Capítulo 4

4226 Words
Eu não dormi nada o resto da noite. Primeiro porque minha cabeça estava a mil. Eu ainda podia sentir sua pele na minha e o seu cheiro de morangos ainda estava nas minhas narinas. Segundo porque Kitty falou a noite toda. Todas as coisas eram incoerentes. Ela dizia coisas como... "Não, por favor." "Pare Phil..." "Não! George era meu pai!" "Mãe... me ajuda." "Jake...eu não posso." E por último ela chamou meu nome. Sussurrou na verdade, e depois um sorriso tímido habitou seus lábios. Eu fiquei feliz sabendo que ela estava sonhando comigo. Talvez eu mexesse com ela, como ela mexe comigo. Assim que o sol nasceu eu peguei meu celular e liguei para a Jessica. - Eu espero que seja uma emergência, Justin ou eu juro que mato você. - ela atendeu sonolenta. - Bom dia pra você também cunhadinha. - ela bufou irritada. - O que houve? Porque você está me ligando às... – pausou –  6:45 da manhã? - ela perguntou. Ainda ouvi Nicholas ao seu lado falar "Ele está bem?" - Jessica, eu preciso de um favor seu. – eu disse. - Diga logo. Eu preciso dormir. – ela resmungou. - Preciso que compre uma roupa feminina pra mim. – pedi. – Por enquanto é um jeans, uma camiseta, lingerie e sapatos baixos. - Namorada, Lewis? - agora seu tom de voz era divertido. - Não, Brandon. - ela riu ao me ouvir chamá-la pelo nome de solteira. - Uma amiga que precisa de ajuda. - Qual o tamanho dela? - ela perguntou. Jessica trabalhava com moda e essas coisas que eu nunca entendi muito bem. Logo que falei em compras ela ficou animada. Eu olhei Kitty dormindo e suspirei. Como eu poderia passar o que estava vendo a Jessica? - Uhmm... ela deve ter no máximo 1.63 de altura. Pés pequenos... talvez 35. Cintura fina, s***s pequenos e pernas longas e magra. - eu disse envergonhado. Ela riu. - O que houve, Jessica? - perguntei irritado. - Nada cunhadinho. - ela deu uma risada. - Pra quem é só amigo, você conhece bem o corpo dela. - Jessixa... eu a vi nua, mas foi antes de operá-la. - deixei claro. - Oh sim... me desculpe. - ela disse sem jeito. - Pra quando precisa disso? - Pode ser antes das nove? - pedi. - Ela terá alta pela manhã e não tem roupas pra sair do hospital. - Ok, às 10 estarei aí. - ela disse e eu revirei os olhos. - Nada ostensivo, Jessica. Não me venha com Valentinos e Victoria Secret's. - pedi. - Ela é uma moça simples. Olhei mais uma vez pra Kitty. - Tudo bem, tudo bem. - ela disse. - Mais alguma coisa? - Não, por enquanto é só. - eu disse. - Mas pode ser que pra semana eu precise que você compre um guarda-roupa completo pra mim. Ela deu um gritinho animado. - Ok, Jessica... eu sei que eu pedi a pessoa certa. - nós rimos. - Posso falar com Nicholas? Segundos de silêncio e logo depois a voz do meu irmão ecoou pelo aparelho. - Justin? - Nicholas também estava sonolento, é lógico. - Irmão, eu estou com Kitty. - eu o avisei. - Ela teve que ser operada, mas já está bem. - Vocês estão no Presbiterian? - ele perguntou. - Sim. - eu disse e depois de um suspiro eu o pedi. - Nicholas, por favor, me diga o nome dela. - Não posso, cara. - ele disse. - Ela é minha paciente e você meu irmão... você entende como isso me complica? - Nicholas, eu estou te implorando, cara. – eu realmente estava implorando. Não saber o nome dela estava me enlouquecendo - Justin, ela é uma ótima moça e estávamos progredindo na terapia, mas se você continuar com isso vou ter que tirá-la do programa. - ele disse sério. - Não, por favor... eu não vou pedir de novo. Me desculpe. - segurei meus cabelos nervosamente. - É só que... ela mexe comigo e... chamá-la de Kitty me lembra do clube e do que eu vi... esquece cara, volte a dormir, mais tarde a gente se fala. Nos despedimos e eu desliguei. Sai do quarto e fui até a cantina comer alguma coisa. Eu estava com pressa e nem me lembro o que pedi só me lembro de ter engolido ao invés de comer. Voltei para o quarto dela e ela ainda dormia. Resolvi ir até a recepção ver os papéis da alta dela e eles já estavam lá. Eu os assinei e voltei para o seu quarto. Agora ela estava acordada, meio sentada na cama e uma bandeja na mesa a sua frente. Seus cabelos estavam presos em um coque desarrumado no topo da cabeça e suas bochechas coradas. Isso era bom e só a fazia ficar ainda mais bonita. Carmem, a enfermeira de plantão, tirava a agulha do dorso da sua mão. - Bom dia. - cumprimentei as duas. - Bom dia. - elas responderam em uníssono, mas Carmem ainda acrescentou um Dr. Lewis. - Au! - ela resmungou quando a agulha saiu. Eu e Carmem rimos. - Para de rir! - ela disse me olhando com um sorriso nos lábios. - Dói! - Eu sei que dói! - a garanti. - Coma... sua alta já saiu. - Nem acredito que vou poder ir para casa. - ela disse puxando a bandeja. Eu queria dizer pra ela que íamos sim pra casa, mas pra minha e não pra dela, como ela imaginava. - Logo. - eu disse me sentando na poltrona. - Você não come? - ela perguntou depois de mastigar sua omelete. - Acabei de comer. - sorri. - Comi na cantina. - Uhm... Ouvi batidas na porta e mandei que entrasse. Era Jessica. - Bom dia! - ela disse. - Bom dia, Jess. - a abracei e beijei sua testa. Quando olhei pra Kitty ela tinha o rosto fechado, parecia chateada. - Bom dia. - Jessica se virou pra Kitty. - Você deve ser a Kitty, certo? - Sim, sou eu. - ela olhou de mim para a Jessica. - Jessica é esposa do Nicholas, Kitty. - a expliquei. - Jess, acredito que Nicholas tenha falado que Kitty é sua paciente. - Sim, ele falou. - ela sorriu colocando umas sacolas em cima da cama. - Eu trouxe tudo que me pediu, mas o sapato eu trouxe um 35 e um 36, pela altura dela pode ser qualquer um. - Pra mim? – Kitty perguntou. - Sim, você precisa de uma roupa para sair do hospital. As suas nós rasgamos para tirá-las do seu corpo. – a expliquei. - Eu calço 35. – ela disse. - Perfeito! – Jessica disse animada. - Eu preciso ir. Tenho que fazer umas compras pra GAP. - Obrigado, Jess. – ela se despediu de mim e de Kitty e foi embora. - Não precisava disso. – a voz emburrada de Kitty me chamou atenção assim que minha cunhada fechou a porta. - Como você ia sair do hospital? – a questionei - Eu daria meu jeito! – ela fez sua cara de desafio. – Como eu sempre dei antes de você. - Kitty... – eu me aproximei dela. – Eu sei que você não está acostumada, que você pode até não gostar, mas eu vou cuidar de você... eu quero cuidar de você. - E se eu não quiser que você cuide de mim? - ela perguntou. - Então, eu deixarei você ir. - não pude evitar que as minhas palavras saíssem tristes. - Olha, você não me conhece. Não sabe o que eu passo ou o que eu passei... então me deixe mesmo ir, ok? Eu assenti me sentando na cama aos seus pés, mas nossos corpos ainda estavam próximos porque ela estava muito inclinada na cama. - Me diz seu nome... - pedi num sussurro tocando seu rosto. Sua pele era tão macia que meus dedos se perderam nela. - Você já sabe demais... - ela também sussurrou olhando em meus olhos. Eu olhei para os seus lábios no momento que ela os umedeceu com a língua e não pude evitar... Toquei os meus lábios nos seus, mas foi questão de dois segundos, porque logo percebi a merda que eu tinha feito. Eu me afastei rápido e virei de costas pra ela. - Me desculpe. – pedi puto e envergonhado. - Eu... eu acho melhor você tomar um banho e se vestir pra irmos. - Ok. - foi a única coisa que ela disse. Eu não me virei. Eu sabia que talvez ela precisasse de ajuda para descer da cama, mas eu não conseguia encará-la. Eu não queria admitir que eu ainda a desejava. Ouvi a porta do banheiro bater e pude soltar o ar que eu segurava nos pulmões. Uns 10 minutos depois ela saiu do banheiro vestida com roupa que a Jessica trouxe. - Ficou perfeita. - ela disse. Eu me virei pra olhá-la. - A roupa... ficou perfeita em mim. - Jessica trabalha com isso. - eu disse. - Pra ela é como brincar no playground. Ela sorriu. - Podemos ir? - ela perguntou. - Estou exausta. Eu peguei minha jaqueta e abri a porta pra que ela passasse. Ainda passei na recepção e avisei que estávamos indo embora. Pedi que avisassem ao meu pai também. Quando chegamos ao estacionamento do hospital, eu abri a porta do carona pra que ela entrasse. Ela se sentou e eu a esperei colocar o cinto. Eu já tinha pedido que limpassem o carro. Graças a Deus os bancos são de couro, o que facilitou na hora de tirar o sangue de Kitty do carona. Entrei e liguei o carro. - É um belo carro. - ela disse. Eu a olhei e assenti. - Você não vai falar mais nada? - eu a olhei mais uma vez e lá estava aquela sobrancelha levantada. - O que você quer que eu fale? – perguntei calmamente. - Sei lá... - ela deu de ombros. - Você é tão seguro de si e por causa de um beijo vai me evitar... é estranho. - ela olhou pela janela. - Me desculpe por aquilo... eu... acho que perdi a cabeça. - falei sem jeito. - Está tudo bem, doutor. - ela não me olhou. - Me leve pra casa. Eu arranquei com o carro e seguimos para a minha cobertura. - O que estamos fazendo na 7ª avenida? – ela perguntou assim que eu diminuía a velocidade do carro. - Vamos pra minha casa. – eu disse. - Eu quero ir pra minha casa. – ela choramingou. - Preciso conversar uma coisa com você, Kitty. – já estávamos entrando na garagem do meu prédio. - Você não vai me fazer t*****r com você, não é? - ela perguntou. Parecia estar com medo. - O médico disse que eu tenho que ficar 1 mês sem relações... eu... eu sei que o Jacksonnão vai permitir, mas eu achei que você pudesse me liberar hoje... eu estou meio dolorida... - eu a cortei. - Você está louca? - perguntei irritado e balançando a cabeça negando suas palavras. - Eu fui seu médico hoje, eu sei o que você pode e não pode fazer... - bufei irritado. - É por isso que estamos indo pra minha casa e não pra sua. - Me desculpe. - seu rosto caiu. Eu parei o carro na minha vaga e desci pra abrir sua porta. Nós andamos em silêncio até o último andar do prédio e eu abri a porta do apartamento pra que ela passasse. - Uau! - ela olhava ao redor da sala. - Isso é imenso! - Está com fome? – perguntei ignorando seu deslumbre. - Não. - ela respondeu. - Mas estou com sede. - Água? - Tem refrigerante? - ela fez uma careta. Eu fui até a geladeira e peguei uma soda pra ela. Eu a entreguei e me afastei. - Já volto! - a avisei. Fui até a varanda que tinha na cobertura e acendi um cigarro. Eu estava puto. Muito puto. Como ela teve a coragem de pensar que eu queria t*****r com ela hoje? Tudo bem, eu já admiti isso. Ela mexe comigo, eu a desejo, mas por Deus, ela está de resguardo. Eu sei que ela sente dor pela forma que ela anda. Devagar e arrastando os pés. Porra! Eu sou a merda de um ginecologista! Eu sei o que ela está passando. Posso nunca ter sentido isso fisicamente, mas eu já passei por isso com várias mulheres. Bufei antes de dar mais uma tragada no meu cigarro. Eu estava tão perdido nos meus pensamentos que não ouvi a porta de vidro correr ao abrir. - Ninguém nunca te disse que cigarro mata, doutor? - ouvi a voz dela atrás de mim. - Todos nós estamos condenados à morte, Kitty. - eu disse amargamente. Silêncio. - Me desculpe por ter pensando em você daquela forma... eu não estou acostumada a ser tratada bem. - ela suspirou. - Principalmente por homens. - Não é porque você sempre foi maltratada que significa que eu vou te maltratar. - traguei meu cigarro mais uma vez. - Eu sei... eu só... não consigo confiar em ninguém. - ela disse baixinho, quase um sussurro. Merda! Eu não podia culpá-la por ter pensado aquilo de mim. Quantos traumas essa garota não deve ter passado com apenas 20 anos? Com quantos homens ela não deve ter tido relações e o pior... quantos desses homens foram gentis com ela? Pensar nisso fez meu peito se apertar. - Está tudo bem, Kitty! - apaguei meu cigarro no cinzeiro que sempre ficava ali na varanda. - Vamos entrar, eu quero te propor uma coisa. Eu me virei e passei por ela, sem olhar em seus olhos. Me sentei na poltrona e apontei pro sofá a minha frente pra que ela se sentasse. Ela sentou e cruzou as pernas. - Bom... - comecei. - Como você sabe você tem 1 mês de resguardo. - ela assentiu. - Esse resguardo significa que você não pode f********o ou pegar peso, você sabe disso? - Sim, eu sei, mas... - eu a cortei. - Isso quem te disse foi o Luka, mas eu Justin, aconselho minhas pacientes a 3 meses de resguardo após uma curetagem. - Por quê? - ela quis saber. - Por que uma curetagem é uma agressão muito forte ao útero Kitty e ele não se cura em apenas 1 mês. - expliquei. - Por isso as mulheres que sofrem aborto, ou provocam um aborto, tem que esperar alguns meses pra engravidar de novo. - Eu não quero engravidar de novo. - ela mordeu os lábios, nervosa. - Eu sei que não. - disse. - Então, qual é mesmo a proposta? - ela quis saber. - Eu quero que você fique aqui comigo por 3 meses e depois você pode voltar pra sua vida. - eu disse. - Por quê? - Porque eu sei que se você voltar ao Brooklyn e ao clube, Jackson vai te colocar pra trabalhar e isso é errado. – expliquei. - A sua intenção é boa, Jackson, mas eu não posso. – ela disse e meu coração se apertou. - Eu tenho contas pra pagar e como você disse, Jackson vai querer que eu trabalhe... eu estou devendo a ele e tenho que trabalhar todos os dias pra pagá-lo. - Essa questão é outra parte do que eu quero te propor. – eu disse e ela me fitou curiosa. – Eu vou te bancar enquanto você estiver aqui. Vou pagar suas contas e suprir suas necessidades. - Eu não sei se posso... – ela mordeu o lábio. – Jackson me mataria. - Deixa que com ele eu me entendo. – eu disse com raiva, mas minha raiva era direcionada a ele. - Não! – ela gritou. – Por favor, não se meta com ele. Você não tem noção de como ele é perigoso. - Se acalme. – pedi a ela. – Eu não tenho medo, Kitty. Pode não parecer, mas eu já conheci caras bem piores que o Jackson. Acredite em mim. - Como? - ela estreitou os olhos na minha direção. - Não estamos falando de mim... nosso foco é você. – desconversei. - Por que está fazendo isso? Por que quer me ajudar? – ela perguntou com a voz embargada. - Eu já te disse. – passei a mão pelos cabelos. – Eu me preocupo com você. Eu sinto que devo te proteger, Kitty e pra isso eu quero que você esteja aqui. – falei. – Eu tenho outro apartamento aqui no centro, se você não quiser ficar aqui pode ficar lá. Eu só quero você longe do Brooklyn por três meses. Ficamos em silêncio por alguns segundos até o couro do sofá ranger e eu ver que ela se ajeitava desconfortável. - Deixa eu ver se entendi... – ela pediu. – Você me quer aqui por 3 meses, vai me bancar, me sustentar e me pagar por isso, mas sem nada s****l envolvido. É isso? - Exatamente. – concordei. – Você é livre pra ir onde quiser, menos ao Brooklyn. Você pode sair quando quiser e ver quem quiser, desde que... não seja um programa. Você estará proibida de fazer programas enquanto estiver aqui. – falei. – Você terá seu quarto e Lita, minha empregada, será apresentada a você. Você pode pedir qualquer coisa que quiser a ela. - E minhas coisas? – ela quis saber. - Tem algo de importante lá? – perguntei. - Tem. – ela disse simplesmente. - Então eu mesmo buscarei. – eu disse. – Amanhã irei a sua casa pegar suas coisas. Na sexta você irá fazer compras com a Jessica e no domingo iremos almoçar com a minha família na casa da minha mãe. Tudo bem? - Isso não vai dar certo! - ela passou a mão nos cabelos. - Não é tão difícil assim, Kitty. – a confortei. – Você deve continuar sendo a mesma garota, só que estará em um lugar diferente durante 3 meses. Ela pareceu pensar por alguns minutos e finalmente falou. - Ok. Eu aceito. - ela sorriu timidamente. Uma onda de alívio percorreu meu corpo. Eu queria protegê-la, mas era mais do que isso. Eu não estava preparado pra ela ir embora. - Ok. - me levantei. - Vou te mostrar seu quarto. Ela se levantou e me seguiu. Eu a levei ao quarto de hóspedes que eu mais usava e por isso Lita o mantinha sempre limpo e pronto pra ser usado. - Cara! Isso é maior que minha casa inteira. – ela disse de boca aberta. - É seu. – eu disse. – Tem um banheiro ali. - apontei a porta. – Tv, guarda-roupa e aquecedor. – apontei cada um deles. – O meu quarto é a porta em frente. - Ok. – ela assentiu. Eu ia sair do quarto e deixá-la à vontade em seu novo quarto, mas sua voz me parou. - Justin? – ela me chamou. Eu parei com a mão na maçaneta e me virei pra encará-la. - Obrigada. – ela sorriu. – Eu não sei por que você quer me ajudar, mas mesmo assim obrigada. Eu sorri pra ela também. - Digamos que eu queira fazer com você o que fizeram por mim. – dei de ombros. - O quê? – ela perguntou curiosa. - Ajuda e oportunidade, Kitty. – eu disse. – Fique à vontade agora essa casa também é sua. – eu disse antes de sair. Eu fui pro meu quarto e decidi tomar um banho. Um banho quente me ajudou a relaxar. Foi como se todas as minhas preocupações e inseguranças fossem junto com a água pelo ralo. Depois de alguns minutos embaixo da água resolvi sair. Coloquei uma bermuda de algodão e só então eu percebi que Kitty não tinha outra roupa a não ser a que vestia. Eu fui até meu closet e peguei uma camisa minha e uma boxer pra dar a ela. Saí do meu quarto e bati na porta do seu que estava fechado. - Kitty? – a chamei. – Kitty? Eu abri uma fresta da porta e ouvi barulho de água. - Kitty? - No banheiro. Entre. – ela gritou. A porta do banheiro estava entreaberta. Eu dei duas batidas na porta do seu banheiro e ela mandou que eu entrasse novamente. Eu acabei de abrir a porta e entrei. Ela estava dentro da banheira cheia de espuma. Por um momento amaldiçoei aquela espuma, mas logo me recompus. Eu dei uma olhada e as curvas dos seus s***s estavam amostra. A única coisa que a espuma tampava eram seus m*****s. Por um outro momento me vi imaginando como eles seriam... Merda! Eu estava ficando duro. - Eu... eu trouxe uma roupa minha pra você. – eu disse desviando meus olhos dela. – Amanhã de manhã vou pegar suas coisas, mas por enquanto use isso. - Pode deixar aí, por favor? – ela apontou pro balcão da pia. - Tudo bem...hum... eu vou ajeitar o almoço. – deixei a roupa aonde ela pediu e sai quase correndo daquele banheiro. Eu a deixei terminar seu banho e fui pra cozinha. Hoje era o dia de folga da Lita, mas ela sempre deixava alguma coisa pronta na geladeira. Eu achei um arroz, fiz uma salada e passei uns bifes na grelha. - O cheiro está bom. – ouvi sua voz atrás de mim. Ela devia estar parada na porta. - Obrigado. Sente-se, já vamos comer. – eu disse. Ouvi o barulho do banco sendo afastado da bancada e desliguei a grelha, colocando os bifes no prato. Fiz o meu prato e o prato dela me sentando a sua frente no balcão. Escorreguei seu prato pelo mármore e comecei a comer minha comida. Ela fez o mesmo. - Uhmmm... – ela soltou um som que parecia um gemido. – Mais uma qualidade do Dr. Justin. - ela sorriu. E eu também. - Eu gosto de cozinhar. – eu disse dando um gole no meu refrigerante. - Eu também. – ela disse. – É meio que uma terapia pra mim. - Você já não faz terapia? – ela me olhou séria. – Nicholas me contou. - dei de ombros. - Nicholas é um bom médico, mas não adianta muito. Nem tudo o que eu vivo eu posso contar pra ele. – agora ela que deu de ombros. - Posso te fazer uma pergunta pessoal? – ela assentiu colocando um pedaço de bife na boca. – Não quero que se ofenda. Eu só estou curioso. - Pergunta, Justin. – ela revirou os olhos. - De quem era o bebê? – ela parou de mastigar e me olhou. Eu vi o movimento da sua garganta ao engolir o pedaço de bife e logo em seguida ela tomou um gole da sua soda. - Jackson. – ela respondeu. – O bebê era dele. - Ele é seu namorado? – perguntei. Eu esperava que ela não me cortasse. Minha curiosidade estava me intrigando. - Não, mas ele acha que é dono das meninas do clube. – ela respondeu desviando o olhar do meu. - Então vocês são obrigadas a ir pra cama com ele? – perguntei curioso e furioso. - Algumas sim. – ela suspirou. – Eu nunca tinha ido. - Ele... te obrigou, Kitty? – perguntei com cautela. Minhas mãos já fechando em punhos. - Sim. – ela finalmente me olhou. Vi indiferença em seus olhos. – Se é isso que você quer saber... ele me estuprou. Meu sangue ferveu. Por um segundo, apenas um segundo eu desejei ainda ter a pistola que Richard havia me dado aos 11 anos. Eu queria matá-lo. Fazê-lo sofrer bastante antes de morrer, vê-lo agonizar implorando por misericórdia e depois matá-lo. - Justin? - ela me chamou. - Ele te estuprou, te engravidou e te forçou a fazer um aborto... é isso? – perguntei entre os dentes. - Isso. - ela assentiu. Por que ela falava aquilo como se não fosse nada? Talvez... Talvez ela estivesse acostumada com aquilo. Oh. Meu. Deus! - Kitty? - a chamei. Ela pousou sua lata de soda no mármore do balcão e me fitou. - Quantas vezes isso... o estupro... quantas vezes isso aconteceu com você? Seus olhos se encheram de lágrimas. - Eu não quero falar sobre isso. - ela empurrou seu prato e saiu correndo da cozinha. Oh merda! Minha vida, meu passado, tudo que eu passei... nada valia ao lado do que ela já passou. Eu precisava ajudá-la mais do que eu achava que era necessário. Eu precisava mostrar a ela que nem todas as pessoas são iguais as que já passaram na sua vida. Eu perdi completamente minha fome. Joguei as latas fora e lavei os nossos pratos. Fui andando no corredor e parei em frente sua porta. Eu conseguia ouvir seus soluços do corredor. Eu só tive um pensamento... Empurrei a porta e entrei. Ela estava encolhida no chão em posição fetal, ao lado da cama. Eu a ergui no meu colo e a coloquei na cama. - Eu sinto muito. - sussurrei alisando seus cabelos. - Por favor... não me peça pra falar mais sobre isso. - ela pediu em meio ao choro. - Me desculpe, eu não vou pedir de novo. – lamentei enquanto escovava seus fios de cabelo. Ela se sentou e me encarou. Nosso olhar ficou preso no do outro e eu fitei seus lábios por 2 segundos. Ela fez o mesmo, desviando seus olhos dos meus para os meus lábios. Eu pensei em beijá-la. Eu queria beijá-la, mas ela chorava demais. Então ao invés de beijá-la a puxei para um abraço. Eu alisava seus cabelos enquanto sussurrava pra ela que ia ficar tudo bem, que estava tudo bem. Minha mão que estava nas suas costas se movimentava involuntariamente com a força dos seus soluços. - Eu sinto muito. - sussurrei mais uma vez. Ainda ficamos alguns minutos abraçados, até ela se soltar dos meus braços. Foi muito rápido... ela me encarou e no segundo seguinte ela estava tentando abrir o fecho da minha calça. Ela era boa, antes que eu percebesse, ela já havia conseguido. - Kitty? Kitty! Para! – eu pedi e segurei suas mãos e a impedindo de continuar. - Me deixe... eu... eu preciso te agradecer... – ela soluçou. – Essa é a única forma que eu conheço de te agradar. Ela tentou soltar seus punhos da minha mão, mas eu a segurei mais forte. - Você quer parar, por favor? – eu quase gritei e ela me olhou assustada. – Eu não quero isso. Eu não estou te pedindo isso, Kitty. – soltei suas mãos e me ergui fechando minha calça. – Eu quero que aqui você seja você e não a Kitty do clube, a Kitty do Jackson. Coloquei uma mecha da sua franja atrás da sua orelha. - Me desculpe. – ela escondeu o rosto nas mãos e eu a abracei de novo. Foi assim que ela dormiu... Nos meus braços. - x -
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