Fui pra casa, tomei um banho e coloquei uma roupa apresentável.
Quando cheguei na casa do Antônio fui recebido pela coisa mais maravilhosa da minha vida.
- Tio Justin! – Alicia veio correndo e se jogou em meus braços.
- Oi minha princesa! – beijei seus cabelos.
Graças a Deus ela era a cara do Antônio.
- Tem presente? – ela sorriu mostrando todos os seus dentinhos perfeitos.
- Alicia! – Amélia entrou na sala a repreendendo. – Olá, Justin.
- Oi, Amélia. – tentei disfarçar minha careta.
Amélia não gostava de mim por achar que eu levava seu marido para o m*l caminho. m*l sabe ela que Antônio que me carregava com ele.
Se ela soubesse que ele me levou a um puteiro pra perder a virgindade quando eu tinha 15 anos...
- Você está acostumando a menina m*l. – Amélia disse a mim.
- Ela me ama. Não ama? – perguntei a Alicia.
- Demais. – ela disse animada e me abraçou. – Mas tem presente? – sussurrou no meu ouvido.
- Sim, tem presente. – sussurrei no seu de volta.
Ela desceu do meu colo e saiu da sala.
Ela era uma menina esperta, sabia que tinha que esperar a mãe dela sair de perto pra ganhar o presente.
Quando fui a 5ª avenida com a Anna comprei um batom que eu sabia que ela queria. Era próprio pra criança da idade de Alicia – 5 anos – mas Amélia não queria comprar pra ela.
Nem queria estar por perto quando Amélia descobrisse o batom.
Ela saiu da sala e enquanto Antônio terminava de ver o jogo eu fui até o quarto de Alicia.
- Posso entrar? – perguntei colocando a cabeça pra dentro do seu quarto cor de rosa.
- Tio... – ela revirou os olhos. – Você sabe que é o único que tem passe livre ao meu quarto.
- Ok, me esqueci disso. – bati em minha testa enquanto ria.
Mexi no meu bolso e peguei o batom dela. Era da Barbie ou algo assim.
- Uau! – ela exclamou feliz. – Amei tio, vou passar amanhã pra ir à escola.
- Tudo bem, só esconda da sua mãe, ok? – ela assentiu. – Senão ela é capaz de arrancar os cabelos.
Ela riu.
- Nós estamos mentindo pra ela? – ela fez uma careta quando torceu os lábios.
- Não, querida. – eu disse. – Se ela te perguntar sobre o batom, você conta, mas se não, ela não precisa saber. – pisquei o olho pra ela.
- Eu vou guardar bem guardadinho. – ela segurou o batom contra o peito.
- Isso! – me levantei da sua cama. – Nos vemos no final de semana, certo?
- Certo. – ela sorriu – Mamãe disse que vamos pra casa de praia da vovó. – ela disse. – Mas está tão frio. – ela fez uma careta.
- Florzinha, só porque vamos pra praia não significa que temos que tomar banho no mar. – apertei uma das suas bochechas. – Podemos tomar chocolate quente e assar marshmallow na lareira, o que acha?
- Uhmm... – ela colocou o indicador no queixo. – Perfeito!
- Justin! – Antônio me gritou da sala.
Me despedi de Alicia e saí do seu quarto.
- Oi, Nicholas. – cumprimentei meu irmão mais novo assim que entrei na sala.
- Oi, Justin. Aonde vamos? – Nicholas perguntou olhando para o Antônio.
Ele já tinha trocado a roupa e estávamos prontos pra sair.
- Vamos levar o Justin a um lugar especial. – Antônio deu sua risada assustadora.
- Só não posso demorar. – Nicholas disse. – Jessica disse que vai me esperar acordada.
Nicholas era quase da minha idade. Meses depois que Grace me adotou, ele completou 12 anos. Antônio era 3 anos mais velho que eu e Nicholas.
Nicholas era casado com a Jessica, nem preciso dizer que ela é minha cunhada preferida. Já Antônio decidiu, por uma obra do destino, se casar com a Amélia. A única coisa boa que saiu disso foi Alicia. Tudo bem, eu não posso negar, eles se amam. Antônio até entrou na linha por causa da Amélia. Depois que eles se casaram nós continuávamos fazendo nossas "festinhas", mas meus irmãos nunca traíram suas esposas.
Fomos educados pra isso.
Pensar nisso fez meu estômago embrulhar.
Eu tinha 3 exemplos de amor extremo bem embaixo do meu nariz.
Não é fácil conviver com isso quando é você que está sobrando e segurando vela de 3 casais apaixonados.
- Não vamos demorar! – Antônio respondeu a Nicholas. – Ursinha! – ele gritou sua esposa.
Nicholas riu e eu revirei os olhos. Ela apareceu na sala e foi em direção a Antônio.
- Nós já vamos. – ele a abraçou.
- Ok. – ela disse. – Juízo. – por que ela disse isso olhando pra mim?
- Eu sempre tenho. – ele a beijou e aquela foi a deixa pra eu e Nicholas sairmos da sala.
Esperamos por Antônio dentro do meu carro e poucos minutos depois ele entrou na parte de trás do meu volvo.
- Aonde vamos? – dessa vez eu perguntei assim que o carro entrou em movimento.
- Ao Brooklyn. – Antônio quem respondeu.
- Cara, você sabe que eu odeio aquele lugar. – o lembrei.
- Sim, eu sei. – ele disse. – Encare isso como uma terapia e lá tem o melhor sexo da cidade. – ele riu.
- Eu não preciso de sexo. Transei hoje de manhã se você quer saber. – falei. – E até onde eu sei o terapeuta é o Nicholas e não você.
Nicholas riu.
- Lá tem sexo de verdade irmãozinho, não aquele papai e mamãe que a Anna fazia com você. – Nicholas riu mais alto dessa vez.
Eu odiava concordar com Antônio, mas Anna não era lá aquelas coisas na cama, por isso eu nunca fui fiel a ela.
- Antônio, não podemos ir a outro lugar? – perguntei na esperança dele mudar nosso destino.
- Justin, nós vamos até lá, se você ficar desconfortável ou não gostar nós voltamos, ok? – ele me respondeu.
- Jessica vai me matar se souber pra onde estou indo. – Nicholas disse.
- Irmãozinho, ela não precisa saber e você, claro, não vai contar. –Antônio deu uns tapas em seu ombro.
Atravessamos a ponte e logo chegamos ao Brooklyn.
Eu estava nervoso de voltar ali. Há anos eu não pisava naquele bairro. Eu sentia que a qualquer momento eu teria um ataque de pânico. Eu sei que era impossível, mas eu sentia como se a qualquer minuto eu fosse vê-lo de novo.
Eu sentia que Bob poderia me reconhecer. Que eu podia levar outro tiro. Minhas cicatrizes até queimaram só de pensar.
- Irmãozinho, relaxa. – Antônio colocou a mão no meu ombro ao ver que eu travei quando desci do carro. – Ele está morto, Justin. Não precisa mais ter medo dele, cara.
- Antônio, acho melhor irmos embora. – Nicholas me olhava com pena.
- Não... eu... eu estou bem. – olhei de um lado pro outro.
- Ninguém vai te reconhecer, Justin. – Antônio disse. – Já faz 15 anos.
Eu engoli seco, assenti e nós entramos.
Era um local discreto por fora. Quem não conhecia não sabia que ali tinha um club de stripper e prostituição.
O local era escuro e uma música com batida forte ecoava pelas paredes. Era bem amplo e tinha várias mesas redondas espalhadas pelo salão.
Um palco com um mastro e muitas luzes piscantes e coloridas.
Nos sentamos em uma pequena mesa redonda com 4 lugares e uma garçonete veio nos servir.
Ela era bonita, baixa e tinha curvas incríveis. Ali eu decidi que se eu tivesse que t*****r com alguém seria com ela.
Não me importava se existissem mais 20 mulheres disponíveis naquele local. Eu não precisava ver todas elas pra saber que eu queria aquela garçonete.
Estava um pouco escuro e eu não conseguia ver seu rosto direito, mas o corpo era perfeito.
E era isso que importava, certo?
- Em que posso ajudá-los? – ela perguntou. Sua voz era doce e suave.
Ela tinha um bloquinho e uma caneta na mão, mas o que me chamou mais a atenção foi seu "uniforme".
Ela vestia uma espécie de maiô de renda preto, uma gravata borboleta e luvas da mesma renda do maiô.
O osso da sua pelve estava amostra e eu queria muito desfazer o lacinho branco na lateral da calcinha do seu maiô.
- Eu quero uma dose de vodca. – Antônio disse.
- Eu quero um whisky. – eu disse tentando enxergar seu rosto.
- Uma água com gás, por favor. – Nicholas pediu e Antônio revirou os olhos. – Jessica me mata se eu chegar fedendo a vodca em casa. – ele se explicou.
- Dr. Lewis? – a garçonete perguntou.
- Be... – ela o cortou.
- Por favor, me chame de Kitty aqui. – ela, rapidamente, pediu a ele.
Que p***a é essa?
Nicholas a conhece?
De onde?
- Claro, me desculpe. – Nicholas pediu a ela. – Como você está?
- Indo. – ela deu de ombros.
- Você está bem, Kitty? – Nicholas perguntou a ela. Parecia preocupado.
Até eu estava ficando. Sua voz estava meio arrastada.
- Indo. – ela repetiu fechando o bloquinho. – Vou pegar a bebida de vocês.
Ela se virou e saiu.
- Nicholas, achei que fosse fiel a Jessica. – encarnei nele com um pouco de m*l humor. Não gostei da ideia dele ter tocado nela.
- E sou. – ele respondeu calmamente.
- Então de onde conhece uma p**a? – Antônio perguntou divertido.
- Ela não é uma p**a pra mim, i****a. – Nicholas disse. – Ela é minha paciente no projeto que tenho aqui no Brooklyn.
Ele fazia uma espécie de ação social no subúrbio atendendo a quem não podia pagar por uma terapia.
A garota devia ter muitos problemas pra ter entrado no programa.
- Eu a quero. – eu disse girando a cabeça para vê-la debruçada no balcão do bar enquanto esperava nossas bebidas. Foi um terrível engano, porque a visão da sua b***a empinada e com apenas um fio dental fez o meu p*u ganhar vida na hora.
- Cara, ela é muito especial, não a machuque, ok? – Nicholas pediu ficando sério demais de repente.
- Qual o nome dela? – perguntei a ele quando voltei a fitar seu rosto. – Eu percebi que você ia dizer o nome dela e ela te cortou.
- Não posso falar, Justin. Se ela me pediu pra não falar, eu não posso falar. Você sabe disso. – ele se defendeu.
- Você sabia que ela era uma p**a? – Antônio perguntou.
- Não a chame disso, Antônio. – Nicholas fechou a cara. – E sim, eu sabia que ela faz isso pra sobreviver, só não sabia que era aqui.
Eu olhei por cima do meu ombro de novo e lá estava ela, ainda debruçada no balcão. Sua roupa nas costas se resumia a um laço preto na altura das escápulas e a p***a de um fio dental de renda.
Eu estava errado. Eu precisava de sexo.
- Sua vodca. – ela colocou o copo na frente do Antônio. – Seu Whisky. – colocou o copo na minha frente. – E sua água, doutor. – deu a água ao Nicholas.
- Me chame de Nicholas aqui. – ela sorriu pra ele.
- Posso ser útil em mais alguma coisa? – ela perguntou. Em seguida ela inspirou fundo e passou a palma da mão na testa.
- Pode se sentar aqui? – eu perguntei.
Ainda não conseguia ver totalmente seu rosto e isso estava me intrigando.
- Eu preciso me apresentar agora, mas logo voltarei. – ela disse com o seu rosto virado para o meu.
- Ok. Estou esperando você. – ela se virou e saiu.
Nossa mesa ficava perto do palco, então eu conseguiria ver o "show" dela bem de perto.
Depois de alguns minutos que ela saiu da nossa mesa, eu passei os olhos pelo local, mas não conseguia encontrá-la.
Foi quando eu olhei para um canto pouco iluminado e a vi discutindo com um homem moreno e bem maior que ela.
A briga parecia feia. Eles apontavam um pro outro e ele às vezes pegava nela com força o suficiente pra eu ver de onde eu estava a marca avermelhada dos seus dedos na pele extremamente branca do braço dela.
Vi que o banheiro masculino ficava perto e decidi ir até lá, só me manteria por perto caso ela precisasse de ajuda.
O banheiro tinha um biombo na parte de fora e eu fiquei atrás dele. Devia estar a uns 3 metros de distância deles. Eles não me viam, mas eu conseguia ouvi-los.
- Por favor, Jackson. Eu não vou conseguir dançar hoje. – ela implorou chorosa.
- Kitty, se vira. Você é a melhor e me deve, então eu digo que você vai trabalhar hoje. – o moreno disse com bastante autoridade na voz.
- Jake, eu vou desmaiar naquele palco. Eu perdi muito sangue hoje e ... – ele a cortou.
- Sua saúde não me interessa. – ele disse com frieza. – Você tem 3 minutos pra subir naquele palco e dançar na p***a daquele mastro.
- Você acabou com a minha vida, Jackson. Eu estou assim por sua causa... a vontade que eu tenho é de gritar pra todo mundo nessa merda ouvir o que você me obrigou a fazer... seu merda! Eu te odeio e espero que você apodreça no inferno. – ela era baixinha, mas esquentada. Pelo barulho ela devia estar dando uns tapas nele.
Eu fiquei intrigado. Eu queria saber qual era a relação deles e o que ele tinha feito a ela.
Ela disse que havia sangrado muito. Será que ele a machucou fisicamente?
O silêncio se instalou entre eles e durou por um tempo, então eu decidi espiar pra fora do biombo.
O homem a mantinha contra a parede e uma de suas mãos a enforcava.
Ow! Ow! Ow! Era hora de agir.
- Você vai dançar, v***a. – ouvi a voz do homem, antes que eu saísse pra fora do biombo. – Nem que pra isso eu tenha que arrastar seu corpo morto e sem vida naquele palco, estamos entendidos?
Antes que ela respondesse eu saí, deixando que eles me vissem. O homem, Jackson eu acho, a soltou e a garota quase caiu no chão.
Agora eu via seu rosto e ela era linda.
Pele bem clara, rosto simétrico, lábios grossos e bem delineados, algumas sardas em cima do seu nariz perfeito, grandes olhos acastanhados e um cabelo curto num tom intenso de ruivo. Seu rosto ainda era infantil. Deus! Eu acho que a garota não tinha nem 18 anos.
- Me desculpem, mas eu estava no banheiro e ouvi um pedaço da conversa de vocês. – eu disse cinicamente.
- Eu sou o dono disso aqui. – Jackson se antecipou. – E ela é uma funcionária. Só estávamos nos entendendo, certo Kitty?
Ela assentiu encolhida na parede. Sua pele estava pálida e brilhava, sinal de que ela suava.
Não parecia nada bem.
- Jackson, certo? – perguntei a ele estendendo minha mão.
- Isso, Jackson Thorne. – ele apertou minha mão em um cumprimento.
- Justin Lewis. – me apresentei também. – Eu já conheci a moça e estou interessado nela. – eu disse a ele.
- Ela irá dançar agora, Sr. Lewis. Depois eu mesmo faço questão de levá-la a sua mesa. – ele disse.
- Não Sr. Thorne eu a quero agora. – sorri. – E estou disposto a pagar o preço que for pra levá-la comigo agora. Não posso esperar por uma dança.
- Qual seria esse preço, Sr. Lewis? – Jackson perguntou desconfiado estreitando seus olhos para mim.
- Me diga você seu preço, Sr. Thorne. – peguei minha carteira no bolso de trás da calça jeans.
- Bom, com a dança e o programa... para o senhor são 500 dólares. – ele ergueu uma sobrancelha me desafiando.
Coitado. 500 dólares não é nada pra mim.
Só que eu não tinha essa quantia na minha carteira e com certeza o filho da p**a do c*****o não aceitaria um cheque.
- Só um minuto. – pedi me afastando e voltando a mesa dos meus irmãos.
Dei uma olhada na minha carteira e tinha metade, ou seja, 250.
- Antônio, Nicholas... preciso de 250 dólares. – falei com eles quando cheguei a mesa.
- Por quê? – Antônio quis saber.
- Não questiona! – briguei com ele. – Vocês têm aí?
- Justin... – Nicholas me chamou com cautela. – Você está limpo... esse dinheiro não é pra... – eu o cortei.
- Nicholas, cocaína não está envolvida nisso... acredite em mim, ok? – ele assentiu e pegou a carteira.
Juntando o dele com do Antônio eu consegui 600 dólares.
Quando voltei para o canto em que estava antes, Kitty ainda estava lá encolhida contra a parede e Jackson tomava conta dela como um cão de guarda sarnento.
- Seu dinheiro Sr. Thorne! – estendi as notas pra ele. – Acredito que por essa quantia Kitty ficará comigo até amanhã à noite, certo?
Ele assentiu sem me olhar enquanto contava as notas.
- Vá se vestir Kitty. – ordenei a ela. Ela tremia e segurava os braços em volta do corpo, como se estivesse com frio. – Vista algo confortável e coloque um casaco grosso.
Ela assentiu e olhou para o Jackson esperando a liberação dele.
- Vá. – ele ordenou a ela e ela saiu da onde estávamos.
Eu voltei a mesa dos meus irmãos e expliquei a eles o que havia acontecido.
Depois de uns 10 minutos Kitty voltou a nossa mesa. Ela vestia um jeans colado no corpo, uma camiseta de alça, uma jaqueta jeans e uma bolsa grande de couro transpassada pelo seu peito.
Será que ela não tinha roupa de frio?
Devia estar alguns graus negativos em NY.
- Estou pronta, senhor. – ela disse quando se aproximou de nós.
- Me chame de Justin, ok? – ela assentiu um pouco envergonhada, sem me olhar.
Ela continuava pálida e tremendo.
- Vocês pegam um taxi? – perguntei aos meus irmãos.
Eles assentiram e me despedi deles.
Sai do club com Kitty logo atrás de mim. Quando estávamos indo em direção ao meu carro estacionado na rua, eu ouvi um grito baixo da garota atrás de mim e me virei pra olhá-la.
Ela estava curvada para a frente. Um de seus braços abraçava a barriga e o outro apoiava o peso do corpo no joelho.
Ela gemia e tinha uma expressão de dor no rosto.
- Você está bem? – perguntei me aproximando dela e segurando o seu braço, com medo que ela desmaiasse.
- Não. – gemeu. Ela tirou a mão que estava apoiada no seu joelho e a levou até o meio das coxas. – Oh merda!
Sua mão voltou encharcada de sangue. Eu sabia o que era aquilo. Agora eu entendi quando ela disse que estava sangrando, a palidez e os tremores.
Eu via isso quase todos os dias no hospital.
Tirei minha jaqueta e coloquei por cima dos seus ombros.
- Eu vou te ajudar, está bem? – ela assentiu. – Vou levá-la até o Presbiterian. Aguenta até lá?
- Não! Hospital não! – ela se alterou tentando se afastar de mim.
- Me deixe te ajudar... eu sou ginecologista. – eu a avisei. – Você está sofrendo um aborto. Precisa ir ao hospital.
- Não estou sofrendo um aborto... – ela me encarou com dor nos olhos e lágrimas acumuladas neles. – Eu fiz um aborto. – ela sorriu sem humor.
Ok, eu desconfiava disso.
- Tudo bem, mesmo assim você precisa de um hospital. – eu disse com tranquilidade. É óbvio que eu gostaria de saber o que está acontecendo, mas como médico e, principalmente, como ser humano, não posso julgá-la.
- Não pode cuidar de mim aqui ou em casa? – ela perguntou gemendo de dor cada vez mais.
- Não. Eu não tenho os recursos necessários e provavelmente você precisara de uma curetagem. – eu disse. – Isso só pode ser feito em um centro cirúrgico.
Ela tentou andar, talvez fugir de mim, mas ficou tonta e eu a segurei em meus braços.
- Colabore, por favor. – pedi pro seu corpo desmaiado em meus braços.
Eu só esperava que ela não tivesse perdido muito sangue e estivesse entrado em choque.
Coloquei-a no banco do carona e prendi o cinto ao redor do seu corpo.
Assim que dei a partida liguei o viva voz do meu celular e liguei para o hospital. Pedi para que me esperassem do lado de fora da entrada principal com uma maca e mandassem avisar o ginecologista de plantão que eu estava chegando com uma paciente.
Com certeza era o babaca do Luka que estava de plantão hoje. Grego dos infernos!
Dirigi como um louco até chegar ao hospital e Carter, um dos nossos enfermeiros, nos esperava onde eu havia pedido.
- O que houve, Dr. Lewis? – ele perguntou me ajudando a colocar Kitty na maca.
- Aborto e possível choque. – eu disse a ele. – Carter a leve para a sala 3. Peça hemograma, tipagem sanguínea e HIV. – eu ordenei enquanto andávamos pra sala. – Quando a tipagem sair eu quero uma bolsa pra transfusão.
- Mas Dr. Lewis o senhor não está de plantão hoje e... – eu o cortei.
- Apenas faça o que eu mandei, ok? Eu assumo a responsabilidade. – eu disse saindo da sala.
Fui até a recepção e mandei que chamasse o Dr. Luka. Resposta? Ele estava em cirurgia.
Pedi que chamassem meu pai. Ele era plantonista, mas clínico geral.
Voltei para a sala e Carter já tinha colhido o sangue da Kitty. Me sentei ao seu lado e puxei o aparelho de ultrassom.
Como eu desconfiava, ela tinha restos do feto no útero, quem fez o aborto, fez muito m*l feito.
Esse crime não era pra ser uma coisa discreta?
Então por que não fazer direito pra evitar morte desnecessária de mais uma pessoa?
- O que houve, filho? – meu pai perguntou entrando na sala.
- Ela fez um aborto e sangrou muito. – eu disse. – Ela tem restos do feto no útero pai, ela precisa de cirurgia.
- Sim, mas Luka está operando e deve demorar mais umas 3h. – ele disse.
Eu olhei o corpo desfalecido de Kitty em cima da maca.
- Ela não vai aguentar pai. – o olhei. – Eu posso operá-la se você liberar.
- Justin, você sabe no que isso implicará. – ele me lembrou.
Eu sabia. As pessoas ficariam dizendo que o grande Dr. Carlos estava favorecendo seu filho.
- Qual é pai? É apenas uma curetagem... eu já fiz isso centenas de vezes... e eu estou me lixando para o que as pessoas vão dizer.
- Ok. – ele disse. – Vou mandar preparar o centro cirúrgico pra você.
Eu só esperava que eu conseguisse salvá-la.
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