Capítulo 1

2420 Words
Nós estávamos andando por umas das ruas mais perigosas do Brooklyn. Rua onde ficavam localizadas os grandes pontos de venda de drogas e armas e onde as gangues se reuniam. Sejam apenas pra se encontrarem ou para dar fim a uma vida. Eu estava com meu pai. Eu parecia muito com ele. Na verdade, eu tinha que acreditar nisso já que eu nunca havia visto a minha mãe. - Aperta a p***a desse passo garoto. – meu pai, Richard, disse pra mim. Eu tentei andar mais rápido que eu podia, mas o peso extra e minhas pernas mais curtas que as dele não conseguiam alcançá-lo. - Se eu perder isso por sua causa garoto... – ele me ameaçou. – Eu mesmo mato você. Eu tentei correr, mas tropeçava nas minhas próprias pernas. Eu tinha que me concentrar. Se eu caísse e aquilo se perdesse Richard com certeza cumpriria sua promessa. Estava muito frio em Nova York e eu devia estar com umas três camadas de roupa. O que também me ajudava na tarefa de esconder o "peso" extra em meu casaco. Quando viramos a esquina, há uns 10 metros de distância eu avistei 3 homens sentados em um quintal m*l cuidado de uma casa velha. - Hey Bro! – meu pai os cumprimentou quando chegamos perto deles. - Trouxe Rick? – um rapaz n***o perguntou ao meu pai. - Trouxe Bob. – Richard respondeu. - Queremos ver. – um branquelo disse. - Depois que eu ver a grana. – Richard retrucou. Um dos homens puxou uma mochila de trás do corpo e a abriu, amostrando a Richard centenas de dólares. Eu tremia de medo. Não era a primeira vez que meu pai me levava em seus "negócios", mas até aquele dia, nada havia me acontecido. - Está tudo aí? – Richard perguntou. - 6.000 mil. – um deles respondeu. - Abra o casaco, Justin! – meu pai pediu. Eu hesitei e ele gritou. - ABRA LOGO A p***a DO CASACO, JUSTIN! – ele deu um tapa forte na minha nuca. Eu ergui as mãos trêmulas, desci o zíper da minha jaqueta e a abri. 6kg de cocaína estavam penduradas em papelotes na parte de dentro da minha jaqueta. Richard mandou que eu tirasse a jaqueta e desse ela com a cocaína a eles. Eu o fiz. O cara n***o pegou um dos papelotes, fez uma carreira e cheirou. Na minha frente. - Essa p***a que você diz que é pura, seu filho da p**a? – o cara se alterou com Richard. - Veio da Colômbia, Bob. É da pura! – meu pai o garantiu. Os outros dois cheiraram e os três caíram juntos na gargalhada. O tal do Bob mexeu na mochila e tirou alguns dólares de lá. - Vou te pagar só 3 mil, Rick. – Bob disse. – Essa p***a não é pura! - Não cara! – Richard falou irritado. – Ou você me paga os 6 ou quero minha mercadoria de volta. Eles gargalharam de novo. - Cheira isso, Richard e me diz que é pura! – um dos três pediu. - Eu não sou usuário, sabem disso. – Meu pai disse com escárnio. – Eu não uso essa p***a. - Quem é esse moleque? – um deles apontou pra mim. - Meu filho. – Richard respondeu rapidamente. - Então mande ele cheirar... – o outro disse. Meu coração parecia querer sair pela boca. - Ele não vai saber dizer se é pura ou não. – Richard disse, mas ele não me defendia. O problema dele era que... eu cheirando ou não, eles nunca saberiam se era pura ou não. - Vamos saber pela reação dele. – Bob disse. Ele se levantou e preparou uma carreira em cima de um bolo de nota de cem. - Cheire garoto! – ele ordenou. - Não. – eu respondi com a voz embargada. Eu não queria me tornar um viciado. Eu não queria ser como o meu pai. Eu queria sair do Brooklyn um dia. Queria ser médico e não um viciado de merda ou um traficante como meu pai. Eu ainda podia ouvir os 3 gargalhando. - Cheire essa p***a, Justin. – meu próprio pai ordenou. - NÃO! – eu gritei. Eu estava enjoado, nervoso, minhas pernas tremiam e por um momento eu desejei ter uma mãe. - Richard ou você cheira ou a p***a desse garoto cheira. – um deles ordenou. - Ele vai cheirar! – Richard o garantiu. – Vá, Justin! Eu neguei com a cabeça. - Se você não for eu vou te tirar da escola. – ele disse em um tom autoritário. Richard era contra os meus estudos, mas eu não abria mão da escola. Eu precisava estudar e ele sabia que esse era meu ponto fraco. Eu ouvi um barulho alto e eu reconhecia aquele barulho. Era uma pistola sendo engatilhada. Logo depois um tiro. Foi tão perto que quase me deixou surdo. Segundos depois do estrondo meu ombro ficou quente e começou a queimar. Quando eu olhei havia um buraco de bala no meu ombro direito. Eu me desesperei e comecei a chorar. - Cheira essa p***a garoto ou o próximo será na sua cabeça. – Bob disse. – Seu pai terá bastante trabalho pra limpar a rua. - p***a, Justin! Me obedeça! – Richard gritou sua ordem. Eu estava com medo, perdendo sangue e sentia muita dor. Me ajoelhei no gramado m*l cuidado do quintal e me inclinei pra nota de 100 dólares que tinha duas carreiras em cima. Cheirei uma com cada narina e apaguei. Acordei assustado com um estrondo. Eu sabia que estava alucinando, afinal de onde viria um barulho de tiro no centro de Nova York? Esse sonho me atormentava há anos. 17 anos na verdade. Acho que ele ficou gravado em mim por causa dos acontecimentos daquele dia. Richard costumava me levar com ele quando estava fazendo "negócios". Ele dizia que um policial nunca desconfiaria de um homem como ele se uma criança estivesse junto. Sim, uma criança. Eu tinha 10 anos quando levei meu primeiro tiro. 10 anos quando a cocaína entrou na minha vida e 10 anos quando tive minha primeira overdose. Aquela p***a era pura e meu organismo infantil não aguentou. Eu quase morri naquele maldito dia. Me lembro de ainda estar com pontos e tipoia no ombro e Richard, mesmo assim, me levava com ele. Eu conheci todo o tipo de gente perigosa. Mafiosos, traficantes, matadores de aluguel, usuários enlouquecidos de drogas e o pior de todos... Richard. Eu vivia no inferno quando estava com ele. As ameaças e agressões eram constantes. Eu perdi as contas de quantos ossos do meu corpo ele quebrou. Até meus doze anos. Quando eu completei doze anos eu fui com Richard fazer uma entrega, 12kg de cocaína Colombiana. Naquela época eu já tinha largado a escola e a cocaína era rotina na minha vida. Durante aquela entrega teve uma batida e levaram Richard preso. Me pegaram cheirando na varanda da casa e me levaram pra uma espécie de orfanato pra "jovens delinquentes". Foi lá que Grace me achou. Meu anjo, minha mãe. A mãe que eu pedia todos os dias antes de dormir quando eu tinha 10 anos. Finalmente ela havia me encontrado. Eu não sei o que ela viu em mim – ela diz que foi amor. – mas ela me tirou de lá, me adotou e eu fui internado pra me livrar do vício da cocaína. Hoje eu tenho 27 anos, um pai, uma mãe e dois irmãos. Hoje, ao invés de pedir uma mãe antes de dormir, eu agradeço pela minha família. Porque até isso Grace me ensinou... a ser grato. Eu nunca fui religioso, não sabia nem rezar. Eu apenas sempre fiz como me vinha a mente, mas Grace frequentava a igreja e durante muitos anos eu a acompanhei. Tenho que confessar que estou devendo uma visita ao pastor. Senti uma mão pequena e quente em meu ombro e terminei de despertar. - Pesadelos de novo? – ela me perguntou. - Eles nunca vão embora. – respondi fitando o teto. - Quer conversar? - Não, estou bem. – me virei de frente pra ela. Anna era linda e uma boa companhia. Nós saíamos há uns 2 anos, mas não tínhamos compromisso. Era uma boa amiga. Sabia dos meus problemas e dos fantasmas que me atormentavam. - Certeza? – ela fez um carinho nos meus cabelos. Eu me aconcheguei a ela. Encostando minha bochecha em seu colo nu, coberto apenas por um fino lençol. - O que eu vou fazer quando você for embora, Anna? – choraminguei contra a sua pele. - Você faz com que eu me sinta pior. – ela disse. – Você sabe que eu não gostaria de deixá-lo aqui, mas eu preciso ir, Justin. Anna estava indo pra Inglaterra por tempo indefinido. Eu ia sentir muita falta dela, de verdade. Eu conheci a Anna por meio do meu irmão Nicholas. Ele é psicólogo e me indicou uma, mas eu tive que largar a terapia quando nos envolvemos sexualmente. Não se pode t*****r com a sua terapeuta. Nicholas não tinha me avisado isso... - Não vamos mais falar sobre isso. – Anna disse alisando meus cabelos. – Ainda temos um dia até que eu vá. - 1 dia. – murmurei m*l humorado. - Para, Justin! – ela pediu séria. - Ok. – me sentei na cama. – O que você quer fazer hoje então? - Podemos ir à casa dos meus pais. Eu preciso me despedir deles. – ela disse. - Você toma um banho e eu faço o café. – falei já saindo da cama. Dei um beijo em sua testa e coloquei um short de pijama. Deixei Anna no meu quarto e fui pra cozinha do meu apartamento. Fiz algumas torradas, para beber tínhamos suco de laranja ou leite. Preciso me lembrar de pedir a Lita pra fazer compras. Eu precisava também pedir desculpas a Anna. Eu sei que desculpas não adianta por ter deixado ela se apaixonar por mim e ter roubado 2 anos de sua vida amorosa, mas eu não a amava e eu não podia mais deixar que ela tivesse esperança de que quando voltasse um dia da Inglaterra nos casaríamos e teríamos 3 filhos. Eu não podia deixar que ela continuasse fantasiando sobre isso. Eu sei dessas coisas porque Jessica me contou que Anna comentou isso com ela e eu realmente não via um futuro com a Anna. Eu juro que me sinto horrível por ter usado ela por 2 anos, mas isso precisa parar e eu vou aproveitar o tempo dela na Inglaterra pra isso. Nós tomamos café e depois fomos caminhar no Central Park. Anna fez umas compras na 5ª avenida e depois fomos para o apartamento dela. Segundo ela, ela precisava arrumar as malas para embarcar amanhã. - Quer entrar? – Anna perguntou depois de abrir a porta. Eu assenti e me sentei no sofá. Ela trancou a porta, colocou a chave na mesa e se sentou ao meu lado, mas quando ela me tentou me beijar eu a parei. - Anna, temos que conversar. – eu disse me levantando e me afastando do sofá. - Aconteceu alguma coisa? – ela perguntou confusa. - Primeiro eu quero te dizer que você me conhece melhor do que ninguém e você sabe de tudo que eu passei... na verdade o que eu passo até hoje. – ela assentiu ainda sem entender. – Eu estou quebrado, Anna e nem você pode me consertar. - Do que você está falando? – ela quis saber. - De nós... de você. – eu disse. – Eu não posso mais te prender a mim. É egoísmo da minha parte... você sabe como eu me sinto em relação a você. – ela engoliu seco. – Eu me sinto sujo sabendo que você me ama e que eu te quero como amiga. - Mas eu não me importo com isso. Eu me contento em viver da forma com nós vivemos até hoje. – ela disse com a voz embargada. - Mas eu não, Anna. – suspirei. – Não mais... eu não posso fazer isso com você. Eu não te amo pra casar, você sabe que eu não sou fiel a você... eu só não posso mais fazer isso. Você é especial pra mim Anna, mas eu não amo você como deveria ser. – então ela começou a chorar. –  Anna, por favor, não faça com que eu me sinta o pior homem do mundo. – eu pedi me ajoelhando na frente dela e segurando as suas mãos. - E você, Justin? Você pensa em como está fazendo eu me sentir? – ela perguntou tentando enxugar as lágrimas. - Anna, eu amo você. – eu disse com sinceridade. – Eu queria muito que fosse da forma que você quer, mas não é... e eu não posso mais te prender. – falei. – Você merece um homem que te ame por completo, que queira casar com você e te dê 3 filhos... – ela riu. - Eu vou sentir sua falta. – ela disse com a você embargada. - Eu também vou sentir sua falta... muito. – a abracei. Ficamos alguns minutos abraçados, até eu não aguentar o clima e inventar uma desculpa pra ir embora. Me despedi dela dizendo que eu a levaria amanhã ao aeroporto antes do meu plantão e saí. Do corredor eu conseguia ouvir os soluços do seu choro. Me senti um belo de um filho da p**a por isso. Liguei pro meu irmão mais velho. Ele era uma criança, mas as vezes servia pra alguma coisa. - Fala, Justin! – ele atendeu animado, como sempre. - Antônio, está ocupado? – perguntei. - Não... vendo jogo. – respondeu. Pra variar... - Cara, estou precisando dar uma volta. Pode ir comigo? – perguntei a ele. - Irmão, Você sabe que a Amélia te odeia por isso, não sabe? – ele riu. - Você sabe que eu também odeio sua esposa. – também ri. Ele sabia. Eu e Amélia tínhamos um problema. Não podíamos ficar no mesmo cômodo ou a menos de três metros de distância um do outro. - O que você está pensando em fazer? – Antônio me perguntou. - Cara, qualquer coisa. – eu disse. – Terminei com a Anna e vou enlouquecer se ficar em casa sozinho. - Vem pra cá. – ele disse. – Enquanto o jogo acaba você chega e eu ligo para o Nicholas. - Ok. Estarei aí em 10 minutos. - x -
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