — Dei um suspiro longo.
Gui: E ? — Guilherme me incentivou a continuar.
Eu: E vou me casar com a Senhorita Andrade.
Gui: Aonde você quer chegar com isso ?
Eu: Vou me casar, não quero divulgação e nem nada do tipo, aliás, não quero nem ver ela. Apenas vou assinar a certidão e quero que ela faça o mesmo.
Gui: Tem certeza ?
Eu: Tenho sim, quando der os 7 anos, eu me separo.
Gui: Ok, vou falar com o Bruno.
Eu: Quem é ele ?
Gui: O advogado da ...
Eu: Não quero saber o nome dela. — O interrompo. — Então você já sabe dessa história ?
Gui: Ok, mas é estranho se casar com alguém que você nem sabe o nome. — Respirei fundo, com certeza ele já sabia o que isso significava. — Sim, o senhor Eric já tinha me instruído, eu só poderia falar sobre isso com alguém, se a pessoa tocasse no assunto. Isso queria dizer que ele morreu ou algo do tipo.
Eu: Por que você não me disse nada ?
Gui: Sabe que sou leal aos meus clientes.
Eu: Tá certo. — Não poderia ficar bravo, sempre gostei dos trabalhos do Guilherme, justamente pela sua discrição. — Assim que ela assinar o papel me avise.
Gui: É claro, Henry.
*** Call Off ***
Os dias foram passando, Guilherme fez todos os trâmites do casamento, apenas recebi um envelope com a certidão assinada por ela, também tinha uma foto sua, mas não quis ver, era apenas uma menininha, e eu só queria saber quem tinha feito isso com o Eric.
Deixei tudo encaminhado para ela morar com a Sandra, faria bem para ela ter uma companhia, Sandra era a melhor.
Eu voltei para Itália, e quando vinha para NY, ficava em uma outra mansão que tinha. Às vezes saía para tomar um café com a Sandra, ela me deixava a par da situação, nesses três anos a menina não tinha me dado nenhuma dor de cabeça, era caseira e se dava muito bem na faculdade, sempre recebia suas notas. E como eu, ela nunca tinha tocado no assunto de me conhecer.
E nesses três anos, ainda não sabia o que exatamente tinha acontecido com o Eric, aliás, tinha pista, mas nada concreto.
*** Tempos atuais ***
Tinha acabado de chegar em NY.
Bruno, que é o advogado da minha esposa, está me aguardando.
— O que é tão importante que não podia esperar que eu descansasse ? — Faz nem dez minutos que tinha chegado.
— Desculpa senhor McNight, — Bruno está sem jeito. — Mas a senhora McNight quer o divórcio.
— Como assim, ela está maluca ? — Começo a gritar. — Ainda faltam 4 anos para essa merda acabar.